quinta-feira, setembro 13, 2007

A loucura mora ao lado...

Esta manhã, enquanto folheava o Correio da Manhã (há pois, cada timing tem um jornal, vá lá que não me lembro de ler jornais do incrível antes de ir dormir...), li a notícia da mulher de Viseu, que assassinou brutalmente os dois filhos e se suicidou de seguida (tinha demasiados pormenores para se ficar indiferente!). Associações feitas com o caso "Madeleine" e o caso "Joana" e acrescentando os dados do Ministério da Saúde* concluo apenas o seguinte:
a loucura mora ao lado. Resta saber se é ao nosso lado, ou lado do vizinho...
* "- 20 por cento da população portuguesa sofre de depressão, segundo o portal da saúde, da responsabilidade do Ministério da Saúde;
- 1200 portugueses morrem devido a depressões em Portugal, segundo as estimativas do Ministério da Saúde;
- um em cada cinco utentes dos cuidados de saúde primários está deprimido."

7 comentários:

José Pedro Salgado disse...

E o pior é que a seguir a se descobrir um novo assassino/psicopata/terrorista, invariavelmente testemunhamos o chorrilho de exclamações dos vizinhos sobre como o sujeito em questão "era tão boa pessoa" e como "nunca ninguém pensou que fosse capaz de tal coisa".

Marta Rocha disse...

É isso mesmo Zé!

- Como é que uma economista, excelente profissional, boa mãe, estrangula um filho de 8 anos e degola com uma faca eléctrica a filha de 11?

O que me faz mais confusão, é que há cada vez mais casos de depressão e, por qualquer razão que desconheço, nunca se levam a sério as pessoas com este tipo de distúrbios.

Acima de tudo, com este post pretendo chamar a atenção para isto:
- A sociedade tem-nos dado sinais e estamos a ignorá-los, se não é depressão é stress, se não é stress, é esquizofrenia, paranóia. Alguma coisa vai mal.

O ser humano cada vez gosta menos dele próprio, cada vez respeita menos o outro.

Estarei doida ou está na altura de começar a fazer psiquiatria preventiva? Dar acompanhamento psicológico desde tenra idade? Quem sabe até um check up ao sistema nervoso central?

Anónimo disse...

Casos como este assustam pelos contornos macabros que encerram. Apesar de não ser da área, parece-me que uma situação destas tem de pertencer a um estádio muitíssimo avançado de depressão. Caso contrário, suponho que todos os familiares de doentes depressivos começarão a "olhar de lado" para quem têm em casa. Também me parece que esta questão está a tornar-se, gradualmente, um problema de saúde pública. Cada vez mais há pessoas a depender de determinados fármacos para dormir e para reagir, e há cada vez mais médicos a prescrevê-los. Criam-se autênticos ciclos de dependência, com potencial para aumentar e não diminuir os problemas.
Neste caso em concreto, parece-me absurdo colocar as coisas como a comunicação social colocou: mulher com depressão assassina dois filhos. Com uma leveza que faz parecer que existe uma correspondência entre estados depressivos e perfis assassinos. Tanto quanto sei, estes estados tendem muito para o suicídio, não para cenários de horror desta estirpe.

xana disse...

Já tinha escrito sobre o problema da depressão, e continuo a achar que devia ser levada mais a sério, como um problema grave que é. É pena que se descubra desta maneira.

André Filipe Morais disse...

Ao ritmo frenético que vivemos, onde parar é impensável, tornámo-nos máquinas de forma humana. Muitas vezes o humano que subsiste revolta-se e dá o grito do Ipiranga, mas as outras máquinas abafam essa revolta, e, tanto a máquina como o humano perdem o controlo de si, tornando-se animais.
Parar é bom, é um escape, mais não seja parar para pensar.

dalmata disse...

Os Homens sempre foram egoístas mas a cultura do individualismo está no auge.

A busca do meu bem estar deixa de fora os outros, a partilha não existe e com tanta concentração em nós esquecemos o outro.

Os espaços relacionais que criamos deviam ajudar-nos a caminhar pela vida, não ajudam porque primeiro estamos nós, sempre nós e depois, de vez em quando os outros.

A depressão vem do vazio e da angústia que sentimos ao caminhar sozinhos na vida ainda que acompanhados.

Ninguém tem tempo para esticar a mão, às vezes nem a esticamos a quem partilha a nossa casa.

Parem e reflictam em quantas vezes magoaram, de propósito ou não, aqueles que amam,e mais do que isso seguiram em frente e nunca olharam para trás...

Paulo Colaço disse...

Não sei se aqui o problema é a depressão ou nao!
Acho que é um misto de muita coisa. Do crime pelo crime à doença pura e dura, passando pelo célebre "a ocasião faz o ladrão".

Somos todos feitos de mecanismos muito frágeis e nenhum de nós está imune a falta de óleo num parafuso.

Da maldade à loucura, da necessidade ao desespero, todos podemos reagir de forma animal: amanhã poderemos ser nós.

Ou não?