sábado, dezembro 29, 2007

I just can't wait to be king?


A discussão pró/contra monarquia corre sempre no mesmo sentido:

- Porque há-de alguém, por nascimento, ter o direito de governar sobre um país, vitaliciamente (se bem que hoje em dia já não despoticamente, na maioria dos casos)?

Já tive esta discussão inúmeras vezes, mas creio que falha sempre pela ausência de debate num ponto essencial:

- Porque é que reinar há-de ser um direito?

Podemos pegar no caso mediático de Eduardo VIII do Reino Unido que foi forçado a abdicar para casar com Wallis Simpson, devido a esta já ter sido por duas vezes divorciada.

Mas não só. A história é fértil em exemplos de monarcas que (não chegando tão longe) foram obrigados a esconder, devido ao seu nascimento, algo que não causaria qualquer celeuma noutros casos.

Exemplos perfeitos são as relações que se podem denominar menos aconselháveis para "pessoas de bem" e que preenchem as capas dos pasquins por esse mundo fora, mostrando-nos que a coroa está muito longe de ser um privilégio tout court.

Assim lanço a discussão, reformulando a pergunta:

- Porque há-de alguém, por nascimento, ter o dever de governar sobre um país, vitaliciamente?

28 comentários:

Francisco Castelo Branco disse...

Pode não ter o dever. Mas tem o direito..........
A questão que se coloca não é bem o facto de governar de forma vitalicia.
Tem a ver com a separação entre a coroa e o povo
É um dos "males" da monarquia.
Tudo para o Rei, nada para o povo.
Ser Rei é como que ...... dominar o mundo.
Ter poder

Anónimo disse...

Com todo o respeito who cares??? ;)

Paulo Colaço disse...

Em primeiro lugar, faço a minha declaração de interesses:
sou tendencialmente republicano mas a democracia parlamentar, a meu ver, torna inócua a monarquia. Em todo o caso, considero que todo o poder reside no povo, que o transfere aos seus representantes através do voto.

Como sou a favor da limitação de mandatos, não sou, claro, favoravel à monarquia.

Respondendo à pergunta, o primogénito varão do rei não tem o dever de governar. Nem, a exercê-lo, está obrigado a fazê-lo vitaliciamente: pode mandar tudo às malvas se e quando o quiser.

José Pedro Salgado disse...

Francisco:

A minha questão desta vez não era tanto do ponto de vista da caça, como era do ponto de vista do caçador.

Acho que um dos pontos contra a monarquia é o facto de os monarcas não terem direito a não ser Rei.

JFD:

I do.

Francisco Castelo Branco disse...



Mas á Monarcas e Monarcas........
Dentro dos monarcas, existem várias categorias..........
Só aqueles que estão no seio familiar é que devem ser reis.
É uma questão de cultura.
Acho eu.
Como a democracia, tens as suas muito próprias

Anónimo disse...

Desde 5 de Outubro de 1910 que esse regime foi abolido em Portugal. Não sou um "carbonário", mas considero-me um repúblicano de gema. Logo essa ideia de hereditariedade governativa, provoca-me alguma indisposição.

Os defensores da Monarquia sustentam muitos dos seus argumentos, com base nos exemplos dos países do norte da Europa, que sendo mais evoluídos, devem parte do seu sucesso e da sua estabilidade às ditas "familias reais" e por outro lado, dizem que um Rei é preparado desde cedo para "o lugar" e que assim sendo, irá governar com maior sapiência.

Pessoalmente não concordo com estes argumentos e acho-os até profundamente anti-democráticos.

Um Rei não perde uma eleição, depõe-se. E assim sendo, qual seria a prerrogativa para o depôr? Seguiriamos o modelo Hobbesiano ou Lockiano?

Esta questão parece-me claramente desajustada à realidade portuguesa do século XXI, até porque o D. Duarte apesar das suas "conections" nas casas reais europeias, não me parece de todo um bom governante e não lhe são reconhecidas capacidades nos mais variados niveis, que não sejam no âmbito agricola, histórico e cultural.

Por último, com esta questão aqui levantada, sou levado a questionar-me do porquê, do PPD/PSD ter aceite a coligação com o Partido Popular Monárquico nas Legislativas. Serão os seus votos assim tão importantes ou haverá assim tantos "súbditos sociais democratas"?

Anónimo disse...

José daí a parte do respeito :) because you do !

José Pedro Salgado disse...

Colaço:

Mas existe uma grande inclinação para que não o façam. A concretização é tão simples quanto esta: se uma coisa tão simples como pedirmos a demissão originasse uma crise constitucional, não me digam que não é um peso demasiado grande.

Francisco:

De facto nem todos vão a jogo (graças a Deus). Existem regras próprias para tal, mas é a imperatividade dessas regras e a sua legitimidade para funcionarem hoje em dia que me preocupam.

Vermouth:

Um dos pontos que quero focar é precisamente a ilegitimidade de se exigir essa preparação e estabilidade a quem quer que seja.

Os governantes devem ser escolhidos de entre de quem se encaixa no molde, não moldando quem se pode não encaixar.

E quanto à deposição caímos no ridículo de legislar uma revolução?

Já no que toca à coligação, sou alheio ao que a causou, mas lá que existem muitos monárquicos no PSD e na JSD, lá isso existem.

Anónimo disse...

Só uma reflexão à parte. Este post no "Portugal Contemporâneo" sobre o nosso partido, fez-me pensar e acho que daria uma boa discussão. Fica aqui o link:

http://portugalcontemporaneo.blogspot.com/2007/12/cacos.html

Um abraço a todos. Fiquem bem.

Duarte Serrano disse...

Desde há muito que se discute o Direito e o dever. Quais os mais aptos para a política? Deverão os mais aptos serem os únicos a pratica-la? Quem são os mais aptos? Quanto ao Direito são apenas convenções. Porém é um APENAS que faz toda a diferença, que move multidões ou despoleta revoluções.

O Direito pode ser baseado no costume, a hereditariedade desde os primórdios foi a melhor forma de assegurar que de geração em geração as elites governavam. Isto fazia com que não tivessem uma vida comum possuindo privilégios mas também deveres que não podiam quebrar, como por exemplo não se poderem negar a ir para a guerra. Nesse tempo não servia ser objector de consciência.

Em países como a Espanha ou a Bélgica, a monarquia tem um papel unificador. No Japão após a II Guerra Mundial afigura do Imperador foi tida em conta para que a democracia pudesse proliferar, era também um facto de união.

Na Grã-Bretanha a Instituição monarquia é uma tradição que tem raízes assentes na magna carta. A sua profundidade e a forma como os Ingleses a entendem e vista com naturalidade, pois, esta ao longo do tempo soube adaptar-se. Entendeu-se que mundo já não tinha lugar para os de espécie da realeza e aristocrática.

Pessoalmente gosto de citar Chateaubriand que dizia: Eu sou monárquico de coração mas republicano de inteligência.

Nos nossos dias não é a melhor forma de abordar o tema começando com: Aquele homem ou mulher tem o direito a ser rei.

Em legitimidade histórica pode tê-lo, todavia só o povo consagra a plenitude desse Direito, Para uns é divino sendo uma graça outros têm por ele um certo desdém…

Quando ao facto de existirem muitos monárquicos… Talvez seja verdade, não sei. Peço que me desculpem a fraqueza mas é para mim mais importante quantas crianças não têm um lar ou quantas pessoas em Portugal ainda vivem na miséria ou a MISÉRIA em que a educação e a saúde chegaram.

A Rússia não tem czar mas tem Putin. Nós não temos João Franco mas temos José Sócrates.

Na parte do PPM… Não é um partido sério. Esta mais ligado a galhardetes do que de visão para Portugal.

Um feliz ano de 2008 a todos Vós.

Anónimo disse...

A coligação com o PPM prende-se com mais uma das superstições de Santana, a tentar ressuscitar a AD de Sá Carneiro.

O argumento das monarquias bem sucedidas é rísivel pois também se pode defender que no G8 apenas três países são monarquias (Canadá, Reino Unido e Japão), tantos como as Federações (Alemanha, EUA e Rússia).

Será que Portugal deveria ser uma federação de Estados?

Sou um republicano fervoroso e nenhum monárquico me convenceu... por muita piada que tenha um tipo com coroa a receber altos dignatários.

Anónimo disse...

Quanto ao texto do Rui A. no Portugal Contemporâneo um comentário: abaixo do nível a que nos habituou desde o seu "Cataláxia" (isto para os velhinhos da blogosfera).

O que é dito do PSD pode-se dizer do PS. É a crise que bate à porta de qualquer partido na oposição, mesmo os centenários como no RU ou nos EUA. Há que enfrentar a tormenta ;)

Anónimo disse...

Declaração de Interesses:
Sou Monárquico! Ser Monárquico não implica ser "Duartista", embora tenha de D.Duarte melhor opinião do que a da generalidade da opinião pública. Já alguém conversou com o senhor sobre algum tema em especifico? Parece-me algo pertinente para formatar opinião.
Defendo um sistema com um parlamento a funcionar na sua plenitude, em respeito pelas regras da existência de um Chefe de Estado que o regula em representação de TODOS!

Relativamente à discussão; Como em tudo na vida, existem bons e maus exemplos. Tanto serve para Monarquias como para Republicas. Embora, obviamente, não tenha vivido em regime monárquico, continuo por ser convencido que a Republica sirva melhor os interesses dos Portugueses.
A Republica foi implementada em Portugal à revelia da vontade da população. E continuo a acreditar que a maioria do povo português, no seu intimo, é monárquica!
Também fica por provar que, no caso de ter não termos conhecido outro regime, se a Monárquia Portuguesa se teria ajustado aos tempos modernos, como fizeram as monarquias europeias.

Só mais uma "acha para a fogueira", embora não goste de discutir o tema por este prisma ... e os custos financeiros para o Estado? Certamente que sairia mais barato uma Monarquia! Sem contar com possiveis receitas inerentes!

Anónimo disse...

Meu caro Rodrigo Saraiva
Parece que está preso a um passado que não foi nem nunca será futuro!
Graças a Deus :)

Já agora o que seria necessário para o convencer que a Republica é de facto o regime que melhor serve a nossa Nação?

Paulo Colaço disse...

Em primeiro lugar, saúdo a presença do Rodrigo Saraiva no psico: sente-te sempre à vontade para comentar e participar nas psico-discussões.

Quanto aos diferentes pontos de vista aqui esgrimidos, avanço por este: haverá diferenças entre o presidencialismo puro e a monarquia no que toca ao respeito pela figura "tutelar" do Estado?

Talvez não, razão pela qual será sempre preferível um Chefe de Estado eleito.

Paulo Colaço disse...

Só uma nota, JDF, a República, só por si, não serve a Nação. Ou, pelo menos, não o faz melhor que a Monarquia.

Se tanto Rei quanto Presidente tiverem os mesmos poderes, servem a Nação de igual modo.
O que não me serve enquanto cidadão é a existência de uma cargo (o mais alto da Nação) cuja designação não se faça por sufrágio.

Anónimo disse...

Hummmm
Ou seja, República Democrática Portuguesa? ;)))

Paulo Colaço disse...

ehehehe!
Será o Reino Unido menos democrático que o Portugal, por ter Rei em vez de Presidente?
A minha resposta: quando o chefe de Estado não é eleito, então há um patamar democrático a menos.

Anónimo disse...

Et voilá :)
Para quê menos, quando podemos ter mais?
Para quê voltar atrás?
Para quê esforçar argumentos para justificar algo que, a meu ver, não passa de um Sebastianismo latente? :)

Sejamos felizes, olhemos em frente!

Ainda hoje me ri quando oiço o grande Alberto João Jardim referir-se ao que o Reino "sugou" à Madeira em 2/3 da sua vida (da Madeira) ;)
Que dizem a isto Monarcas? Terá razão? Poderá a República responder por alegados "crimes" e "excessos" da Monarquia?

Anónimo disse...

Não há culpas exclusivas da Corôa. Tanto a República quanto a Monarquia são dirigidas por homens e são eles os responsaveis por aquilo que corre bem e mal.

Rodrigo disse...

Jorge,

não me parece que haja forma de me convencerem que a república é melhor sistema que a Monarquia!

Paulo,
falando em diferenças ... há uma bastante pertinente e que faz, realmente, toda a diferença: o ritualismo! O que tem inerente outras coisas.

E, assim de repente, há outra questão de "pormenor", mas que também faz muita diferença!
Um Rei é de Todos!
Um Presidente nunca o será! Pelo menos não será dos que nele não votaram!
:)))

Paulo Colaço disse...

De facto, Rodrigo, um Presidente nunca é de todos.
Terá sempre a oposição dos que não votaram nele (embora em Portugal todos os presidentes - em democracia - foram reeleitos por margens superiores à primeira eleição.

Terá também a oposição dos que votaram nele mas que, aqui ou ali, discordam de atitudes pontuais.

Mas não se pense que um Rei "é de todos". De todos só mesmo o ar, como diz a rábula dos Gatos.

A começar pelos republicanos, um Rei nunca terá descanso. Veja-se no RU e em Espanha: a monarquia raramente está em paz.

José Pedro Salgado disse...

Um Presidente não é de todos? Desde quando?

O Presidente é de todos, sim senhor!
É esse o significado de democracia. Ganha quem a maioria apoia, mas quem ganha tem de ter em conta a minoria naquilo que faz.

Senão era a ditadura da maioria.

Aliás, o Rei pode ser de todos mas, no que toca a governar só para alguns, a monarquia tem muito mais tradição do que a república.

Paulo Colaço disse...

Caro Salgado, aquilo que aqui dizes é inatacável: quer no exercício quer por definição, o Presidente é de todos.

E o presidente tem mesmo de ser de todos, ou não honra o seu lugar e a confiança nele depositada.

Porém, onde o Rodrigo quer chegar é ao apoio popular. Nesse campo, ser de todos significa ser apoiado e respeitado por todos.

Mas aí, caros Rodrigo e Salgado, ninguém é de todos.

Paulo Colaço disse...

:)
Logo, se a inanimidade é inatingível, prefiro alguém que seja escolhido por muitos (o Presidente) do que outro que, não sendo escolhido por ninguém, é imposto a todos (o Rei).

José Pedro Salgado disse...

Eu diria de outra maneira.

Eu prefiro alguém que posso pôr a mexer só por não concordar com ele.

Nestes casos, incentivo melhor não há.

Rodrigo disse...

Paulo,

tocaste num ponto bastante pertinente, as largas maiorias com que os Presidentes da República têm sido reeleitos no nosso país.
Para mim é apenas mais um sinal que a maioria dos portugueses, embora não o perceba, é monárquico ;)

Paulo Colaço disse...

Ora cá está, Rodrigo, uma boa nota.
Eu há anos que venho sustentando a ideia segundo a qual os portugueses são muito conservadores.
Muito mesmo.
A prova está não só na reeleição (com margens superiores) dos PR: está igualmente na reeleição dos PM's por margens maiores - em democracia plena, pelo menos.
Aconteceu 3 vezes: duas com Cavaco e uma com Guterres.
Os portugueses reconduziram os seus executivos, e com margens superiores.

Os portugueses são conservadores: suportam a autoridade de quem manda, ainda que não sejam fãs do líder.

E a prova que se trata apenas de conservadorismo e não de "monarquismo" é que os portugueses gostam de retomar o "comando das operações" quando algo lhes começa a cheirar mal.

Aconteceu quando Cavaco quis passar de PM a PR, e voltou a acontecer quando Santana se quis manter em São Bento.

Os portugueses têm uma tendência para manter os seus líder e autoridades, mas gostam de lhes mostrar quem manda - negando-lhes a revalidação ou diminuindo-lhes a maioria.

Dá-se o voto de confiança até se lho retirar e passá-lo a outro. Foi o que sucedeu com a Monarquia. Agora é a República que detém o voto de confiança. Regressar à Monarquia só mesmo quando o povo se fartar...