segunda-feira, outubro 08, 2007

A importância de ter sido Ernesto


"Acima de tudo procurem sentir no mais profundo de vocês qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo."


"Nascido em 14 de junho de 1928 na cidade de Rosário, Ernesto Guevara de La Serna foi o primeiro dos cincos filhos do casal Ernesto Lynch e Celia de la Serna y Llosa.

Em 1947, Ernesto entra na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires, motivado em primeiro lugar por sua própria doença (asma), desenvolvendo logo um especial interesse pela lepra.

Em 1952, realiza uma longa jornada pela América do Sul com o melhor amigo, Alberto Granado, percorrendo 10.000 km em uma moto Norton 500, apelidada de 'La Poderosa'. Observam, se interessam por tudo, analisam a realidade com olho crítico e pensamento profundo. Os oito meses dessa viagem marcam a ruptura de Guevara com os laços nacionalistas e dela se origina um diário. Aliás, escrever diários torna-se um hábito para o argentino, cultivado até a sua morte.

No Peru, trabalhou com leprosos e resolveu se tornar um especialista no tratamento da doença. Che saiu dessa viagem chocado com a pobreza e a injustiça social que encontrou ao longo do caminho e se identificou com a luta dos camponeses por uma vida melhor.

Já envolvido com a política, em 1953 viajou para a Bolívia e depois seguiu para Guatemala com seu novo amigo Ricardo Rojo. Foi lá que Guevara conheceu sua futura esposa, a peruana Hilda Gadea Acosta e Ñico Lopez, que, futuramente, o apresentaria a Raúl Castro no México.

Na Guatemala, Arbenz Guzmán, o presidente esquerdista moderado, comandava uma ousada reforma agrária. Porém, os EUA, descontentes com tal ato que tiraria terras improdutivas de suas empresas concedendo-as aos famintos camponeses, planejou um golpe bem sucedido colocando no governo uma ditadura militar manipulada pelos yankees. Che ficou inconformado com a facilidade norte-americana de dominar o país e com a apatia dos guatemaltecos. A partir desse momento, se convenceu da necessidade de tomar a iniciativa contra o cruel imperialismo.

Com o clima tenso na Guatemala e perseguido pela ditadura, Che foi para o México. Alguns relatos dizem que corria risco de vida no território guatemalteco, mas essa ida ao México já estava planejada. Lá lecionava em uma universidade e trabalhava no Hospital Geral da Cidade do México, onde reencontrou Ñico Lopez, que o levou para conhecer Raúl Castro. Raúl, que se encontrava refugiado no México após a fracassada revolução em Cuba em 1953, se tornou rapidamente amigo de Che. Depois, Raúl apresentou Che a seu irmão mais velho Fidel que, do mesmo modo, tornou-se amigo instantaneamente. Tiveram a famosa conversa de uma noite inteira onde debateram sobre política mundial e, ao final, estava acertada a participação de Che no grupo revolucionário que tentaria tomar o poder em Cuba.

A partir desse momento começaram a treinar táticas de guerrilha e operações de fuga e ataque. Em 25 de novembro de 1956 os revolucionários desembarcam em Cuba e se refugiam na Sierra Maestra, de onde comandam o exército rebelde na bem-sucedida guerrilha que derrubou o governo de Fulgêncio Batista. Depois da vitória, em 1959, Che torna-se cidadão cubano e vira o segundo homem mais poderoso de Cuba. Marxista-leninista convicto, é apontado por especialistas como o responsável pela adesão de Fidel ao bloco soviético e pelo confronto do novo governo com os Estados Unidos. Guevara queria levar o comunismo a toda a América Latina e acreditava apaixonadamente na necessidade do apoio cubano aos movimentos guerrilheiros da região e também da África. Da revolução em Cuba até sua morte, amargou três mal-sucedidas expedições guerrilheiras. A primeira na Argentina, em 1964, quando seu grupo foi descoberto e a maioria morta ou capturada. A segunda, um ano depois de fugir da Argentina, no antigo Congo Belga, mais tarde Zaire e atualmente República Democrática do Congo. E por fim na Bolívia, onde acabaria executado.
Sem a barba e a boina tradicionais, disfarçado de economista uruguaio, Che Guevara entrou na Bolívia em novembro de 1966. A ele se juntaram 50 guerrilheiros cubanos, bolivianos, argentinos e peruanos, numa base num deserto do Sudeste do país. Seu plano era treinar guerrilheiros de vários países para começar uma revolução continental.

Guevara foi capturado em 8 de outubro de 1967. Passou a noite numa escola de La Higuera, a 50 quilômetros de Vallegrande, e, no dia seguinte, por ordem do presidente da Bolívia, general René Barrientos, foi executado com nove tiros numa escola na aldeia de La Higuera, no centro-sul da Bolívia, no dia seguinte à sua captura pelos rangers do Exército boliviano, treinados pelos Estados Unidos.
Sua morte, no dia 9 de outubro de 1967, aos 39 anos, interrompeu o sonho de estender a Revolução Cubana à América Latina, mas não impediu que os seus ideais continuassem a gozar de popularidade entre as esquerdas."

Foi portanto há 40 anos.

"Os poderosos podem matar uma, duas até três rosas, mas nunca deterão a primavera."

23 comentários:

Dri disse...

Comandante Che Guevara... " Os loucos são as pessoas certas na sociedade errada"

Davide Ferreira disse...

É ainda hoje um icone, um icone da revolução cubana, um icone do socialismo, um líder para um povo cubano... Viva o Che :)

Anónimo disse...

Che Guevara deve estar a dar voltas no caixão por terem colocado a sua biografia num blog social democrata, ou seja, escrito por jovens defensores da social-democrácia. Para ele sociais democratas são a favorer do capitalismo. Algo que o incomodava e contra o qual lutou e morreu.
Seguidamente, considero que a primeira fase da sua vida, em q estudou medicina e seguiu de mota para cuidar dos que mais precisavam ...é uma fase bela e admirável.
Quando luta contra a injustiça...(considero q a injustiça é relativa), mas neste caso em que as terras piores são dadas aos camponeses, fez bem lutar por eles. Acho eu!
Entretanto...quando se junta a fidel...bem está tudo estragado!Talvez nessa altura não imaginasse que fidel se ia tornar num ditador....
Se Che fosse vivo...será que queria ver Cuba como está? Não sei! Passaram 40 anos...poderia ter mudado a sua visão da política mundial , poderia estar na mesma , poderia estar ditador e retrográda como fidel?
As ideologias comunistas até têm a sua beleza , mas são só teorias, na prática ... não chegam a nada!

Marta Rocha disse...

É efectivamente curioso prestar homenagem a um revolucionário, verdadeiro komitern, num blog social democrata. Não é por ter sido comunista que lhe dei este espaço no Psico, mas por ter defendido apaixonadamente os direitos humanos.

Acredito que esteja a dar mais voltas no caixão pela herança que deixou a Cuba...

Se fosse vivo, das três, uma:

- mantinha a mesma ideologia da época intacta e era agora um cínico;

- tinha percebido que a ideologia comunista não pode ter qualquer aplicabilidade, a bem da humanidade e evoluía o seu pensamento, continuando na vida política activa (Quem sabe se não seria social democrata?)

- ou então, dedicava-se a causas mais próximas das pessoas como a AMI, a Amnistia Internacional ou uma qualquer ONG.

Unknown disse...

Há uns anos saiu um filme sobre a viagem de Che pelo continente sul-americano. O grafismo e fotografia do filme assim como as histórias contadas através do mesmo são indicadores muito fortes do que transformou Che, um médico recém licenciado, no guerrilheiro que o mundo conheceu. Convém lembrar que a América do Sul já naquela época era marcada pelo desequilíbrio e injustiça social... da análise da história do próprio comunismo percebe-se que este prolifera sobretudo em ambientes com estas características, como uma resposta extrema a uma situação extrema para atingir o equilíbrio.

Logo, considerando que Che fosse capaz de manter a objectividade de raciocínio, penso que provavelmente iria convergir para outro tipo de filosofia com o passar do tempo... mas isso nunca chegaremos a saber.

Paulo Colaço disse...

Deixem que, ingenuamente, pergunte: esse almighty Che não é o mesmo que aquiesciam triunfalmente com a pena de morte aplicada aos adversários ou apenas cobardes do "novo" regime de Fidel?

Eis um apoiante da FIDELidade cubana: si no es FIDEL, CASTROte.

Teve o mesmo fim que o seu regime deu a outros.

Aprecio lideres dispostos a dar a vida. Desconfio daqueles que a tiram. Che não deu a vida: foi é imprudente.

xana disse...

Che é talvez uma das maiores fraudes da História. O médico que nunca mudou um penso, li eu.

Muitos artigos foram escritos este fim-de-semana a contar alguns dos episódios que revelavam um homem frio, calculista que em nada se assemelhava ao herói pintado depois da morte.
Pois eu digo que Che até pode ter sido um herói, mas daqueles de carne e osso. Ou seja, não há heróis verdadeiros, os homens tendem a ser melhores depois de mortos, uma vez que já não podem cometer mais erros do que aqueles que cometerem em vida.

Che é uma marca. Nada mais... que vende muito, já agora.

Margarida Balseiro Lopes disse...

Concordo inteiramente com as palavras do Paulo e da Xana. Se bem que, a ser herói, seria um herói pícaro.

Aliás, a oradora do próximo debate do Psico de dia 24 de Novembro, Zita Seabra, explica-nos claramente o que simboliza a figura de Che Guevara para uma grande parte dos comunistas e passo a citar:

"Che Guevara que em vez de ficar em Cuba, exercendo medicina, foi "exportar" a receita da revolução para a Colômbia. Na revolução como no resto das batalhas políticas, quem ganha faz a história, quem perde é um irresponsável e aventureiro. Por isso mesmo, no movimento comunista, Fidel era um herói e ao Che restava a estrela nas bóinas dos radicalistas pequeno-burgueses de fachada socialista."

Tânia Martins disse...

Che Guevara não significa um mito para mim. Foi um homem com uma ideologia e não penso que tenha morrido por essa mesma ideologia mas sim porque foi “imprudente” como diz o Colaço…

Martinha:

Penso que ele acabaria por manter a ideologia da época e hoje seria cínico, ele tinha as talas que os burros têm de lado e quando olhava para a frente só via os ideais comunistas, por isso não o estou a ver a mudar assim de ideologia, ele detinha nele uma espécie de fanatismo!

Mas enfim pelo simples facto de ser uma personagem histórica acho relevante mencionar a sua história neste blog!

Tété disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tété disse...

Eu já algumas vezes concordei com a Xana e desta vez subscrevo completamente tudo o que diz!

Tânia, "ele tinha as talas que os burros têm de lado e quando olhava para a frente só via os ideais comunistas, por isso não o estou a ver a mudar assim de ideologia, ele detinha nele uma espécie de fanatismo!" para mim mais verdade impossível.

Marta Rocha disse...

Não vivi naquela sociedade, não conheci as realidades, nem o Che.
Não sei se exerceu ou não a profissão (ler que sim e a seguir ler que não, não abonam em favor da verdade), não me interessa o que os comunistas pensam dele, nem o considero um herói, muito menos um santo.
Não creio que se justifique tanta adoração, mas apesar de não gostar dos métodos dele, gosto da preocupação que demonstrou para com os mais desfavorecidos. O que realmente valorizo não é a forma (e talvez nem mesmo o fim), mas a motivação.

Qualquer personalidade sofre as consequências do tempo, e de bom passa malvado, de herói a vilão e de amigo a adversário com a maior das facilidades.

Julgo que pelo menos uma coisa todos reconhecemos a Che, defendia valores e praticava-os, para o bem ou para o mal, para isso é preciso ter coragem. Não acho que tenha morrido por ser imprudente, ele sempre soube que corria risco de vida, estava era disposto a corrê-lo e não permitiu que isso o impedisse de fazer o que achava correcto.

Quantos de nós escolhem o caminho certo, sabendo que o errado nos faz mais felizes?

Anónimo disse...

Eis um post em que tenho legitimidade acima de todos para comentar: ainda que indirectamente, devo o meu segundo nome ao "Che".

Gosto de muitas coisas no seu percurso, gosto do ministro que à tarde agarrava no tractor e ia lavrar os campos, gosto de alguém que apaixonadamente lutou.

O que ele seria hoje não sei... mas tenho uma pista. Há uma citação de Che muito pouco comunista e que é um lema de vida para mim:

"A vida é dura para quem é mole."

E esta, hein?

Anónimo disse...

Para Marta,
Não acho mal que tenha trazido para este blog um comunista, só acho que esse comunista não está a gostar,esteja no céu ou no inferno!
Não sei se Che tinha passado de comunista a social democrata.Só o tempo o poderia dizer... Bem, a Zita Seabra passou. Da clandestinidade a laranja...ena! ena! lol

Para Xana,
"O médico que nunca mudou um penso, li eu."
Torna-se dificil apurar a verdade!

"os homens tendem a ser melhores depois de mortos, uma vez que já não podem cometer mais erros do que aqueles que cometerem em vida."
"Che é uma marca. Nada mais... que vende muito, já agora."

Subscrevo!

Para o Faria,
"Há uma citação de Che muito pouco comunista e que é um lema de vida para mim:

"A vida é dura para quem é mole.""

Nem todos os comunistas são moles!
Já agora,se quiser responder, chama-se Nélson Ernesto?

Anónimo disse...

Yep... o meu avô era comunista, trabalhava na SOREFAME.

O papá nasceu em '59 (a revolução cubana foi em '58) e o vovô entendeu que Nelson Fidel era demasiado ostensivo... logo o papá ficou Nelson Ernesto, eu fiquei Nélson Ernesto e o meu terceiro filho lá será o Nélson Ernesto Faria III ;)

P.S. O Nelson deve-se a um jogador do Glorioso da década de 50... uma familia vermelho-encarnada.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Realmente há histórias de família muito curiosas...sinceramente eu só fiquei a saber que o Che Guevara tinha como primeiro nome Ernesto quando li o post, sempre ouvi Che Guevara.

Bruno disse...

Aqui há uns tempos andou por aí um rapaz que dava uns toques na bola, deixava as meninas pelo beicinho e fazia as delícias das colunas sociais. Chamava-se Dani. Chegou a uma altura em que percebeu que o futebol não era para ele (treinos, regras, horários, etc.) e dedicou-se a outras coisas. Foi honesto. Consigo próprio e com os outros.

Eu, como tenho boa memória lembro-me bem dele. A maioria dos leitores e participantes do Psico é capaz de se lembrar também, com mais ou menos pormenor. Os mais novos não o conheceram e, provavelmente, não ouvirão falar dele porque ele não fez o suficiente para ficar na História.

O que tem ele a ver com Che? Boa pergunta. Na minha opinião, Che não fez o suficiente para ser um herói. E pronto!

Anónimo disse...

Só para esclarecer, Che não é nome é "alcunha".

"Che" é o equivalente a companheiro, que era como ele tratava todos os que o rodeavam... ficou ele baptizado como o Che Guevara.

Eu gosto sempre de quem acredita poder mudar o Mundo, de quem luta por isso, e de quem se afastou de Fidel (quando ele sai de Cuba não pretendia implementar a revolução cubana na américa do sul - ele não apreciava a Moscow-Connection).

Bruno disse...

"Marxista-leninista convicto, é apontado por especialistas como o responsável pela adesão de Fidel ao bloco soviético e pelo confronto do novo governo com os Estados Unidos"
texto do post da Marta

"(...)quando ele sai de Cuba não pretendia implementar a revolução cubana na américa do sul - ele não apreciava a Moscow-Connection"
Comentário do Né

Mais uma contradição na história do Che...

Anónimo disse...

Não é uma contradição, são fases diferentes. Não me recordo de ler que ele fosse marxista-leninista, mas marxista era-o.

A fase final da sua ligação a Cuba é muito atribulada exactamente por não gostar da influência da URSS junto de Castro, apesar de ter sido Che (supostamente) a negociar com os russos a implantação dos mísseis apontados aos EUA naquela ilha.

Ele gostava da URSS antes de sentir que ela começou a mandar em Cuba. A partir daí começa a aproximar-se dos chineses e são os russos que pressionam Castro a afastar Guevara.

P.S. Guevara chegou a estar desaparecido ainda antes de começar a espalhar a revolução para outros sítios.

Anónimo disse...

""Che" é o equivalente a companheiro, que era como ele tratava todos os que o rodeavam... ficou ele baptizado como o Che Guevara."

Afinal é companheiro! Não é camarada? Pensei que che fosse camarada!

Cata A. disse...

Da figura de Guevara muito se tem dito e escrito. Desenvolvem-se as mais diversas campanhas de promoção da figura como um ícone, como uma moda da juventude (que rapidamente passa chegados à idade adulta), até como marca comercial, produto de consumo. É evidente que este aproveitamento pela classe dominante surge como resposta ao apoio amplo que Guevara acolhe junto da juventude, apoio que representa e se traduz, no reconhecimento dos ideais desta figura histórica: a luta pelas causas sociais e humanas, contra as injustiças e desigualdades – consequências do capitalismo, e pela transformação social.
A provar a validade e pertinência da luta e dos ideais de Guevara, aí está Cuba Socialista cumprindo-se a cada dia, resistindo e lutando, aí estão as lutas e a resistência que se desenvolvem em todo o mundo, aí está a luta dos estudantes e dos trabalhadores portugueses.

Viva el comandante Che Guevara!