quinta-feira, dezembro 06, 2007

Cimeira UE-África

Portugal recebe este fim de semana a II Cimeira UE-África.
A situação do Zimbabué, com os seus mais de seis milhões de refugiados e sangrentas perseguições políticas, e a crise humanitária no Darfur parecem ter sido questões esquecidas pela presidência portuguesa.
A juntar a isto o episódio com Dalai Lama, a apoteótica recepção a Putin, e a conivência com os vitupérios de Chavez, também eu espero muito pouco deste encontro.
Activistas africanos vieram já pedir a Portugal que traga para cima da mesa a questão dos direitos humanos, apesar de terem poucas expectativas muito por causa da presença de Mugabe no encontro.

E os psicóticos e amigos, sentar-se-iam à mesa com um ditador?

27 comentários:

Anónimo disse...

Sentar-me à mesa com Sócrates? Nunca!

Paulo Colaço disse...

Eheheh, grande António Pessoa!

Fora de brincadeiras e falando de relações internacionais, o executivo de Sócrates é o governo da democracia portuguesa que mais vassalagem tem prestado à fina flor do entulho. Sobretudo a Hu Jintao, que "obrigou" a ignorar o Prémio Nobel Dalai Lama. (O que nem é de estranhar: até ignoramos Saramago...)

Putin, Chavez e agora Mugabe. A todos Sócrates tem sorrido como se se tratasse de um tonto apaixonado. Cumprimentá-los, ainda pode ser, mas aquele ar de felicidade ao tocar-lhes fica-nos mal.

Dirão alguns: "noblesse oblige", mas digo eu - as funções actuais de Sócrates não o obrigam ao papelinho que anda a fazer. Sobretudo porque é o sereno povo português que fica colado à imagem de bajulador a que o nosso Primeiro-Ministro se tem prestado.

Luís Guerreiro disse...

Cada um é tanto mais ditador quanto as circunstâncias o permitam ou a isso obriguem. Nós, mundo ocidental, eternos pregadores da democracia, tornà-mo-nos, por meios menos bélicos, é certo, nos maiores dos ditadores ao querer "democratizar" o mundo. Para nós o mundo tem duas formas: ou a nossa, "civilizada", ou a dos outros, execrável.

Por tanto querermos acabar com as diferenças, deixámos de as respeitar.

No entanto não deixo de condenar, como tenho feito, esta ordem de prioridades do governo. Receber Chávez e boicotar o Dalai Lama parece-me simplesmente notável.
Enfim, Sócrates igual a si próprio...

Tiago R Cardoso disse...

Muito obrigado, dispenso tão boas companhias.

Filipe de Arede Nunes disse...

Um misto de sentimentos invade-me ao ler o comentário do Luís Guerreiro. É que concordo e discordo profundamente ao mesmo tempo.
Estou confuso.
Quando me encontrar volto para comentar o post. É que o que diz o Luís Guerreiro é a verdadeira essencia desta questão.
Cumprimentos,
Filipe de Arede Nunes

Tété disse...

Como diz o Durão, "são companhias que a minha mãe não aprova".

Tété disse...

Quando queremos melhorar uma situação, nada melhor que sentar e conversar com a outra pessoa. No entanto duvido que neste caso resulte. São cabeças duras e com o umbigo a marcar o centro do hemisfério.

José Pedro Salgado disse...

Por acaso até discordo.

O mundo ocidental sofre de um complexo de culpa que nos é muito próprio.

A (triste) realidade é que nenhuma cultura respeita as outras particularmente mais do que nós, não são particularmente mais tolerantes e isso manifesta-se de diferentes maneiras.

No entanto, o Ocidente, no seu papel de ex-potência colonial, é o único bloco que verdadeiramente sofre um conflito interior com isso.

Temos responsabilidades em muitas das desgraças do terceiro mundo? Temos. Muitas e pesadas.

Mas fustigarmo-nos pela nossa própria intolerância como se detivéssemos o monopólio dela só leva a que se aproveitem de nós por maus motivos.

E pior.

Leva a que nós, com pleno conhecimento de em nada estarmos a contribuir para a melhoria da vida no terceiro mundo, sermos incapazes de dizer não ao mau aproveitamento de recursos, por acharmos que não temos esse direito.

Tiago Sousa Dias disse...

Tiago Guerreiro até apreciei o teu comentário mas além de ser irónico alguém com o nome Guerreiro falar de meios bélicos (hehe esta era só brincadeira) a verdade é que o Mundo Ocidental é mesmo o mais bélico da História. Tolerantes nós????????
Diz isso aos judeus; aos colonizados de africa; aos escravizados pelos britânicos na Terra Prometida, aos missionados indigenas; aos sacrificados pela Santa Inquisição etc...
Em toda a história que melhor se conhece nestes 2 milénios este deve ser o período mais pacífico no espaço europeu. Até há meia dúzia de anos tinha a intolerância no Kosovo, na Ex-Jugoslávia, a Guerra Fria, o Muro de Berlim, as ditaduras ideológicas foram todas radicadas na Europa ou como se diz no Mundo Ocidental: Fascismo- Itália, Espanha, Portugal; Nazismo- Alemanhã e arrebaldes; Comunismo- Rússia.
Tolerante sou eu que pago impostos e nem pio.

Tiago Sousa Dias disse...

Alemanha não é de manhã, foi lapso :D

Tiago Sousa Dias disse...

Se quiseres adiciona aí os conflitos religiosos na Irlanda, a ETA, e os constantes conflitos politicos de sangue nos Estados Europeus Ex- Soviéticos.

Tiago Sousa Dias disse...

Esclarecimento:

O Guerreiro não é Tiago é Luis;
O meu comment vai ao Luis (Europa democrática?) e ao Zé (Europa tolerante?) juntos.

Anónimo disse...

"Sentar-me à mesa com Sócrates? Nunca!"

Genial! Porreiro Pá!

Francisco Castelo Branco disse...

Eu sentava-me com eles à mesa
Desde que servissem bife com batatas fritas e ovo a cavalo

Bruno disse...

Concordo com o Agostinho na classificação ao comentário do António Pessoa!

Em relação à pergunta, e pegando na citação que a Goreti fez de Barroso, sentar-me-ia se as minhas funções a isso obrigassem. Aliás, aproveitaria a oportunidade para lhes dizer umas verdades! (Se calhar, Margot, devias era perguntar-lhes se eles se queriam sentar comigo, hehe!)

Mas não posso deixar de mencionar também o que já foi dito em relação ao "jeitinho" que Sócrates tem para "dar bacalhaus" a ditadores. O Colaço diz que ele parece um tonto apaixonado. A brincar, a brincar...

Ou então não. É mesmo só falta de estaleca. Ou até pode ser mesmo admiração pelo trabalho dos tipos. Talvez ele não os ache assim tão ditadores...

Quanto à cimeira, propriamente dita, espero que não se resolva grande coisa, que seja como normalmente são estes eventos, apenas "para inglês ver" e que não se estreitem laços nenhuns entre a Europa e África para que fique mais espaço para nós, portugueses, o fazermos sozinhos.

José Pedro Salgado disse...

Tiago:

Estás a pegar pela ponta errada do telescópio.

O que eu quiz dizer não foi que sejamos particularmente tolerantes, antes pelo contrário, não creio que o sejamos inatamente e quando somos é mais por noblesse oblige do que por outros motivos.

O que estou a dizer é que devemos ser dos poucos povos que tem consciência da sua própria intolerância e que, bem ou mal, noblesse oblige ou não, agimos em conformidade.

Agora, é um facto que não há filhos de um Deus menor, pelo que compensamos as nossas virtudes com defeitos (pequenos, grandes, contemporâneos ou passados).

Duarte Serrano disse...

Nem sempre podemos concordar com o que um governo faz na política interna tal como na política externa. Mas se um governo segue a realpolitik não faz um mau trabalho. O governo de Sócrates tem-se caracterizado por um certo provincianismo que começou nas suas viagens onde se assiste a um vigoroso primeiro-ministro a correr nas capitais mundiais; também a extrema necessidade do Tratado Reformador ser em Lisboa. Mas se fosse noutra capital como Pretória havia diferença? Pelos vistos sim… A actividade diplomática para a aceitação do tratado foi mais fogo de vista, sendo que as linhas mestras foram executadas pela Presidência Alemã. Nisto posso contestar o governo de Sócrates por transmitir a imagem de um pequeno país sobranceiro ao mar, de brando costumes e, como tem as suas raízes no “costume” gosta de agradar e não de trabalhar. O que é geral por todo o país.

Quanto ao facto de receber Putin, não vejo motivo para não o fazer. Chávez é do interesse de Portugal tê-lo perto, não nos podemos esquecer do acordo assinado entre a Galp e o Governo da Venezuela. Mugabe não tem uma relevância à primeira vista para Portugal. Bom… seguramente existe uma constante violação dos direitos humanos. Para quem pense defender um ideal de Ius Cojens devo aclarar que em Relações Internacionais não se age por moral mas de forma amoral, ou seja, a moral é coisa de pouca monta. Mugabe é Presidente do Zimbabué e nessa condição que vem a uma cimeira. Não vejo motivo para tanto espanto.

Um diplomata negoceia com quem tem de negociar, e pronto. Se é um criminoso e “deve” ser julgado então isso é para outras entidades que não os diplomatas. É preciso não deturpar a legitima função que estes têm, a de representação do seu Estado. Por isso é crítico para um diplomata agir de forma unilateral podendo por em risco a sua carreira de forma irremediável. Este deve obediência ao seu estado e somente tem um objectivo: o interesse nacional.

Quando Freitas do Amaral era Ministro dos Negócios estrangeiros houve uma certa animosidade para com os EUA, simples retórica já própria do Professor Freitas do Amaral. Porém com Amado pouco ou nada mudou do habitual. Dalai Lama, não vou perder tempo a comentar porque considero uma figura secundária. Portugal não se vendeu à China e muito menos é seu vassalo. A China interessa e o Dalai lama não!

O Ocidente impôs os seus valores ao resto mundo num “mundo que conta” para a época dos Impérios antes da I Guerra Mundial, colonizou e deu a autodeterminação. Após a II Guerra Mundial coube essa função aos EUA na contenção do comunismo. Mas a forma de colonização foi outra, baseada na sociedade da informação da qual muito menos dispendiosa e mais eficaz. O soft power utilizado pelos americanos faz da América do norte a única super-potência a nível mundial. A sua apetecível cultura torna-a como que num paradoxo – amada e odiada, o mesmo se passa com as grandes figuras da história, uns gostam outros odeiam. Esse é uns dos factores pelo que os Islâmicos fundamentalistas odeiam a cultura ocidental: por a culparem de desenraizar a cultura Islâmica. O que tem um fundamento de verdade ainda que empolado.

Devemos entender que a política interna dos Estados só é relevante se nos afectar, pois, se dela não nos advierem consequências nefastas então não nos diz respeito. A tolerância é um gesto nobre por parte do Mundo Ocidental. Como um maço de cigarros que diz “fumar mata “ os ocidentais dizem: somos tolerantes. Somos até o podermos ser. Em situações como a Somália ou o Darfur a tolerância é tal que a União Europeia (UE) nada pode fazer ainda que queira. A boa vontade no serve no S.I.
Em suma a tolerância pode ser má. Em países como os do médio Oriente onde vigora a charia, com a qual somos complacentes, é um dos primeiros problemas para a democracia não se espalhar no médio oriente. Dirão: mas nós não temos o direito de impor a democracia ao mundo. Em Estados-nação é muito mais simples implantar a democracia, por isso de pensou federar o Iraque, ainda que esta medida não fosse viável pela impossível distribuição dos poços de petróleo. Mas se for possível podemos e devemos utilizar todos os mecanismos necessários para a segurança nacional e internacional. A democracia não pode ser imposta, mas pode-se aprender a gostar mesmo que se tenha de criar um falso gosto, desde que sirva os nossos intentos, entenda-se o Ocidental.

Bruno disse...

Duarte, acho que percebo a tua posição e por isso tenho a ideia que não daria um bom diplomata. E também não sei se tu darias... Acho que também gostas de dizer umas verdades ;)

Agora, gostava de perceber um pouco melhor a razão de considerares o Dalai Lama uma figura secundária. Pensas o mesmo sobre o Papa? E sobre outros líderes religiosos?

Quanto ao que dizes sobre o facto de ser natural que Sócrates (ou outro PM português) receba chefes de estado de países com os quais nos interessa debater ou negociar, também concordo, mas penso que o que aqui se critica é a satisfação/subserviência com que o actual PM parece fazê-lo. Não te parece que é assim? E que é criticável essa forma de estar?

Aproveito para saudar a tua participação no Psico e esperar que voltes muitas vezes!

Anónimo disse...

Subscrevo inteiramente o que o Duarte diz.

Sentar-me-ia sempre à mesa com um ditador caso favorecesse o meu país; isto é mais antigo que a realpolitik, isto é raison d'etat de Richelieu.

Considero razoável a atitude do governo português. Mesmo no que toca ao Dalai Lama. A sua causa nobre, mas o Dalai Lama é o líder de um reino espiritual que, nem de de perto nem de longe, se aproxima à influência que a Santa Igreja tem (hoje como ontem, gostemos ou não) nos assuntos seculares.

Paulo Colaço disse...

Raison d'etat implica no mais das vezes cegueira e insensibilidade.

Agir segundo a raison d'etat é quase como governar com uma fórmula matemática diante dos olhos.

Prefiro o diplomata que age segundo aquela que lhe parece ser a estrutura moral do povo que representa.

Dri disse...

Não me sentava a mesa com um ditador. Mas se calhar ja me sentei c alguns ditadores ou mesmo violadores de direitos humanos e de valores e não me apercebi disso na altura

Duarte Serrano disse...

Olá a todos

Caro Bruno creio que o Nélson respondeu muito bem às tuas questões. Em relação a Sócrates é verdade que fica muito extasiado quando recebe chefes de Estado. Quanto ao Dalai Lama é secundário porque não tem um papel que tenha sido fundado num poder temporal como aconteceu com o Papa. Referindo que o Papa João Paulo II foi um homem muito influente no processo de democratização da polónia e opositor daURSS, o Dalai Lama não tem qualquer poder é somente um exilado.

Quanto ao Nélson estamos de acordo quanto à forma de um diplomata agir. Caro Colaço eu respeito a tua visão. Porém sou um apoiante da realpolitik e como tal cegueira é coisa que não contempla, pois, se uma estratégia não funciona parte-se para outra.

Espero que entendam que a minha posição não visa defender ditaduras ou a violação dos direitos humanos, nada disso. Visa apenas cumprir uma função, na qual não há espaço para moralismo muito menos para sentimentos. Não compreendo o que é a “estrutura moral de um povo” para que possa ser seguida. Qual é a estrutura moral do povo alemão, dominar a Europa e o mundo? É ambíguo…

Sentir é para os poetas e filósofos. Os diplomatas só se têm de preocupar com a sua razão de ser, e essa visa defender os interesses do seu Estado, a qualquer custo. Se for necessário estar com um ditador, então que seja. Não o fazer vai contra o que é diplomacia, chama-se assim exclusão. O que não me parece que interesse a qualquer das partes.

Antes um ditador no qual sabemos com o que podemos contar do quem um que nunca conhecemos porque nos negámos a isso. Até porque aqui o problema é bem maior, porque se algum diplomata se negar a tal é logo substituído e assunto arrumado. Penso que não é fácil manter o sangue frio nestas matérias mas se não nos sentamos na mesma mesa de alguém é mais um acto de orgulho do que de razão. Todavia a minha visão não é um arquétipo de verdade, apenas representa uma corrente de realismo, existindo outras que também são válidas.

Anónimo disse...

Ó Duarte
Clap, clap, clap, clap.
Temos de ser pragmáticos.
Nem mais nem menos.

Bruno disse...

Depois das respostas do Duarte, eu digo que concordo em absoluto com o pragmatismo dele e é esse pragmatismo que eu acho que Sócrates não demonstra, ostentando antes um provincianismo ridículo e injustificado.

Em relação ao Dalai Lama e à sua influência/representatividade, também posso concordar. Agora, não deixa de ser um exemplo de como certos "senhores" de olhos rasgados não respeitam os direitos humanos. E aí, eu penso que não importa muito se estamos a falar de muita ou pouca gente, de uma religião com muitos ou poucos seguidores ou de um movimento independentista com muitos ou poucos seguidores.

Os direitos do Homem são universais e pronto!

Paulo Colaço disse...

Uma boa discussão, sem dúvida.
E muito mais esclarecedora quanto aos pontos de vista de cada um que muitos debates.
Duarte: não te preocupes - aqui ninguém te vê como arauto das tiranias. Aliás, bem recordamos que o teu desígnio de vida é seres Ministro Plenipotenciário. Estás, portanto, a defender a "causa".

Abraço!

Tiago Sousa Dias disse...

Isto de proteger as igualdades dá nisto:

Noticia de portugaldiário - Mugabe elogia Portugal por afastar gays

É triste!

jfd disse...

Tiago, larga isso.
Isso é a TVI da internet ;)