quarta-feira, outubro 31, 2007

Com admiração. Não com discriminação!

É com honra que inicio este meu percurso pelo Psicolaranja. É, também, com honra que o faço começando por um tema de tamanha beleza: a Mulher.

Fui invadido por sentimentos de indignação, estupefacção, desespero, raiva até, quando tomei conhecimento da recente propaganda de um centro comercial, ou shopping (para ser mais global) de S. João da Madeira. A administração desse tal espaço teve a brilhantíssima ideia de criar lugares de estacionamento próprios e exclusivos para mulheres! E até os pintaram de cor-de-rosa, fuccia praticamente! Dizem eles que a mulher merece essa delicadeza, esse cuidado. Dizem eles que, como as senhoras carregam muitos sacos, devem ter direito a lugares específicos, bem localizados e maiores que o habitual. Tão maiores que até ultrapassam as medias dos lugares destinados a pessoas com deficiência. Sim, porque é bem mais difícil manobrar uns sacos do que uma cadeira de rodas…

Considero isto o cúmulo da discriminação. Considero isto o contrário aos direitos pelos quais as mulheres tanto lutaram e durante tanto tempo.

Estou de acordo quando se diz que a Mulher deve ser tratada com cavalheirismo, delicadeza e mesmo com admiração. Subscrevo. Admiro a Mulher na verdadeira ascensão da palavra. Obviamente, também «nesse» sentido, mas muito mais, ainda, no sentido belo do ciclo da vida, onde o sexo feminino assume relevância primeira. Confesso que admiro a forma como alguns povos trataram e exultaram a mulher, colocando-a em autênticos pedestais. Mas, também confesso, que a Mulher consegue a nível intelectual ser tão competente como qualquer homem. Não subscrevo o ditado que diz: “Mulher ao volante, perigo constante.” Senão não teríamos a grande Elisabete Jacinto a percorrer e a transpor as grandes dunas do deserto, a caminho de Dakar. E confesso que esta atitude da administração do centro comercial 8ª Avenida, em S. João da Madeira, não é mais do que pura discriminação e atestado de inferioridade às capacidades de todas as mulheres.

Esta situação lembra-me aquela medida das quotas para as mulheres. Sim, só falta que agora adornem umas cadeirinhas nas Assembleias Municipais e na Assembleia da República com veludo cor-de-rosa. Pior, só falta aumentarem o tamanho das cadeiras e dizerem: “É para se sentirem mais confortáveis”.

Devemos tratar com igualdade todos os nossos semelhantes, homens e mulheres padecem dos mesmos direitos e deveres. E não é, definitivamente, pelo caminho das ditas discriminações positivas que vamos conseguir a verdadeira igualdade de direitos. Eu chumbo a atitude desse centro comercial. Eu chumbo as quotas para as mulheres em cargos políticos. Chumbo, porque não precisam de nada disso para se afirmarem. Chumbo, porque é verdade que merecem ser tratadas com cavalheirismo, delicadeza e admiração, mas também com respeito e igualdade.
Continuarei a abrir a porta e a ceder o meu lugar às mulheres e continuarei a trata-las com a admiração de sempre, mas nunca aceitarei que se dimensionem portas e cadeiras maiores para o sexo feminino, muito menos pintando-as de cor-de-rosa, quase fuccia, reservando-as, em total sinal de inferioridade.


Imagem: Fonte - Jornal de Noticias

13 comentários:

Sérgio Pontes disse...

Concordo, tive o mesmo sentimento quando vi essa noticia. É discriminatório!

Um abraço

Margarida Balseiro Lopes disse...

Em primeiro lugar, bem-vindo ao psico, Carlos. É uma honra para este espaço contar com a tua participação, com a do Tiago, do Jorge e da Elsa.

A situação que nos trazes aqui é o fastígio de todas as atitudes discriminatórias que temos visto, atentatórias da dignidade de toda e qualquer mulher que se preze.

Como mulher entendo que não precisamos de quotas e abomino qualquer tipo de corporativismo sexista. Pese embora a minha tenra idade, nunca me senti descriminada pelo facto de ser mulher. E, como defensora acérrima do princípio da meritocracia, encaro como natural e consequente, o reconhecimento do trabalho desenvolvido quer por mulheres ou por homens.

Não quero com isto apelar a uma alegada igualdade magistral entre os dois sexos. Somos ditosamente diferentes, temos características e aptidões próprias que nos distinguem, e que conjugados resultam numa mais-valia a todos os níveis para uma empresa ou para uma organização.

Talvez, se houvesse menos "folclore" em torno desta matéria (e refiro-me aqui claramente às mulheres), esta fosse já uma não-questão há bastante tempo.

Anónimo disse...

Acho que não perceberam...

Se realmente os lugares para as mulheres forem maiores do que os reservados para deficientes há razão para indignação.

Esta questão dos lugares para as mulheres nada tem a ver com quotas ou atestados de menoridade.

Chama-se apenas business-instinct. Suportado pela projecção dos media, apoiando-se na superior adesão das mulheres a esses espaços, eles reservam áreas para o seu público alvo. Nada de chocante ou de pouco digno.

Nunca se perguntaram porque é que quase todos os anúncios se centram no público feminino? Porque é público e notório que são as mulheres que têm o papel dominante na gestão económica.

É uma situação perfeitamente natural.

EP disse...

Confesso que quando ouvi a noticia a 1ª vez também me senti indignada perante a situação.

Em relação á questão das quotas e mecanismos de discriminação, dita, positiva seja na politica ou em qualquer outra situação não vou ser repetitiva. Partilho, integralmente, da posição da Margarida.

Mas, ao ouvi-la de novo, e com mais atenção, acabei por considerar se tratar, antes de mais, de uma estratégia de marketing, de uma forma de promoção e diferenciação desse centro comercial (ainda que discutivel).

Já a confirmar-se que os lugares reservados às senhoras são, efectivamente, maiores que os reservados aos portadores de deficiência. Num país, com um tão grande défice de acessibilidades que facilitem mobilidade dos portadores de deficiência, e onde nem mesmo todas as instituições e organismos públicos estão preparados para tal. Há, de facto, razão para indignação.

Carlos Carvalho disse...

Para que se esclareçam quanto à medida dos lugares de estacionamento destinados a mulheres, deixo-vos o link onde podem acompanhar a notícia da SIC que confirma que, realmente, estes lugares são mais largos, mesmo quando comparados com os destinados a deficientes:

http://sic.sapo.pt/online/noticias/pais/Estacionamento+so+para+mulheres.htm

Paulo Colaço disse...

Olá Carlos, bem-vindo, agora sim, aos artigos! Que escrevas muitos e bons, “a todos os níveis” : )

Concordo com a tua perspectiva e com o reforço da Margarida (a maior adepta da meritocracia que eu conheço).

Né, fizeste o alerta: é apenas uma ideia palermoide que alguém achou “gira” ou haverá marketing ao barulho?

Admito que seja marketing, mas (e o expert Bruno aí nos dirá) devia ser acompanhado de iniciativas mais arrojadas que apenas largos lugares cor-de-rosa. Uma boa estratégia passaria por criar lugares só para mulheres e só para homens (leram bem!). E que os lugares para mulheres fossem de 60%! Ou 70% - se é para inovar, que seja à bruta!

Com isto estar-se-ia a dizer: “valorizamos tanto o papel das nossas clientes que preferimos tê-las a ocupar os lugares de estacionamento. Se trouxerem os maridos, filhos e namorados, melhor ainda.”
E havendo apenas 30% de lugares para homens, seria mais atinado um fulano levar a mulher às compras (conduzindo ela o carro) para garantir estacionamento.

Pode parecer uma ideia absurda, mas aceitaria uma estratégia agressiva deste teor porque perceberia a filosofia! Agora, pintar lugares de rosa afigura-se-me demasiado fraco para ser, sequer, ofensivo.

O Né diz bem: as mulheres têm um papel decisivo na gestão económica do lar. Se assim é, não me chocava que os Centros Comerciais lhes reservassem mais lugar de estacionamento. Trata-se de dinheiro!

Termino pegando na parte final do que disse a Margarida: a questão do folclore e a alimentação deste por parte das próprias mulheres. Enquanto estas (no seu todo) não se derem ao respeito, enquanto não forem as primeiras a defenderem outras mulheres, enquanto não se deixarem da triste figura pedinchona, haverá sempre quem as trate por deficientes.

Nota: sei que no último Congresso do PSD houve uma lista só de mulheres. Respeito-a porque se integra no direito de participação democrática. Respeito-a como respeitaria uma lista só se homens, ou só de filhos de imigrantes, ou só de homossexuais, ou só de gente com a unha encravada.
Porém, perceba-se que o voto de cada qual é como o dinheiro: é um bem escasso e só de usa aquela vez. Podemos vir a ter mais dinheiro mas aquele que gastamos só gastamos uma vez. Com os votos é a mesma coisa.
Um votante descomprometido entre votar numa lista só de mulheres (sem outro fio condutor além desse), ou votar numa única mulher capaz, inserida numa lista “só” de homens, o voto vai para essa mulher isolada. Como aliás, se viu.

Anónimo disse...

Concordo com estancionamento para mulheres mais perto das entradas dos centros comerciais porque são as mulheres que em geral vão mtas mtas mais vezes às compras que os homens. As mulheres carregam mais sacos e mais sacos. As mulheres que têm filhos e não os tem onde deixar vão às compras com os filhos nosw carrinhos... e tirar um carrinho d bébé de dentro de um carro pode riscar o carro do lado. ...daí os lugares serem mais largos...no entanto, os maxistas acharam logo que os lugares eram mais largos porque as mulheres são umas nabas a conduzir. As obras devem ser feitas consoante as necessidades da sociedade. e, nesta sociedade (infelizmente ou felizmente ) ainda é a mulher que é a burra de carga. Se houvessem mais homens a irem às compras c as mulheres , provavelmente não chegariamos a este cenário.

Tânia Martins disse...

Isabel:

Tenho a dizer-lhe que não concordo com o que diz! Não penso que a mulher ainda seja a burra de carga da família até porque em comparação com outros tempos a sociedade evolui bastante o conceito de mulher.

No geral, penso que é de facto discriminatório criar cotas para as mulheres, elas têm os seus valores e demonstram-nos não é preciso haver uma obrigação para colocá-las onde quer que seja!

Paulo a mulher tem o seu papel no lar mas nota-se que tem vindo a haver uma grande transformação nisso, já vejo homens às compras, já vejo da minha varanda o vizinho da frente lavar a loiça enquanto a sua esposa vê TV (eheh), está a haver cada vez mais ajuda entre os casais nas tarefas do lar!

José Pedro Salgado disse...

Não entendo como discriminação.

Acho que é uma jogada de marketing genial, e daqueles claros casos em que as pessoas deviam saber perceber uma piada.

O facto dos estacionamentos terem lá a bonequinha, o serem rosas (ou fuchsia, seja que cor isso for) é algo de puramente decorativo e virado para o divertimento, não para o insulto, enquanto que simultâneamente responde à necessidade já por aqui tantas vezes referida de apelar ao público alvo das gestoras do lar de S. João da Madeira.

Quanto ao facto de serem maiores, só quem nunca teve de estacionar o carro num centro comercial é que não sabe o jeito que não dava os lugares serem maiores.

Minhas senhoras e meus senhores, apreciem uma boa piada.

Davide Ferreira disse...

Sinceramente, isto é apena uma medida de marketing...

Se as senhoras se sentirem ofendidas pelos novos lugares de estacionamento não os usem ou deixem de frequentar o dito shopping.

Relativamente ao facto de os espaços serem os maiores deve-se (creio eu) para dar maior impacto à campanha.

Um aparte para quem ache quem se quiser rir um bocadinho ;)
http://br.youtube.com/watch?v=1JJuQPObKlI

xana disse...

Cá para mim, como marketing puro, a ideia é brilhante!

E o facto dos lugares serem maiores também acho um máximo! As mulheres, de facto, guiam pior do que os homens e não sabem estacionar um automóvel. E mais, quando vão com os sacos das compras ou quando têm que tirar os bebés de dentro do carro, deixam sempre um bocado da tinta da sua porta na porta do vizinho do lado...
Mas... tirando essas verdades todas, não acho nada mal o que o shopping fez! Só falharam numa coisa: não deviam estar à espera que classificassem como marketing agressivo!

ah! "cor-de-rosa, fuccia praticamente!"... Carlos muito bom!
Bem-vindo!!

Fernanda Marques Lopes disse...

Eu subscrevo o post do Carlos.

E deixo aqui o meu mote: eu não luto pela igualdade, porque não somos iguais, luto pela equivalência! Isso sim!! =)

E disse...

Porque não? Depois de ver isto , acho que as mulheres condutoras devem ser privilegiadas em relação aos homens. Discriminação positiva. Totalmente a favor. E mais, parques de estacionamento exclusivos para mulheres. Tudo cor-de-rosa.