quinta-feira, agosto 21, 2008

País violento. País violentado.

Nestes últimos tempos não há dia em que não apareça notícia sobre mais um crime violento. Cada vez se recorre mais às armas e sente-se um maior medo nas pessoas.

Portugal já não é um país de tão brandos costumes. Bem sei que, pela reduzida população, este tipo de notícias tem mais impacto, mas é, também por isso, que se tornam mais preocupantes.

Carjacking, assaltos a bancos, assaltos a caixa multibanco, assaltos a carros de valores, assaltos a ourivesarias, assaltos a bombas de gasolina. Em todos um ponto comum: mais violentos, menos valor pela vida, disparo fácil e maior utilização de tecnologia.

De acordo com o Jornal de Negócios os roubos relacionam-se directamente com a crise. Foi em 2003, considerando o intervalo dos últimos 8 anos, que mais crimes se registaram, correspondendo a um período em que o PIB teve um crescimento negativo de 0,8%.

Olhando à actualidade, tem sido elevado o número de crimes este ano, especialmente os violentos que mostram tendência crescente. Se assim é, e como ainda estamos no oitavo mês do ano, como a crise continuapresente, tudo aponta para mais registos de violência. O que se verifica diariamente.

Para onde caminha o nosso país neste ponto? É uma das dúvidas que mais preenche os Portugueses nesta altura.

Não deveríamos ter medo, mas a verdade é que estamos cada vez mais inseguros neste nosso cantinho.

13 comentários:

Carlos Carvalho disse...

Uma ressalva: aqui no Psico há muito que se discute a violência e a criminalidade. Com todas as notícias que diariamente aparecem, relatando novos casos, poderiamos discutir este tema correntemente.

Senti necessidade de postar sobre isto, mas de uma forma mais geral, mais global. Não analisar um crime só, analisar uma tendência. Parece-me importante que se faça a discussão global da «coisa».

Anónimo disse...

Ao contrário do que tem dito o MAI, o país não está mais seguro. É certo que têm sido feitos alguns esforços por parte do Governo, com a criação de novas equipas e com o reforço dos meios - mas não chega.

Até porque, perante a actual fragilidade das forças de segurança em termos de meios, não basta o MAI vir a terreiro apelar à competência, à abnegação e ao heroísmo dos homens.

É preciso dar-lhes as ferramentas suficientes para um combate eficaz face à criminalidade em geral e quem sabe, alterar alguma legislação, por forma a proteger as forças de segurança em algumas situações mais criticas.

Quanto à relação entre a crise económica e a criminalidade dita violenta, é algo que deveria merecer mais atenção por que tem a responsabilidade de estudar estes fenómenos. Não discarto a relação, mas um pouco de cientificidade nesta matéria ficaria sempre bem ;)

Nuno Gonçalo Poças disse...

Também me parece importante que se discuta globalmente. De resto, estou cansado de horas de debate e reflexão sobre determinado crime.

É óbvio que os índices de criminalidade estão a aumentar. Mas também acredito que cada vez se faz mais alarido disso. É verdade que a forma dos crimes é diferente, mais engenhosa. Mas não seria de prever que no séc. XXI ainda houvesse gente a praticar assaltos à moda da Renascença.

Há muita coisa sobre a mesa: a organização das forças de segurança, os meios de que dispõem, a forma com que podem dispôr desses meios, etc. E depois há o factor crise, que leva necessariamente a um aumento do número de crimes praticados contra o património. Mas também leva, certamente, a um aumento da prostituição. A diferença é que as televisões ainda não se lembraram de começar a palmilhar as ruas de Lisboa e mostrar isso ao país.

Incomoda-me sinceramente que se faça tanto alarido à volta de crimes concretos. Mais coerente é a TVI, ou o Correio da Manhã, que nos apresentam diariamente todos os tipos de crime possíveis. Mas não tolero que a imprensa que se diz séria dedique tanto tempo a estas miudezas, para entreter o povo que é estúpido por natureza, em lugar de patrocinar o debate sobre a segurança no seu todo. Não conheço nenhum jornalista que diga, por exemplo, que a GNR e a PSP se deviam transformar numa só força - ou que o sugerisse, para que se discutisse e o poder político tomasse medidas. Mas vejo inúmeros jornalistas especialistas em análises de ADN, em balística, em colheitas de sangue, na cor das cuecas do brasileiro que assaltou um banco...

Desculpem lá o desabafo... Mas jornalistas incomodam-me. E acredito seriamente que o facto de se dar tanta atenção a estas coisas, em lugar de se discutir em abstracto, leva a que mais crimes sejam cometidos. Mas isto sou só eu...

Paulo Colaço disse...

Admito que os crimes possam indiciar algum tipo de crise mas custa-me acreditar que a onda a que assistimos provenha da crise financeira das famílias.

O chefe de uma família em crise não paga dívidas, mente, torna-se fugidio, faz umas falcatruas, usa o pouco dinheiro para apagar fogos pequenos sem atender aos fogos maiores, etc.

Não o estou a ver pegar numa arma para assaltar um banco.

Estarei a ser inocente?

Nuno Gonçalo Poças disse...

Colaço,

acho que estás a ser um bocadinho inocente, sim. A verdade é que muitas famílias não estão só em crise... Muito chefe de família está já completamente desesperado. Há uns anos também me fazia confusão que meninas que eram estudantes universitárias se prostituíssem...

Mas admito que haja uma outra crise para além da económica: a crise de valores e de princípios. E em relação a esta, ainda vejo menos soluções.

Bruno disse...

Há sempre uma relação entre as dificuldades de vida num determinado país e a sua criminalidade. Mas as pessoas não vivem numa redoma e por isso há sempre outros factores que influenciam.

Em Portugal penso que o cocktail explosivo é composto principalmente por um planeamento errado no que diz respeito à inclusão de imigrantes e minorias étnicas, principalmente a nível urbanístico e uma Justiça pouco célere e eficaz o que faz com que haja um sentimento de impunidade.

Juntamos ainda uns pózinhos de má gestão das forças de segurança, especialmente ao nível da fiscalização e prevenção e temos aquilo que nos têm servido nos últimos anos.

Concordo que o debate é urgente e tem que ser profundo e alargado. Temos estado a discutir acontecimentos que mais não são do que lana caprina, comparados com o real problema.

Nuno Gonçalo Poças disse...

«Concordo que o debate é urgente e tem que ser profundo e alargado. Temos estado a discutir acontecimentos que mais não são do que lana caprina, comparados com o real problema.»

Tal e qual, amigo Bruno. É mesmo isto.

Leandro Esteves disse...

O problema do aumento da criminalidade violente e da criminalidade organizada é, cada vez mais, um problema de fundo das sociedades modernas que não se compagina, única e exclusivamente, com o problema português, pois ele é transversal a todo o mundo.

Contudo, as suas manifestações, ou as formas de agir são diferentes em função do resultado que se pretende obter.

O aumento da criminalidade violenta em Portugal, esta intrinsecamente ligado à crise económica que vivemos, à falta de politicas sociais de inclusão, à excessiva imigração e a falta de inclusão destes mesmos, mas também não se pode dissociar do desemprego jovem de longa duração que é, em muito, responsável pelo aumento da criminalidade violenta e organizada, tudo isto aliado ao eterno problemas de falta de meios, humanos e materiais, e à crescente desmotivação das forças de segurança, que se têm o azar de desferir um tiro no criminoso são alvos de processos disciplinares e criminais, para além da censura moral e ética de que são alvo) lembrem-se do celebre ramo de flores à porta do BES).

Enquanto estes problemas subsistirem, e os nossos políticos não se convencerem que estamos num mundo global, em que para passar a fronteira não preciso de parar e em que posso adquirir explosivos pela internet, a criminalidade vai aumentar e em muito. E enquanto não se conseguir mão firme nos criminosos são apanhados eles vão sempre pensar que o crime compensa. O crime para esta gente é uma forma de vida, é um jogo de sorte.è comtra isto que se tem de lutar.
Nota: em 2003 Portugal era o segundo pais mais seguro da União a seguir à Irlanda.

Carlos Carvalho disse...

Sobre este tema reparem neste excerto duma notícia a que podem ter acesso pelo link que deixo abaixo:

"O director do Observatório de Segurança acredita que a criminalidade violenta «chegou para ficar e conquistar terreno» em Portugal, com grande capacidade de organização e qualidade de meios, tal como já acontece no resto da Europa, escreve a Lusa.

«A criminalidade organizada de qualidade e com profissionalismo está a aumentar. A capacidade de organização dos criminosos é mais rápida e potente que a das forças de segurança, em Portugal ou em qualquer país. Estamos a viver uma globalização
criminal» garantiu o General Garcia Leandro"

- link:

http://diario.iol.pt/sociedade/seguranca-criminalidade-assaltos-tiroteios/983517-4071.html

Anónimo disse...

Todos podemos apresentar as nossas mírificas soluções.

Do alto da minha ignorância, e se fosse MAI, eu colocava a carne toda no assador. Passo a explicar: eu não gosto de um estado autoritário, mas admiro um estado forte; não gosto de um estado securitário, demasiado disponível para demonstrar a sua força em cada esquina; muito menos aprecio tácticas "lucky luke", de disparar primeiro e perguntar depois.

Mas existe receio na nossa sociedade, no nosso dia-a-dia. E, naturalmente, o frenesim mediático não auxilia.

Como tal, se fosse MAI, eu evacuava os nossos quartéis e esquadras (com calma, para que não nos assaltem as bases como em Moscavide ;) e colocaria as nossas forças de segurança, com o maior aparato (adequado) possível nas nossas ruas.

Noutras alturas seria um abuso. Nesta conjuntura é necessário relembrar a todos, infractores e putativas vítimas, que o Estado existe, que está presente, e que é forte.

É para encher o olho, é verdade. Não resolve o problema da crise e, até, de eventual reestruturação das nossas forças: é verdade.

Mas penso que neste momento, em Portugal, alguns sentem um clima de impunidade. E nessas alturas uma demonstração de poder é bastante eficaz: a presença da autoridade é dissuassora.

Anónimo disse...

O General Garcia Leandro é o que vai estar na UV para falar de presidenciais norte-americanas... nem eu nem o jfd encontrámos um único registo de um pensamento deste general sobre a corrida nos EUA lol

Anónimo disse...

Se calhar até dá jeito esta coisa da insegurança:

Estado arrecada milhões com corrida às armas

O Estado duplicou a receita na cobrança do imposto de uso e porte de armas nos primeiros seis meses deste ano. Os detentores de armas de fogo pagaram, entre Janeiro e Junho de 2007, cerca de 2,2 milhões de euros em impostos relacionados com a licença. Este ano, o valor já vai nos 4,2 milhões, segundo dados da Direcção-Geral do Orçamento.


http://www.correiodamanha.pt/Noticia.aspx?channelid=00000181-0000-0000-0000-000000000181&contentid=5C4BE8FC-893A-4295-A76B-904B6461D5A8

Bruno disse...

Pois, oh Né, mas o problema é que deve haver aí 10 vezes mais armas ilegais e essas não pagam impostos ;)

Incluindo algumas roubadas À polícia...