sexta-feira, junho 20, 2008

A minha antevisão do congresso do PSD


Fui desafiado pelo Paulo Colaço a fazer uma antevisão do congresso. Naturalmente a minha. Fico especialmente grato por fazê-lo aqui. Habituei-me a acompanhar este blog com interesse. Um espaço com que me identifico pela atitude e pelas pessoas. Aqui respira-se liberdade e independência, cada vez mais distante do ambiente partidário de conveniências e de artificialidade. Aqui há manifestação de ideias de convicções. E ainda mais importante: há discussão, exercício livre do contraditório, também tão distante da vida interna do PSD… Bem hajam pelo repto!

Devo, em primeiro lugar, fazer uma “declaração de interesses”. Apoiei convicta e empenhadamente a candidatura da Dra. Manuela Ferreira Leite à liderança do PSD. Organizo esta minha antevisão do próximo congresso do PSD em três partes: o que gostava que acontecesse, o que não gostava de observar e o que estou certo se vai verificar.

A. O que gostava que acontecesse

Primeiro temos de voltar a ser credíveis, previsíveis e imprescindíveis aos olhos dos portugueses. Aqui, a vitória da Dra. Manuela Ferreira Leite deu o contributo fundamental para iniciar este caminho. O PSD ao dar a vitória a Ferreira Leite foi ao encontro da vontade dos portugueses. Os trabalhos do congresso deverão confirmar esta via.

Depois temos de (re)construir um projecto para Portugal em que os portugueses se revejam. Isso pode começar já no congresso. Temos de identificar as prioridades da nossa acção. Essas terão de ser as prioridades para Portugal. Mas temos também de preparar pessoas. A Dra. Ferreira Leite deverá apresentar uma equipa forte e credível, capaz de chamar, num segundo momento, outros para colaborar na preparação das propostas do PSD a expor ao país.

A Dra. Manuela Ferreira Leite deve consolidar a sua liderança através da afirmação da construção de propostas e de um projecto que deve conseguir colher a adesão de todo o partido e não pela procura de consensos feitos da mercantilização de lugares. Neste contexto, julgo que o ideal será que a Dra. Manuela Ferreira Leite constitua a sua equipa, tendo como principais critérios a confiança e a competência. Deve evitar cedências a pressões ou condicionar a escolha de pessoas ao objectivo de criar consensos apenas aparentes e sempre frágeis.

Espero que se verifique um debate vivo e participado onde se discutam propostas e se defendam lealmente opções diversas.

B. O que eu não gostava de observar

Que se tentasse repetir no congresso a disputa (já resolvida) da liderança do partido, utilizando agora como instrumento a eleição dos diversos órgãos nacionais. Se assim suceder, os protagonistas que quiserem insistir correm o risco de representar meros focos de instabilidade interna que serão sempre mal vistos pelos militantes. Isto é, evidentemente, diferente de se verificar a normal pluralidade de listas candidatas aos diversos órgãos. E não inibe (antes pelo contrário) a afirmação das diferenças de propostas para o caminho do PSD.

Que se voltassem a repetir as pressões e as ameaças verificadas no passado, junto daqueles que entendem candidatar-se nas diversas listas ao conselho nacional que sempre se apresentam.

C. O que estou certo que se vai verificar

O tema da regionalização vai ser recorrente e irá ser abordado em diversas dimensões: alguns defenderão a questão com a convicção de ser um adequado modelo de organização política do país; outros abordarão o assunto como forma de provocar a nova liderança, tentando criar algum ruído interno e até divergências.

O fantasma do bloco central será agitado por alguns como pretexto para encontrar motivos de clivagem com a actual liderança (aliás esse cenário já começou a ser “montado” por alguns jornais e comentadores). A fragilidade da liderança vai ser apontada, lendo na pulverização de conselheiros nacionais por várias listas a manifestação de divergência da liderança.

A Dra. Manuela Ferreira Leite vai confirmar uma atitude serena e imune aos imediatismos. Vai reforçar a imagem de firmeza nas convicções. Reafirmará um discurso baseado na verdade na confiança e na previsibilidade.

O PSD reforçará a sua posição ideológica alicerçado na social-democracia e nos princípios fundadores do partido. O discurso será voltado para a classe média e para a relevância das questões sociais.

O PSD sairá deste congresso mais credível aos olhos dos portugueses, podendo voltar a aspirar a merecer a sua confiança para poder governar Portugal.

Psico-Convidado: António Prôa

21 comentários:

Paulo Colaço disse...

Em cima do Congresso chega-nos a "antevisão" do nosso amigo António Prôa, líder da Secção B do PSD/Lisboa.

O António Prôa é Conselheiro Nacional há alguns anos, Congressista há muitos mais e militante ainda há mais.

Tem sido um observador/fazedor da história recente do PSD tendo estado onde, também, é difícil.

É um psico-atento e e foi có-anfitrião do primeiro evento do Psico fora dos monitores dos computadores.

Obrigado, António, pela amizade que nos dedicas e, claro, por este texto.

Está lançado o debate, mais um!

Paulo Colaço disse...

Errata: onde está "có-anfitrião", tirem o inusitado acento.

Filipe de Arede Nunes disse...

Não entro em previsões.
Felizmente vou poder observar este Congresso in loco. Lá tirarei mais conclusões.
Cumprimentos,
Filipe de Arede Nunes

Anónimo disse...

Manuela Ferreira Leite, caso não seja decidida, corajosa e frontal para com os "Metralha" regionalistas, está feita e o PSD vai partir-se.

É que esse pessoal não pensa noutra coisa senão descobrir, inventar novas dimensões de poder onde se possam encavar e manter-se à tona. Todo o "lumpen" da política está apostado em estilhaçar Portugal e muito menos lhes custa escavar o PSD.

Paulo Colaço disse...

Caro António,
pego numa das tuas deixas: a discussão sobre Regionalização é interessante.

Por dois motivos:
1 - porque nunca a discutimos a sério. O primeiro referendo foi uma guerra de modelos, mal orientada, sem ponta de esclarecimento. O povo votou "não e não" numa coisa que não conhecia.
2 - Estamos tão mal que urge pensar em alternativas.

Dou-te, no entanto, razão quando dizes que há timings para as discussões. Por muito que o Congresso seja o palco supremo para os debates, é feio inventar temas só para haver polémica.

Nota: não sou regionalista. Defendo que o Estado perca algum tempo para conciliar todas as diversas "regiões" em que territorialmente se divide em razão da matéria.
Temos circunscrições diferentes em matéria judicial, tributária, de fornecimento de água, de protecção civil, de regiões de turismo, de defesa do ambiente.
E NÃO COMUNICAM UMAS COM AS OUTRAS!

Imaginemos se os nossos neurónios não comunicassem entre si?
Há pessoas que recebem o Rendimento Mínimo em várias freguesias porque o serviço não comunica entre si...

dalmata disse...

A tua opinião é, como sempre, livre de preconceitos e lúcida.

Sabes a minha opinião, nesta fase em que estamos, a MFL é a melhor escolha para liderar o Partido, mas deixo um abraço a quem apoiou o PPC porque as derrotas dos amigos também nos pesam na alma.

Fico feliz por achares, como eu, que cada vez mais estamos certos, somos um grupo que respira liberdade...não somos cinzentos e temos noção do que é o País real.

Por tudo isto cada vez faz mais sentido a nossa lista ao CN.

Independentes, livres, com bom senso e com intervenções feitas no CN sobre temas concretos, coisas que a maioria dos Conselheiros Nacionais já não se dá ao trabalho de discutir.

Podemos levar ao CN os militantes e os cidadãos se levarmos os seus problemas, as suas dúvidas e angústias.

Bem haja a quem ainda, como tu António, transpira liberdade!

António Prôa disse...

Sobre a regionalização:

Também aqui uma declaração de princípios: Tenho-me manifestado contra a regionalização. Sou adepto do aprofundamento do municipalismo e do associativosmo municipal como forma de fazer face aos desafios supra municipais.

Em qualquer caso, a discussão (séria) do tema não poderá esgotar-se num congresso onde os temas a tratar são muitos e em que cada proposta é apresentada no máximo de 10 minutos...

Eu sei, sabemos, que este tema será trazido a este congresso sobretudo para marcar posição, para forçar a diferença e, no limite, para criar ruído.

Diogo Agostinho disse...

Obrigado pela antevisão do congresso e disponibilidade de partilhar com este blog a sua opinião.

No que diz respeito a este congresso, o resultado de ontem de Portugal contra a Alemanha, coloca em nós um foco enorme.

Não iremos ser invadidos pelo treino diário de Portugal, os emigrantes eufóricos na Suiça nem em analisar se a Croácia ou a Turquia são bons adversários.

Os portugueses hoje, desmotivados olharam para o seu País e vêm um Primeiro-Ministro mau de mais para ser verdade, com tiques autoritários, uma crise social instalada e também vão olhar, espreitar, ler de relance para o nosso conclave.

Este será um momento fundamental para o PPD/PSD se afirmar como oposição e dar aos portugueses um rumo. Teremos que aproveitar esta situação única e começar a ter ideias para o País.

A regionalização não é nem solução, nem algo que os portugueses necessitem para o seu dia a dia. A ideia de regionalização pode ser positiva, mas na cabeça das pessoas(falo por mim óbvio), quer dizer também muita burocratização.

Espero um congresso esclarecedor.

Tenho pena de se ter retirado aos congressos do PSD a aura e a emotividade que existia, hoje só serve mesmo para ouvir o líder(importante) e pouco mais. É pena,antes era um local de confronto e discussão. De suspense por certas intervenções e no fim todos escutavam o novo líder.

Os congressos pós Cavaco foram um dos motivos porque simpatizei com o PSD.

dalmata disse...

Sou contra a Regionalização mas para não perdermos muito tempo a esgrimir argumentos olhem para a vizinha Espanha, é uma manta de retalhos e ainda por cima sem identidade como País.

Paulo Colaço disse...

António: "Sou adepto do aprofundamento do municipalismo e do associativosmo municipal como forma de fazer face aos desafios supra municipais."

Subscrevo na íntegra.
Já o disse em diversos escritos ao longo dos tempos.
A via é essa!

xana disse...

Diogo cuidado, os histéricos da bola ainda dizem que estavas a torcer pela Alemanha...

De facto é verdade o que o Diogo diz. A atenção do país deixou de estar concentrada no futebol e tenho a certeza que muitos irão procurar neste PSD, e naquilo que mostrar no congresso, uma luz ao fundo do túnel.

Não vou ao congresso, com muita pena (tenho um curso para acabar...), mas gosto sempre de ir porque observar in loco é bem melhor. Ainda assim, estarei sempre com a tv ligada a acompanhar. Não votei em MFL e quero muito que neste fim-de-semana se mostre mais combativa e que saiba dar esperança, sincera e real, a todos os portugueses e mesmo aos militantes do PSD, sedentos de alguma credibilidade que apareça de algum lado.

Espero que PSL tenha um discurso ao estilo do congresso de Pombal, onde, naquilo que é melhor do que qualquer outro, nos faça sentir unidos e orgulhosos pelo partido que temos.
Ruído de fundo é tudo o que não precisamos, e o país espera bem mais de nós.

Bom congresso!

António Prôa disse...

Pelo que se observou no primeiro dia dos trabalhos, os congressos do PSD estão a perder o interesse dos media e mesmo dos próprios delegados.

As directas foram adoptadas mas o modelo do congresso não foi devidamente adaptado à nova realidade da escolha da liderança.

É urgente repensar o figurino dos congressos do PSD.

Paulo Colaço disse...

António, se este é um desafio (repensar a dinâmica dos Congressos) o Psico aceita-o!

Vamos a isso!

Anónimo disse...

Sobre o futebol:

um dos meus amigos chateava-me antes de começar o Euro que tínhamos de rezar para que Portugal não fosse além da fase de grupos... era mau para o Partido e demasiado bom para o Governo lol

De facto, a atenção é maior. Mas subscrevo integralmente a ideia do António: estes congressos precisam de ser revistos na sua forma.

Ando a gizar umas ideias, mas ainda nenhuma que me tenha plenamente convencido de que será esse o caminho.

E se nem eu estou devidamente convencido da ideia... é necessária mais maturação.

Obrigado António pela colaboração. Estou ansioso para ouvir PPC, PSL, Mota Amaral, Aguiar Branco, Miguel Relvas, Marco António Costa e Rui Rio.

Muito, muito curioso para saber qual vai ser a composição da CPN.

Um abraço do Berço!

P.S. Quando avancei o nome de Paulo Rangel para líder de grupo parlamentar, nunca pensei que chegaria à últimas das últimas shortlists. Fico feliz por ele e pelo partido, ainda que continue a duvidar que seja ele o escolhido.

xana disse...

Foi ele o escolhido! Deposito a minha confiança nele.

A composição da CPN não é surpreendente e não houve surpresas.

O dicurso do PPC foi fenomenal! Dos melhores que me lembro em congressos e é claramente o caminho que gostava de ver seguido pelo PSD. O meu voto nele não precisava de justificações, mas o discurso de hoje serve para isso, talvez mais para muitos pensarem porque não votaram nele.

Rui Rio seria o único que me faria não votar em PPC. Não usa meias palavras, porque será que gosto de pessoas assim? LOL
Queria e ainda quero, vê-lo como PM! Será possível já em 2009? Veremos.

Marco António Costa é tudo aquilo que não gosto na política e no aparelhismo partidário... enfim.

De resto, sente-se, aqui em casa pela tv, que o congresso está morno, ainda assim, é bom ver que muita gente que faz falta ao partido regressa com as suas ideias e as suas posições fortes. Penso que. como disse Rui Rio e bem, MFL não se candidatou por ambição pessoal, e acrescento que nenhum dos três o fez com esse propósito. Ganhou o partido. Nem Mendes nem Menezes poderão dizer o mesmo o que conduziu o partido ao que se viu.

Gostei do discurso de Ribau Esteves.

António Prôa disse...

As (muitas) moções temáticas apresentadas não foram discutidas. Houve propostas contraditórias entre si e simultaneamente aprovadas. O modelo de congresso tem de ser adequado.

Parabéns ao psico pela aprovação da moção que apresentou. Espero que sejam adoptadas as medidas defendidas. Lamento que o psico não tenha nenhum dos seus membros em condições de "fiscalizar" o cumprimento da deliberação...

Anónimo disse...

Não acompanhei o Congresso. Apesar de convidado por amigos em os acompanhar, fiz questão de me poder afastar e colocar-me no papel de milhões de portugueses.

Desse modo o que "bebi" o congresso foram pequenos "goles" de 2, 3 minutos dos canais generalistas por via hertziana.

Valendo o que vale, o que ficou do congresso:

Um Congresso morno sem grande interesse, sem expectativa de momentos marcantes,para se saber nomes ou de esperadas intervenções.

Existiu interesse, apenas isso, em saber o que diria MFL, PPC e PSL.

Mais uma vez foi PPC que marcou a diferença. MFL veio falar de algo que já se ( esperava mesmo quando lançou a questão dos investimentos que se anunciam do Governo).PSL no seu "palco" não deixou de "cantar" sobre o tema que se esperava.

Uma ideia forte que me ficou do que vi e ouvi: Que mais de um mês depois de termos um novo líder, não sabemos ainda para onde vamos mas principalmente como vamos. E os portugueses a não sentirem a diferença para escolher.

É só perguntar na "rua" e ver como isto é real.

Tive oportunidade em conversa com o António Prôa dizer-lhe a minha opinião sobre o que considerava essencial neste congresso: PPC fez bem em liderar uma lista ao CN. Porque MFL precisa dele e devia contar com ele. Como o inverso se colocaria se tivesse PPC ganho as directas. ( como sabem esta última conjugação era a que eu defendia)

Sobre as moções o que se discutiu do Congresso, cá fora, pouco se ouviu.

Para terminar. Já neste fórum deixei a minha nota sobre as directas e os congressos. Defendo a nomeação de delegados por resultado distrital directamente propocional ao voto directo no candidato, a existência de inerências em número reduzido e baseadas em critérios bastantes exigentes. Procurar desse modo a que a eleição final fosse mesmo em congresso, principalmente quando existirem mais do que dois candidatos.

Agora vamos entrar no período de férias, lá para Setembro devemos voltar a falar de política.

FNL disse...

Eu, que parecia um marroquino em Londres, gostei muito do Congresso. Mas só porque parecia um marroquino em Londres...

Bruno disse...

Ainda não tinha comentado aqui. Fazer uma antevisão quase uma semana depois não faz sentido. Mas faz todo o sentido agradecer ao António a sua colaboração. Curioso como acertaste em algumas coisas... nalguns casos: infelizmente!

Sobre Regionalização faço como o Colaço: também subscrevo na íntegra a posição do nosso Psico-Convidado! Já há muito que penso assim e foi por isso que votei "Não e Não"!

Sobre o modelo de Congresso, eu nunca concordei com este de Directas com Congresso após quase um mês... Por um lado o Partido fica parado e por outro, o Congresso não tem nem impacto nem conteúdo.

E já que o Colaço diz que o Psico aceita o desafio, cá para mim é um bom mote para futuras psico-actividades ;)

Paulo Colaço disse...

Antes das férias marcarei um Psico-Congresso!

Bruno disse...

Das férias de quem? :P