quarta-feira, janeiro 02, 2008

$100; quem dá mais?


O barril do ouro negro chegou hoje a uns alarmantes, mas esperados, $100!
O €uro está forte. Mas em todo o caso, isto significa o aumento dos preços. O que nos levará ao aumento da inflação. Ora isso não pode acontecer na zona euro. Toca a aumentar de novo as taxas de juro. Arrefecer a economia que tá quentinha. Lá vai o povão sofrer mais. Nunca acaba. É assim que se pensa com a economia. Essa ciência cega de gráficos e números e teorias e seilá o quê.
Fica no ar uma pergunta, quem é o primeiro ou a primeira a responder que previsão para o preço do barril do petróleo está inscrita no Orçamento de Estado para 2008? É realista? Valha-nos Deus!

47 comentários:

Anónimo disse...

Isto vai para aqui uma açorda. Mais um tópico para zurzir nas cabeças dos nossos governantes.

Quem terá, debaixo do tapete, a fonte energética que nos pode safar deste imbróglio?

Anónimo disse...

Os portugueses de certeza, a partir de dia um vão dar mais ás gasolineiras. Onde vai parar? Não sei.

Carlos Carvalho disse...

Nelson, parece-me é que, quem tem essa fonte energética pode estar com cabeça a prémio.

Não são novas as histórias de descobertas de fontes de enrgia baratas e eficazes. O problema é que isso interessa pouco, e interessa muito menos a quem tem o poder, dito, económico.

As energias renováveis tendem a implementar-se, mas até que sejam a principal fonte energética, muito caminho há para percorrer. Até lá, o mundo fica sob a alçada da vontade dos donos do ouro negro.

Em Portugal levamos com a carga fiscal sobre produtos petroliferos que faz com que paguemos ainda mais por este bem que, nos dias de hoje, é essencial...

José Pedro Salgado disse...

O preço médio previsto para o próximo ano no OE é de 74,9 dólares.

Ora, não percebo nada de economia mas, geoestrategicamente falando, o que é que para o ano vai fazer baixar o preço?

jfd disse...

Ora aqui temos um vencedor! E que deixa uma excelente pergunta no ar. Eu já perguntei a todos os meus amigos socialistas. 11 em cada 10(LOL) responderam " Se calhar o Pedro Santana Lopes fazia melhor ". Enfim...
Eu como não sou assim, desejo que a porcaria do preço venha por aí abaixo!

2008 será um ano Franciscano! Vão por mim...

Paulo Colaço disse...

100 dólares, hein?
Onde anda o senhor Gago? Será que anda a incentivar as nossas Universidades, Famílias e Privados a prepararem-se para o barril a $200?

Tiago R Cardoso disse...

Segundo as noticias de alguns jornais este aumento está a dar grandes lucros as petrolíferas...

jfd disse...

Pois deve estar!
E quem tinha posições em futuros a $100 deve estar feliz da vida. Que maneira linda de começar o ano ;)

Anónimo disse...

De facto, quem elaborou o OE para este ano, com aquela previsão do preço do crude, deveria estar literalmente a dormir, ou então é um grande devoto, para acreditar em milagres. "Valha-nos Deus"...

Já agora Nelson, lanço aqui uma possivel resposta à tua pergunta, no primeiro post: porque não apostar numa central nuclear de última geração, afim de ficarmos com uma maior autonomia energética, face aos combustiveis fosseis, nomeadamente naquela energia direccionada às cidades e afins?

Anónimo disse...

Já agora, as principais companhias petroliferas do mundo, segundo li, são nacionalizadas e não privadas. Ou seja, quem está a ganhar com o crude a $100 são os estados da OPEP e nem tanto as empresas com quem convivemos diariamente... A esta hora o Ahmadinejad e o Chavez devem estar a dar pulos de felicidade, infelizmente.

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

Mas que açorda que para aqui vai, realmente!

Cuidado com os jornais. Todos noticiaram o crude a $100... eu assisti (sou trader de futuros para quem não me conhece), teve lá 30 segundos e voltou aos $99... Um trader americano achou piada comprar 1000 barris na Nymex (o minimo permitido pela bolsa deles) para marcar o número mágico, depois vendeu. (para quem tem dúvidas: http://ftalphaville.ft.com/blog/2008/01/03/9882/100-oil-and-that-trade/)

Mas indo ao "cherne" da questão iniciada pelo Né: o Petroleo está altissimo. Estará realmente Né?

Façam lá o preço do crude em euros sff: $63 o barril com o euro a 1,30 dá 48€ o barril no inicio de 2007. Fechou 2007 a custar cerca de $99 com o euro a 1,47, ou seja 67€... subiu sim, mas não subiu os 60% que se noticiou... mas vamos ser mais sérios: vamos ver o preço do crude em ouro, sff: ouro a $600 a onça em Janeiro 2007, $845 o mês passado. Resultado? Em termos de ouro o crude só subiu 11%.

A moral da história, para quem foi para direito para evitar contas, é a seguinte:
A história do crude a $100, alias a história do crude a mais de $70, não é uma história de escassez. Não estou a dizer que não está escasso, mas a subida de 2007 não se deve a isso. Deve-se a inflação monetária por parte da Fed americana. Traduzindo em português: imprimir notas até não haver mais amanhã.

Vamos a um exemplo idiota: Eu sou um banco central e imprimo 5 papeis a dizer "1 psico", entrego a 5 psicoticos e digo-vos "isto representa o vosso ouro que eu tenho aqui guardado...é moeda". Vocês vão à vossa vidinha, e mais leves, porque não têm que andar com umas gramas de ouro no bolso. Andam com "1 psico". Eu, banco central, por qualquer razão que não vem ao caso, imprimo mais 5 notas de "psicos" e dou a cada 1 dos 5 psicoticos. Os 5 passam a ter "2 psicos" no bolso, total desta "psicose económica" é 10 psicos. Mas, vocês estão mais ricos? Claro que não. É papel!! (ou algodão no caso do dólar :P) Obviamente que se a vossa riqueza aumentou pela via "papel", os preços têm de aumentar proporcionalmente para compensar! NÂO há almoços gratis em economia... Isto é pura inflação monetária não contabilizada... Economia de segundo ano e deu direito a nobel nos anos 70 - Milton Friedman!

No caso em mãos, tens cada vez mais notas de dólar impressas a valer menos. Por isso é que o dólar desce, por isso é que o ouro sobe, o crude sobe e qualquer bem cotado em dólares TEM de subir. É uma pequenina ilusão monetária... e por isso é que o senhor Trichet DEVE continuar a subir as taxas de juro.

O problema aqui neste momento não é tanto a escassez do petroleo, mas mais a irresponsabilidade monetária dos senhores Greenspan e Bernanke, que andam à 10 anos a brincar com o botão da "impressora de notas"...

Quanto aos pressupostos do OE2008, acho que já foi tudo dito no comunicado da secção B: crude a 75 dólares, euro a menos de 1,45 e euribor a menos de 4,5% só mesmo nos sonhos do senhor Teixeira dos Santos...

Anónimo disse...

Já viram em importância de terem um Gabinete para Assuntos Económicos numa Secção?

É a especialização que rende hoje em dia, não o falar de improviso. Só nos falta conseguir explicar às pessoas aquilo que o Guilherme nos diz.

Paulo Colaço disse...

Eia, tarefa mais difícil...

Margarida Balseiro Lopes disse...

Antes de mais, a imagem está fantástica.

Quanto ao aumento exponencial do preço do petróleo, subscrevo o que aqui já foi dito: é essencial apostar na investigação, em energias alternativas. Sem um outro bem sucedâneo, continuaremos a embarcar nesta escalada de preços!

jfd disse...

Vermouth o Ahmadinejad não deve estar muito contente pois o país dele há muito que excedeu a capacidade de produção por via da falta de tecnologia. Ou pelo menos é o que nos fazem crer.

Obrigado pela lição Guilherme.
É estranho que a comunicação social de meio mundo não veja o óbvio. Dá vontade de pegar e gritar "It's the monetary ilusion stupid"
Tira-me uma duvida que não entendo, porque insistem os EUA em desvalorizar o $ ? E por consequência directa teremos nós sempre aumento de inflação e o alegre aumento da taxa de juro? Obrigado :)

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

É de todo o interesse deles desvalorizar o dólar de modo a reduzir o valor do seu deficit externo e salvar Wall Street das suas trapalhadas(o que os economistas pomposamente chama o "price species flow mechanism").

Básicamente o mecanismo cambial é simples: nações endividadas não podem correr defices externos ad eternum. Uma de duas: ou o seu cambio se ajusta, desvalorizando - o que torna as importaçoes mais caras, exportações mais baratas, logo reduz o deficit - ou a inflação tem de se ajustar, no caso do devedor é deflação que ocorre. Em países como a China, que correm superavits comerciais, na ausencia de cambios flexiveis é a inflação que sobe para compensar... como sempre: Não há almoços gratis. (No limite, não deixando os mecanismos actuar, tens uma recessão violenta/depressão como por exemplo 1929, ou finais dos anos 80 nos EUA)

Normalmente uma nação tão endividada como os EUA não poderia resistir sem ir à falencia, ou continuamente desvalorizando a sua moeda de modo continuado. Os investidores estrangeiros começariam a não estar dispostos a emprestar a este país, porque o que ganham em juro perdem na conversão cambial.

No entanto os EUA têm uma posição impar que lhes permite não seguir esta regra: a moeda de reserva mundial é o dólar, ou seja, o mundo faz a reserva de valor nesta moeda e portanto está disposto a dete-la mesmo com perdas. Tecnicamente o deficit comercial americano é financiado pelos bancos centrais da UE, China, India e países exportadores de petroleo, que têm as suas reservas em dólares ainda, embora a diversificar o que é mau para os EUA.

Isto permite aos EUA duas coisas: desvalorizar a sua moeda sem grande preocupação (até ao dia pelo menos); correr defices crónicos de forma continuada perante o resto do mundo (pagar divida com divida) e exportar as suas crises financeiras e inflação monetária para o resto do mundo.
Sim, a inflação também se exporta: no caso dos EUA é simples - baixas as taxas de juro e desvalorizas o dólar. O resultado é exportas inflação para o resto do mundo via crude, alimentos, ouro, e restantes activos cotados em dólares.

Como dizia o secretário do tesouro de Nixon: "It´s our currency, but it's your problem".

jfd disse...

Então não se corre, em teoria, o perigo de a China "dumpar" a divida dos EUA no mercado né?

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

Em teoria corres sim. Tanto que corres, que o mero facto de teres um oficial chinês a juntar as palavras "diversificação" e "reservas" e a malta dos mercados de moedas e obrigações assustam-se.

O "Worst case cenario" é: um dos Bancos Centrais, a China por exemplo, faz dumping dos seus activos e esmaga as taxas de juro do mercado obrigacionista norte-americano, o que leva todos os Bancos que também fizeram reservas a seguir... esmagando o motor da economia dos EUA. É ironico que a Guerra do Iraque, por exemplo, seja financiada por divida publica emitida e vendida aos chineses, indianos e alguns paises arabes (arabia saudia, emirados arabes unidos, etc...)

Mas ainda é um mero caso teorico, extremo... e é bom que assim permaneça: um caso teórico

Anónimo disse...

Duas perguntas:
1- O que faz do Dolar a importante moeda que é?
2 - poderá a UE (terá interesse nisso) tentar que o Mundo substitua o Dolar pelo Euro?

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

Bem este post tornou-se uma mini-aula de economia monetária LOL

Mas respondendo às tuas perguntas:
1. O que fez do dólar a moeda importante que é foi o sistema de Bretton Woods, no pós-guerra. Em Bretton Woods foram decididas 3 coisas: a criação do FMI, a criação do Banco Mundial e a fixação ao dólar...
Sucintamente, o padrão ouro e má politica monetária são os grandes responsaveis pela grande depressão. No entanto, ninguem na Europa tem vontade de o abandonar pela sua estabilidade, nem reservas de ouro suficientes para o manter. Logo a solução encontrada foi um compromisso:
O Dólar, moeda do único país que tinha ouro suficiente para poder servir as necessidades de conversão mundial, fica fixado a uma taxa fica de ouro, e todas as moedas são as moedas do mundo são fixadas em relação ao dólar. Existiram honrosas exepções, como Portugal, paises que tinham ouro suficiente para manter a plena convertibilidade das suas moedas, mas a grande maioria adoptou o sistema de Bretton Woods. Isto quis dizer que os bancos centrais já não necessitavam de fazer reservas em ouro fisico. O dólar funcionava como um cheque sobre o Ouro, mas mais facil de manozear. Os EUA distribuiam os seus dólares sobre a forma de titulos de divida, obrigações ou outros activos, e os bancos centrais aceitaram. Dai que, 1. o dólar e o ouro andassem a par e passo e 2. o dólar assumisse uma posição em todos os bancos centrais.

Na década de 70, depois da guerra do vietname, o mundo apercebesse de um facto: existem mais dólares em circulação que ouro na reserva federal. Pouco depois Nixon acaba com a convertabilidade directa e acaba o sistema. Mas nesta altura os bancos centrais estão cheios de dólares e divida norte-americana emitida sobre o acordo de bretton woods - Plano Marshall incluido. Trocar os dólares por ouro não é opção: o dólar cavaria um buraco negro, e com ele iriam as obrigações norte-americanas (o extremo teorico do "dump" chinês, no caso actual). Logo, os Bancos optaram por manterem os activos, e assumir o valor do dólar de per si, como se fosse uma "acção sobre a economia norte-americana", a maior do mundo. Na pratica o mundo deu em Bretton Woods um cartão de credito de platina com plafond ilimitado que eles levaram ao limite. O mundo nunca pediu o cartão de volta. Actualmente brinca-se que está em vigencia o sistema de Bretton Woods II: os EUA correm deficits cronicos, financiados por uma asia exportadora. A Asia recicla as mais valias das suas exportações de volta em obrigações dos EUA, financiando o enorme deficit dos americanos. Quem goste de história, ficará feliz por saber, ou talvez não, que foi mais ou menos isto que o Reino Unido e os EUA concordaram em fazer durante a década de 20. Na altura o colapso do "arranjo" e a rigidez do padrão ouro fizeram o resto para a grande depressão.

2. Cada vez mais isso se torna uma realidade. E grande parte disso se pode agradecer ao senhor Jean Claude Trichet e à ortodoxia "malvada" do BCE, que supostamente faz o "povão" sofrer. O mundo começa a não confiar na capacidade dos EUA de pagar, e os Bancos centrais começam a diversificar. Hoje, já 25 % das reservas mundiais são em euros. Isto não é novo: o Franco Suiço e o Iene também já aspiraram a este "trono", no entanto uma coisa distingue o euro: pela primeira vez, existe uma moeda que não o dólar, cujos activos totais servem para cobrir as necessidades de reserva do mundo, ou seja, em português: o euro, ao contrário do franco suiço e do iene, é opção pela qualidade da politica monetaria e quantidade de activos em circulação. Depois da barraca do subprime, a Europa foi considerada refugio, não pela qualidade dos bancos (vários grandes bancos como o HSBC ou o Deutsche Bank também estavam envolvidos no subprime) mas sim pela qualidade e solidez da regulação do BCE...

jfd disse...

Já antes nos tínhamos "pegado" por causa do BCE. O meu ponto de vista e comentários podem até passar ao lado, mas pronto é com falta de base cientifica;) Tudo muito pouco estudado. Mas repara, realmente o povão sofre. A minha questão é a que a ditadura os 2% (que nem são 2% de inflação na realidade) poderá não ser o ideal para uma União Monetária que o mundo nunca viu (por hipótese!). A UE é um bicho que ninguém conhece, que vai-se dando a conhecer ao longo da sua existência. Quem nos garante que estamos a ir pelo caminho correcto? Que os benefícios são maiores que os sacrifícios? Que não existe outra forma de lá chegar com menos consequências? Claro que experimentalismos são arriscados, mas temos de ser arrojados. Afinal tudo muda! É ser assim tão ingénuo pensar assim? E uma coisa que me incomoda muito na economia é que os gráficos e os números raramente me mostram as consequências sociais. É claro que me falam sempre em trade-offs e etc. Mas, e as consequências sociais? A dignidade do povão? Como quantificar? Como fazer isso pesar na equação?
Imaginemos o que teria acontecido aquando dos ataques ao SME em que Soros fez parte da sua fortuna; se a teimosia dos Bancos Centrais (ou do Alemão que era quem mandava, não me recordo bem) não tivesse turvado a visão e rapidamente se tivessem alargado as bandas de flutuação para 15%?

Olha aproveito para fazer outra questão; partindo do principio que sobem a taxa de juro para arrefecer a economia pelo lado do investimento (ficando mais caro o dinheiro, investe-se menos, os preços baixam - é isso não é?), como se justifica que as taxas homologas de inflação continuem a bater recordes? Pelo lado do consumo irracional em que se recorre ao crédito?

PS – Essa ironia de que falas do financiamento da Guerra do Iraque é claramente uma opção politica desses visionários neo-conservadores. Faça Guerra agora Pague depois. Ao invés de taxarem a Guerra aos Americanos, o Presidente Bush pediu aos Americanos para continuarem a fazer compras que era assim que iam ajudar aos esforços de Guerra.

Não sei se foste tu ou Né quem disse, mas realmente falar do ar é mau, por isso é que é bom volta e meia termos destas conversas para por os pontos nos i’s com quem perceba mais de alguns assuntos ;) bem hajam;)

Paulo Colaço disse...

Big Mamma, obrigado pelas perguntas.
Guilherme e Jorge, boas réplicas as vossas.

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

É provavel que tenha sido comigo que te pegaste sobre o "BCE", mas vamos lá aos "i's" em questão.

Concordo contigo que os economistas devem ter sensibilidade social. Estás é a pedir a sensibilidade errada ao agente errado. A sensibilidade social que um Banco Central deve ter é exactamente não descer as taxas de juro porque a malta precisa.

Se havia coisa que Keynes, Friedman e uma caterva de outros economistas concordaram foi isto:
Politica monetária é o equivalente económico a uma arma de destruição massiva. Não à explosões controladas. Queres fazer uma queimada, arriscas-te a acabar com a "floresta".

Taxas de juro artificialmente baixas dão os incentivos errados ao investimento e consumo. Promovem bolhas de activos - que quando rebentam são dolorosas, vidé bolsa americana em 2002/mercado imobiliario em 2007 - sobreconsumo e maus investimentos por parte das empresas. Keynes nunca disse "usem as taxas de juro a belo prazer para resolver o problema dos endividados". Alias o que leva Keynes a escreve é a grande depressão, o que leva à grande depressão são 2 factores:
1. O Banco de Inglaterra teve a "tua sensibilidade social" e manteve as taxas de juro artificialmente baixas para manter o cambio "competitivo" face a uma FED inexperiente que acedeu fazer o oposto quando a economia ditava o contrário. O padrão ouro fez o resto (numa correcção monetária com padrao ouro em vigor, o peso da correcção dá-se pela moeda mais fraca, o pais "credor" sofre uma deflação violenta, o pais "devedor" uma inflação violenta). O resto é história já sabida.

A "responsabilidade social" de um banco central é não andar a imprimir notas a partir do nada sem razão aparente - para quem não sabe é assim que se baixa as taxas de juro: imprime-se notas e dá-se aos bancos. É controlar o nivel de preços de modo a não deixar que a inflação suba. Isto porque a inflação não é apenas um conceito teorico que os economistas encontraram para ter emprego no BCE!! Além de ser um desincentivo à poupança, o facto de não teres certeza nos preços provoca incerteza no investimento... Faz lá um orçamento num país com a inflação aos saltos, e acima de 5%...O resto da responsabilidade social pertence ao Estado. Manter finanças saudaveis de modo a quando existem problemas de emprego, recessões ou afins, possa existir uma rede de protecção...

O que me leva aos miticos e odiados 2%. Não foi um numero lançado ao ar ao fim de umas quantas cervejas em Maastricht, e não é um valor "europeu". A Fed segue a regra dos 2%. O Bank of England também. É o nivel de inflação que não intrefere muito com a economia e dá espaço de manobra para não caires numa deflação sem dares por isso.

Quanto à questão da taxa homologa bater records, presumo que te refiras à taxa portuguesa. Cuidado! Os 2% do BCE é a média europeia. Dado que temos um mercado de trabalho rigido, impostos altos sobre matérias primas como os combustiveis, a tua taxa de inflação é sempre maior que a média europeia - o mesmo ocorre com o desemprego natural.

Quanto aos neo-cons - fazer a guerra hj, pagar amanhã não é uma teoria deles. É uma teoria usada pelos ingleses e pelos franceses e começa no século XVII/XVIII. Alias, a ascenção do império britanico e do pico do seu poderio militar em 1850/1880 vem daí: a capacidade do Reino Unido de se endividar à taxa mais baixa da altura, permitindo amortizar os custos duma guerra ou colonização pelo tempo.

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

PS: a teimosia durante o "ataque" de George Soros foi do Banco de Inglaterra.

E curiosamente a desculpa da teimosia foi exactamente o que vocês insistem que o BCE faça: o BoE estava a tentar manter uma taxa de cambio artificialmente baixo de modo à industria britanica ser competitiva. O resultado foi a importação de inflação alemã, dado que o câmbio estava fixado na banda de flutuação face ao marco alemão, e a Alemanha estava a iniciar a reunificação.

George Soros, e outros, apenas repararam no obvio: a situação era insustentavel e o BoE não poderia continuar a "aguentar" o cambio por muito tempo. E apostaram nisso...

Agora a ironia: o custo dessa teimosia "social" foi uma recessão no Reino Unido. Ou seja, o agente errado teve a sensibilidade errada e de boas intenções está o inferno cheio...

jfd disse...

Guilherme compreendido.
Eu entendo isso tudo. Entendo (ou tento entender) os clássicos e os teóricos.

Eu queria era ver uma luz ao fundo do túnel. E a minha esperança cega gostaria de acreditar que existirá um modelo diferente de todos os outros que já foram utilizados. Algo que não estamos à procura porque estamos obstinados em fazer funcionar aquilo que conhecemos numa UE que está em constante mutação e que desafia tudo o que tomamos como garantia. Era isto. Percebes o que quero dizer?

But then again, é realmente como a estória do Ulisses e das Sereias e daquele Nobel de 2004 (senão me engano); da teoria da consistência da politica económica; o que tem de ser, tem que ser! Não nos podemos desviar de uma Política Monetária porque, pasme-se, o povão sofre. Temos de pensar no longo prazo e não no médio e curto prazo.

É duro pensar assim, ter de ser assim, por de lado emoções humanas! Cambada de robots :)

No que toca à Guerra do Iraque, é claro que o visionários é sarcasmo e à que ter em conta a parte “neo” do “cons” :P

E fica uma piada, se o SME pôde ser “cozinhado” numa cozinha à revelia de muita boa gente, os 2% bem que poderiam ter sido combinados em volta dumas cervejas e duns arenques ;)
Mas os 2% entendo. 0% é impossível pois em alguns casos seria igual a deflação o que também não é sintoma de uma economia saudável.

Resumindo e baralhando.
Temos de levar com a Politica Monetária Europeia.
Resta ao País e à sua soberania a Política Fiscal (por enquanto e infelizmente), Orçamental e Social.
É com isto que o Governo tem de jogar para aproximar o país do resto da UE.
Eu resolvia isto duma forma simples. Já que muitas das decisões que afectam o meu dia a dia são centralizadas, sejam todas. Só assim se poderá nivelar o custo de vida do cidadão europeu. Só assim será comparável. Até lá viveremos com 27 * n sistemas diferentes + 1 BCE com 1 única Política Monetária.

Blargh :P

jfd disse...

Espero n me ter enganado em nada :P

EP disse...

Pela 1ª vez não lamento ter "chegado tarde" a um post.
Ontem li de corrida o post e nao tive tempo para esclarecer algumas confusões.
Depois de ler os comentários só me resta dizer OBRIGADA Guilherme (pelo "trabalho" que me poupaste eheheh)!
Dificilmente alguém conseguiria ter explicado melhor.Parabéns!

Explicar Friedman e a teoria monetarista através de "psico€/$" delicioso.
(Com tantos "Não há almoços gratis!" ainda tive tempo para recuar as aulas de 1º ano do Prof Cesar da Neves.)

Reforço a ideia de que é preciso ter alguma calma quando olhamos para estes cenários economicos(geralmente complexos)e não nos deixarmos levar pelo imediatismo jornalistico ou pensar com o coração.

Quanto ás outras questões de politica monetaria levantadas corroboro a visão objectiva do Guilherme.
Sobre o papel do BCE, como já escrevi anteriormente, os seus objectivos, liberdade de acção e independência são diferentes da Fed ou outro Banco Central. Mas em todos os casos é válida "A "responsabilidade social" de um banco central é não andar a imprimir notas a partir do nada sem razão aparente."

Paulo Colaço disse...

Uma discussão com este nível está mesmo a pedir tertúlia ou psico-debate.
O pior é que a agenda está neste momento virada para os lobbies e para as eleições nos EUA, que vão ocupar muito do furor organizativo do psico nas proximas semanas.

EP disse...

JFD,
A condução da Politica Orçamental é, hoje, o grande e último instrumento de Politica Economica que assiste aos Governos nacionais.
Sugeres uma Politica Orçamental centralizada á semelhança da Politica Monetária. Talvez um dos passos da integração europeia venha a passar por ai.

Para já acho prematuro avançar por ai. Existem ainda muitas questões(barreiras) a eliminar ou contornar. Prefiro pequenos passos sólidos a outros maiores mas no ar.

Discutir e repensar o peso do Orçamento Europeu e a afectação dessas receitas parece-me mais pertinente no momento. Veremos os que novidades as presidencias europeias em funções este ano nos trarão nesta matéria!

Anónimo disse...

nao sei se alguem ja disse aqui o que vou dizer. se isso acontecer peço desculpa mas n li todos os posts!

nao podemos esquecer que o aumento dos ordenados iguala a inflaçao prevista. a minh duvida é se agora que se confirmam valores completamente desfasados dos utilizados no OE, se se vai aumentar também o aumento percedntual do ordenado minimo.

é que se isso nao acontecer, a perda de poder de compra será (ainda) mais acentuado...!

saudaçoes laranja!

Tiago Mendonça disse...

Meus caros,

Transcrevi um post vosso no blogue www.oaltavoz.blogspot.com.

Não pedi autorização prévia mas está devidamente identificado, para que não existam confusões.

Visitem!

P.S - Quanto a este post, penso que a palavra especulação tem um peso enorme em toda esta problemática. Saudações Democratas.

Anónimo disse...

Desulpa Vermouth, mas muitas vezes acompanho o debate no meu mail e acabo por não responder imediatamente.

NUCLEAR em Portugal: não vejo nada contra, excepto uma hipotética desvantagem natural que enunciarei no fim.

Dentro da UE'27, nove países não têm energia nuclear, sendo nós um deles. Em cinco deles, a energia nuclear suporta mais de 50% da sua produção de electricidade (Lituânia 80%, França 77%, Eslováquia, Bélgica e Suécia) e suporta mais de 1/4 da produção de electricidade de 8 países.

Mas sempre que se fala do nuclear levantam-se duas preocupações: resíduos tóxicos e segurança. Mentiria se alegasse que não me preocupava.

Com os resíduos tóxicos esperemos que a Mega Central nuclear a ser construída em França - suportada pelo G8 - cumpra a promessa de destruir os resíduos tóxicos (não me lembro se só os próprios ou se os até hoje produzidos também).

Quanto a segurança, e para além de Chernobyl numa fase decadente e de total colapso de uma super-potência, quantos exemplos de desastres nucleares encontramos?Compreendo o dramatismo que os números de putativas vítimas e o desastre ambiental implicam, mas sejamos realistas: a longo termo, não estamos a sufocar a terra com todo este CO2? Se só os nossos netos sofrerem estaremos a agir melhor? Será que desinvestir na única energia limpa (reparem que disse limpa, e não renovável) e persistir nos erros de outrora é o melhor caminho?

Para mais, entre as 7 medidas prioritárias que o Grupo de Princeton enumerou para reduzir já a emissão de CO2, uma delas era substituir centrais eléctricas a carvão por 880 nucleares.

Por fim, a hipotética objecção por força do nosso meio físico: em discussão com um membro da minha comissão política, ele avisou-me de que para arrefer um reactor nuclear é necessário uma fonte de água corrente estável com grande massa(vulgo rio), e Portugal não é um país (principalmente hoje) que possa garantir essa condição. Esta é a única dúvida técnica que me apoquenta.

P.S. Desculpem misturar política energética com a vossa dissertação monetário-cambista ;)

Bruno disse...

Só para dizer que já não consigo acompanhar esta discussão. Apesar de as explicações do Guilherme até serem em bom português (dentro do possível). Mas isto é muita conversa para ler tudo de uma vez. Vou mas é imprimir e fazer um Manual de Política Monetária!

José Pedro Salgado disse...

Há que reconhecer uma realidade:

A busca por energia dificilmente terá fim.

In extremis daqui a umas décadas vamos estar a lutar por planícies onde instalar painéis solares e montanhas onde instalar moinhos.

Haverá sempre um elemento na equação que é escasso e que levará a competição.

Nada contra o nuclear, mas tendo em conta o carácter eminentemente técnico da questão, creio que preciso de saber mais.

Acredito, isso sim, que devemos apostar nas energias renováveis. Não porque são a solução, mas sim porque são a próxima solução.

Bruno disse...

Há pouco fiquei demasiado intimidado com as lições de Economia que aqui levei e esqueci-me de dizer uma coisa sobre a problemática da dependência do petróleo.

Não seria interessante, para além da aposta em energias alternativas que houvesse uma aposta forte em reduzir a utilização de combustíveis derivados do petróleo?

Por exemplo com uma verdadeira política de oferta de transporte colectivo e criação de sistemas multi-municipais integrados de transportes públicos.

Por exemplo com um trabalho sério na requalificação urbana e construção de ciclo-vias e zonas pedonais sem prejudicar o trânsito rodoviário que será sempre necessário.

Por exemplo...

Anónimo disse...

As propostas do Bruno são interessantíssimas e devem ser implementadas já. Problema: estão longe, longe, longe de resolver o problema, ou sequer de desagravá-lo substancialmente. Devemos implementá-las por serem boas condutas e boas práticas, ajudam a eliminar o desperdício energético.

As renováveis:

quanto aos montes eu sou a favor dos aerogeradores off-shore: encher a nossa ZEE de "ventoinhas". Só vantagens: produção de energia; dificultar tráfego clandestino; zero "ruído visual".

De resto, são muito bem intencionadas e absoluta e extraordináriamente dispendiosas. Proibitivas mesmo. Como tudo quando é novo, a sua taxa de rentabilidade é abaixo de zero.

Para arranjar um sucedâneo hoje só há nuclear. Principalmente se já tivermos ultrapassado o "pico de Hubbert", isto é, se já tivermos na fase descendente da exploração do petróleo existente na Terra. (estou recordado que não é a escassez que provoca o actual aumento do barril, mas é uma pergunta relevante)

Bruno disse...

Pois é Né. Recordando um post que colocaste aqui há uns tempos de uma miúda que discursava numa conferência internacional sobre ecologia, chegamos à conclusão que já fizemos merda a mais!

Deixámos enredar-nos num caminho de dependência extrema e quase exclusiva de um combustível e hoje isso nota-se na influência que tem no espectro político mundial.

Já é tarde para começarmos a mudar as coisas o que significa que temos que o fazer ainda com mais convicção e decisão.

jfd disse...

Começa hoje amigo!
Quantas lâmpadas incandescentes tens em casa? Muda-as ;)

jfd disse...

Elsa,
Realmente seria muito arrojado centralizar logo tudo de uma vez. Mas, diz-me, qual a melhor maneira de tirar um penso? Devagarinho ou de uma vez? ;)

EP disse...

JFD
eu como sou muito "mariquinhas" retiro-os sempre muito devagarinho:)

Não me vou escapar ao debate mas ando sem muito tempo para passar por cá e comentar a sério. Também se pode pensar numa psico-refeição. Afinal, ainda não "reunimos" este ano!

Para não fugir totalmente, posso vir a mudar de opinião. Todos podemos. Mas, continuo a achar que no que toca ao processo de construção europeia, o bom uso da prudência pode contribuir, em muito, para que os passos sejam sempre no mesmo sentido:para a frente!

Paulo Colaço disse...

Sim, Elsa: ainda não psico-comemos all together este ano.

Teremos o aniversário do Bruno Ribeiro no próximo dia 9 para nos encontrarmos todos.

(Mano, agora tens mesmo de fazer a festa)

jfd disse...

Elsa, sabes porque os tiras devagarinho?
Porque não és homem! ;)
LOLllllllllllllllllllllll
Os senhores compreendem-ne né?

Anónimo disse...

Ron Paul (candidato republicano) a dizer exactamente aquilo que o Guilherme nos explicou.

Para quem não quis ler, eis um oil crisis 101:

http://www.youtube.com/watch?v=NIwlKyz6LvU

Bruno disse...

Respondendo às provocações:

- Jorge, tens razâo. Tenho que substituir as lâmpadas lá de casa. Estava à espera que se fundissem as actuais e já começaram. A próxima do WC já vai ser "amiga do ambiente"!

- Colaço, seja feita a sua vontade! 6ª feira, dia 11 às 21h lá nos encontraremos. Estejam atentos para mais informações...

Anónimo disse...

Antes de mais quero dar os parabéns ao Guilherme ´por me ter esclarecido de forma bastante simples acerca de questões relacionadas com a economia e como a emissão de algodão descontroladamente por parte da FED(correcto?) pode influenciar fortemente a economia mundial. Não percebo desta área mas confesso que me desperta muito interesse e ao vasculhar encontrei este post...delirei. E já agora lançava uma questão ao Guilherme, achas que a entrada do Brasil na OPEP em 2009 como foi divulgado por Lula, poderá afectar o preço do barril e consequentemente, a economia? é que, segundo li, a àrea que os estudos apontam como possivel extreacção de petróleo pertencendo ao Brasil é muito significativa. Outra questão: a extracção de petróleo geralmente é efectuada (creio) a 500 m de profundidade, sabendo que já foram realizados furos com mais de 12000 m de profundidade pelos russos porque nao aumentar a profundidade de exploração dos aquíferos?!terá algum interesse criar um mito da escassez de petróleo?!recentemente foi editado um livro que coloca em causa esse mesmo mito e gostaria de saber a tua opinião.

Anónimo disse...

Várias pessoas abordaram as energias renováveis e a energia nuclear neste post. Felizmente assistimos a um avanço nessa àrea e constata-se que contrariamente ao que ocorria há uns anos atrás os grandes grupos não apostavam na inovação energética e quando um particular apresentava algo interessante, rapidamente era sabotado ou envenenado. Recordo-me do caso do Pantone que desenvolveu uma tecnologia que usando 80% de água e o restante de compostos orgânicos "reciclava" o monóxido e o dióxido de carbono lançado pelos escapes de automovies, ou seja, estava constantemente a reaproveitar o cobustivel.
Hoje em dia existem inumeras formas de conseguirmos energia de forma bastante económica e por vezes de formas bizarras. Exemplo disso são as suiniculturas que em vez de descarregarem os seus efluentes nas águas da rede publica podem através de arco eléctrico ou bioscan converter em energia eléctrica que poderão usar para consumo próprio e injectar na rede eléctrica.
Temos também a separação da molécula de água (H2O) que em tempos parecia ser pouco rentável mas que neste momento surge como uma boa alternativa.
Quanto à energia Nuclear, eu compreendo que cause um certo pânico mas recordo que as estatisticas demonstram tratar-se de uma fonte bastante segura. O que me inquieta é saber que este tema está a ser esquecido por parte dos nossos governantes e enquanto isso os franceses estão a comprar as nossas reservas de urânio situadas em Nisa. Não podemos esquecer que os "ursos" que estão para lá da fronteira tem centrais nucleares e se houver algum acidente sofremos consequências na mesma. Se eles nos podem provocar stress, que tal colocarmos uma central junto da fronteira com espanha?! Não teria problemas com o caudal de água necessário para o arrefecimento e consumo, aproveitavam o Guadiana e se houvesse azar eles não se ficavam a rir de nós. Se por acaso algum dia chegarmos à conclusão que a energia nuclear era uma aposta viável...não teremos matéria prima suficiente.

Bruno disse...

Com este "carinho" que nutre pelos espanhóis, o Baía já é bem vindo ao Psico ;) Bom, estou a brincar mas sei que falo pelo menos por mim e pelo AB...