sexta-feira, julho 11, 2008

O estado das Nações





O que é o G8? Diz-se tradicionalmente que é o Grupo dos 7 países mais industrializados mais a Rússia. Ora, este "mais a Rússia" só nos leva a crer que a Rússia não é um dos países mais industrializados mas ainda assim deve estar presente no G8. De facto, nos dados do FMI a Rússia lá aparece em 7ª mas para todos os outros (v.g. Banco Mundial) não é um dos 8 países mais industrializados e nele se devia incluir a China, saindo o Canada, e entrando a Índia para o lugar da Itália.
Nesta perpsectiva apenas se compreende a presença da Rússia e ausência da China numa perspectiva politico-militar. É que a Rússia entrou em 1998 para o então G7 sobre o pretexto de se terem dado passos importantes na democratização do país. O que nos diz então que o estado politico do país é factor de consideração do G8.
Ora, será então que algo deve ser mudado no G8? Uns falam da entrada do México, Brasil, China e India, passando assim a G12. Talvez não seja fácil... Imagine-se, por exemplo, a posição do Japão quando falada a possibilidade de entrar a China ou a Argentina sobre o Brasil... E que dizer se outro modelo como a passagem para G5? Sairia a Itália, naturalmente, o Canada e... qualquer outra baixa seria rotura nas relaçõs internacionais para não falar destas por si só. Por outro lado, temos assistido a um "corporativismo internacional" desmedido em todas as áreas e para cada uma delas. A Europa é o exemplo: EFTA, UE, NATO, ONU. A Finlândia, por exemplo, faz parte de todos estes organismos.
ONU, Mercosul, OEA, CPLP, ALADI, OTCA, UNASUL,CI-A e UL... todas estas têm o Brasil como membro...
A União para as Nações Africanas, o Mercosul, União das Nações Sul Americanas seguem a União Europeia e agora McCain na sua campanha vem falando da "Liga dos bons" e lá para os lados do oriente fala-se de uma União Asiática...
A minha dúvida é até que ponto pode a sociedade internacional evoluir com a vontade dos Estados em agruparem-se segundo interesses comuns aos mesmos; ou até que ponto não seria bem mais salutar ao interesse das boas relações internacionais que o espirito criador destas organizações fosse uma verdadeira vontade supra-estado, um corpo e mente unos como verdadeiros sujeitos internacionais.
Até lá... onde vamos parar?


(nota: apeteceu-me escrever este texto depois de ler as noticias neste link http://ultimahora.publico.clix.pt/?idCanal=11 vejam a parte das "noticias desta secção" e vejam a confusão que vai na nossa comunidade internacional...)

28 comentários:

Tiago Sousa Dias disse...

E já agora... perdoem-me a extensão mas não dava para ser mais curto.
O titulo não é "ao calhas". Hoje devia estar a escrever sobre o Estado da Nação, o debate de ontem... Mas alguém tem vontade de o debater...

jfd disse...

Tiago é muito pertinente este teu post.
Eu ando com uma tendência para a análise económica das coisas. Em 2001 o economista-chefe do Goldman Sachs criou a sigla BRIC. Referia-se às emergentes economias do Brasil, Rússia, Índia e China. Reparem desde aí na sua evolução económica... Foi feito o relatório Jim O’Neill - «Building Better Global Economic BRICs», Global Economics Paper nº 66, Goldman Sachs, 30 Novembro de 2001 , onde o pior cenário indicava a grande importância que estes países iriam ter na economia mundial. Dois anos, depois a equipa deste senhor já considerava que até 2040 os BRIC deveriam superar os actuais G7; França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido, EUA e Canadá.

Em apenas 5 anos, a China tornou-se a 4ª maior economia mundial, tendo acrescentado ao Produto Interno Bruto (PIB) global um valor equivalente à totalidade do PIB da França. Apenas 8 anos depois de estar em bancarrota, a Rússia conseguiu acumular reservas cambiais num valor superior ao de todos os países da Zona Euro.

Em 2007, o peso dos países BRIC na economia mundial já era superior a 13%, ultrapassando largamente o melhor cenário projectado por O’Neill, levando-o mesmo a antecipar a data em que os BRIC ultrapassarão os G7, de 2040 para 2032.


Ora, este senhor, não satisfeito, em 2005 identifica novos países emergentes; cuja dimensão actual e potencial de crescimento tornasse possível a sua ascensão ao estatuto de grande potência mundial, até 2050. A estes países foi atribuída a designação de Next Eleven (N-11), ou os “Próximos Onze”. A saber: Bangladesh, Egipto, Indonésia, Irão, Coreia do Sul, México, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Turquia, Vietname

Apesar deste conjunto de países não ser tão coerente e homogéneo como os BRIC, partilha ainda assim um conjunto de características distintivas:

1. Elevada dimensão da população: este foi o mais decisivo critério de identificação dos Next Eleven. Sem uma vasta população, mesmo as mais bem sucedidas histórias de crescimento terão pouco impacto global. Os N-11 têm, em média, 110 milhões de habitantes.

2. Elevado potencial de crescimento económico: todos os Next Eleven deverão manter taxas médias de crescimento anual superiores a 4% nas próximas décadas, desde que apresentem indicadores favoráveis em 5 grandes critérios:
• estabilidade macroeconómica (inflação e contas públicas);
• condições macroeconómicas (políticas de investimento e abertura ao comércio);
• capital humano (qualidade da educação e saúde);
• condições políticas (estabilidade política, qualidade da justiça e combate à corrupção);
• acesso a tecnologia (penetração de telefones, PC’s e internet).
Entre as principais diferenças nos países Next Eleven, destacamos:

1. Rendimento per capita: é aqui que o ponto de partida é mais díspar. O rendimento per capita na Coreia do Sul (membro da OCDE, juntamente com o México) é mais de 40 vezes superior ao do Bangladesh (um dos países mais pobres do mundo).

2. Níveis de urbanização: alguns dos países são essencialmente rurais (Bangladesh e Vietname), enquanto outros apresentam elevados níveis de urbanização (México e Coreia do Sul).

3. Nível de desenvolvimento dos mercados accionistas: apenas 7 dos 11 mercados Next Eleven estão incluídos no principal índice de mercados emergentes (MSCI Emerging Markets), representando cerca de 22% deste índice (o que compara com 48% dos mercados BRIC). A Coreia do Sul e o México são claramente os mercados accionistas mais desenvolvidos dos N-11.


A newsletter do Activobank7 em que baseio muita desta informação, e de onde faço copy&past, concluí desta forma;

De acordo com o “pai” dos BRIC, Jim O’ Neill, o grupo de países constituído pelo Brasil, Rússia, India e China continua a ser a principal história de crescimento deste século, devendo ultrapassar a dimensão conjunta dos actuais 7 países mais industrializados dentro de apenas 24 anos, apesar de terem ainda actualmente cerca de um quinto da sua dimensão.

Os países Next Eleven não deverão atingir o mesmo impacto que os BRIC na economia mundial, mas terão ainda assim o potencial de rivalizar com os países G7, a longo prazo, pelo menos no contributo para o crescimento da economia mundial.

Em qualquer caso, a mais recente “criação” de O’Neill permite chamar a atenção para países e mercados (alguns deles ainda desconhecidos dos investidores e aos quais é difícil aceder), com elevado potencial de crescimento e que poderão ambicionar um dia rivalizar com as grandes potências mundiais, caso implementem as necessárias reformas políticas, económicas e sociais.



Ora para quê isto tudo?
Para que entre agora alguém especialista em política e relações internacionais, e nos diga como se vão equilibrar as forças políticas internacionais, num cenário com elevadas probabilidades de ser semelhante a este!

A meu ver, as coisas têm de ser completamente repensadas. O modelo tal é qual como está, já era! Está eminente um grande power shift, e não será pela vontade política nem pela justiça da coisa, mas sim pela força da verdadeira linguagem universal; a Economia!

Tiago Sousa Dias disse...

Jorge para se saber como estabelecer novos equilibrios é preciso saber onde surgirão os desiquilibrios. Por isso mesmo falei do G8. É que os países do G8 têm um potencial enorme de criação de desiquilibrios e/ou resolução dos mesmos. Por exemplo, ao nível dos conflitos internacionais, tiveste a intervenção americana no Iraque. O abandono pelos EUA do Iraque na situação em que está, fragilizado, permitirá uma ascensão regional do Irão que, irónicamente, será o único motivo pelo qual os EUA ainda não abandonaram a região. Imagine-se que ao Irão se segue a Coreia do Norte numa atitude mais agressiva e semelhante aquele. Quem terá inevitavelmente de intervir será sempre o Japão e/ou a China. A Argentina tem a dívida hipotecada ao petróleo venezuelano e o Brasil quer entrar no G8. A concretizar-se a ascensão potencial do Brasil pode originar uma reacção opositora destes Estados circundantes, os vermelhos americanos não indios. Olha para África... porque é que nenhum Estado está representado no G8? Não há economia para isso? Porque é que os chineses estão a "construir Angola" então? E decidir sobre assuntos do petróleo sem que a Arabia Saudita esteja representada?
O que te quero dizer com isto é que é minimamente previsivel onde podem nascer alguns conflitos e até alguns dos motivos: Energia e Armamento sobretudo. Mas a forma de os resolver vai sempre depender do estado das nações nesse momento.
Dou-te um exemplo:
O arranque da campanha contra o terror lançado pelos EUA no Afeganistão, partiu do art.º 5º do Tratado do Atlântico Norte que considerava que o ataque a um Estado da NATO é um ataque a todas as Nações da NATO.Ora, e se em vez do Afeganistão fosse um Grupo rebelde inglês...? Ou se fosse atacado não os EUA mas a Venezuela?Os pressupostos não seriam colocados em cima da mesa do mesmo modo, ou nem tão pouco existiriam, mas o pior, é que ainda que fossem não haveria vontade dos Estados em participar na execução dos Tratados a menos que existisse um desiquilibrio. A Alemanha apoiaria um campanha contra o terror ... na França? Não. Na Venezuela? Depende do Brasil provavelmente. No Afeganistão? Sim. Ora, chegados aqui, o assustador é que isto aqui funciona mais ou menos como no futebol... Uma equipa cheia de estrelas ao ponto de colocar algumas no banco... não funciona e criam-se os conflitos... de balneário.
Passaríamos assim para um segundo nível de conflituosidade, mais grave, com Estados pertencentes às mesmas organizações.
Concluíndo, acho que a tendência não deveria ser a multiplicidade de organizações pelos interesses dos Estados mas pelo interesse da comunidade internacional. Mas ainda assim é melhor que o solitarismo que periga pela prepotência dos mais fortes.

Paulo Colaço disse...

O G8 é-me irrelevante.
Respondo como o Ribau Esteves quando a candidatura de Patinha Antão reclamou por não ter sido convidada para o nosso Psico-Debate: cada um debate com quem quer.

Esses meninos querem reunir? Reunam e que lhes preste, como diria o Eça.

Preocupa-se, sim, o funcionamento da ONU.

EUA, Rússia e China têm um poder extremo. Numa organização que defende a Paz, farão sentido os mecanismos de congelamento detidos por Estados com as agendas, amigos e compremetimentos destes 3?

Poder de Veto? Palhaçada...

Reforma da ONU já!

Tiago Sousa Dias disse...

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1335294&idCanal=11

Jorge olha um exemplo do equilibrio que pode representar a permanência dos EUA no Iraque. Independentemente da veracidade dos factos, que tem sido contestada, certo é que Ahmadinejad já fez questão de salientar que Israel deveria desaparecer do mapa...

jfd disse...

Tiago, meu caro amigo, que facção está no poder no Iraque, graças aos Americanos, não sei quantos anos depois de estarem quietinhos e dizimados como sempre foram em toda a história?

Quem destruiu a firewall entre o resto do mundo e o Irão?

Só têm é que remediar :P

Mas repito, para mim é tudo uma questão de Economia!

E mais digo! Um dia olharemos para um Mapa Mundo e o centro não será aquele que agora vemos, mas sim a Ásia.

jfd disse...

Olha Tiago, fui ao Drudge Report ver notícias da morte do Tony Snow, e olha o que está como destaque eminente:

BUSH CONSIDERS STEPPING UP PACE OF IRAQ PULLOUT... DEVELOPING...

http://www.drudgereport.com/

Tiago Sousa Dias disse...

Sair já do Iraque é um erro que não vai ser cometido...

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

No que diz respeito ao G8+5, existem alguns problemas "práticos":
Juntar o Brasil terá a oposição dos rivais "regionais" Argentina e Venezuela;
Juntar a India terá a oposição do seu "arqui-rival" Paquistão - o grande aliado nos EUA na região, com problemas de extemismo e armas nucleares;
Africa primeiro tem de resolver os seus problemas, a começar por não dar cobertura politica/diplomatica ao senhor Mugabe...

Quanto aos BRIC, JFD:
Eu pessoalmente não acredito muito na continuação de boa saúde da China e India. Ambos correm sérios riscos de uma pequena implosão da "pirâmide etária", devido às suas politicas de natalidade - politica do filho único na China e a questão do dote das raparigas que leva à preferencia por rapazes na India.
Note-se que estes paises não são desenvolvidos pelo que os seus sistemas sociais não aguentam a tensão que os nossos aguentam com a inversão da piramide etária [eles estão a fazer em 10 anos o que nós demoramos 100 a fazer... incluindo os problemas etários]. Em segundo lugar, a India tem o problema cultural grave do sistema de castas, que inibe que a riqueza se "propague" e é um serio entrave ao desenvolvimento. E no capitulo do crescimento indiano, estão com um [grave] problema de inflação [quase a dois digitos entenda-se] que levou o Banco Central a subir as taxas de juro de forma agressiva para por um travão... poderão ter uma aterragem algo violenta.

A China tem dois graves problemas - a somar ao problema demográfico futuro: uma pessima politica monetária e uma questão energetica.

No campo monetário uma moeda subavaliada. Embora isso continue a estimular exportaçoes o nivel de preços ajusta - para cima entenda-se - as reservas cambiais aumentam exponencialmente - para valores preocupantes do ponto de vista de equilibrio - e o mercado interno não acompanha.

A europa não tem esse problema: podemos dar-nos ao luxo de subir juros e cambios de modo a proteger a zona euro, e confiar no mercado interno para compensar perda de exportações. Os chineses não têm essa opção: a procura interna não aguenta. [Note-se que isto também aumenta o fluxo de capital para dentro do país, aumentando a massa monetária e os desiquilibrios].

O outro problema é que o verdadeiro segredo do crescimento chinês era energia "ultra barata" - no caso especifico do carvão. O uso de energia por unidade de PIB da China é 5 vezes superior aos EUA - que não conhecidos por serem poupadinhos nesse campo...

Resumindo: China e India vão ter que resovler alguns desiquilibrios internos - arriscando mesmo uma travagem brusca como já foi visto no passado - antes de pensarem em andar no mesmo clube que o G8...

E para finalizar: este pensamento "à lá UE" de juntar novos membros, ir alargando e depois é que a malta se lembra que somos 27 e temos que mudar a forma de funcionar pode não ser a forma mais correcta ...

Se calhar deviamos era reformar a ONU, em vez de começar a duplicar o conselho de segurança ;)

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

PS: note-se que eu concordo com o JFD, no "recentrar" no mundo na Asia...

Apenas acho que Tokyo está muito melhor posicionada que Beijing ou Xangai para ser a próxima Nova Iorque ;)

jfd disse...

Desculpem o off topic para o Sousa Dias

WASHINGTON — The Bush administration is considering the withdrawal of additional combat forces from Iraq beginning in September, according to administration and military officials, raising the prospect of a far more ambitious plan than expected only months ago.

Such a withdrawal would be a striking reversal from the nadir of the war in 2006 and 2007.

One factor in the consideration is the pressing need for additional American troops in Afghanistan, where the Taliban and other fighters have intensified their insurgency and inflicted a growing number of casualties on Afghans and American-led forces there.

continua em
http://www.iht.com/articles/2008/07/13/america/13military.php

jfd disse...

Guilherme,

Boa análise dos "+5".
Boa análise dos BRIC e das suas fraquezas.
Não disseste nada dos Next-Eleven, por alguma razão em especial?

Não sei se concordo com Tokyo, é que se não sendo na China, não pensas que será numa Kuala Lumpur ou algo parecido?

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

Já tinha visto a análise dos N11, e não tenho grande coisa a acrescentar... nunca os estudei bem a fundo.

Quanto a Kuala Lumpur vs Tokyo:
Ante de mais aviso/disclaimer já que sou tendencioso para o Japão. Admiro o país e a cultura.

É verdade que passaram os últimos 15 anos sem ir a grande lado em termos de crescimento. Mas é preciso notar que isso foi consequencia duma escolha: aguentar o maior estoiro imobiliario do seculo XX, e não deixar o processo de ajustamento ser demasiado duro.

Mas a verdade é que continuam com um enorme superavit de poupança, continuam a ser uma potencia industrial e tecnológica - em alguns pontos superiores aos EUA - tem uma economia plenamente desenvolvida e o sistema social deles aguenta pressões demográficas - que têm sentido desde meados dos anso 80.

Se existe país com capacidade e força para liderar uma ASEAN, na ausencia de uma China que poderá aterrar de cabeça - outra vez - é o Japão, e não a Malásia ou Singapura... na minha opinião, claro! ;)

jfd disse...

Hummm ;)
És um conservador no que toca a fundamentals ;)

Anónimo disse...

[Depois da surge funcionar, é natural que se pense em retirar algumas tropas e se coloquem no Afeganistão. Ponto diferente de uma retirada do Iraque.]

O Colaço toca em 2 pontos importantes: o G8 que reúna com quem considere mais importante. Mas a inclusão de outros países seria inteligente; a reforma da ONU é essencial, pois esta organização está demasiado "pesada".

BRIC - acentuar apenas o futuro de Angola (alguns já falam nos BRICA).

E acrescentar um dado: numa das minhas leituras, deparei-me com um fenómeno estranho. Algumas das empresas europeias e norte-americanas começam a retirar da Ásia por força do aumento do preço do petróleo.

Talvez o mundo não mude tanto assim nos próximos anos. Precisamos de mais super-empresas asiáticas.

Tiago Sousa Dias disse...

Honestamente nem é na ONU que vejo grande necessidade de mudança. É uma estrutura pesada porquê? Porque todos têm acento? É verdade, mas é precisamente esse o objectivo da ONU.
Porque as decisões são tomadas com voto politico e marcadas pelas relações internacionais fora da ONU? É verdade, é precisamente por isso que a ONU existe. Se repararem a seguir à 1ª Guerra a Sociedade das Nações não se segurou e a seguir à 2ª Guerra veio o período que ainda dura de paz na Europa, o continente mais beligerante. A ONU tem cumprido o seu papel. A titulo principal ou acessório... tem cumprido.

Quanto à tua análise Guilherme, não sendo economista discordo desde já de algumas coisas que disseste. A mais de todas o facto de o mercado interno chinês não acompanhar o crescimento externo. O que tu não tens na China é os dados oficiais do mercado interno onde o paralelo representa uma brutalidade do crescimento interno. Por outro lado, em termos demograficos nãos ei se será verdade que existirá esse problema. Se é verdade que existe a politica do controlo demográfico, também é verdade que como qualquer outra lei, esta é violada tendo uma crise diferente no que toca à clandestinidade de cidadania chinesa, numeros não declarados de cidadãos chineses que não existem. Gostava de saber números quanto a isto.
Já Angola é o espelho do crescimento chinês como eu tinha dito, mas que está hipotecada ao que o investimento estrangeiro quiser que Angola cresça. Não tem autonomia suficiente para manter níveis de crescimento por si só. Tão cedo não a vejo como uma potência.
Hoje Mário Soares publica um artigo sobre este tema e mais uma vez o Psico antecipa-se :)
Gostei de algumas partes do texto sobretudo no que respeita a África.
Kuala Lumpur Jorge nunca há-de ser uma Londres, Paris ou Bruxelas da Ásia. Que possa ser uma grande cidade de movimento de capitais e com capacidade de investimento em grandes obras... sem dúvida, já tem duas torres :)
Hong Kong e Taiwan sempre subordinados à China.
Pyongyang contra Tókio; Tókio contra Pequim e Xangai... Honestamente não vejo com facilidade que a organização a oriente passe por um modelo de concentração como o modelo europeu. É um estigma nosso, não deles. Cada um por si excepto quando o assunto toca a todos... o que é dificil dados os diferentes regimes democráticos e menos democráticos. Por exemplo, Tóquio tem a maior ditadura organizacional do Mundo no que toca aos assuntos das baleias, através do poder de compra. Vejam lá que o último país a entrar na organização foi a eslováquia que como se sabe tem baleias a dar c´um pau.
É conhecido o voto comprado, as sessões interrompidas para "permitir que Tóquio esclareça em privado as suas posições" e a Austrália mesmo ali ao lado... :)
Enfim, é demasiado complexo o universo para perceber o futuro destas organizações, mas certo é que a proliferação, no dia em que escrevi isto divulgou-se a Unimed (farmaceutico?), de interesses e associação casuística trará problemas de conflitos de interesse. Resta saber onde e porquê...

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

Quanto à tua análise Guilherme, não sendo economista discordo desde já de algumas coisas que disseste. A mais de todas o facto de o mercado interno chinês não acompanhar o crescimento externo.

É uma evidencia que advém de observar a politica monetária deles. Desde Fevereiro de 2007 que eles têm subem as taxas de juro repetidamente, aumentam requerimentos de reservas, impõem restrições ao crédito - no final de 2007 chegaram mesmo a proibir os bancos de fazer novos créditos... tudo isto para tentar impedir o crescimento das reservas, inflação e uma bolha monetária.

Se tivesse mercado interno "autonomo" a resposta de politica monetaria seria bem mais simples: deixar o Yuan apreciar, agindo com um escudo inflaccionário e contrator de reservas e deixar a economia a funcionar pelo lado do consumo interno.

A verdade é que a China não é um país rico: é o maior aglomerado de pobres do mundo. Juntas muitos e ai sim, tens um país rico. Na questão demográfica não sou tão optimista como tu - sim, pq isso é puro optimismo: achar que a politica de um filho único não vai produzir os efeitos obvios na piramide etária por falta de cumprimento da lei.

Quanto a Angola ainda lhe falta muitos passos para sonhar em juntar-se aos BRIC, na minha humilde opinião. Institituições, propriedade privada, deixarem de prosseguir a política de arremesso com a Sonangol - por exemplo na pretenção de quererem comprar o BFA ao BPI a preços de 1996(!!) - e ainda é muito dependente do Petroleo.

Quanto à ONU, vejo com mais urgencia que tu a reforma da instituição: em especial do Conselho de Segurança, com as posições permanentes reminescentes de quem venceu a 2 Guerra Mundial e o direito de veto que bloqueia a tomada de decisões...

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

Errata:
Desde Fevereiro de 2007 que eles têm subido as taxas de juro

Anónimo disse...

Eu não considero a ONU uma organização pesada por força dos países que a constituem, mas do decision making.

O Conselho de Segurança é anacrónico e não funcional, a Assembleia-Geral é quase inexistente.

A ONU vale pelos programas de auxílio, pois o peso de intervenção política acabou. Não sei se por força deste SG, se por força dos escândalos e desautorizações do anterior SG, mas a ONU é cada vez mais uma instituição de ontem, incompreendida hoje e longe de estar preparada para o amanhã.

Tiago Sousa Dias disse...

A história do veto da ONU é um mito da guerra fria. Ora digam-me lá onde é que nos ultimos 20 anos a ONU deixou de decidir por veto?!

A Assembleia Geral cumpre o papel que se lhe pede, podia ter outro tipo de representatividade...? Duvidoso, mas em termos funcionais o que mudarias?

O papel da ONU nunca foi de conduzir a politica mundial. Doutro modo o Conselho de segurança nunca existiria, mas mesmo assim lá tiveram os EUA que agir de acordo com todas as instruções da ONU... certo que a decisão demorou 24 horas, o que até retira o argumento de ser pouco funcional. Quanto ao anacrónico não percebo o que queres dizer com isso. Explica-te lá.

O que eu acho verdadeiramente e digo aí pela 3ª vez mas de modo diferente, é que a NATO pode ser empecilho à ONU; a EFTA pode ser empecilho à NATO, a UNISUL pode ser empecilho à Mercosul etc... A crescente complexidade da organização da sociedade internacional pode ser uma barreira ao seu próprio desenvolvimento.
O caso Tatcher por exemplo. O homem auxilia numa tentativa de derrube de um Governo da Guiné Equatorial; foge para Espanha que, como Inglaterra, está na UE; não extradita o homem; a Guiné equatorial contratou um grupo de intervenção russo para capturar Mark e leva-lo a julgamento na Guiné. Incidente diplomático à vista, é uma questão de tempo. O mesmo aconteceu com Man, o líder, que estava preso no Zimbabwe e foi levado tranquilamente para a Guiné. Ora, aqui é um pouco o que diz Mário Soares: trata-se de países africanos com telhados de vidro.
Guilherme eu disse que não tenho números sobre a população chinesa ilegal e gostava de saber para perceber até que ponto o controlo de natalidade tem efeitos reais na demografia chinesa. É que acredito profundamente que a demografia chinesa na realidade tem números completamente distorcidos das estatísticas "oficiais". Posso estar errado, mas é conhecido o problema; só não é conhecida a dimensão.

Paulo Colaço disse...

"O Conselho de Segurança é anacrónico e não funcional, a Assembleia-Geral é quase inexistente."

Reforma já!

jfd disse...

Honestamente não vejo com facilidade que a organização a oriente passe por um modelo de concentração como o modelo europeu. É um estigma nosso, não deles.

Exactamente Sousa Dias!!!


No que toca a Angola, partilho em parte da tua opinião Guilherme, mas também do Jim O'Neill... Afinal de contas, olha para a Nigéria...

E já agora, para quem falou em BRICA, não encontro nenhuma referência fidedigna... Pode consubstanciar?

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

Hum...Nigéria...
refereste ao país africano com ataques constantes às plataformas de extracção de petroleo - a Nigéria é o maior produtor de light sweet crude de Africa - e que faz impostos retroactivos sobre as petroliferas para financiar a companhia publica que tem de colocar dinheiro nas parcerias que assinou com as petroliferas? [Há quem chame a isto roubo mas vamos ser simpáticos]

Ou por ventura à outra Nigéria? ;)
Africa ainda tem um longo caminho a percorrer antes de poder sonhar em fazer parte de G8/G5/BRIC e outras nomenclaturas...

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

Errata:
Ou por ventura há outra Nigéria? ;)

jfd disse...

Duh!!!
Exactamente essa Nigéria de bandidos continua a ser apontada como grande potência Africana...

Money talks

jfd disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Pedro Salgado disse...

Devo confessar algo: adoro a época em que vivêmos.

É verdade que está tudo uma barafunda de desajustes, mas isso é que a torna maravilhosa. O exemplo da mudança das perspectivas e dos paradigmas das Relações Internacionais é o exemplo perfeito de visões do mundo que necessitam de ser adequados e reformados.

E cabe-nos a nós fazer isso.

Não sei quanto a vocês, mas só esta ideia dá-me uma alegria enorme e uma grande vontade de pôr mãos à obra.

jfd disse...

É verdade Salgado, a História somos nós ;)