segunda-feira, março 17, 2008

Mas dá para parar?

A escalada dos preços dos combustíveis bate todos os dias novos recordes. A gasolina e o gasóleo atingem valores astronómicos. Prevê-se até que ao final de 2008, o preço do gasóleo possa estar no 1,50€ por litro.
Será que precisamos de um Governo que intervenha no mercado, de modo a minorar as consequências da subida dos preços dos combustíveis nos bolsos dos cidadãos? Como é que se compreende as diferenças de custos entre Portugal e Espanha e que esta continua afirmar-se como a alternativa, quando se decide abastecer os automóveis?

56 comentários:

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

O diferencial Espanha - Portugal é facilmente explicado pela via fiscal: Mais de 50% do preço de venda ao público é imposto, dividido entre o ISP e IVA por cima. Em Espanha é mais leve.

Mas, a grande questão se "dá para parar" a escalada, a reposta é: Dar dá, quando a Reserva Federal (Fed) parar com a brincadeira actual de desvalorização do dólar.

Já o disse aqui uma vez - a história do crude acima dos 100, e restantes energias acima de máximas é uma história "monetária".

Para leigos:
Os combustiveis são cotados na moeda de reserva mundial, o dólar.
Ora sempre que a Fed baixa as taxas de juro está a "imprimir" mais notas. Literalmente a imprimir!! Ora isto causa vários efeitos:
1. Ao dar notas "impressas" aos bancos está a reduzir as taxas de juro, o que causa que activos em dólares sejam menos atractivos, logo os investidores vendem dólares;
2. À medida que as notas vão sendo passadas para o sistema gera-se um fenomeno de existir mais notas em circulação a perseguir a mesma quantidade de bens;
3. Como não há almoços gratis, se há 2x mais notas em circulação então um bem tem de duplicar de preço para manter o seu valor;
4. Este efeito ocorre mesmo que as pessoas não tenham noção da maior quantidade de notas em circulação: Em agregado gera-se uma maior procura artificial, que dada a uma oferta fixa - o inelastica, no jargão - causa um aumento natural dos preços. Ao mesmo tempo do lado da oferta, os paises que exportam vêm que os investidores estão a desvalorizar o dólar, e que portanto estão a receber menos por cada barril, em termos reais, o que os leva a subir os preços em dólares.

O curioso é que isto é um efeito nominal: se vires a coisa em ouro, por exemplo, os combustiveis não subiram tanto. É uma ilusão monetária - dai existirem escolas de economia que digam que o consumidor é miope.

Infelizmente, dado que o mundo inteiro faz as suas reservas em dólares, isto significa que a Fed ao imprimir notas a mais está na pratica a exportar inflação para todos os países que sigam a sua politica - o que felizmente não é o caso do BCE actual, mas isso dá para mangas noutra resposta ;)

Paulo Colaço disse...

Pergunta tonta, Guilherme: e se incentivarmos o Mundo a fazer reservas em Euros?

jfd disse...

Inês os preços são os preços.
Espanha é Espanha, Portugal é Portugal.
Não se devem comparar alhos com bugalhos. Não penso que isso seja correcto, inocente ou sequer honesto:)

Portugal tem graves problemas energéticos. Mas temos uma luz ao fundo do túnel. Temos de deixar o nosso carro de lado. Mas temos de fazer a nossa parte. Encher o tanque está cada vez mais caro, mas eu que posso fazer? O que tenho feito! Ando mais de metro. Utilizo os autocarros. O carro só para os percursos longos, ou estritamente necessários.
Consciência ambiental e forretismoao máximo. Só isso nos pode ajudar. Mas nada de etéreo! Pragmatismo! Nada de fundamentalismos de Verdes e Quercus e afins...

No que toca ao Governo. Não ajuda em nada. Um exemplo? O mercado da produção de electricidade a partir da energia eólica. Já há muito que poderia estar a funcionar em mercado a de facto livre... Mas a forma como foi introduzido por Guterres, quase não alterado por Barroso, e mantido por Sócrates, faz com que seja artificialmente mantido a preços elevados com custos para todos nós. Continuando a produção nas mãos de alguns players.
Mau exemplo. Estado que intervém distorcendo o mercado. Habituados, estamos. Mudar, precisamos!

A gasolina tá cara?
Pois está! Paciência.
Temos de pagar.
Agradecemos ao Guterres que nos deixou pagar preços artificiais, desabituando-nos...
E também a esse grande Presidente, Bush.

A Dana Perino, porta-voz da Casa Branca, responde assim:
http://www.youtube.com/watch?v=_MugHx9wEao

A Reserva Federal dos EUA anda a brincar ao Monopólio:
http://www.youtube.com/watch?v=lTXEWh2yT_g
-> exemplo de um analista (Jim Rogers) que responde à Bartiromo dizendo que o Bernanke devia era pôr-se a milhas e a Reserva Federal deveria era acabar.

E o Bush, diz pérolas deste género:
http://www.youtube.com/watch?v=JHtR4m9Puc8

A pergunta referia-se ao assunto reportado nesta reportagem da CBS:
http://www.youtube.com/watch?v=VCYKSSUexTA

*** vejam os videos, no total têm cerca de 6 minutos!

jfd disse...

O diferencial Espanha - Portugal é facilmente explicado pela via fiscal: Mais de 50% do preço de venda ao público é imposto, dividido entre o ISP e IVA por cima. Em Espanha é mais leve.

Guilherme, eu reformularia esta frase para, "em parte facilmente explicado pela"
Não concordas?
Afinal, as fontes de Portugal são diferentes das de Espanha assim como as condições de compra! Entre muitos outros factores.

Realmente os EUA andam a exportar a sua inflação. Nós estando com a nossa inflação, está tudo tramado!
Que papel pensas que terá a Asia nesta crise?

jfd disse...

Colaço com tanta divida externa que por exemplo a China tem dos EUA em dólares, dificilmente alterariam de moeda!
(Digo eu, mas essa parte ainda não estudei!)

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

Colaço, a pergunta não é tonta, mas infelizmente é mais complexo do que parece.

O mundo está progressivamente a começar a fazer reservas em euros, e já se fala em cotar o crude em euros, mas a palavra chave aqui é progressivamente.

Quando o mundo fez as suas reservas em dólares, o mundo na prática emprestou dinheiro aos EUA. A Asia é a principal financiadora do sistema, dado que tem excesso de poupança mas não tem mercados para isso.

O problema aqui é com o que se apelidou se "sistema de bretton woods II" - nome dado pelo Deutsche Bank. A Asia corre superavits de balança comercial face a um EUA cronicamente devedor. O ajuste cambial necessário - dólar a subir/moedas asiaticas a descer - é evitado porque a asia converte os seus excedentes de novo em dólares, mantendo o status quo. Fazem-no comprando Obrigações do Tesouro.

Ora isto tem consequencias muito graves:
Sempre que o dólar desce - e é do interesse dos EUA que isso aconteça, de modo a diminuir o valor da sua divida actual, dado que estão com problemas - a Asia perde milhares de milhões de dólares. Mas a Asia não pode simplesmente abandonar isso pois isso causaria o colapso do dólar, a subida furiosa das moedas emergentes - a Asia depende muito das suas moedas estarem subavaliadas. Ao mesmo tempo, largar as reservas enterraria as yields americanas do mercado obrigacionista colocando o motor dos EUA em ponto morto, o que causaria um efeito contagio muito perigoso. Logo, a Asia mantem o status quo e as reservas em dólares.

O mesmo com o Medio Oriente: no dia em que eles anunciarem que deixam de ter as moedas indexadas ao dólar e passam a vender crude em euros, a reacção do dólar será violenta, e levará as moedas asiaticas por arrasto. Não é por acaso que o Irão e a Venezuela querem essa mudança e a Arabia Saudita "calou" o debate...

O problema é que a montanha de divida que alimentou os EUA durante décadas está a cair em cascata. A Fed está desesperadametne a tentar evitar que aconteça aos EUA o inimaginavel: uma crise "a lá" Japão, nos anos 90, que teve um colapso imobiliario/bolsa seguido de um colapso bancário seguindo de um bailout monstro pago pelo contribuinte japonês e 17 anos de estagnação económica com deflação. Os EUA querem evitar esse rumo criando inflação a todo o custo e tentando fazer um bailout a wall street. Dada a mecanica de "Bretton Woods II" acaba a ser o mundo inteiro a pagar a brincadeira...

jfd disse...

Guilherme,
uma pergunta:
(...)Ao mesmo tempo, largar as reservas enterraria as yields americanas do mercado obrigacionista(...)
Podes explicar isto melhor?

Uma provocação para o teu prez:
Viva Bush!!!
Viva a Guerra a Crédito!!!
Um Bom Presidente sem dúvidas!!!
weeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee

;)

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

Um obrigação é um titulo de divida que paga uma taxa sobre o valor - um exemplo, um certificado de aforro.

Mas uma Obrigação do tesouro americano é transaccionada depois de colocada no mercado pelo Estado, logo o seu preço vai variando diariamente, expressando a visão do mercado sobre a saude da economia.

A yield é a taxa de juro que a obrigação paga e varia com 2 coisas:
1. O preço da obrigação, nomeadamente de forma inversa: quando o preço aumenta a yield desce, quando o preço desce a yield sobe;
2. Inflação, mais exactamente expectativas de inflação. Dá algum jeito que a taxa que recebes compense a inflação, senão estás a ser "taxado" por esse estado sem saberes (Dai que todo o Estado que corra deficits tem incentivos para correr a inflação o mais alto possivel sem que as pessoas se apercebam disso).

Ora a yield da OT a 10 anos dos EUA tem a função lá que a euribor a 6 meses tem em Portugal: É o indexante da maior parte dos créditos.

Além disso é um benchmark, um padrão mundial para o chamado "activo sem risco", logo para as obrigações das empresas. Se a China, por exemplo, largar as suas obrigações no mercado, o sell off vai colocar um enorme pressão descendente sobre o preço. O mercado, em panico segue... como consequencia as yields passam a aumentar... quanto maior o selloff maior a subida das yields!

Imagina isto:
A euribor passava em poucos dias 4% para 10%... imaginas as consequencias? Agora faz a analogia para os EUA tendo em conta que a fatia de financiamento via mercado obrigacionista é maior lá que na Europa.

A Asia tem nas mãos uma arma financeira de destruição macissa... mas é um caso extremo, e não é do interesse deles largar aquilo tudo!

Paulo Colaço disse...

Compreendo-vos e respeito (era o que mais faltava) a vossa opinião mas eis duas notas:

- Nem a China é o único país do Mundo a poder optar pelo Euro;
- Nem à convém convém acender vela apenas a Deus: ao Diabo também se acende velas... :)

Tiago Sousa Dias disse...

Não deixa de ter piada que quando Guterres implementou a liberalização dos preços do combustivel toda gente ficou muito contente porque mais mercado significa mais concorrência e logo preços mais baixos, esquecendo-se que a única condicionante do preço dos combustíveis é o preço do barril que não é lá muito democrático...

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

O legislador esqueceu-se duma questão muito importante quando liberalizou: a margem.

Um dos argumentos para a liberalização era que maior concorrencia iria baixar o preço. Correcto, se as gasolineiras competissem pelo preço. Mas se tivermos em conta que cerca de 52% do preço do gasoleo é imposto (68% no caso da gasolina), temos que as gasolineiras não têm espaço para competir sem esmagar as suas margens, logo cartelizam...

É um caso tipico de como o Estado pode distorcer o mercado.

Tiago Sousa Dias disse...

Gosto da acusação Guilherme: "cartelizam". A questão é que a autoridade da concorrência já abriu e fechou um processo concluindo pela inexistência de indicios de cartel nos combustíveis.
A questão prende-se, claro, com a carga de impostos, sem dúvida, mas não haja dúvidas que num país 100% importador de combustíveis fósseis a dependência absoluta dos mercados determina o preço do consumidor final. Que me digam "de qualquer forma os portugueses acabariam por pagar a factura nos impostos para cobrir o défice da balança comercial face à dívida externa criada pelo pagamento pelo estado do excedente pago pelo Estado face ao preço de consumo... aceito, mas em todo caso não estaríamos a pagar um preço de mercado mas um preço administrativo para cobrir custos. Ou seja, o preço final seria impostos+custos das gasolineiras (dividindo-se esta parte entre aquilo que é pago pelos consumidores e o que é pago pelo Estado)+lucros para as gasolineiras se houver e não sempre e em todo caso o total pago pelos consumidores.

Unknown disse...

De facto estou a gostar dos temas aqui debatidos desde que comecei a ser visita frequente do blog. Este tema, uma vez mais não é excepção...

Mas, estarei eu a ver a coisa mal, ou as explicações/esclarecimentos dados neste post estão a atacar o problema apenas pelo lado habitual da questão, esquecendo o problema de fundo... O barril até podia estar a 2000 dólares por cm3 (óbvio exagero), se a nossa sociedade não fosse tão "crude-dependente" o problema seria de facto menor...

A questão do "Mas dá para parar?" não deveria ser atacada pela máxima da engenharia de operar redução na fonte? Em vez de nos andarmos a preocupar com malabarismos económicos (dos quais agradeço desde já as explicações nomeadamente do guilherme diaz-bérrio, que já me elucidou para vários mecanismos e conseitos que não dominava de todo)de fim de linha?

Unknown disse...

Errata

conceitos e não "conseitos"

jfd disse...

Guilherme

Obrigado pelas explicações! Realmente estamos todos reféns duma política económica de uns EUA que desde os neo-cons, anda a brincar com a tropa.
Já falei tanto mal do BCE, e das taxas de juro e das suas politicas. MAS! Amadureci no pensamento económico, e infelizmente, temos mesmo de ser coerentes no curto, no médio e no longo prazo. A bem de todos. E os EUA não ajudam nada com a "brincadeira" que andam a fazer com os dólares!
Uma das “raivas” que mais tenho destes quase 8 anos de “terror” económico neo conservador fundamentalista, é o desperdício de um super avit e de uma escalada de gastos por parte de uns EUA, que interessam a todos nós. E digo desperdício porque grande parte foi gasta com cortes de impostos para uma franja da população privilegiada, tax refunds bem vindos, mas desnecessários, investimentos em mais guerra, e por aí.......... Não sei se concordam...... Mas haveria melhor destino a dar a esses dinheiros, e agora talvez não estivéssemos tão mal... Que achas Guilherme?

Tiago Sousa Dias disse...

Caro Luis Carvalho:

Antes de mais seja bem vindo a este espaço.

A sua questão é fundamental mas não exclusiva. O que quero dizer com isso? De facto ainda ninguém tinha referido esse ponto e é tão importante quanto o controlo actual de preço. A questão é de outro modo... perspectiva. A médio longo prazo sim, mas a verdade é que não existe ainda infraestruturas e meios suficientes para avançar com algumas medidas que já vemos ao fundo do túnel. Por exemplo: os carros eléctricos. Pode-se perguntar então se já existem; se já se sabe que é possível criar uma rede de abastecimento eléctrico nos postos de gasolina, então porque é que os carros movidos a energia eléctrica exclusivamente não estão no mercado ainda?
Simples, porque uma Estação de serviço de testes (a única que conheço julgo que é na Holanda) para esse efeito, ou seja, com energias renováveis (porque se fosse buscar à rede eléctrica comum acabaria por gastar petróleo de qualquer maneira) tem a dimensão de 3 campos de futebol completamente preenchida de painéis solares.
Alguém me corrija os números por favor. Mas é um facto que não existe ainda condições 1- de infrasetruturas 2 de meios 3 de mercado para avançar com todas as mudanças necessárias ao desprendimento do petróleo como base do consumo de energia.
É um processo que está em curso, mas não é para hoje.

Tiago Sousa Dias disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tiago Sousa Dias disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
jfd disse...

A questão do "Mas dá para parar?" não deveria ser atacada pela máxima da engenharia de operar redução na fonte?

Não sei se percebi bem.
Nem sei se percebo bem, mas aqui vai ;
Penso que falas da redução da dependência... Ora esta jamais irá acontecer do lado da oferta (Ganância obligé ). Terá de ser do lado da procura.
Aí sim, o Estado pode desempenhar um bom papel, incentivando outras fontes, mas sem cair no ridículo que já aqui falei que se passa agora com a energia eólica.
Se do lado da procura se criar a pressão suficiente para a utilização de meios mais eficientes, poderá ocorrer um shift em breve...
Mas não vai ser fácil...
Tenho ido (mais ou menos hihihihih) às aulas da cadeira Gestão da Energia. Alguns dados interessantes:

*A contribuição dos combustíveis fósseis continua a ser a maior parcela no balanço energético mundial , em princípio continuarão a ser até 2020.

*Carvão – continua a ser o recurso fóssil com maiores reservas.

*Em 2000 53% das reservas conhecidas de petróleo eram OPEC Médio Oriente, hoje em dia, assistimos in loco a um shift para um maior peso nas reservas da América do Sul.

*Em 2004 a distribuição por fonte de Energia Primária em Portugal era a seguinte:
59.4% Petróleo energético
13% Carvão
12,8% Gás Natural
10.9% Renováveis sem Hídrica
3,4% Hidroelectricidade
0.3% Eólica
0.2% Petróleo não energético

* Energia Primária
Fontes de energia usadas para a produção de calor, trabalho e electricidade. O total de energia primária será o somatório de todas as fontes usadas para fins energéticos.

* Uso Final de Energia
A utilização real final da energia produzida. Este valor é distribuído pelos diferentes sectores de actividade económica: residencial, serviços, industrial (incluindo a geração de electricidade) e transportes.

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

JFD,
Por muito que eu gostasse de atirar a culpas ao Bush, a culpa não é só dele.

É verdade que o superavit orçamental foi disbaratado, mas já antes existia um deficit da balança corrente, mitigado por entradas de capitais - maioritáriamente poupança asiatica. Os americanos à muito que consomem mais do que aquilo que produzem e pagam as contas com um papel impresso na Fed chamado dólar, uma especie de IOU.

Em 1996 houve uma comissão que indicou que o indice de inflação sobre-estimava a dita. O facto de as prestações da seg. social estarem na altura indexadas à inflação e o sistema sobre pressão é uma mera coincidencia. A nova "inflação" é a comédia: energia sai das contas, comida sai das contas, e basicamente tudo o que aumenta sai do indice.

O que é que isto tem a ver com os excessos? Se usares o indice antigo, o milagre dos anos noventa desaparece... em vez de teres a inflação a 2% em média durante 15 anos, tens a dita a 6%. Ora isto é grave por quer dizer que durante 15 anos os EUA tiveram taxas de juro reais negativas. Na pratica os incentivos estavam todos postos para o endividamento - de um ponto de vista real, "pagavam-te" para te endividares. Enquanto isso davam yields de 3 e 4% com a inflação a 6%, na prática taxando o mundo inteiro.

A questão do imobiliario remonta aos anos 70. Antes disso, os preços do imobiliario tendiam a ser reversivos à média. Quando as casas subiam muito de valor - activo que normalmente acompanha a inflação - as construtoras faziam mais, colocando mais oferta e descendo os preços. Mas nos 70, regulação foi posta para restringir a área de construção, reduzindo o efeito "aumento de casas".

No anos 80 foram criadas leis para diminuir os critérios de crédito imobiliário. Ter casa era, dizia-se, um "direito" de qualquer americano.

Juntas tudo, misturas bem, e tens uma montanha de divida alimentada por preços de casas a ir à lua... no fim de tudo tens a cereja: a actual administração e os cortes de impostos para os ricos, a guerra no iraque e o desbaratar do excendente orçamental num país que tinha todos os incentivos para já não ter poupança privada e externa.

No fim, se calhar o Bush & companhia são os menos culpados desta embrulhada...

jfd disse...

LOL Guilherme ;)
Compreendo perfeitamente.
Obvio que o passado condiciona as decisões que tomamos no presente que vão moldar o futuro!

O passado era conhecido. O presente pertencia-lhes. O futuro (de todos nós) foi empenhado!!!
Onde estava a visão? A vontade de mudar? De onde veio aquela ala neo con que destruiu o Partido Republicano perante a opinião publica?
Bush dizia que iria ser o Uniter. Yeah right!
Melhor que Bush só o seu companheiro de trabalho. O Dick! Elevou o poder de VP a um patamar nunca antes alcançado, mas também com um nível de autismo e de arrogância nunca visto. Nem Nixon nos seus piores dias, nem Carter nos seus últimos ataques mais ferozes!

Como é que podem estes 8 anos ser branqueados isso é que me faz confusão!!!!

jfd disse...

17 de Março de 2008, 12:37
Porto, 17 Mar (Lusa) - A secretária de Estado dos Transportes anunciou hoje a criação, até final do primeiro semestre, do gasóleo profissional mais barato para os transportadores rodoviários de passageiros de forma a garantir a "sustentabilidade" do sector.

"É uma medida que está a ser finalizada dentro do Governo, pela secretaria de Estado dos transportes em parceria com a dos Assuntos Fiscais, com o apoio técnico da Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários de Pesados de Passageiros (ANTROP), e que será depois proposta à Assembleia da República", afirmou Ana Paula Vitorino.

Falando no Porto à margem da tomada de posse dos órgãos sociais da ANTROP, a secretária de Estado apontou o final do 1º semestre como meta para entrada em vigor desta medida, que vigorará em regime experimental "até ao final do ano".

"Teremos depois que avaliar, no final do ano, como é que correu a implementação dessa medida porque há matérias de carácter técnico, nomeadamente de como é implementada a redução do Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP), que ainda estão em cima da mesa e têm que ser testadas", explicou.

PD.
Lusa/Fim

Anónimo disse...

já existem várias alternativas nos combustiveis, temos o bioetanol, biodiesel, o próprio biogas se se neutralizar a emissão de metano poderá sem uma hipotese a ponderar e por fim a separação da molécula da água, que até agora tem tido pouco sucesso devido ao custo e esforço energético para separar o hidrogénio. O problema no que diz respeito aos combustiveis é que neste momento, com o preço da gasolina praticado nos EUA é pouco atractivo para os combustiveis alternativos. Um litro de gasolina nos EUA custa 0,58 enquanto que para obter a mesma eficiencia energética em etanol(E85) é necessário gastar 0,71€. Está mais que visto que os americanos estão muito pouco preocupados com esta questão.
Estranho que se tenha abordado a energia eólica, que não é viável neste caso, e colocado em causa o incentivo por parte do Estado a esta ER. É no minimo ridiculo. Ao compararmos as tarifas da En. eolica, biomassa e hidrica facilmente se constata que o governo tem apostado muito nesta área. Por outro lado, ainda não existem soluções técnicas que permitam contornas a fraca produtividade das turbinas eolicas (2000 h/ano), trabalhando sobretudo durante a noite, o que provocará um grande desperdicio energético. O estado tem alguma responsabilidade neste aspecto?!ou estamos á espera que os ministros peguem em leques e vão provocar fluxos turbolentos junto das turbinas?! Outro grande problema no nosso pais e que afecta grandemente a eficiencia da energia eolica é que as zonas com maior potencial eolico situam-se em lugares remotos servidas com redes fracas.

Anónimo disse...

A resposta para mim está dada; aliás, o Expresso no ano de 2005 fez capa do seu segundo caderno com este fenómeno e apontava o fisco como o grande responsável.

Vês Jorge, como se leres um pouco e não debitares a cartilha democrata a todo o tempo te apercebes que o diabo Bush é um mito?

jfd disse...

Cartilha democrata???
Cartilha de JFD! Excuse me ;)
Bush é o demónio!!!! E cheira a enxofre! Chavez dixit!!!

Tu és é muito esperto Nélson Faria! Muito!


Estranho que se tenha abordado a energia eólica, que não é viável neste caso, e colocado em causa o incentivo por parte do Estado a esta ER. É no mínimo ridículo.
Excuse me Baia?!??!!?
Falei na EE como mau exemplo do Estado a intrometer-se nas ER :P
Óbvio que o sector transportes não se vai mover a EE Humpft!

ainda não existem soluções técnicas que permitam contornas a fraca produtividade das turbinas eólicas (2000 h/ano),
Resposta à tua questão dos leques, desonestamente DESCONTEXTUALIZADA do exemplo para qual utilizei a EE
->
Em 2007 parques eólicos contribuíram para satisfazer 21 % nos dias de maior consumo eléctrico nacional
A Direcção da APREN anuncia que nos dias 19 e 20 de Dezembro foram batidos novos recordes de produção de electricidade a partir de fonte de energia eólica. Nestes dias atingiram-se valores muito altos de consumo, 179,6 e 174,5 GWh respectivamente, tendo a contribuição dos parques eólicos nacionais contribuído respectivamente com 20,6% e 20,9%.
www.apren.pt

Tens razão, que um dos maiores problemas da EE em Portugal, para além dos impactos ambientais, é a falta de investimento por parte da EDP distribuição e da REN.

Já que estou com a mão na massa;

Está mais que visto que os americanos estão muito pouco preocupados com esta questão.

Baia, estás um pouco desfasado da realidade, não? Ou melhor, em que te baseias para dizer isto? Viste os vídeos que postei? Repara na reportagem da CBS e nas que estão de lado...

O problema do Hidrogénio é tal e qual como disseste, o balanço energético não é favorável.
A neutralização do metano, não faço ideia como está...
O biowhatever de primeira e segunda geração é um disparate que não faz sentido nenhum, não sendo economicamente viável.
Realmente, e no meu puro entender, pegar em solo arável para comidinha, e "cultivar" combustível é de um disparate tão grande como acender cigarros com notas de 5 euros. Repare-se na quase guerra civil no México devido ao aumento contínuo da matéria base das tortilhas!!!

Dizia o Professor António Costa Silva no Expresso deste Sábado:


(...)
O que se passa é que o uso de biocombustíveis é ainda residual. Na Europa corresponde apenas a 1% dos combustíveis usados nos transportes quando a meta da UE é 5,75% para 2010. Como é óbvio não vai ser atingida e a meta de 10% para 2020 é mais uma utopia à moda de Bruxelas.
Mas o mais grave é que se têm levantado dúvidas legítimas sobre a eficácia dos biocombustíveis e a sua contribuição para a despoluição do planeta.
Essas dúvidas devem ser esclarecidas sob pena de se misturar o trigo com o joio e liquidar de vez uma fonte alternativa.
As dúvidas foram suscitadas com a eclosão da actual crise alimentar em diversos países do mundo. Começou no México em 2007 com a chamada revolta da «tortilla» quando os preços do milho dispararam e continuou em 2008 na Indonésia com a revolta contra o aumento do preço do feijão de soja que subiu 90% no início do ano, no Paquistão com a falta de trigo e no Egipto com o arroz cuja exportação teve de ser congelada.
O que é um facto é que a factura alimentar mundial subiu 21% em 2007 e atingiu 745 mil milhões de dólares.
Há quatro razões para isso: o aumento da procura alimentar induzido pelo desenvolvimento económico dos países emergentes; o efeito demográfico; as secas e inundações em grandes países produtores de cereais como a Argentina e o Brasil; e a aposta dos EUA, o maior produtor de cereais, no etanol, o que levou ao uso de terrenos e de colheitas tradicionalmente afectas à alimentação para a produção de biocombustíveis.

(...)
Não faz sentido apostar naquelas que levam à desflorestação e à destruição ambiental. Há que apostar nas que se baseiam na conversão celulósica e no uso dos produtos agrícolas residuais e que não competem directamente com as culturas alimentares.
É preciso dar atenção à maneira como os solos são usados e a questões mais vastas do planeamento do território e da preservação do equilíbrio dos geo e ecosistemas.
É necessário ter em conta o balanço energético, isto é a relação entre o «output» de energia que um biocombustível produz com a sua utilização e o «input», isto é a energia utilizada para a sua produção.
O etanol produzido no Brasil a partir da cana-de-açúcar tem uma razão de 8,3, o que é excelente mas o etanol produzido nos EUA a partir do milho ou do trigo tem uma razão de 1, o que é muito pobre.
Há que ter em conta a contribuição para a redução de emissões em comparação com a gasolina e o diesel. No caso do Brasil é de mais de 80% e nos EUA é apenas de 30%.
A pior estratégia é pôr tudo no mesmo saco, é não fazer uma análise diferenciada e misturar tudo à boa maneira dos tempos modernos, onde se substitui a análise de questões complexas por simplismos e modismos que não só não resolvem os problemas mas agravam-nos e liquidam opções válidas.


Deus nos livre dos Bios de primeira geração!

Sorry pelo tamanho!

Anónimo disse...

admiro quem tem capacidade de analisar ou discutir os problemas pelo seu raciocinio. Uma turbina para converter energia mecânica em energia electrica precisa de vento. se não existir vento elas estão paradas e estima-se que as turbinas trabalhem 1/4 do tempo. Por outro lado, o maior potencial eolico ocorre durante a noite, mas nesta altura o consumo é muito baixo e como tal a energia produzida não é aproveitada eficientemente. Este é um dos grandes problemas e não é citando autores ou falando em GW ou TW que demonstramos que percebemos de um determinado assunto. Eu pelo menos, só "falo" quando sei qualquer coisa sobre o tema.
Outro grande problema que a energia eolica se depara neste momento é com a alteração da tarifa energética, pois a produção será ainda menos rentável daqui para a frente.

Unknown disse...

Boa noite a todos!
Começarei o meu post com um agradecimento ao Guilherme Diaz-berrio, que continua a dar-me autenticas lições de economia, e creio ter trazido um ponto de vista muito fundamentado a esta discussão.

Mas como já o caro Luís Carvalho tinha referido, há sempre duas faces numa moeda, isto se considerarmos desprezavel a sua periferia. Começemos:

Ao nível do consumo, não nos podemos esquecer que observámos nos últimos 15 anos a uma evolução tremenda no sector dos transportes, que são responsaveis por grande parte do consumo de derivados de petróleo. Em média, um motor tem cerca de 2x mais potencia por cilindrada e consome metade do combustivel que o seu congénere de 1990.
Contudo, é um facto que o parque automóvel português se expandiu exponencialmente desde 1992, como se observa pela mísera prestação nesse sector que Portugal mantém actualmente, e que comprometeu as nossas metas de Quioto.
Ou seja, embora o preço tenha aumentado enormemente, nós sofremos é as custas dos nossos proprios luxos. Não sou um defensor do carpooling e do carsharing, mas lamento as pessoas que não compreendem que só num país com uma enorme fatia de novos ricos burgessos e com preconceitos ridiculos é que podem sobreviver alguns comportamentos e "modas" que se podem observar em Portugal. Basta observarem o transito durante alguns minutos e lá estão eles: condutor sozinho, num carro de 4 ou 5 lugares.
O problema dos transportes em Portugal não é um problema de preços de Petroleo ou de envelhecimento de parque automovel, é um problema de mentalidades, e de como um senhor chamado Guterres convenceu um povo marginalmente rico (ou levemente pobre?) que podiam ter todos os luxos que a Globalização lhes permitia, e de como um senhor chamado Durão Barroso não lhes explicou que tudo o que lhes tinha sido prometido durante 8 anos não tinha outro nome que não o "viver acima das suas possibilidades".
Graças à ilusão de que somos todos ricos (ou de que qualquer pobre tem direito a andar de carro), gerámos tabus e faux-pas sociais que impedem grandemente as soluções mais obvias para não pesar tanto na carteira ter o combustivel ao preço dos dias de hoje ou de amanha.
Sim, os transportes publicos são insuficientes, sim, é desconfortavel (ou mesmo impensavel) em muitas empresas os trabalhadores juntarem-se para partilharem um mesmo meio de transporte, e por todos esses pruridos sociais, andam carros com 1 ocupante a consumir mais ou menos o mesmo que se tivessem 5.

Portanto a resposta ao "mas dá para parar?" é simples: querem 50% de desconto em gasolina? façam viagens com +1 passageiro!
E nenhum motor híbrido, a hidrogénio, a ar comprimido ou a oleo de batatas fritas vais fazer a diferença.

Não pagamos o combustivel em si, pagamos o privilégio de viajar sozinhos; orgulhosamente sozinhos.

E disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
E disse...

Economia,política internacional, ecologia, energias renováveis, aspectos sociais, inovação tecnológica,política fiscal, história recente em Portugal. Abordaram estes aspectos neste post - com comentários bem inteligentes, "de elite".

Ainda entramos numa de racionamento da gasolina (com a consequente corrida ao abastecimento), com cupões a serem distribuídos pela população (a sério, os Finlandeses estão já a considerar isso).

Não dá para parar de imediato. Se fosse, deixava de haver luz, água, gás, internet, comunicações, transporte privado, logística, ou seja, entrávamos na Idade das Trevas. Por várias razões, a utilização de combustíveis fósseis na produção de energia eléctrica é o principal meio que os produtores têm ao seu dispõr para satisfazer o ciclo diário variável do consumo de energia eléctrica (injectam em tempo real na rede as necessidades de consumo do cliente final).

Uma outra alternativa seria por exemplo a Hidro-Eléctrica (novas barragens planeadas para construção e que acarretam elevados impactos ambientais), a Nuclear (nunca digam nunca), energia Hidro-Eólica combinada (energia eléctrica produzida pelos geradores eólicos é utilizada para bombear água para abastecer uma mini-hídrica), energia das ondas (projecto Pelamis mas que acarreta um problema potencial para a segurança marítima), centrais térmicas solares (produção de vapor de água que alimenta turbinas com gerador acoplado, já a funcionar em Espanha).

Estas soluções - não sei se a nuclear será realidade, espero que sim - vão sendo implementadas. Reconheço que este governo socialista têm tido uma politica energética muito boa, que se destaca largamente do governo social-democrata anterior.

Atenção que a cotação do Ouro subiu devido a ser a principal "divisa" que os investidores se têm refugiado. Isso distorce qualquer comparação que se queira fazer.

Indexar o preço do barril de petróleo ao Euro é como um vício que se sabe que é bom mas que mais tarde ou mais cedo têm que se largar senão acaba conosco. Indexar em euros depende do volume de contratos que as petrolíferas fazem, em Euros ou em Dólares. A compra de petróleo à Sonangol já é transaccionada em Euros. Se toda a gente o fizesse, então o preço do barril em euros seria uma realidade. Mas um facto é inegável, o Euro está muito forte, é credível (excepto para os eurocépticos) e desde a sua criação até 2004 as trocas comerciais trans-fronteiriças em euro aumentaram 30% (ver indicador eurepo).

Também há sempre a tentação de mandar as culpas para cima da entidade reguladora, desviando as atenções de quem é realmente culpado - os bancos, agentes do sistema financeiro, que não foram capazes de se auto-regular (nós por cá também temos esse problema, se der para ganhar mais fora dos circuitos convencionais, melhor ainda...BES, MILLENIUM BCP, ...).

Mas voltando ao "dá para parar?", o melhor é reduzir e não parar, o que se consegue com aumentos de eficiência, com a operação de "redes inteligentes" de energia e de transporte, como têm acontecido nas comunicações (a tal next-generation network).

A tal "eficiência" (mais com menos) também têm que ser considerada quando se muda de "combustível". Produzir, distribuir e armazenar energia eléctrica para alimentar baterias de automóveis é mais ineficiente e mais caro do que o petróleo. O gás natural é uma alternativa viável, amplamente utilizado em zonas urbanas na Suécia e na Suiça. E é mais seguro que a gasolina, embora seja difícil de acreditar. Falta uma rede de venda ao público e procura do consumidor. Se grande parte da população tiver carros híbridos a bi ou mesmo tetra-fuel, haverá quem invista na infra-estrutura de venda ao público. Mas repito, meios de transporte já existem.

E como o guilherme disse, nada como poupar 50% do custo da portagem, gasolina ou gasóleo se se ir para a universidade ou trabalho no carro de um colega que seja vizinho. E isso já acontece, é uma realidade social, embora pese ainda muito o individualismo aliado a um maior sentimento de insegurança (eu deixei de andar de transportes públicos por causa disso).

Paulo Colaço disse...

Santo Cristo!
Como em pouco tempo já se disse de tudo neste post!
Deixo aqui um abraço aos comentadores menos assíduos que neste assunto contribuiram para o seu aprofundamento.

É este aprofundamento das matérias que faz do Psico um blog com interesse (longe vá a presunção).

E siga para bongo, o bom sabor da selva!

Já aqui numa discussão sobre ambiente se disse o seguinte: perfeito, perfeito é haver portagens à porta de Lisboa (e outras cidades muito poluídas e entupidas), alicerçadas em boas redes de transportes públicos.

Postas?

jfd disse...

Baia
Não percebo o teu entrave a legitimamente discutir este assunto...

(...)e não é citando autores ou falando em GW ou TW que demonstramos que percebemos de um determinado assunto. Eu pelo menos, só "falo" quando sei qualquer coisa sobre o tema.

Eu não percebo nem sou especialista! Interesso-me! Não me confundas. Os autores e os sites são citados para ilustrar os meus argumentos. Os meus argumentos não são palavra final de nada, assim como não são as opiniões de Professores ou de Associações.
**

O que dizes sobre as tarifas da EE, foi o que me levou inicialmente a falar sobre a mesma. E a meu ver, e do que tenho lido, o preço não é real mas sim um preço político. O Mercado não está a ser mercado!
Mas como a procura poderá fazer pressão suficiente, poderá ser que alguém abra os olhos.

Uma das coisas que mais me fascina no novo plano hidrico nacional (mais ou menos já aqui falado pelo EM) é a possibilidade da produção eólica em tempos mortos poder ser utilizada para voltar a encher as albufeiras com a àgua que já passou pelas barragens, genial! Veremos se passará do papel para a realidade!

Tiago Sousa Dias disse...

JFD:

Está mais que visto que os americanos estão muito pouco preocupados com esta questão.

Baia, estás um pouco desfasado da realidade, não? Ou melhor, em que te baseias para dizer isto? Viste os vídeos que postei? Repara na reportagem da CBS e nas que estão de lado...


Acerca dos famosos Hummer Bush foi questionado porque os EUA não têm qualquer politica que incentive a indústria automóvel a poluir menos. A resposta de Bush foi "Já imaginou o impacto que isso teria na nossa economia?!!!" Concordo com o Baia.

Mas Jorge o exemplo da nota de 5€ tá fantástico. Muito bom.


Manuel Nina:

Ainda não tinha lido nenhum comentário teu; gostei muito deste e sobretudo da tua perspectiva relativamente aos usos sociais. Reparem bem nisto. Uma viagem Porto Lisboa custa 140€ de avião; 27€ de Alfa Pendular; 19,50€ em inter-cidades; 15€ de camioneta. Num carro com elevados consumos a gasolina custa 60€ se divididos por 4 passageiros temos 15€, o mesmo que a camioneta e o tal conforto que o Nina fala e que não se tem em nenhum transporte público. Num carro pequeno a gasóleo custa 40€ 10€ e temos a tarifa mais baixa do mercado dos transportes.

Nina deixa-me fazer-te uma pergunta:

Acho que já ninguém liga à mensagem do dividir para poluir menos; não deite papel no chão; desligue a torneira nos intervalos entre o canino e o molar...

Como achas que é possível educar ou reeducar para o consumo energético racional (no âmbito deste post)?

jfd disse...

Tiago:
Cometendo um erro de português:
Bush não é os americanos!

Tu que até tens acompanhado mais ou menos as eleições, viste o que disse cada candidato nas primárias do Michigan!!! A capital do carro!
O mesmo Bush que não fazia ideia que o galão está perto ou já passou mesmo os $4 e, ao ser questionado por uma fonte de energia alternativa responde com "Sem chumbo?"

give me a break ;)

Inês Rocheta Cassiano disse...

Esta discussão deu pano para mangas! Só queria deixar aqui umas breves notas:

- desde 2003, a dependência energética externa do petróleo consome-nos mais de 4% do PIB, representando mais de 15% na balança de mercadorias
- falou-se também de alternativas para combater a dependência externa. A Estratégia Nacional prevê:
- garantia da segurança do abastecimento através da aproveitação da produção energética endógena (aproveitar as energias renováveis em Portugal)
- uma redução das emissões de gases de efeito de estufa (no entanto, e no caso apenas dos famosos filtros, as multas continuam a ser menores do que a instalação dos ditos filtros)
- incentivo à inovação, à competitividade, à concorrência, por exemplo através da abertura (salvo seja) a pessoas singulares ou colectivas
- a economia é feita de expectativas e da especulação e o petróleo, sendo a fonte energética por excelência, vai determinar o custo de todas as outras energias alternativas e por conseguinte, vai ditar o andamento de toda uma economia
- então é preciso audácia, investimento. Por exemplo, Portugal é um dos países da Europa com maiores horas de radiação solar (entre as 2200 e as 3000 horas médias anuais) e faz-me um pouco de impressão como é que esta ainda está pouco desenvolvida e a dar os primeiros passos em Portugal

Por que é que não rentabilizamos aquilo que temos de recursos naturais?

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

O problema da teoria de "aproveitar os recursos naturais de Portugal para reduzir a nossa dependencia externa" está no sector onde se gera o maior consumo: o parque automovel.

cerca de 40% do consumo de energia importada é consumida pelo parque automovel - contida nesses 4% do PIB/15% da balança de transacções, uma pequena gota nos 200% do PIB de divida externa que este país tem, isto para os que querem puxar o argumento da "energia é responsavel pela divida externa".

E esta é a média nacional. Em Lisboa, por exemplo, cerca de dois terços de toda a energia consumida é gasta em transportes. E estes valores têm vindo a crescer - e muito acima do PIB - ao contrário do que tem vindo a acontecer no resto da Europa, talvez reflexo do que o Manuel Nina disse!

Infelizmente (ainda) não há tecnologia para usar energia solar para andar de carro, e de nada serve fazer mais barragens no que diz respeito ao encher o depósito...

o que me leva a uma conclusão um pouco dura: qualquer que seja a razão da subida, seja ela monetária ou real falta de oferta, ou mais provavel, ambos os efeitos, se calhar é melhor não parar!

Podemos falar de moral, de comportamentos sociais, mas a melhor forma de colocar o português médio a consumir menos combustivel, a partilhar carros ou a usar transportes publicos é mesmo deixar o mecanismo de preço do mercado funcionar: Quanto mais cara a gasolina maior o incentivo!

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

E como o guilherme disse, nada como poupar 50% do custo da portagem, gasolina ou gasóleo se se ir para a universidade ou trabalho no carro de um colega que seja vizinho. E isso já acontece, é uma realidade social, embora pese ainda muito o individualismo aliado a um maior sentimento de insegurança (eu deixei de andar de transportes públicos por causa disso).

Em, uma pequena nota:
Não fui eu que sugeri isso. O mérito da ideia é do Manuel Nina.

Anónimo disse...

Tiago, para reforçar o nosso ponto de vista, não te esqueças que a versão Golf da VW nos EUA tinha como versão base a 3000 cilindrada! Já não basta o preço ridiculo praticado nos combustiveis, como o próprio sector automovel incentiva a um maior desperdicio colocando no mercado veiculos que consomem para cima de 20 litros aos 100km.
Há uns anos um frances, Pantone, desenvolveu uma tecnologia que "fechava" o escape do carro de forma a aproveitar os hidrocarbonetos emitidos e consequentemente aproveitava-os como combustiveis, foi devidamente comprovada e conseguiu colocar vários carros em andamento com este processo. Arranjaram forma de o deter e como tal a investigação ficou em standby.
Alguem falou na energia nuclear, eu sou um defensor de pelo menos,se ponderar devidamente este tipo de energia. A questão da segurança actualmente está contornada, a refrigeração da central obriga a que a mesma se situe a sul do Teja que é o unico que aparentemente tem caudal suficiente. além de que o nosso pais tem em Nisa uma das maiores reservas de urânio em toda a europa

Unknown disse...

Caros leitores, as minhas desculpas pela extensão do meu post, mas atrevam-se a lê-lo, poderão aprender algumas coisas sobre Energias:

em dixit: Energia Hidro-Eólica combinada (energia eléctrica produzida pelos geradores eólicos é utilizada para bombear água para abastecer uma mini-hídrica), energia das ondas (projecto Pelamis mas que acarreta um problema potencial para a segurança marítima), centrais térmicas solares (produção de vapor de água que alimenta turbinas com gerador acoplado, já a funcionar em Espanha)."

Ora bem, em primeiro lugar, aquilo que chamas "energia hidro-eolica", tem de ser dividida em dois aspectos: utilizar electricidade, seja ela de que origem for, para bombar agua para fins de re-turbinagem, já é feito à vários anos em Portugal (salvo erro anterior a 2000), sendo que mais de 90% das barragens com produção superior a 30MW já têm esse sistema instalado, usualmente recorrendo a importação da energia Espanhola durante a noite (mais barata), visto que eles têm um excesso de produção devido às centrais nucleares (que têm de trabalhar sempre em regime nominal), ou seja, mesmo com as centrais eolicas ao lado da barragem, é mais barato comprar energia a Espanha para Bombagem.

Quanto ao Pelamis, é um exemplo muito fraquinho de energia maremotriz, sendo que ainda não existe um método fiavel de utilização dessa fonte energética (tens pelo menos mais 10 modelos com resultados comprovados, todos experimentais (como o pelamis), e sem um estudo definitivo sobre qual usar). A energia maremotriz, como a energia solar fotovoltaica são exemplo de áreas onde é necessária muita I&D.

Quanto à central de convecção solar em Sevilha, aconselho-vos a darem uma vista de olhos a:

www.power-technology.com/projects/
Seville-Solar-Tower/

(11MW é aproximadamente aquilo que produzem 4 aero-geradores terrestres (vulgo ventoinhas eolicas), representou um obsceno investimento, e ter uma torre de 40 andares no meio do campo, cercada de uma enorme area agricula convertida em espelhos, tem as suas desvantagens, além de claro, nao produzir energia à noite).

Avançando: Tiago, em resposta a Como achas que é possível educar ou reeducar para o consumo energético racional (no âmbito deste post)? Já dizia o filósofo Ortega e Gasset, que só fazemos algo de livre e espontanea vontade quando temos uma verdadeira motivação para tal, caso contrario, mais tarde ou mais cedo os nosso comportamentos regressam aos nossos gostos. Ou seja, enquanto não nos doer na pele, não vamos alterar os nossos comportamentos! A nivel do consumo racional, creio que a primeira questão passa por ter os preços da electricidade e da água liberalizados, sem controlo estatal e indexados ao local de residencia dos consumidores (já sucede com a agua, falta a electricidade). Em seguida, uma politica fiscal justa mas exigente sobre os transportes: imposto automovel (ou lá como se chama agora) indexado à norma ambiental que o veiculo cumpre (pré-, Euro 1,2,3,4,5). Controlo efectivo do estacionamento nas urbes, com desburocratização do sistema de coimas ou portangens são alguns exemplos de como podemos fazer o cidadão pagar o verdadeiro preço dos seus caprichos (retirando claro, equivalente carga nos impostos, fazendo com que só que usufrui é que paga).

À pouco tempo li um artigo que referia que uma pessoal que vivesse na cidade e fumasse 1 maço por dia inalava cerca de 20mg de particulas por dia, caso vivesse no campo e fumasse ou caso vivesse na cidade e não fumasse, inalava "apenas" 10mg. Em nome da civilização, temos abdicado voluntariamente da nossa saude. Quando passarem numa artéria movimentada de lisboa, especialmente junto a um semaforo, observem os prédios com fachadas de alvenaria, e vao certamente reparar que mesmo tendo sido restaurado recentemente, terá uma camada consideravel de particulas, é mais ou menos o aspecto dos nosso pulmoes se passasse-mos ali os dias...

Inês Cassiano dixit: Portugal é um dos países da Europa com maiores horas de radiação solar (entre as 2200 e as 3000 horas médias anuais) e faz-me um pouco de impressão como é que esta ainda está pouco desenvolvida e a dar os primeiros passos em Portugal

Inês, em Portugal e no Mundo, a produção de energia electrica através de processos solares fotovoltaicos está ainda hoje muito no inicio, e a electricidade produzida por esse meio custa em média 10 vezes mais que, por exemplo, a produzida por petróleo (fuel) ou por gás natural (ciclo combinado), portanto ainda há um longo caminho de I&D a percorrer nesse sentido.

Baia dixit: Há uns anos um frances, Pantone, desenvolveu...

Meu caro, ao longo de muitos anos, passaram pelas mãos do meu pai [IST - Departamento de Termodinâmica] inúmeros pedidos de patente que afirmavam verdadeiros milagres na produção energetica. Não nos esqueçamos do enorme embuste da Fusão a Frio. E pelo que me lembro das minhas aulas de Termo II, do resultado duma combustão, a quantidade de Hidrocarbonetos é residual, e tens sempre, inexorávelmente, a libertação de CO2 e H2O, que nada te servem para produzir mais reacções de combustão. Esse tal sistema de reaproveitamento, pelo que posso ententer, dará talvez um aumento de rendimento de uns 5%, a ser verdade (e depois esses filtros custam dinheiro e energia a fabricar, levando muitas vezes a que, quando observamos todo o processo de vida do componente, o seu custo é largamente superior às suas vantagens pontuais (como é o caso da produção de Hidrogénio por hidrolise da água, das centrais nucleares, etc)...

jfd disse...

Caro Manuel muito obrigado pelas informações.
Mas não pecava nada em ter iniciado com:
Caros leitores, as minhas desculpas pela extensão do meu post, mas atrevam-se a lê-lo, vou partilhar um pouco do que sei sobre Energias:

Epá eu implico com estas cenas...
;))

Ora aqui está uma grande verdade:
A nível do consumo racional, creio que a primeira questão passa por ter os preços da electricidade e da água liberalizados, sem controlo estatal e indexados ao local de residência dos consumidores (já sucede com a agua, falta a electricidade).

Digo de novo, na electricidade pagamos preços políticos! O mercado não funciona!

Pegando numa coisa que disseste anteriormente; para mim isto caracteriza muito do que é o pensamento de quem habita determina região / País:


Graças à ilusão de que somos todos ricos (ou de que qualquer pobre tem direito a andar de carro),(...)



Já agora, alguém me ajuda no meu trabalho final de curso? Microgeração? Microeólica? (ou mini aerogeradores como quiserem;)
Dicas!?!? :)


Caro Baia,
Reforças o ponto de vista falando dum Golf? Ok, tens razão os americanos de hoje estão-se lixando para o preço da gasolina. Desculpa os meus fracos argumentos! E obrigado pla resposta :P :)

Anónimo disse...

Caro jfd, é com muito gosto que passarei a postar 2 comentários de cada vez. Um para os psicos e visitantes e outro para si. Eu referi o Golf apenas como um mau exemplo americano. Está na própria cultura deles adquirirem carros muito potentes com elevados consumos. O VW golf na europa é comercializado a partir de 1.4 enquanto que nos estados unidos há cerca de 5 anos atrás era comerializado a 3.0! (apenas 1 exemplo!!) Entendido?:). é possivel que seja uma questão cultural, e sendo assim ainda é mais dificil combater esses maus hábitos, no entanto, se o preço da gasolina fosse mais próximo do valor pago pela média dos paises europeus e se as cilindradas dos veiculos fossem penalizadas como na Alemanha (apenas mais um exemplo jfd) facilmente se reduziria a emissão de CO e CO2.
Contudo, como já falou o Paulo e outros colaboradores, a melhor solução, a meu ver seria apostar numa boa rede de transportes publicos e até mesmo seguir o exemplo de algumas cidades europeias que cobram uma taxa por veiculo.
Espero que o meu comentário não tenha sido demasiado longo:)

jfd disse...

Caro jfd, é com muito gosto que passarei a postar 2 comentários de cada vez. Um para os psicos e visitantes e outro para si.

Para si?
Ficarei agradecido. Desde que seja justa... Mas para estares a falar assim, não/ou serás o baia do custume? :P

Os exemplos são clássicos.
Repito, viste a reportagem? E as que se lhe seguem?
O problema é do agora. Não é do antigamente.
Estão a despertar para a coisa. Sempre estiveram adormecidos. É verdade. O agora é o que interessa!

Anónimo disse...

Sim, sou o baia do costume. Tiveste bem!:) Admito que eles estejam a tentar rectificar erros do passado e adquiram agora uma consciencia ambiental, coisa que nunca tiveram. Mas muitos problemas são resultantes da cultura americana, os maus hábitos não se alteram de um momento para o outro. Achas que os americanos estarão preparados para uma subida dos combustiveis?! compara só o preço da gasolina nos EUA com a europa. Compara o preço dos automoveis de grande cilindrada da Corvette, Mustang, Caddilac, etc com as marcas similares europeias. é convidar os americanos para a emissão de monoxido e dioxido de carbono. Poderá isto ser apenas uma gota no iceberg?!Talvez, mas é necessário começar por algum lado e nesse sentido a europa tem revelado maior empenho e preocupação em resolver problemas ambientais. De qualquer forma gostaria saber a opinião do Tiago, do Paulo, do Guilherme ou do Manuel, que tem participado mais activamente neste tema. é curioso, que consoante as suas àreas cada um encara este problema por um prisma diferente o que acaba por tornar este post muitissimo interessante.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
jfd disse...

LOl Baia, tava a ver que não era tu :) Já tava a pensar que tinha metido o pé na poça:)

Esperemos pelos outros inputs sim.

Já agora Cassie, adorei a imagem que escolheste!!!!

Tiago Sousa Dias disse...

Corre na net uma pergunta deliciosa cuja resposta eu confesso que não sei mas suspeito porque salvo erro, para Portugal, o valor de referência é o da praça de Londres.
Cá vai:
Se em 2002 um barril de petróleo custava 70 dólares , o que equivalia, grosso modo, a 77 Euros, e hoje ele custa 100 dólares - o que equivale, sensívelmente, a 70 Euros - como é que se pode dizer que o petróleo está mais caro?

Inês Rocheta Cassiano disse...

Manuel, em relação ao I&D (Inovação e Desenvolvimento), como sabes, menos de 1% do PIB é dispendido nesta rubrica. Atrás de nós fica apenas a Grécia e até os países que entraram em 2004 verificam uma maior despesa em termos reais neste sector.
Apesar de ao longo dos anos o valor absoluto da despesa ter aumentado, o peso relativo não acompanha a mesma tendência, inviabilizando um pouco o estipulado na Estratégia de Lisboa de atingir os 3% do PIB em I&D, em 2010.
É meramente uma opinião, mas não vejo o Executivo de José Sócrates com as prioridades em termos de investimento, norteadas para as energias renováveis alternativas.

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

Já vi esse email - e já várias pessoas me vieram perguntar - e está errado!!

Nomeadamente as cotações do euro para o ajuste cambial estão erradas.
http://www.swivel.com/graphs/show/24422650 - aqui podes encontrar um gráfico do brent em euros. Como se vê de 2002 a 2007 ele sobe. Sobe é menos que o equivalente em dólares, porque o euro subiu contra o dólar anulando parte do efeito "monetário"...

Quanto à referencia para Portugal, sim é o barril de Londres.
Basicamente existem 2 contratos de futuros de petroleo: O West Texas Intermediate(WTI) aka Light Sweet Crude, cotado em Nova Iorque, e o Brent Crude Oil cotado em Londres.

Existem duas diferenças entre os 2 contratos:
1. A proveniencia do petroleo é diferente - no caso do WTI, o dito vem do golfo persico, enquanto que o Brent é retirado das plataformas do Mar do Norte;
2. Composição quimica - o WTI é mais "leve" o que o faz ideal para a refinação nos EUA, face ao Brent que é tido como mais "pesado" (O Manuel Nina será melhor que eu a explicar este promenor do "peso" :P)

Normalmente, a cotação do WTI é sensivelmente +1USD que a cotação do Brent.

Tiago Sousa Dias disse...

Guilherme obrigado pela explicação. Estou elucidado.

1- Mas dá-me cá um facto. Quando é que a diferença cambial deixou de impedir que a subida do preço do petróleo fosse superior em Euros?

2- O que é que significa concretamente o preço do crude ter referência na Praça de Londres ou Nova Iorque se eu posso negociar na praça Nova Iorquina ou Londrina conforme me der na guedelha?

3- Em termos globais e no longo prazo é possível haver essa vantagem cambial se tivermos em conta que a procura é cada vez maior e a oferta será menor quando os recursos começarem a "secar"? Ou seja, não haverá o perigo de num momento histórico as torneiras começarem a fechar de um lado compensando o outro com um boom de preço na expectativa da escassez do petróleo?
A pergunta é lúcida ou será que se confirma a teoria de que os combustíveis alternativos estão aptos a arrancar há anos mas quem possui a tecnologia para o efeito é quem tem petróleo e só a libertará quando tal momento chegar? hehehe

Tiago Sousa Dias disse...

A exemplo disto é a tecnologia informática:

Ex. Julgo que o primeiro registo de uso de GPS data do inicio da Guerra Fria. Porque é que só hoje chega aos mercados? Porque não se sabia como evitar o uso militar por potências adversárias.

Se eu comprar um bom computador hoje compro com memória de 1Tb. Daqui a um ano provávelmente já existem discos com 3 Tb. Alguém acredita que hoje esses discos não existem?
Claro que existem, mas para quê dar tudo ao consumidor hoje se podemos dar-lhe 1 para depois vender 2, 3 e sucessivamente. É gestão de I&D.

Anónimo disse...

Aqui só tenho uma coisa a dizer: a B lidera! ;)

P.S. O Manuel Nina e o Guilherme são mais valias no trabalho da Secção B.

jfd disse...

...
Tanta coisa interessante para dizer!
E tinhas de embaraçar os rapazes como uma mãe que leva os filhos ao emprego!;)))

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

LOL Obrigado Né pela parte que me toca!

Quanto à pergunta do Tiago:
1- Mas dá-me cá um facto. Quando é que a diferença cambial deixou de impedir que a subida do preço do petróleo fosse superior em Euros?

Bem, cambios é o mercado mais complexo que existe e o Euro não é excepção. Se é verdade que o dólar só tem um sitio para ir - para baixo entenda-se - isso é mais em relação às moedas asiaticas do que ao Euro. Pode mesmo argumentar-se que face ao dólar, o euro está neste momento um pouco esticado... mas sendo que um depósito a prazo na europa rende mais 1,75% que nos EUA, eu ao comprar euro por contrapartida da venda dólares ganho 1,75% - fees - chama-se a isto "carry trade" - e isto sustenta a subida. Moral da história: as moedas não se movem linearmente, e se é verdade que a desvalorização do dólar ajudou o crude a ir aos 100+USD, o euro valorizou menos.

2- O que é que significa concretamente o preço do crude ter referência na Praça de Londres ou Nova Iorque se eu posso negociar na praça Nova Iorquina ou Londrina conforme me der na guedelha?

Os futuros do crude tem settlement fisico, ou seja, eu quando compro um contrato de Maio de futuros de crude a 103.80 (preço actual às 15:42 :P) eu estou a comprar um barril de WTI, para me ser entregue em Maio!
Logo, quem precise efectivamente dos barris em questão, vai comprar e vender o contrato do barril que quer... no entanto eu posso fazer a coisa pela vertente financeira, como 2 objectivos - especulação e protecção.

Para protecção é simples - aka hedging - e deixo um exemplo prático: a Air France-KLM comprou, em 2002 contratos de crude WTI a 70 dólares. Isso significa que a Air France não enche os depósitos ao preço actual de 100, mas ao preço antigo. Funciona como um seguro: se o preço do crude subir a Air France ganha, se o preço do crude descer a Air France perde, mas tem a segurança de saber que tem um preço fixo.
Especulação é ainda mais simples: eu acho que o crude vai subir logo compro um contrato de futuros. Tenho é que ter o cuidado de o vender antes de Maio, senão arrisco-me a ter um Barril à porta de casa :P

Outro exemplo: se, históricamente, o brent e o WTI estão sempre a 1USD de distancia, quando eles se afastam, eu compro o mais barato, vendo o mais caro e ganho a diferença - aka arbitragem.

E sim, se quiseres podes fazer isto sozinho. Abres uma conta numa corretora (LJ Carregosa, Best) e aventuras-te...

3- Em termos globais e no longo prazo é possível haver essa vantagem cambial se tivermos em conta que a procura é cada vez maior e a oferta será menor quando os recursos começarem a "secar"? Ou seja, não haverá o perigo de num momento histórico as torneiras começarem a fechar de um lado compensando o outro com um boom de preço na expectativa da escassez do petróleo?

No longo prazo a moeda é neutra, logo não, não é possivel manter a vantagem. Facto: o petroleo está a acabar! A questão é o quando, logo no longo prazo vais ter menos oferta para um padrão de consumo pouco flexivel - assumindo que não mudamos de estilo de vida. Logo o preço sobe...

Mas é bom que o faça:
Hoje toda a gente fala em renováveis e investe-se biliões de dólares nisso - ao ponto de se criar um potencial bolha e de mandar tudo o que é commoditie agricola para a lua - por que se está a tornar rentavel!!

Com o crude a 20, as renovaveis de um ponto de vista relativo não eram atractivos. À medida que o crude vai "secando", o preço vai aumentando, e as renovaveis vão-se tornando mais atractivas.

Note-se que não tou a ter em conta distorções fiscais - que levam por exemplo a que só agora é que os americanos acordem para o problema pois o peso fiscal deles sobre o combustivel é praticamente nulo - ou o facto de as petroliferas europeias exportarem a maior parte da gasolina para lá - dado que são grandes consumidores - o que faz com que gasolina lá seja mais barata que cá na europa (pelo contrario nós ficamos com o diesel, logo cá é mais barato que lá).

Anónimo disse...

lol Jorge

É assim: há quem tenha individualidades e quem tenha equipas :)

Tiago Sousa Dias disse...

Guilherme obrigado pela explicação. Mas vou-te chatear com mais uma questão relativamente ao ponto 2.

Os contratos de futuros não são necessáriamente cumpridos... O que significa isto? Eu posso obrigar-me a comprar-te x daqui a um ano ao preço y; tu aceitas e quando chega a altura se me convier eu compro se não não compro e tu o mesmo.
A Air France está mesmo a ganhar com isso?!!!
Em margens tão grandes como esta (de 70$ para 104$ o barril) e mesmo noutros produtos sabes se é comum o cumprimento?
Pode ser O MEDO da escalada dos preços um dos motivos pelos quais estes têm mesmo vindo a subir?

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

Bem, esta questão vai derivar um pouco para mercados financeiros mas aqui vai:
Quanto à Air France-KLM, sim estão a ganhar bastante ao não terem as margens suprimidas pela escalada do crude. Chama-se gestão de risco e algumas empresas realmente fazem-no. (Outras, como a TAP não fazem cobertura do risco do preço do petroleo e estão assim sujeitas a todas as flutuações).

Quanto ao cumprimento dos futuros, vamos dar um exemplo idiota:
Eu acordo contigo vender-te 10 copos daqui a uma semana, por 1 euro cada um. Isto é um contrato de futuros. Ora nós negociamos um preço para este "acordo" num espaço próprio, uma exchange, que me obriga a mim a colocar um copo nos cofres como "garantia". Ora eu não tenho os outros 9 copos como é claro. Eu aqui tou a jogar: vou ali à loja e vou estar a semana toda a ver os preços. Se conseguir comprar os copos por menos de um euro ganho $, porque te vou vender depois a 1 euro, se não perco dinheiro.

Ora agora podes dizer: "porreiro Guilherme...se não encontrares os copos a menos de um euro eu vou ficar agarrado com o negócio". Ora, não exactamente. Não estamos só nós neste mercado de copos... ali o Nelson também anda entretido a negociar copos com o Colaço por exemplo. E também deram copos como garantia ao "exchange". Logo, 1 de 2: eu vou perder $ com o negocio dos copos, ou baldo-me ao negocio - neste caso o exchange vai ao cofre buscar 9 copos, cobra-te 1 euro cada um e vem "atrás de mim". Funciona como um banco: só guardam 10% do dinheiro que recebem. Só se toda a gente for lá ao mesmo tempo é que a coisa falha. Obviamente que nunca mais compro ou vendo um copo na vida se me baldar...
segunda opção: arranjo alguém que me compre o contrato antes da semana passar, de modo a que eu me possa baldar ao negocio mas alguém não te deixe agarrado.

Ora para qualquer preço à sempre alguém interessado, mas pode não ser a pessoa que eu encontro. É aqui que entra o "especulador" - aquele gajo que ninguém gosta e toda a gente bate - que me compra o contrato e no limite arrisca-se a ter de ser ele a comprar os copos para tos dar. Mas, como me está a fazer um GRANDE favor vai-me cobrar bem. Eu pago, fico livre, e ele é compensado pelo risco de ser o intermediario...

De um modo muito simplista é mais ou menos assim que funciona o mercado de derivados em geral, futuros em particular. No meio existe regulação que obriga alguém, no limite o exchange, a responsabilizar-se, dada importancia deste mercado e da questão da confiança. Logo, é mesmo muito incomum alguém baldar-se ao cumprimento dum contrato de futuros. No limite fazes o chamado "roll over": vendes uma maturidade e compras a imediatamente a seguir... mas isso já são tecnicismos.

Quanto ao "medo da subida causar a subida"... bem se eu tenho medo que o preço do crude em Maio me vá custar 200 USD e não quero correr o risco entao compro hoje um contrato de crude com entrega em Maio a 100 USD é verdade. Mas isso tem um custo. Se eu me enganar e o crude for parar a 50, por exemplo, eu perco dinheiro. Depois é complicado explicar aos accionistas porque é que eu fiz a operação logo não é muito comum ver as empresas fazerem isso de um modo generalizado (Por exemplo, a Air France-KLM foi das poucas companhias aereas que o fez em 2002). Isto tem custos: sempre que, por exemplo, um contrato de futuros varia um dólar eu, se o tiver na minha conta pessoal, ganho ou perco 30 USD. Pesadito de manter durante muito tempo.

Depois disto tudo ainda tens os Hedge Funds que por exemplo hoje não têm feito outra coisa senão "despejar" contratos no mercado, forçando o preço a descer dos 110 pra os 103 ... (em especial tendo em conta que estamos no meio duma crise financeira grave que também está a afectar o preço do crude)

jfd disse...

lol Jorge

É assim: há quem tenha individualidades e quem tenha equipas :)

;))
Eu tenho-me a moi :)

Guilherme, mais uma valiosa lição!
Tiago recomendo um filme que vai cimentar essa lição, Os Ricos e Pobres; Trading Places.
Excelente comédia!
;)