terça-feira, novembro 06, 2007

148 dias


A Bélgica encontra-se há 148 dias sem governo. Segundo o Jornal de Noticias, "um recorde desde a independência do país há 177 anos, assinalado ontem pela imprensa belga que aponta o próximo dia 15 como a possível data de acordo sobre o novo executivo."
Do ponto de vista sociológico e mesmo politico, estes 148 dias originam uma analise fascinante se pensarmos que é o pais que "alberga" as instituições da União Europeia. Talvez seja a prova que até os países supostamente mais desenvolvidos se envolvem em tricas e dicas que não lhes permite chegar a um consenso.

A questão que deixo no ar é: Será que se estes 148 dias sem governo fossem em Portugal, os portugueses continuariam calmos e serenos no seu dia-a-dia a espera do novo governo?

22 comentários:

Anónimo disse...

Ainda no fim de semana ouvia em podcast a entrevista do João de Deus Pinheiro à Maria Flor e ele comentava esse caso. Realmente o que ele diz é verdade. Só quando há um grande inimigo em comum é que as coligações negoceiam rápido. Ele falou no exemplo da Holanda e da Bélgica como países em que as coisas se arrastam sem que daí venha muito mal. São países habituados a esse processo democrático.
Aqui no nosso cantinho de brandos costumes, a vida correria normalmente para o Português comum.
Já o português comentador, o português político e português jornalista teriam muito com que ocupar o tempo. :)

Cata A. disse...

gostava de saber o porquê da utilização da imagem alusiva ao 25 de AbriL?

Anónimo disse...

Subscrevo jfd!

Seria essa classe de agentes que provocaria a crise.

Anónimo disse...

O uso da imagem deve estar relacionada com o nóvel facto de quase todos os psicóticos terem descoberto que são de esquerda na caixa de comentários do "Quem sou eu?"

brincadeirinha, hein... o golpe militar de abril é importante para todos.

Filipe de Arede Nunes disse...

Perfeitamente normal. Não consta que o poder tenha caido na rua ou que se registem factos anormais.
Em Portugal acredito que o português reagisse da mesma forma. No entanto subscrevo o último paragrafo do(a) jfd.
Cumprimentos,
Filipe de Arede Nunes

José Pedro Salgado disse...

Na minha opinião o país já tinha ruído. E não porque ache que o Zé Povinho vinha para a rua gritar, mas por achar que a sabedoria popular sabe muito.

E todos sabemos que "patrão fora, dia santo na loja".

Acho que o Estado se consumiria por dentro devido à própria inacção que resultaria de não haver um rumo definido a cada segundo, de não haver uma responsabilização imediata perante o superior, e de (certamente) não haver uma política de responsabilidade e de proactividade que as dispensasse.

Paulo Colaço disse...

Concordo com o Zé Pedro.
Holanda e Belgica têm prática. Não só nesse tipo de compassos de espera, como prática em respeitar a ordem.

Em Portugal poderia ser o descalabro. Pela cultura da irresponsabilidade. Claro que haveria quem assegurasse o poder, mas creio que nao evitaria a pândega.

Tânia Martins disse...

Acho que o povo português aproveitava o facto para reclamar ainda mais, protestar ainda mais, e fazer tudo mais. Não deixaria que se resolvessem as coisas com serenidade e também haveria sempre os célebres jornalistas que impediriam que o país andasse com naturalidade, nós temos dessas coisas de nos deixar manipular pela comunicação social!

Anónimo disse...

Discordo, em parte.
Tal poderia acontecer numa primeira fase, mas rapidamente tudo voltaria ao corriqueiro normal.
Não posso prever o futuro claro está, mas é minha convicção :)
E porquê? Porque o status quo seria "who cares"...
Lembrem-se do Estado Português pós intervenção Sampaio, lembrem-se da CML... Quem se preocupou??
Apenas nós, os comentadores, os políticos, .......
:)
Será mesmo assim?


ps - ando com bloqueio de 1st timer psicoblogger :(

Tânia Martins disse...

"Apenas nós, os comentadores, os políticos, ......."

Não concordo muito com isso sabes Jorge, acho que no geral todas as pessoas se preocuparam, podem ter sido sim preocupações ligeiras, que não tenham dado muito nas vistas mas não sei até que ponto seria tão pacifico se estivéssemos sem governo, aí acho que a conversa seria outra (mas também não quero adivinhar o futuro :p)...

Lisete disse...

Concordo com as opiniões de que o País já estaria ruído. Mas não pelos argumentos utilizados, principalmente com o de 'Patrão fora, dia santo na loja'.

O Governo em gestão corrente não possibilita minimamente qualquer acto que não sirva para assegurar pura e simplemente o «corrente». Não é possível decidir, escolher, avançar, desenvolver, construir... Falo pela experiência vivênciada há pouco tempo da Madeira, quando da demissão do anterior Governo. Processos onde apenas faltavam uma assinatura para serem concluídos, só conheceram o seu fim apenas após a tomada do novo Governo, ou seja, cerca de 4 meses depois.

A ruína não acontece na Bélgica, por comparação, porque como País apresenta níveis de estabilidade, desenvolvimento e crescimento sustentado que permitem uma gestão corrente mais longa que Portugal não verifica.

Margarida Balseiro Lopes disse...

A cultura democrática belga é bem diferente da nossa. Se este problema se colocasse em Portugal, o mais provável seria instalar-se o caos. A história do nosso país mostra-nos que o inconformismo português produziu sempre alterações profundas na esfera política.

O que me parece absolutamente surpreendente é a naturalidade com que a situação foi encarada pela população belga.

Anónimo disse...

Credo que falta de fé em PT e no Tuga :P

De repende recordo-me de uma fala do Jurassic Park onde o especialista da teoria do caos diz "Nature always finds a way" e era a isso que me referia. Certamente que após o reboliço natural inicial seguir-se-ia um caminho calmo e sem sobressaltos para que vida continuasse. Mesmo em gestão, em duodécimos ou whatever, a vida, acreditem, continuaria. Não haveria caos, nem ia nada abaixo!
Acho(!)

Anónimo disse...

Bom post! Se fosse em Portugal andava tudo à "chapada". CGTP e UGT ao pé da população iam parecer meninos.

Davide Ferreira disse...

Onde quer que haja perturbação, caos, etc... as pessoas arranjam sempre maneira de voltar ao seu dia-a-dia normal...

Se no Iraque a vida continua sob atentados diarios, creio que nós Portugueses tambem podemos viver bem uns com os outros mesmo sem governo durante uns tempos.

Afinal de contas somos dos poucos paises que saiu duma ditadura sem que houvesse sangue na rua...

Paulo Colaço disse...

A imprensa, nomeadamente o Público, lança hoje um artigo sobre este tema.

Estalou o verniz entre francófonos e flamengos. Uma batalha que "relança a especulação sobre o risco de uma cisão da Bélgica, no que poderia ser um divórcio semelhante ao que aconteceu na Checoslováquia em 1993 – quando checos e eslovacos se separaram, dando origem às actuais República Checa e Eslováquia."

Em causa estão direitos dos francófonos que a maioria flamenga acaba de suprimir por lei. Dizem os francófonos que se trata de uma "declaração de guerra".

Não quero ser pessimista mas os tais 5 meses de espera por um governo não auspiciam nada de pacífico...

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1309968

EP disse...

Hoje, em conversa com um amigo belga, ele dizia-me que a estes 5 meses parece que se vão ainda somar mais 100 dias. A questão é bastante delicada, os francófonos recusam-se a aceitar algumas medidas propostas pela maioria flamenga, que acreditam vir reduzir alguns dos seus direitos.

Quem conheçe a Bélgica sabe que as divisões entre francófonos e flamengos são bem visiveis a vários niveis, e é frequentemente expressa a vontade de separação, em especial pelos flamengos.

Pessoalmente, acho que o verniz já estalou há muito tempo internamente. Há, sensívelmente, um ano atrás a rtbf emitiu, em horário nobre um documentário onde se anunciava que a Bélgica se tinha separado. Por lapso, ou não, durante alguns minutos não foi indicado que tal se tratava de um cenário irreal. Esse tempo foi o suficiente para que as emoções dos belgas falassem mais alto que a sua racionalidade. As reacções a este episódio e a discussão dos dias posteriores, infudiram em mim a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, a separação entre francófonos e flamengos acontecerá. Mais, acho mesmo que um dos factores que trava este processo é o que fazer a Bruxelas.

Se as dificuldades em formar governo são um problema da Bélgica e dos belgas, já a questão da possível separação das duas regiões parece-me ser algo que deve reter a atenção de todos. Afinal, aquele pequeno país de 10 milhões de habitantes é um dos fundadores da UE, e a sua capital, também, capital europeia é um importante centro de decisão.

Sérgio Pontes disse...

Provavelmente seria um Portugal melhor do que o que temos tido até ao dia de hoje!

Um abraço

Paulo Colaço disse...

Como alguém dizia: há apenas duas coisas a unir os belgas - o Rei e a dívida pública...

EP disse...

Acho que já nem o Rei será, um tão importante, factor de união. Os escândalos em torno do Principe Laurent( 3º filho do Rei Alberto II, mas 11º na linha de sucessão, por exemplo, têm feito os belgas pensar no destino que tem a "mesada" da familia real.

Anónimo disse...

Ouvia eu o podcast do Sena Santos, um jornal Belga ou de UK em que a certa altura dizia "e precisará a Bélgica de Governo?" :)

jfd disse...


Belgium’s political and linguistic conflicts returned with a vengeance on Tuesday after Yves Leterme, prime minister, tendered his resignation in a dispute over regional autonomy.

Leterme’s decision, taken less than four months after he was sworn into office, amounted to a confession that the rifts in his five-party coalition were too profound to permit a solution to a crisis that has dragged on since the last national elections in June 2007.

Belgian political commentators expressed dismay at the outbreak of fresh political turmoil at a time when the country faces severe economic challenges, with latest figures showing annual inflation at a 23-year high in May of 5.2 per cent.

Some businessmen warn that foreign investment may suffer as a result of the revival of political uncertainty in Belgium, regarded as one of the European Union’s most open economies.

Luc Delfosse, assistant editor of Le Soir, the nation’s leading French-language newspaper, described Belgium as “a country on the edge of the abyss”.

The heart of the problem is the widening gulf between Belgium’s Dutch-speakers, who account for almost 60 per cent of the 10.5m population and live mainly in the north, and its French-speakers, who live mainly in the south.

The Dutch-speaking region of Flanders is one of the most prosperous in Europe and, as its wealth has grown over the past 50 years, so has Flemish national pride and a sense of detachment from Belgium, its institutions and symbols.

Conversely, the French-speaking region of Wallonia, though well-off, has slipped into relative economic decline. It has also retained much more enthusiasm for the idea of a united Belgium, which was formed as an independent state in 1831.

Mr Leterme, 47, a Flemish Christian Democrat, was installed as premier in March after an unprecedented nine months of negotiations were needed for Dutch- and French-speaking politicians to fix the objectives of a new government.

The deadlock prompted some Europeans to ask if Belgium was doomed to go the way of the former Czechoslovakia and split up in a “velvet divorce”. But many Belgians were more sanguine and pointed out that it would be difficult to break up the country because Brussels, the French-speaking federal capital, is located in the middle of Flanders.

Mr Leterme had set himself a deadline of Tuesday for reaching a deal on more autonomy for Belgium’s regions. But the resistance of fellow Christian Democrats and their Flemish nationalist allies, as well as the opposition of French-speakers, left his task impossible.

“It appears that the conflicting visions of the communities over how to give a new equilibrium to our state have become incompatible,” Mr Leterme said.

His resignation will not be definitive unless King Albert II accepts it, and the king is thought likely to embark on consultations with a wide range of Belgian politicians before deciding his next step.

Political commentators said the latest upheaval increased the possibility that Belgium would have to hold new national elections in June 2009, simultaneously with elections for the European Parliament.

Copyright The Financial Times Limited 2008