quarta-feira, outubro 31, 2007

Falta Injustificada!


O novo Estatuto do Aluno já foi aprovado e aguarda agora promulgação.
Uma das novidades da nova proposta de estatuto é a não reprovação automática dos alunos que ultrapassem o limite estipulado de faltas injustificadas. Todavia, para não ficarem retidos, estes alunos serão obrigados a realizar um exame final às disciplinas em causa. O documento contempla, ainda, uma maior autonomia das escolas, reforço da autoridade dos professores e uma maior responsabilização dos encarregados de educação no dever de assiduidade dos alunos.

Nas palavras da Sra. Ministra da Educação pode ler-se: “A minha orientação é a exigência (...)”.
De facto, se há matéria onde se deve ser mais exigente é na educação. Só uma maior exigência e rigor na definição e aplicação das politicas de ensino, possibilitará a existência de mais escolas com melhor qualidade. Mas será que tal se alcança conjugando, a par, exigência e facilitismo?

Há ainda outro aspecto que me parece importante equacionar. Tendo a escola um papel a desempenhar na aproximação de crianças e jovens à vida adulta, que valores, atitudes ou comportamentos queremos nós ver espelhados, na forma de estar/viver em sociedade das próximas gerações?

16 comentários:

Tiago Sousa Dias disse...

Oh Elsa desculpa fugir ao assunto mas prometi a mim mesmo que em toda e qualquer circunstância em que tivesse que falar da Ministrada Educação teria que dizer isto a propósito ou despropósito não interessa:

"Uma pessoa que diz que os Açores não fazem parte da República Portuguesa NÃO PODE ser Ministra de Coisa Nenhuma"!~

Neste caso foi a despropósito.

Tiago Sousa Dias disse...

Mas quanto ao teu post em concreto uma palavra: competitividade.
Para mim é o valor que ainda não é ensinado nas escolas. Os putos crescem a copiar, a ler livrinhos de 20 páginas que resumem... OS MAIAS, e são motivados a recuperar as notas para só terem 2 negativas. Faltam concursos educativos com estágios prematuros; faltam incentivos à excelência, à genialidade; falta incutir na cabeça dos miúdos que não devem ficar chateados por terem tido 2 quatros quando o colega do lado teve só 1 e tudo resto foi 5; mas que devem ficar motivados por terem tido 2 quatros para conseguirem mais 2 cincos.
O espirito de competitividade nas escolas pode e deve ser incutido imediatamente.

Paulo Colaço disse...

Educação é um tema fascinante.
Nela está o futuro do país, nela se espelha a sociedade que temos.

A nostalgia leva-nos, por vezes, a dizer que os nossos melhores tempos são os de estudante. Nem sempre é assim: sobretudo quando se estuda numa má escola ou quando não se tem uma infância/adolescência particularmente feliz.

Esse é meio ponto: como fazer da escola um lugar de felicidade, a par de ser um lugar de formação/preparação?

Fazer da escola o melhor lugar do mundo não está ao alcance de uma Ministra ou a um Partido. É uma obra de toda a sociedade: um governo que crie as condições de boa carreira a professores; órgãos científicos que gizem os melhores programas; infraestruturas que sejam como uma "casa" para os alunos; pais que assumam as suas responsabilidades educativas (que vão do incentivo ao estudo até ao ministrar de regras de educação e respeito). De tal forma é abrangente esta matéria que implica uma rede de transportes eficaz e segura ou uma segurança social que não faça das crianças "operárias" em idade escolar.

Esta é uma área em que as políticas teriam de durar mais de uma legislatura: mudar de leis como se muda de sapatos é imprudente, leva a resultados desastrosos.

Qual o método para a durabilidade destas leis? Pactos de regime? Maiorias simples? Absolutas? Qualificadas?

Estou a fugir ao tema da Elsa (será que alguma vez o respeitei?)
Para a fuga não ser tão evidente, respondo à última pergunta: gostaria que a escola portuguesa formasse os jovens segundo dois parâmetros:
1 - Inculcasse nos jovens o valor da eterna busca individual do conhecimento e evolução, dando as armas para tal;
2 - Incutisse o valor da solidariedade como a melhor forma de evolução da sociedade.

Em suma: o que nós podemos fazer por nós próprios, e o que podemos fazer por retribuir à nossa sociedade.
Se falarmos em objectivos da escola, esta seria a minha escola ideal.

(fui longo e disperso, mas é tão cedo ainda...)

xana disse...

Dou-vos um exemplo:

Na turma da minha sobrinha dois alunos passaram todo o 5º ano com falta de aproveitamento a quase todas as disciplinas , comportamento violento grave para com colegas e professores e no 1º e 2º período tiveram nota 2 a mais de metade das disciplinas.
No 6º ano apareceram na mesma turma, transitados, com a obtenção do máximo de notas negativas possível para passarem no último período do ano anterior.

Curioso.

Quando a minha sobrinha, de 11 anos, me perguntou porque é que nós lhe exigiamos que tivesse boas notas e bom comportamento para passar de ano quando outros faziam o oposto e passavam na mesma, eu não soube o que lhe responder.

Eu sei que não podemos generalizar, mas por vezes em casa ensinamos e educamos e a escola faz exactamente o contrário.

Ainda não li atentamente o novo estatuto do aluno, mas a Educação é um tema muito delicado e abrangente. E tanta coisa tem que mudar, em casa e na escola, para que possamos atingir níveis satisfatórios.

Margarida Balseiro Lopes disse...

Tal como para o Paulo, a Educação é para mim um tema verdadeiramente fascinante. É uma pedra basilar da nossa sociedade, e talvez por isso me sinta cada vez mais apreensiva com as reformas atabalhoadas, profundamente irresponsáveis e infrutíferas que este Ministério da Educação tem protagonizado.

Mas cinjamo-nos ao Novo Estatuto do Aluno. Por ocasião da discussão pública do diploma, tive oportunidade de redigir um parecer, juntamente com outras associações de estudantes do meu concelho, que catalogava este estatuto como um conjunto de “medidas anti-democráticas de notório desrespeito pelos alunos”. (http://uerquia.blogspot.com/2007/10/bem-sei-que-o-tema-deste-blogue-j-aqui.html)

Senão vejamos:
- Entende o ME serem medidas de integração e de finalidades pedagógicas a INIBIÇÃO de participação em actividades extra-curriculares e o condicionamento de acesso a espaços do parque escolar. Estas actividades extra-curriculares são, na maior parte das vezes, instrumentos importantíssimos de combate ao insucesso e abandono escolar. Quanta pedagogia e sensatez nesta medida!

- Numa irresponsável tentativa de agilizar os procedimentos burocráticos, na aplicação de medidas correctivas, é esquecido o princípio do contraditório, prejudicando profundamente o aluno. Este pode, agora, ser transferido de turma, “simplexmente”, sem ter sido sequer ouvido. Fica mais uma vez vulnerável ao carcomido corporativismo entre o pessoal docente (sim, a gestão escolar continua entregue a este bicho!).

- Elsa, a questão que aqui levantas é muito oportuna. A questão das faltas não é pacífica. Há uma tentativa de responsabilizar os encarregados de educação, em todo o percurso escolar dos seus educandos. Mas, ao conferir maior flexibilidade ao regime de faltas, não estaremos simultaneamente a inculcar nos alunos valores como a responsabilidade? Creio que sim. E, por esta mesma razão, defendo a realização de exames obrigatórios nos 2º e 3º ciclos.

Dri disse...

O novo estatuto do aluno só vem beneficiar a desorganização, a inercia e a indisciplina. E agora eu pergunto onde estão as juventudes partidárias neste momento? porque talvez fosse de lutar com mais afinco sobre este estatuto que nos afecta directamente ou indirectamento do que a liberdade de imprensa da Russia.

Anónimo disse...

Que o novo estatuto se aproxima perigosamente dum conto de crianças ninguém duvida.

Resta o que nós queremos da Educação. O Tiago focou algo muito relevante: as crianças são, hoje em dia, erradamente estimuladas a fazer o mínimo para passar.

Usemos o método de faculdade: podem transitar, mas a cadeira fica pendurada; Exames nacionais no 4º, 6º, 9º e 12º anos; estrutura base rígida mas com poucas cadeiras (PORT\MAT\LING ESTR.\HIST), mais cadeiras opcionais.

Exames nacionais, naturalmente, só para as cadeiras base. Nas outras, a prova da escola seria suficiente. Em princípio...

Paulo Colaço disse...

Não tenho andando nada atento às notícias esta semana por isso só agora soube (pelo DN) que a Ministra foi desautorizada pelo seu próprio Grupo Parlamentar, que decidiu mexer numa matéria essencial para ela: o chumbo por faltas, que o PS vem agora reconhecer como relevante.

Se eu fosse Ministro demitia-me. O problema desta Ministra é que Sócrates não a deixa demitir-se: ele precisa de maus ministros como o Drácula precisava de sangue. No dia em que os seus ministros forem bons, o povo percebe a tristeza de PM que elegeu.

Paulo Colaço disse...

Esqueci-me de saudar o Margarida por me ter recordado (com o link) do excelente blog que foi o "Do Atlântico a Ancara".

Anónimo disse...

Não se percebe. É desautorizada de forma tão evidente pelo seu próprio grupo parlamentar e permanece como se nada fosse. Demita-se!

José Pedro Salgado disse...

Porque é que só aprovam coisas destas quando eu saio da escola?

Mas a sério, estamos a criar cidadãos para fazerem tudo depressa e à matroca.

Cada vez menos se passa a muito importante ideia de labuta, trabalho e dedicação para atingirmos um fim.

Agora para quê ir às aulas? Vou ao exame no final e faço a disciplina.
É claro que isto pode ser o que a maioria pensa, mas nem todos fazem e nem todos conseguem fazer (a sério, eu já tentei).

EP disse...

A educação é uma matéria que me é, particularmente, cara. Daí a ter escolhido como tema do meu 1º post como psicótica.

Tiago desculpas aceites!

Competitividade e busca pela Excelência.
Sem dúvida valores a incutir ás nossas crianças e jovens, e aqui a escola tem um importante papel a desempenhar. Mas não deve ser a única a fazê-lo! Creio que esta deve ser uma responsabilidade partilhada por todos e cada um de nós. Afinal todos temos irmãos, primos, filhos que nos vêem como modelo de comportamento.
a sensação que tenho (mas posso estar enganada) é que ano após ano se vai generalizando a cultura de que o importante é que se atinjam os mínimos para os olímpicos. em vez de se estimular o espírito de: se puder conquistar o ouro porque me hei-de contentar com a prata?
é verdade que atingir o ouro implica ter objectivos definidos, método, rigor, disciplina, implica esforço e trabalho. Mais uma vez, urge estimular e trabalhar a Competitividade e busca pela Excelência.

Nelson, concordo com implementação de exames nacionais no final de cada ciclo. Penso ainda que faz sentido reduzir, como dizes o numero, infindável, de disciplinas para um núcleo de disciplinas fundamentais. Primeiro construam-se alicerces sólidos e a seu tempo virá a decoração.
Só não percebi bem a ideia das cadeiras opcionais, a partir de que ciclo? Se bem me lembro é uma estrutura deste género que existe (ou existia) no secundário.

EP disse...

O post anterior já estava enorme!

Paulo, é de facto um tema fascinante e fugas para a frente são sempre bem-vindas!

“Inculcasse nos jovens o valor da eterna busca individual do conhecimento e evolução, dando as armas para tal”
“Incutisse o valor da solidariedade como a melhor forma de evolução da sociedade.”
Subscrevo, mas oferece-me ainda dizer que uma sociedade consciente do caminho a percorrer, tem a obrigação de criar condições para que este seja percorrido, para que a gereção seguinte receba a estafeta e siga viagem!

Margarida, Sim, num exercício teórico concordaria contigo.
A razão pela qual não uso o presente é simples: olhando para o parque escolar e sua envolvente, como um todo, não me parece para já maior flexibilização no regime de faltas inculcasse nos alunos responsabilidade. Existem, felizmente, exemplos de excepções á regra. Mas o problema é mesmo esse, são excepções e não a regra!

Margarida Balseiro Lopes disse...

Um pequena nota:

os exames nacionais obrigatórios actualmente existem apenas para as disciplinas base, vulgo específicas. A par destas, das que fazem parte do componente geral, é apenas obrigatório o de português.

Anónimo disse...

Volto a uma discussão do mês passado para vos dizer ser LAMENTÁVEL que num tema tão sensivel como a educação um único partido tenha aprovado sozinho o novo estatuto do aluno.

Tenho pena que este post já nao esteja visivel porque assim não verão este comentário que poderia relançar a discussão.

Mas aqui fica a minha indignação!

Anónimo disse...

Volto a uma discussão do mês passado para vos dizer ser LAMENTÁVEL que num tema tão sensivel como a educação um único partido tenha aprovado sozinho o novo estatuto do aluno.

Tenho pena que este post já nao esteja visivel porque assim não verão este comentário que poderia relançar a discussão.

Mas aqui fica a minha indignação!