O Público noticia que, pela primeira vez desde que se contabiliza, em 2007 o número de óbitos em Portugal ultrapassa o número nascimentos, o que nos faz entrar em crescimento natural negativo.
Para além de razões económicas, as pessoas têm menos filhos porque o desejam e o Estado, por muito benefício fiscal e subsídio que crie, não consegue levar as pessoas a fazer aquilo que não desejam.
Não precisamos de encher as pessoas de dinheiro, precisamos de fazer com que ter filhos deixe de ser uma despesa insuportável ou coloque em perigo a sua vida profissional.
Para onde ir senão temos o básico: onde está uma rede de creches ou jardins de infância universal e gratuita?
27 comentários:
Dia 4 de Junho de 2007 publiquei o primeiro post sobre natalidade, o "Silent Death".
Neste apresentava a diferença entre a política de natalidade em Navarra e a nossa:
Na Região Autonómica de Navarra, com o nascimento do terceiro filho, atribui-se uma licença de parto até 3 anos para um dos pais com direito a €330 por mês e, atingida esta marca, automaticamente recebe-se €1980, independentemente do nível de rendimentos.
Quando teremos algo de semelhante em Portugal, uma política que, mais do que aplacar o choque económico que o nascimento de um filho implica, incentive a substituição de gerações? Este fenómeno não se verifica em Portugal há 25 anos... onde anda o Governo? E a restante classe política?
Este post é em muito influenciado pela discussão que se seguiu.
Um outro ponto importante, a que devemos dar atenção, é a crescente infertilidade.
Para quando gastar-se a sério nessa investigação?
O Governo já deu passos na comparticipação de Saúde de alguns problemas conexos, mas ainda falta muito caminho.
A ideia de que um dia vou ter filhos para mim é uma miragem!
Não tenho condições para sustentar uma criança e atenção que digo sustentar, não falo em dar boas condições de vida, bons alimentos, boas escolas, bons serviços de saúde, etc de bons.
Sinceramente esta semana estou ainda mais revoltada com a economia em Portugal e sinto angustia por isso. Vejo cada vez tudo mais caro e os salários a diminuir.
Assim lamento mammy mas nunca vais ser avó!
Esta é uma situação que me revolta e tenho para mim que vai ficar pior.
Não há condições para os portugueses quererem investir em ter filhos.
Ter filhos neste momento em Portugal é uma despesa a evitar!
Quem fala assim não é gaga!
É uma questão frágil esta.
A política de natalidade em Portugal é fraquíssima, além de não fazerem nada por manter escolas, jardins de infância, creches para as crianças poderem estar enquanto os pais trabalham, ainda se pode acrescentar o facto de haver uma instabilidade económica que não permite o risco de se ter uma criança a “encargo”. É triste dizer estas palavras, mas é uma realidade.
Não sei porquê a falta de investimento no incentivo à natalidade quando é dela que depende o futuro de qualquer Estado. Estamos a precisar de um novo baby boom e rapidamente!
Factos: a população está a envelhecer, menos nascimentos, falta de apoio às mães.
Admiro os países que dão boas pensões, maiores licenças de parto. Assim sim, se aumenta uma populãção.
Ah, e claro: quem aprova o aborto, não se pode queixar do envelhecimento da população.
Olá Cacao,
creio que ainda não lhe tinha dado as boas vindas ao Psico. Volte sempre e ajude-nos a aprofundar os temas que aqui diariamente trazemos.
Ao ler o seu último parágrafo pensei: eu votei "sim" no referendo ao Aborto mas não me sinto, de modo algum, inibido de me "queixar" do envelhecimento da população.
Dever-me-ia sentir?
O argumento do aborto é francamente falacioso, pois assume que as mulheres usam o aborto como "meio anti-contraceptivo"...
E seguindo a lógica inerente do argumento, então que dizer da entrada das mulheres no mercado de trabalho?
É sabido que esse factor tem contribuido para o facto de hoje os casais terem filhos mais tarde... devemos então ser a favor do regresso da mulher à cozinha?
Falacioso não?
Caro Colaço, tu lá sabes se deverias ou não sentir-te... Tenho suficiente confiança na tua consciência e na tua inteligência. Sei que perguntaste à Cacao mas sabes que eu tenho a mania de me meter nas conversas ;)
Talvez possas raciocnar comigo. Temos um Governo que:
- Aprova a nova Lei do Aborto, empenhando-se como empenhou;
- Preocupa-se mais em facilitar divóricos do que promover a possibilidade de jovens casais atingirem a sua independência;
- Aposta tão pouco em incentivos à natalidade e apoios aos pais no início de vida dos seus filhos;
- Continua, apesar de todas as promessas em sentido contrário, com a viola enfiada no saco em relação a tantos problemas que se falaram na discussão da nova Lei do Aborto...
Admitamos que os sinais que são dados à população não são positivos em relação à vontade de aumentar a nossa população.
Até posso concordar com algumas das medidas de que falei (e outras haverá) isoladamente. O problema é que enquadradas numa determinada realidade onde se incluem as dificuldades financeiras que as famílias portuguesas atravessam, o aumento do custo de vida, o medo da escassez de alimentos no futuro, o aumento das taxas de juro, etc, etc, fazem com que a tendência seja esta em que vivemos.
Por isso podes queixar-te à vontade. Podemos todos! Até porque isso é tão português que até tu que és Moçambicano e eu que sou Angolano o podemos fazer por adopção ;)
Mas já agora convinha assumir responsabilidades e exigir ao Governo que tome algumas das medidas que prometeu na altura da discussão em que tu votaste "Sim" e eu "Não".
Repito neste post aquilo que já disse no anterior do Nélson!
Não me parece correcto olhar para esta questão numa óptima estritamente nacional.
Temos de ver o crescimento populacional num âmbito mais alargado, mais precisamente a nível global.
A verdade é que temos vindo a assistir a taxas de crescimento sustentadas a nível mundial, sendo certo que os indicadores nos mostram que aos 6 mil milhões de habilitantes na Terra hoje, devemos somar mais alguns milhões todos os anos!
Este é um facto inegável.
Parece-me que fomentar políticas de natalidade é um erro. O que deveríamos era fomentar políticas de imigração o que contribuiria para desanuviar os problemas em alguns estados de proveniência e para resolver o nosso défice de natalidade.
Acredito ainda que não é possível continuar a defender o crescimento contínuo da população.
Os recursos são escassos, mesmo com a melhoria da tecnologia para os explorar.
Nestas condições, apostar neste género de política poderá fomentar e dar origem a graves problemas sociais no futuro, nomeadamente ao nível da luta pelos recursos cada vez mais escassos. Exemplo actual disso é o aumento brutal das várias matérias-primas. E ninguém diga que o aumento populacional não tem nada a ver com isto.
Penso ser uma voz - ainda - isolada relativamente a este assunto, mas acredito que deveríamos ponderar esta perspectiva.
Cumprimentos,
Filipe de Arede Nunes
Caro Guilherme, também a ti te respondo dizendo que compreendo a ironia que utilizas. E tens toda a razão. Por isso falei ao Colaço numa conjugação de circunstâncias. E penso que tu já mostraste bem noutras discussões aqui no Psico que não és de vistas curtas ;)
A verdade é que o problema existe e o que devemos é pensar em formas de o resolver. OK: permitimos às mulheres que abortem livremente até às 10 semanas e isso contribui para diminuir a natalidade. OK: permitimos às mulheres que trabalhem e isso também contribui para que tenham menos filhos. OK: permitimos atentados contra o ambiente e a saúde e isso também contribui para que menos mulheres tenham a possibilidade de ter filhos.
E agora? O que fazer? Na minha opinião:
- Inevitavelmente, incentivos à natalidade como um subsídio de família forte e realista;
- Lógicamente, flexibilização das leis laborais no que diz respeito a licenças de parto (para pais e mães) e acompanhamento dos filhos;
- Claramente, como diz o Né, uma rede de creches e jardins de infância adaptada às necessidades do que queremos que seja o futuro;
Mas não só. As pessoas não se preocupam só com o início de vida dos seus filhos. Portugal tem que ser um país onde dê gosto viver. Só assim os jovens vão querer colocar neste Mundo um seu descendente. E é mais difícil fazer isso num país onde há dificuldades ao nível do 1º Emprego, Habitação para Jovens e tanta falta de qualidade no Ensino Básico e Secundário...
Caro Guilherme, não se deve defender o regresso das mulheres à cozinha apenas e tão somente porque ionvestiram na carreira e deixaram de saber cozinhar como tão bem fazem as nossas mães e avós.
Este regresso delas contribuiriam certamente para o aumento da fome em muitos lares :))))
Depois deste à parte, deem uma vista de olhos nisto:
http://www.forumdafamilia.com/peticao/
Ass: President El Pintas
Eu compreendo o que diz o Filipe, mas o que eu falo não é da sobrevivência de uma espécie, mas de não haver substituição de gerações.
E mesmo com imigração, só até eles adoptarem o nosso padrão de vida é que a solução estaria encontrada. No médio prazo veríamos a situação agravada por termos ainda mais idosos do que aqueles que conseguimos suportar.
Compreendo o panorama mundial, mas esse não conseguimos controlar.
Quanto à questão do aborto: eu votei Não, aceito o resultado do referendo e não me parece que o problema venha daí. Nem hoje, nem ontem.
Mas é um mau sinal, numa sociedade que tanto precisa de novas vidas, admitir que uma vida pode ser terminada por vontade de outrém.
Aproveito para resumir um texto que o DN publica hoje:
A China pratica a política do filho único.
"Estamos apenas autorizados a ter um filho", diz uma chinesa, amiga de uma mulher que perdeu uma filha no recente sismo. Esta regra só conhece excepções em algumas zonas rurais e nas famílias das minorias nacionais.
Os bebés tornaram-se valiosos na China desde que o Governo interditou à maioria da população ter mais de um filho, isto há mais de 30 anos, numa tentativa de controlar o crescimento demográfico do país mais populoso do mundo.
Esta opção permitiu reduzir em 400 milhões o número de nascimentos, de acordo com o Governo, mas causou também um desequilíbrio demográfico, com um número reduzido de jovens obrigados a financiar as reformas dos mais velhos.
Existem hoje 80 milhões de filhos únicos na China. Conhecidos como "pequenos imperadores", têm sob os seus ombros todas as esperanças dos pais e são cobertos de mimos por toda a família.
Entretanto, quando tiver tempo para me coçar, em vez de, efectivamente, me coçar, tento responder ao Bruno :)
Olhando para a notícia que o Colaço nos disponibilizou e para a preocupação pertinente do Filipe que me dizem:
será no futuro possível, mais que imigração, a importação de seres humanos?
A resposta para o problema do mundo ocidental está no Oriente...
CONCEITO ESPANTOSO!
Falemos sobre isso!
Talvez já hoje à noite, em Torres Vedras!
Lembro-me de quando andava no ciclo preparatório (há muitos muitos anos atrás) ver 1 selo dos correios da India. Esse selo tinha o desenho de uma familia constituida por 2 adultos e 1 criança e dizia "Small family, happy family". Na altura já me deu que pensar...
Acredito que enquanto andamos preocupados com a sustentabilidade dos sistemas de segurança social, devíamos era estar preocupados com o futuro da humanidade.
O crescimento exponencial que se propõe destruirá, não só o nosso modo de vida, como a civilização com a conhecemos.
A inexistência de recursos suficientes para a manutenção de um planeta de 6 mil milhões de pessoas a viver como ocidentais, causará graves problemas sociais e culturais num futuro muito próximo.
É que meus amigos, a última vez que dei conta, a população mundial continuava a crescer!
E a subida do preço das matérias-primas não é fruto exclusivo da especulação nos mercados financeiros.
Cumprimentos,
Filipe de Arede Nunes
Essa é a essencia do argumento "malthusiano" [o nome do argumento deriva do nome do economista Thomas Malthus]: um crescimento exponencial da população terá como resultado um colapso civilizacional e um regresso a uma 'economia de subsistencia', dado que o 'stock de comida' tem apenas um aumento aritmético.
(Note-se que matematicamente, para terem crescimento exponencial basta uma taxa fixa anual - por exemplo um crescimento de 1.4% ao ano de qualquer coisa e ao fim de 50 anos duplicaram a quantidade dessa coisa).
Mas embora perceba o argumento, tu estás a esquecer a causa da falha da previsão de Thomas Malthus, feita no seculo XIX: Inovação tecnológica.
Hoje precisamos de menos recursos (seja capital, trabalho e terra) que há 200 anos para produzir a mesma quantidade de alimentos, mantendo assim o passo com o crescimento da população.
Enquanto existir inovação e crescente eficiencia na produção agricola, a "catastrofe malthusiana" não é mais que um extremo teórico.
E como refere o Né, estamos aqui a falar de renovação de gerações, não de sobre popular o planeta.
Mesmo a politica do "filho único" na China já começa a ser entendida como má a longo prazo para o futuro da China: Arriscam-se a ter uma "implosão da piramide etária" [termo da Nomura Institute, não meu] que poderá colocar um grande entrave ao crescimento do país...
A India também atravessa problemas com as suas politicas de natalidade: dada a teoria do "só tenham um filho", as familias indianas tendiam a preferir rapazes (abortando mesmo as potenciais raparigas) pois "rapazes são mais baratos"...resultado: o ratio rapaz-rapariga está a descer a niveis preocupantes.
Quanto a Portugal:
O nosso próprio sistema fiscal é o primeiro a incentivar a "não natalidade", não descriminando positivamente casais com mais filhos - que como se sabe têm maiores custos com educação, embora o sistema fiscal não lhes reconheça isso...
Na esteira do que diz o Guilhereme, são problemas conexos mas distintos.
E a imigração não resolve a questão. É um factor atenuante.
O Estado tem de deixar de ser anti-família.
Voltei:
Bruno, primeira nota: eu sou goês, como os meus pais :) embora com coração e nacionalidade portuguesas.
Segunda nota: só por mera definição é que se pode dizer que a anterior lei do aborto era propiciadora de maior taxa de natalidade.
Este é um tema que, particularmente, me interessa, não fosse filha de uma educadora de infância. O último parágrafo do Né parece encontrar resposta nos vários governos, socialistas ou social-democratas, que têm encarado a reestruturação da rede pré-escolar como prioridade mas nunca a concretizando.
Estabelecer como obrigatória a frequência do ensino pré-escolar e reestruturar a rede configuram-se como necessidades de um país que se não queira assemelhar com os de terceiro mundo.
Qualquer uma destas medidas é essencial para o pacote de políticas de natalidade que tanta falta faz à pirâmide demográfica do nosso país. Não obstante ser este um fenómeno global e generalizado à escala mundial, é evidente que ter filhos em Portugal para além de não ser minimamente atractivo, não é sequer suportável pela maioria dos jovens casais portugueses (v.g., atendamos ao comentário da Goreti). Esqueçamos os argumentos malthusianos já aqui amplamente explicitados pelo Guilherme, que tiveram clara e inequívoca resposta da inovação tecnológica, ou os falaciosos argumentos dos defensores do Não no último referendo.
O que realmente sobeja desta triste realidade é a necessidade de encarar este problema como uma prioridade nacional. A bem das gerações futuras.
Oh Colaço, pensava que tinhas nascido em Moçambique...
Sobre a possibilidade de a anterior lei do aborto ser ou não propiciadora de maior natalidade, lembra-te do que foi a tecla em que mais bati durante a discussão pré-referendo: o que me preocupa mais na nova lei é a mensagem que transmite. É o que vai promover em relação às futuras gerações.
Dêem as voltas que derem, chamem falacioso ao argumento, chamem teoria... mas a verdade é que temos neste momento uma legislação que - nesse aspecto - é menos favorável em relação à natalidade do que a anterior.
Mas não é só por aí, eu sei. O que me preocupa é que a alteração da lei do aborto é apenas uma pequena agulha num palheiro de factores que dificultam a constituição de família e a renovação de gerações.
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