terça-feira, julho 29, 2008

S.N.S., R.I.P.




Com estas e outras medidas, cheias de boas intenções que sejam, se faz um sistema colapsar.

Depois de anos de uma política de saúde sem rumo (que começaram durante o Governo de Durão Barroso), esta medida vem dar uma machadada final no velho S.N.S.


Porque convenhamos:


-entre um sistema que nos acolhe, estimula, dá condições, paga bem;


- e um outro que faz tudo menos expulsar-nos à vassourada;


duvido que os médicos portugueses tenham dificuldade em escolher.

34 comentários:

José Pedro Salgado disse...

Liberal que seja, e a favor de sistemas privados que sou, acho que o Estado continua com o dever de promover uma política de saúde que tem de passar necessariamente por um sistema público de saúde com qualidade.

E o que me faz confusão é que o Estado insiste, não em demitir-se da sua função, mas em contrariá-la por sistema.

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

Subscrito! [Lembro-me inclusivé duma conversa que tivemos no bar sobre isto ;)] O SNS tem um papel essencial: os mecanismos que tornam os mercados autocorrectivos - mecanismos de preços e penalização por erros - não se dão bem quando falamos da saúde de uma pessoa.

Tantas formas de reformar o SNS - a começar por repensar a sua universalidade, ponto onde MFL e PPC até concordaram para espanto de muitos - e tinham de pegar pela "exclusividade" dos médicos?

Vai-se "secar" o SNS e depois vamos andar a importar médicos de onde?

Esta é daquelas medidas em que não vejo mesmo qual o nexo...

Diogo Agostinho disse...

É um erro tremendo. Aliás o Batonário já fez o diagnóstico do sistema de saúde e tem muita razão.

Não querem médicos no público e no privado? Então xau xau público.

Receber mal e ser mal tratado para quê?

José Pedro Salgado disse...

Exactamente Guilherme.

Sinceramente, não sei se é vivermos com um sindrome de 8-ou-80tite aguda, mas estas coisas não se podem reformar só com base em princípios.

Questões como a Saúde, o ensino e outras que tais nunca deviam ser encaradas pelo Estado como um encargo que, segundo uma lógica economicista de custo/benefício, se deve reduzir ao seu ponto óptimo de eficiência:

- primeiro porque existem situações cujo tratamento não é traduzível (realisticamente) em números;

- segundo porque não são verdadeiramente um encargo, mas dos melhores (não obstante mais mitigados) e mais seguros investimentos que um Estado pode fazer.

Diogo:

É como dizes. Ainda existem muitos médicos que, algo quixotescamente, trabalham no sector público, mas até esses, mais tarde ou mais cedo vão-se começar a perguntar "porquê?".

O patrão não dá certamente sinais de os querer lá.

Rui disse...

A exclusividade paga-se e parece que este Governo deve ter encontrado um pote de ouro, para propor exclusividade aos médicos.

Não consigo compreender a proposta do Governo.

"A proposta tem como principal objectivo combater a falta de clínicos"
não sei como!! só se for a falta de clínicos nos privados...

que tiro no pé!

José Pedro Salgado disse...

Uma questão muito bem levantada, Rui.

Um médico em dedicação exclusiva ganha consideravelmente mais do que um médico que acumule uma actividade privada com uma pública. Será que temos dinheiro para isso?

E mesmo partindo do pressuposto que sim, ainda assim a larga maioria dos médicos ganha ainda mais se se dedicar só a trabalhar no sector privado (por conta própria ou de outrém).

As grandes vantagens do sector público passavam, para a maioria dos médicos, por incentivos que pouco ou nada tinham a ver com remuneração, como a existência de recursos para desenvolver projectos que não fazem sentido e/ou não têm interesse no sector privado.

Mas quando se restringe as hipóteses de tal forma que até isso deixa de ser possível, o Estado não está a fazer nada menos que sabotagem a ele próprio.

xana disse...

Acho que a nossa amiga Dalmata está de férias. Gostava que ela comentasse este post, porque sei que esta matéria lhe é muito cara.

E não discordo com a medida, acho que de facto devia acabar-se com as somas milionárias que os médicos auferem fazendo uma perninha no público e no privado.

Mas para esta medida funcionar, é preciso repensar o SNS e adaptá-lo também a uma certa exclusividade: quem pode pagar que vá para o privado!

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

Mas ai batemos noutra questão:

É assim tão "ilicito" para um médico fazer uma perninha entre o privado e público?

Confesso que não vejo bem o problema que os médicos fora das horas de trabalho do "publico" façam consultas no privado...

Diogo Agostinho disse...

"somas milionárias que os médicos auferem fazendo uma perninha no público e no privado"????

Somas milionárias? O que recebem no público de facto tem tudo menos milionário!

Paulo Colaço disse...

O bastonário afirmou: "o médico é um cidadão como outro qualquer e portanto quando acaba as horas de trabalho que contratualizou com uma empresa, seja pública ou privada, faz o que bem entender".

Imaginem que a Ordem dos Médicos tinha um jurista nos seus quadros. O que diria o Bastonário se depois das horas de trabalho, esse jurista fosse dar uma perninha ao Ministério da Saúde?

A exclusividade é uma possibilidade legal, ao contrário do que pensa o senhor Bastonário. Mas será a solução?

Não gosto de ver alguns (alguns, repito) médicos do SNS perverterem o sistema, oferecendo no privado a abnegação a que se negam no público.

É indecente. É criminoso. É brincar com a saúde das pessoas. Devia ser punido com a expulsão da Ordem.

Infelizmente, há médicos que olham para o SNS como o seu part-time. Como lidar com isso? Isso combate-se com a exclusividade? Não creio.

Combate-se com mais meios, com uma filosofia de serviço público mais eficiente, com funcionalismo público mais apoiado e dedicado, com escolas médicas de qualidade.

E também com método! Sem método poucas políticas resultam.

Ahh, e com mão pesada para quem prevarica! É fundamental: o medo é óptimo catalizador!

José Pedro Salgado disse...

Xana:

Perfeitamente de acordo com a última parte: o SNS precisa de ser reformado de baixo a cima (e não de cima para baixo, com tem sido hábito e não tem resultado muito bem). E o sentido até concordo que seja esse: quem pode paga, no público ou no privado.

Quanto aos salários milionários, de certeza que não vêm do sector público. Se os médicos têm as duas actividades é muitas vezes precisamente para poderem ter um complemento salarial. E certamente que o rendimento dos médicos por horas de trabalho é muito inferior ao das outras classes da administração pública.

De qualquer maneira, mesmo que queiras acabar com essa prática, não é esta a forma: o efeito será perverso pois, embora o resultado seja acabar com a acumulação de funções, este será feito em detrimento do sector público.

E por acaso também gostava de ouvir a opinião da dálmata quanto a isto.

Unknown disse...

Admito que me faz um pouco de confusão este assunto. Eu tenho um contrato de exclusividade com a minha entidade empregadora que me proíbe, entre outras coisas, de exercer outra actividade profissional. Mas também, ao fim de 8 horas diárias (mínimo), não seria com grande vontade que iria trabalhar noutro sítio. Será assim tão estranho a exclusividade? Quantas horas trabalha um médico por dia no SNS? Bem sei que generalizar não é uma grande ideia, essencialmente porque existem diferentes turnos, e diferentes especialidades que obrigam a maior flexibilidade de horários. Agora tomando como referência a minha experiência na indústria farmacêutica, na clínica geral, os médicos trabalham pouquíssimo (4 horas por dia máximo) no SNS e usam e abusam da base de clientes que o SNS lhes confere para seu próprio lucro nas clínicas privadas.

Anónimo disse...

O ano formal da criação do SNS é 1979 ;)

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

Essa é a data formal do actual sistema universal, mas o sistema "original" é de 1903, embora na altura apenas com funções de assistencia aos pobres - todos os restantes eram tratados por serviços privados...

Paulo Colaço disse...

Tentei ligar ontem à Dalmata mas ouvi um voice-mail em castelhano.

Creio que ainda não regressou ao hemisfério norte...

xana disse...

O comentário do paulo explica bem o que quis dizer. E reitero: somas milionárias sim!
Não para todos claro!
São muitos os que não cumprem no público mas são esforçados no privado, nos seus próprios consultórios ou onde são muito bem pagos!

Para o público pagar melhor, então que acabem as perninhas no privado! Ou uma coisa ou outra. Ganham todos, menos aqueles que ganham muito com a brincadeira...

Diogo Agostinho disse...

"Imaginem que a Ordem dos Médicos tinha um jurista nos seus quadros. O que diria o Bastonário se depois das horas de trabalho, esse jurista fosse dar uma perninha ao Ministério da Saúde?"

Mas os Juristas prestam exclusividade?

É criminoso montar um negócio próprio e ser empreendedor? Se cumpre as suas horas de trabalho não chega? Tem que ser obrigado a mais? A receber pouco? Sim, porque o salário de um médico no Público é um salário inferior a professores. Então porque não se combate os Professores que leccionam no privado? Ou melhor que dão explicações sem uma única factura?

Sim porque no privado, esse negócio obscuro em que os médicos ganham somas milionárias, 95% das consultas passam factura!!!!!

Eu sou pela liberdade, liberdade de escolher o seu caminho. E se tomam esta medida então aí sim, nem médicos bons, maus ou assim assim vão ter no público. Vão ter a selecção do mercado, os que não conseguem melhor...

Paulo Colaço disse...

Diogo, tu metes um processo ao teu vizinho de cima porque ele ouve música em altos berros às 4 da madrugada.
Contratas um advogado.
Reúnes com ele às segundas e quintas.
O teu vizinho contrata o mesmo advogado e reúne com ele aos sábados.

Só na prostituição é que ninguém impugna a troca de parceiros...

Diogo Agostinho disse...

Mas desde quando uma doença tema ver com Justiça?

Acho que esse exemplo não se aplica aqui. Quem tem meios e prefere um atendimento mais personalizado, sem filas de espera dirige-se a um consultório.

Falamos de saúde. Em que o Estado deve garantir serviços de saúde. Em termos de Justiça, vais me dizer que o afvogado que reúne contigo à segunda e quinta não faz mais nada durante os restantes dias??

jfd disse...

Ordem dos Médicos; bastião do corporativismo em Portugal.

Palhaçada de cúpula dominadora da sociedade que teima em manter-se artificialmente no topo da mesma.

Onde estão os preços tabelados?
Onde está a concorrência nos serviços médicos?
Porque têm todos os mesmo preços?
Porque aparecem Hospitais Privados topo de gama em todas as esquinas?
Porque não há mais vagas nas Universidades?
Porque importamos médicos?

Paulo Colaço disse...

“Mas desde quando uma doença tema ver com Justiça?”
- A Medicina e a Justiça mexem com a vida das pessoas. Num caso pode estar a vida no outro pode estar liberdade. É preciso ter profissionais dedicados em cada área.

“Quem tem meios e prefere um atendimento mais personalizado, sem filas de espera dirige-se a um consultório.”
- Plenamente de acordo! Quando vou para casa com tempo, ando a pé. Se estou cansado apanho o 742. Se tenho urgência vou de táxi. Depende das necessidades e das bolsas. É assim com os médicos, advogados, etc.
A iniciativa privada é fundamental.

“O Estado deve garantir serviços de saúde”
- Plenamente de acordo, também. Mas também deve escolher os profissionais mais sérios e dedicados. Ou achas que o Fisco deve manter um escriturário que molenga o dia todo só para fazer umas horinhas extra, ganhando mais uns trocados?

“Vais me dizer que o advogado que reúne contigo à segunda e quinta não faz mais nada durante os restantes dias”
- Ele pode fazer de tudo nos outros dias, Diogo, mas não para o meu concorrente directo. Ou achas que pode? Outro exemplo: achas que o Procurador-geral da República deve ter liberdade para dar pareceres ao Boavista?

Há uma piada gira de um tipo que vendia chucha e preservativos.
Quando a procura de chuchas diminuía, pegava numa agulha e perfurava uns preservativos…

Uma outra nota: como há pouco disse, não defendo a exclusividade. Tudo o que quis foi esclarecer que a exclusividade é um conceito normalíssimo. Tal com o dever de sigilo, a omissão de drogas nos funcionários dos casinos, etc.
Tem a ver com algumas profissões.
Neste tema acho que a exclusividade não ia resolver nada.
No entanto, se o SNS fosse de qualidade e se houvesse médicos com fartura, não tenham dúvidas: exclusividade na hora.

Tânia Martins disse...

"Onde estão os preços tabelados?
Onde está a concorrência nos serviços médicos?
Porque têm todos os mesmo preços?
Porque aparecem Hospitais Privados topo de gama em todas as esquinas?
Porque não há mais vagas nas Universidades?
Porque importamos médicos?"

Subscrevo as tuas questões todas JFD!

Não acho mal que os médicos exerçam a sua actividade no privado quando tenham terminado as horas que têm de prestar no serviço público! Mas acho mal que as pessoas que frequentam o serviço público tenham de esperar horas e horas porque os médicos se atrasam nas clínicas privadas, como muitas vezes acontece!

Tal como muitos de vós já referiram é necessária uma adaptação do SNS para implementar esta medida, tal como oferecer condições óptimas no público para não haver um êxodo dos médicos para o privado! Assim sim, poderia haver uma justa competitividade entre o serviço público e o serviço privado. Todavia, não vejo um país com uma situação económica estável para que o possa fazer, infelizmente!

Tiago Mendonça disse...

Chego tarde, mas espero que não a más horas, a este importante debate.

Primeiro ponto, a diferença enorme de qualidade dos serviços prestados, entre o Privado e o Público. É incomparável. Já fui, infelizmente, a hospitais públicos e a hospitais privados. Num hospital público, já me aconteceu, entre a hora que entrei e que saí distarem 5 ou 6 horas. Com enganos, pelo meio. Num privado, estive lá meia hora. Com mais conforto, rapidez, eficiência. O "consumidor" prefere o privado. Simplesmente muitas vezes não tem dinheiro para um privado. Esse é o ponto.

Quanto à questão dos médicos, penso que o comentário do Diogo diz tudo. Impondo-se a um médico a escolha entre um privado e um público, game over ao SNS. Porque, de facto, somas milionárias é no privado, e condições de trabalho idem idem.

Defendo um Sistema Nacional de Saúde, tendencialmente gratuito, mas com adaptação à condição económica de cada um. Um deputado que ganha 3.000 euros pode pagar mais do que 5 euros de uma taxa moderadora. Um reformado com 250 euros, talvez não possa.

Acho que na saúde como na educação, não podemos ter grandes aventureirismos. Funcionaria melhor, em termos de eficiência, um sistema privado. Mas isso poderia ser, extraordinariamente perigoso para milhares e milhares de pessoas.

Sinto que me desviei um bocado do tema, talvez até tenha proferido um conjunto de afirmações disconexas sobre o Sistema de Saúde em Portugal. Pelo facto peço desculpa, mas espero contribuir para tão importante discussão aqui lançada.

Bruno disse...

Entre concordâncias e discordâncias, começo por concordar com o título que o Zé deu ao post! E começo por concordar com o título porque me parece que esta medida, a avançar, será mesmo o passar de uma certidão de óbito ao SNS.

Não concordo com algumas comparações que por aí foram feitas sobre os médicos que trabalham para o público e privado. O que vão eles fazer se têm disponibilidade para trabalhar mais?

Aquilo que estou certo é que o SNS tem mesmo que ser reformulado mas não é esta - decerto - a medida mais urgente a tomar...

Adivinhando qual será a escolha de um médico a quem seja obrigatório dar exclusividade, lembro a repostagem do Carlos Enes (já que a Dalmata não vem cá...) sobre as operações à vista e a parte em que questionava um Director Clínico sobre o porquê de não ter mais médicos para poder "despachar" a lista de espera. Quando o referido Director fez contas, chegou à conclusão que precisava de pagar o dobro em honorários para motivar os cirurgiões a ficarem exclusivamente pelo "público"...

dalmata disse...

Zé, é ao contrário, esta é a medida que pode salvar o SNS. Estive de férias e só regressei agora, ainda estou com os fusos horários trocados, por isso amanhã volto cá e explico tudo, tim-tim por tim-tim. Prometo.

Beijos

José Pedro Salgado disse...

O que impede o advogado de fazer uma perninha em diversos sítios é, como mencionam, o perigo de isso toldar a sua objectividade, e até certo ponto até compreendo a comparação.

No entanto, acho que tentar resolver essa questão desta maneira segue a lógica, parafraseando Claire Boothe Luce, de usar a decapitação como cura para a caspa.

E pior: acho que nem sequer vai resultar.

Tendo dito isto, aguardo o teu contributo dálmata.

dalmata disse...

Esta questão foi levantada num documento de trabalho enviado pelo MS aos parceiros, onde, entre outras recomendações, falava nesta como uma medida necessária mas não imediata.

Para comentar esta medida é importante perceber o fenómeno das listas de espera em Portugal e saber, também, que é um fenómeno relativamente recente no nosso País à beira mar plantado.

As listas de espera foram criadas pelos próprios médicos, houve necessidade de criar uma área de negócio com uma coisa que não é negociável, a saúde.

12 anos de dedicação ao SNS, e agora vou mesmo ser arrogante, permitem-me dizer que já vi toda a bandalheira que havia para ver. Existem listas de espera em cirurgias e consultas de especialidade porque a grande maioria dos médicos (salvo honrosas excepções)rouba descaradamente o Estado e a todos nós que para ele contribuímos.

Há anos que os vejo chegarem às 11h e sair às 13h ganhando as 7h diárias, assinarem o ponto no final do mês como se nunca tivessem faltado, estando dias e dias sem pôr os pés no serviço. E isto meus amigos é crime!

Claro que não dá para ter produtividade no SNS, o que até lhes convém porque a maioria tem os consultórios e clínicas privadas bem do outro lado da rua. O último relatório sobre produtividade cirúrgica em Portugal revelava médicos com uma média de uma cirurgia por ano!

Coitadinhos, como cansa trabalhar no SNS onde têm todas as regalias e são pagos, religiosamente, a tempo e horas.

Como paga desta dedicação o SNS precisa de horas extraordinárias e lá vêm os abutres em cross sprint para as fazer porque são muito bem pagas. Horas essas que não seriam tão necessárias se todos cumprissem a sua parte.

Portugal é dos Países da Europa onde os cuidados médicos no Privado são mais caros e ainda por cima menos humanizados. Dá que pensar, não dá?

Os médicos em Portugal exploram a miséria alheia, nas míseras 2 horas que passam no SNS dizem, a quem não tem sequer dinheiro para comer, "aqui só daqui a 1 ano mas se me pagar x, na rua do lado opero-o daqui a 2 dias". Nas horas que o SNS lhes paga estão a dar consultas a mais de 100 euros nos seus consultórios.

A medida da exclusividade não é necessária, é imperativa e emergente.

Não tenham medo do que diz o chefe dos abutres (bastonário da OM), o SNS não acaba com esta medida, pelo contrário, basta isso para que a bandalheira abrande e acabe.

Pensam que no Privado têm as regalias que têm no SNS? Se acham pensem melhor.

Agora reflictam sobre isto, o privado não trata doenças crónicas e graves (é muito caro), trata coisas simples que quando se complicam mandam, a correr, para o SNS.

Ordenados milionários sim senhor, para o que fazem são pagos principescamente, para além das horas extraordinárias que têm valores tão absurdos que até a IGS desconfiou.

Há muito, muito mais a dizer sobre isto, estou disponível, quando quiserem, para tomar um café convosco na B.

Perdoem-me os mais sensíveis se alguma linguagem é menos adequada mas quem me conhece sabe que estou farta de viver na merda de um País onde só é ladrão quem não rouba discretamente. Ladrões são os da quinta da fonte e os que assaltam na rua!

Sou liberal, não sou é hipócrita!

José Pedro Salgado disse...

Caríssima Dálmata,

Embruxado que estava o comentário, já cá está.

Ainda assim, confesso que houve pontos que não creio que se coadunem (pelo menos da minha perspectiva) na tua visão.

Não percebo, por exemplo, o que impede os mal-feitores que aí descreves de pura e simplesmente se marimbarem para o SNS e não se preocuparem com o facto de não conseguirem fazer os procedimentos mais sérios, que como disseste são mais caros, e portanto menos rentáveis.

No que toca às regalias que falas, bem como o aproveitamento da falta de fiscalização dos horários de trabalho e outras práticas, pergunto-te se - supondo que um médico escolhe a exclusividade no sector público - em que medida é que isso garante uma melhor ética laboral? Não corremos o risco de os malfeitores quererem tirar de dentro o que não tiram de fora?

Já agora, quanto aos salários milionários, disseste que "para o que fazem são pagos principescamente", tendo no entanto já dito que não fazem tanto quanto deviam. Assim, a pergunta que te faço é: Achas que um médico que cumpra o seu dever (faça as suas horas, os seus bancos, recorra às horas extraordinárias só quando é preciso, etc.) é bem remunerado no serviço público (sobretudo comparando com outros sectores da administração pública)?

Estas questões têm uma razão de ser: é que se me parece que, num plano abstracto, elas possam ter o efeito correctivo para os malfeitores que a Dálmata nos fala, parece-me também que está injustamente a castigar os cumpridores, e pode estar a "saneá-los" de um serviço que deles precisa e que sem eles não sobreviveria tanto tempo.

jfd disse...

Hoje no Expresso, o Bastonário critica o curso de Medicina no Algarve, dizendo que estão a ser criadas vagas em Medicina por moda...

Grande serviço à nação faz este senhor....

Que maltinha...

Paulo Colaço disse...

A Dálmata ainda não respondeu ao ZPS.
Vou ver se a pico... ;)

dalmata disse...

Zé, peço muita desculpa mas estive a cumprir o meu horário no SNS:-)

"o que impede os mal-feitores que aí descreves de pura e simplesmente se marimbarem para o SNS e não se preocuparem com o facto de não conseguirem fazer os procedimentos mais sérios, que como disseste são mais caros, e portanto menos rentáveis."

Zé, no SNS não é possível isso acontecer porque os outros profissionais não permitem que esses doentes fiquem sem acesso a tratamentos, aliás, hoje é muito mais fácil a qualquer cidadão fazer uma queixa relativamente a isto e ter logo acesso ao medicamento e/ou tratamento que precisa. A IGS está hoje muito mais atenta e célere em relação a isto e o MS também.
Por outro lado não têm razões para barrar o acesso aos tratamentos porque há sempre dinheiro para eles, o que não acontece com os privados e onde tudo carece de autorização e os médicos têm muito menos liberdade de prescrição, até de medicamentos.

"No que toca às regalias que falas, bem como o aproveitamento da falta de fiscalização dos horários de trabalho e outras práticas, pergunto-te se - supondo que um médico escolhe a exclusividade no sector público - em que medida é que isso garante uma melhor ética laboral? Não corremos o risco de os malfeitores quererem tirar de dentro o que não tiram de fora?"

Não, já não é possível, desde há uns anos a esta parte, fazer o que se fazia antigamente e que era cobrar dinheiro aos utentes para operá-los no SNS, situações, hoje, muito raras e foram punidas com mão pesada. Para ser mais rápido, diziam eles, chupistas. Ao ser paga a exclusividade no SNS, não tenhas dúvidas que o horário e a produtividade passam a ser controlados de outra forma, não pelos chefes de serviço que são médicos mas através de outros mecanismos. Algumas medidas já foram implementadas, se viste com atenção essas notícias percebeste que os médicos estão contra. É chato ter de passar em biometrias, descobrem logo as horas que estiveram efectivamente no serviço.

"Já agora, quanto aos salários milionários, disseste que "para o que fazem são pagos principescamente", tendo no entanto já dito que não fazem tanto quanto deviam. Assim, a pergunta que te faço é: Achas que um médico que cumpra o seu dever (faça as suas horas, os seus bancos, recorra às horas extraordinárias só quando é preciso, etc.) é bem remunerado no serviço público (sobretudo comparando com outros sectores da administração pública)?"

Não só acho Zé, como tenho a certeza, embora se deva contemplar no SNS um sistema de incentivos, que pode vir a reboque da exclusividade. Ao contrário do que os Médicos apregoam, o salário que auferem é superior, como também acho que deve ser, ao dos restantes agentes da FP. Se te referes a gestores de topo ou directores e administradores de empresas públicas como termo de comparação com os médicos, estarás a fazer uma má comparação porque, como sabes, os salários dos gestores públicos estão muito acima da média europeia, aliás temos merecido fortes críticas por isso e o próprio PR já falou no assunto.
Ser médico Zé não significa ganhar muito dinheiro, nem deve significar, no código deontológico dos senhores diz que devem receber a justa contribuição pelo seu trabalho, não é porque lidam com a nossa saúde que tens que lhes encher os bolsos para isso. Ser médico Zé, tal como ser enfermeiro tem de ser um acto de amor, se não gostas nem tens vocação deves procurar um emprego das 9h às 17H.

Os cumpridores Zé, não pretendem sair do SNS e com esta opção garanto-te que ao receberem mais por ficarem exclusivos vai servir de incentivo. Quem cumpre sabe o que significa ser médico e um verdadeiro médico não quer ficar em exclusividade no privado, aprende menos e tem muito menos liberdade para exercer, é que no privado o código é económico não é humano...

Recordo-te o sistema americano, vai ver o modelo, depois falamos!

José Pedro Salgado disse...

Dálmata,

Obrigado pelos esclarecimentos. Começo a ver que existem aqui pontos irreconciliáveis nas nossas posições (mea culpa, provavelmente), pelo que acho que teremos de concordar em discordar.

Ainda assim, confesso que me alertaste para pontos para os quais não estava desperto e que terei de ponderar melhor.

Certamente que um futuro de consolidação de medidas tomadas demonstrará (ou não) o mérito das mesmas.

Bruno disse...

Dálmata, diz-me só uma coisa: concordando com esta medida defendes que terá o Estado que aumentar consideravelmente o orçamento para a Saúde, certo?

Não tenho nada contra isso! Bem pelo contrário. Acho que se há área onde devemos imvestir é nesta. Mas investir de forma ponderada e de forma a ter retorno (não estou, obviamente a falar de lucro mas de um melhor serviço!). E, pelo que tenho ideia e pelo que li do que escreveste, a fiscalização será fundamental mesmo!

José Pedro Salgado disse...

Acho que temos de criar uma nova figura nos estatutos do Psico, a do Psiconsultor...