quinta-feira, maio 22, 2008

A Voz e a Urgência de Torcato Sepúlveda

Uma hora antes do debate de ontem, a Ana Rita Cavaco dava-me a notícia: morreu o Torcato!

Torcato Sepúlveda, nome histórico do jornalismo português, foi um inovador crítico literário e mudou a forma de fazer jornalismo cultural em Portugal, como o Público de hoje bem refere.

Fez traduções, limpezas, foi funcionário das fronteiras e co-assinou o argumento da longa-metragem "Porto Santo", de Vicente Jorge Silva. Pelo meio, exilou-se em Bruxelas, durante o Estado Novo.

No jornalismo esteve em todas: Expresso, Público (de que foi fundador), Semanário (de que foi refundador), Capital, Grande Reportagem, O Independente e estava agora no DN.

Habituei-me a vê-lo em casa do Carlos Enes, outro grande jornalista e moderador do Psico-debate das Directas 2007.

Hei-de recordá-lo não pelo jornalista que foi (e hoje os serviços noticiosos on-line só falam dele) mas por duas notas:
- A voz. Inconfundível voz rouca que se elevava acima das outras conversas.
- A urgência. A urgência de dizer coisas, de dar conselhos, de alertar e de deixar claro que há sempre uma verdade oculta pronta para ser destapada.

Eu e o Carlos Filipe Mendonça, jornalista de excepção da nova geração, sorriamos muitas vezes um para o outro, deliciados com as conversas do Torcato.

Pessoas como o Torcato seguram a credibilidade do jornalismo.

8 comentários:

Paulo Colaço disse...

Desculpem o post intimista, repleto de nomes e referências mas é incontornável.

Ontem, em conversa com a Inês Serra Lopes, por mero acaso, referi a morte do Torcato.

A nossa moderadora não sabia ainda. Até porque a notícia era recentíssima.

Com um espantoso brilho os nos olhos falou um pouco do seu colega: "era muito fácil trabalhar com ele", disse-nos.

Ainda agora se foi e já faz tanta falta...

xana disse...

Todos os que o conheciam falam assim dele... cá em casa também se recebeu a notícia com espanto.

Bruno disse...

Não o conheci a não ser de nome e ainda assim não era daqueles jornalistas que estivesse no meu top of mind.

Infelizmente não tive a sorte de me cruzar com ele num desses serões em casa do Enes e da Ana mas tenho pena porque alguém de quem o Colaço fala assim é sempre alguém que vale a pena conhecer.

E, para além disso, Torcato foi uma referência no nosso jornalismo como atesta o seu percurso.

Quando perdemos alguém assim só nos resta curvarmo-nos perante a sua memória.

Anónimo disse...

É verdade amigo Colaço. Sorríamos muitas vezes a ouvi-lo contar aquelas história do jornalismo que ele abominava: o que se ajoelha!

Era uma prazer estar à mesa com o Torcato. Tão distantes ideologicamente, mas sempre convergentes no essencial. Vou recodar a voz - é verdade – e a urgência, claro. Mas vou recordar também a indignação permanente, a vontade de alertar para o que não era evidente. o "Cuidado"!!! Grandes serões em cada do Carlos e da Ana. O jornalismo vai perdendo a memória e eu, ainda em ínicio de carreira, vou vendo partir as referências!

Obrigado amigo Colaço por me fazeres recordar tão bons momentos.

Bruno disse...

Chegará a altura em que o Mendonça também será uma referência ;)

Margarida Balseiro Lopes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Margarida Balseiro Lopes disse...

Sem dúvida uma referência para o jornalismo português.

Que post, Paulo! Permitiste que os que tiveram o privilégio de tertuliar com ele, recordassem aqueles serões, e aos outros deste uma bonita imagem do jornalista, mas acima de tudo, do Homem.

Paulo Colaço disse...

Outros momentos igualmente bons virão, Carlos Filipe Mendonça (acho que só uma vez disse o teu nome assim em voz alta - foi na apresentação do teu livro eheh).

Continuaremos a recordar o grande Torcato!