À parte do estatuto de estrela, de um casamento que se avizinha e de outros assuntos da mesma esfera desinteressante mas que vende jornais e que torna os políticos franceses sexys, muito se tem passado em França. E muito mais se quer para o Futuro.
Para começar na semana passada o Presidente anunciou que uma empresa de auditoria iria acompanhar regularmente a performance dos seus ministros, produzindo relatórios e avaliações quadrimestrais. Excelente ideia! Importe-se já :) Com estes relatórios em mão, o Chefe pretende encontrar-se 4 vezes por ano com os seus Ministros para discutir as suas avaliações. Sarcozy sempre disse que as reformas são difíceis e que a melhor chance para a França virá do facto de se rodear dos melhores. E assim conseguirá efectivamente separar o trigo do joio.
Hoje, terminou à pouco a primeira grande conferência de imprensa desde que foi eleito. Já passaram 8 meses. Desceu já cerca de 7 pontos nas taxa de aprovação, já enfrentou greves, pequenas crises, cimeiras, afrontou o BCE e outros que tais.
- quer terminar com a publicidade nos canais de televisão públicos, sendo financiados por uma taxa sobre a publicidade dos canais privados e uma pequena taxa sobre a venda de novos média
- quer negociar descidas de preços com supermercados e fornecedores
- quer avaliar e alterar o facto de a França ter um deficit orçamental já com 26 de idade
- quer avançar em força com as reformas
- quer ser a voz dos países pobres no FMI e no Banco Mundial
- quer no futuro ver um G13 em oposição a um G8
- quer ver alargado e repensado o Conselho de Segurança da ONU.
Ora digam lá, isto é um Presidente ou não? Não me importava nada que a França ocupasse no mundo o lugar que agora ocupa o Reino Unido. Mas deixo o debate para os especialistas em Relações Internacionais.
18 comentários:
Ando um bocado destas propostas de Sarkozy... presumo que esta avaliação por uma empresa será a resposta à proposta interessante de Ségo de constituir um júri de avaliação do Governo.
Quanto às propostas:
1 - alterar a medição de crescimento da França pode ser bom ou mau. Em que sentido vai Sarkozy?
2 - Errado. Os privados não têm de sustentar a televisão pública. O Estado só deve intervir onde não houver mercado, não prejudicar o mercado.
3 - Descer os preços por negociação? E a inflação? Quando nos metemos no mercado e no seu fluir natural, ele tem maneiras curiosas de nos cuspir na cara.
4 - Acabar com o défice é sempre bom. E de que forma estará relacionado com a nova forma de contabilizar o crescimento. Se ele aldrabar as contas, pode reduzir o défice dando a ilusão que a França está a crescer muito.
5 - Avançar com reformas: De boas intenções está o Inferno cheio.
6 - quer ser a voz dos pobres no FMI e Banco Mundial. Mimético da parte final de Blair. Veremos se terá a mesma autoridade.
7 - quem são as sugestões para o G13? Será responsável.
8 - concordo com a reforma do conselho de segurança. Mas todos concordam. Excepto os permanentes que querem ver reformado mas sem alterações no status quo.
Depois disto tudo: gosto de Sarkozy, acho que é o único Presidente françês que poderá dar a França uma nova inclinação. Deus nos livre de ela substituir a Inglaterra: os franceses sempre foram demasiado mesquinhos e umbiguistas nas relações internacionais (lembrem-se do exemplo recente do Congo e de no início do Darfur ter sido a França a relativizar o que se passava).
Também gosto de Sarko e espero que não se perca.
Diz a história escondida de homens como ele que a vida pessoal pode deitar por terra uma carreira.
Desejo-lhe o sangue frio e a concentração que faltou a outros...
Quanto ao G13, que 13 é esse?
Sobre a ONU, que reforma para a vetusta organização?
Alguém sugere?
Eu até que responderia a essas questões se a TV tivesse passado a info. Mas não insistiram que a noticia da conferência de imprensa seria o casamento anunciado. Enfim.
Né talvez o umbiguismo (talvez numa versão menos forte e mais moderna) ao seguidismo do Reino Unido?
Né e Colaço obrigado pelo interesse demonstrado por esta posta :)
Em relação ao sarkozy só um apontamento: a música é o seu calcanhar de aquiles por dois aspectos: primeiro a sua relação com a cantora Carla Bruni que não agrada a todos os franceses e agora o seu filho mais velho (Pierre) decidiu juntar-se aos músicos dos suburbios de França. O jovem é conhecido no meio musical como Mosey e escreveu para um dos músicos mais ferozes nas críticas políticas e sociais vindas dos guetos locais. (www.mundoutopicodadri.blogspot.com)
Seguidismo do RU? Em relação ao quê? Eu não gosto da política do contra da França e muito menos da política externa de interesses especiais deles.
Quando falares da política externa do RU cuidado... não é fácil.
Explica lá melhor.
The mighty U S of A ??? :)
Definir a politica externa do Reino Unido como "seguidismo" em relação aos EUA é um pouco... falacioso não, JFD?
Só falta dizer que o "Pai" foi Blair...
O que tu chamas de "seguidismo" já tinha sido apelidado por Churchill como a "Special Relation". Os EUA são o maior investidor directo estrangeiro no UK e vice-versa.
Durante a Guerra Fria, o UK era o maior aliado dos EUA no Ocidente.
Já te esqueceste da amizade entre Tatcher e Reagan?
A moral da história é que, em relação aos EUA, a aliança não é nova nem de estranhar... quanto ao resto da politica externa britanica em geral, também é tudo menos seguidista e bem definida desde a Paz de Vestefalia (1648): Garantia a sua posiçao militar e económica no mundo, garantir o equilibrio de poder na Europa e que, quando é altura de decidir, que é o "fiel da balança"... foi assim no seculo 17, foi assim durante as guerras napoleanicas, mundiais, fria e continua a ser assim na UE. Só mudou um pouco de métodos...
(Hummmmm Temos wingman?)
Confesso que o é :)
So what?
Quem constata a mais não é obrigado :=)
Desde Napoleão III que a França tem sobre o desígnio de dominação. Isto começa com a revolução francesa e o seu legado de terror. Após a morte da instituição monárquica Napoleão I consegui chegar ao poder e conduzir a política externa francesa para um abismo sem fundo, a revolução suicidar-se a si própria. Sendo o próprio Napoleão I um legado da mesma indo esse legado até Napoleão III. A Alemanha de Otto von Bismarck humilhou a França e toda a sua cultura de glória militar. Mas a síndroma ficou, o de Austerlitz.
Esta patologia em que a França é vista como uma nação gloriosa e sem temor a qualquer Estado conduziu a um chauvinismo exacerbado. Se tentarmos encontrar um responsável estamos apenas a fazer uma caça ás bruxas, nada mais. Porém este sentimento de chauvinismo pode ter começo com o Rei Sol, Louis XIV. A centralização de poder levou a França a desdenhar as instituições como a SDN ou a NATO e, no seu entendimento a UE como um objecto privilegiado de política externa onde pode exercer o seu poder na Europa. Na figura de De Gaulle a França exerceu o seu papel no mundo, porém nem mesmo De Gaulle fez da França aquilo que não podia ser: uma super-potência.
Na actualidade o famoso chauvinismo francês mudou de rumo. Sarkozy favoreceu a aliança com os EUA e a cooperação para o combate ao terrorismo. Este foi um dos passos mais importantes numa reconciliação com a estrutura do Sistema Internacional. A versão de uma aproximação europeia com Sarkozy perdeu a sua vitalidade habitual. Podemos entender esta mudança como uma falta de credibilidade por parte dos franceses em relação à UE que se traduziu no referendo ao Tratado Europeu.
Na perspectiva de Sarkozy a Europa não é capaz de ter uma política externa coerente e comum. O ataque ao BCE reflecte que após décadas de uma visão una a França ora procura novos caminhos no Sistema Internacional, pois, a Europa não é capaz de os traçar.
O G8 mais cedo ou mais tarde terá de passar a G13. A China e a Índia são mercados cada vez mais flexíveis e maduros para os investidores internacionais. No caso do Brasil, México e Africa do Sul são economias que se têm tornado atractivas nomeadamente ou Brasil, ainda que na América do sul o Chile tenha um índice de desenvolvimento superior ao do México. Note-se que tanto a China ou a Índia superam a Itália em poderia económico e a Alemanha perdeu o seu lugar de maior exportador mundial para a China. A viabilidade de um G8+5 é cada vez mais uma realidade. Entende-se por isso que Sarkozy queira agregar essas cinco economias antes mesmo de estas serem agregadas, ou seja, dar o primeiro passo para a inclusão destes países.
Aqui a Grã-Bretanha está de pleno acordo com a França. A Europa hoje não discute o seu equilíbrio entre a França e Grã-Bretanha mas entre a Rússia e a Alemanha. Uma Rússia reemergente afecta a estabilidade europeia assim como o seu equilíbrio de poder. É necessário clarificar o que quer a Alemanha para o futuro e seja o que for deve constar na agenda francesa afastar a Alemanha da Rússia a todo o custo.
Por isso é tão complexo alterar o Conselho de Segurança. Ainda que Sarkozy queira alargar o número de países quem tem poder não o quer perder ou alargar. Para a França e se Sarkozy quer operar mudanças deve começar pela NATO e na pelo Conselho de Segurança. Só uma NATO fortalecida para o século XXI pode travar as pretensões da Rússia. Todavia esta onda de alargamentos não se deve estender á NATO pelo facto de a poder paralisar vindo a cair na burocratização.
Quando a querer ser a voz dos países pobres. Também a China tenda a todo o custo tomar esse lugar. Sendo para a França um antigo país colonizador tal tarefa mais complicada. Ainda que no Banco Mundial por convenção os EUA tenham mais influencia que a Europa.
Em suma é de realçar as mudanças que Sarkozy leva a cabo a nível externo. Contudo no interno não tem tido tanto sucesso. Antes de ser eleito Sarkozy disse que queria seis pontos, de assinalar: levar a França às suas obrigações internacionais, uma mudança na condução da política europeia, garantir transportes mínimos em caso de greve, dar às “grandes écoles” condições para funcionarem de forma digna, acabar com as pensões especiais e privilégios de algumas profissões. Tem feito o que garantiu fazer mas também se afastou da tradicional posição europeísta para uma posição atlanticista, o que lhe granjeou inúmeras críticas. É cedo para pensar Sarkozy mas uma coisa podemos ter presente, a de que este homem é um produto francês e mesmo sendo destemido e determinado precisara mais do que isso para uma reforma ás instituições em França.
Et voilá;)
Merci Duarte!
Com toda a honestidade... amigo Jorge, o Duarte em nada ajudou a tua causa.
Explicou porque é que a França enfrenta a História sempre que se tenta afirmar como super-potência; que Sarkozy se cola aos EUA à procura de um caminho; que terá a vida muito complicada e que dificilmente vai a algum lado.
Daqui onde podes pensar que ele te ajuda na tua pretensão de a França poder substituir o RU? Está a tentar, mas como diz o Duarte, dificilmente vai conseguir.
E ainda estou à espera das respostas às primeiras perguntas.
Ó Né mas eu já percebi que a minha causa não vai longe!
Por isso olha só posso ficar agradecido plo debate ;)
Não será apenas a tua causa a não ir longe. A do Sarko também ficará pelo caminho...
Quanto ao comentário do Duarte, eu acrescento que a França precisou sempre de uma muleta estrangeira para dominar.
Sozinha teve sempre dificuldades de imposição. Por isso foi criando parcerias, invadindo outros estados e sendo "espírito de contradição". Há uns dois anos tentou fazer pirraça aos EUA. Todos nos lembramos...
lol
Olá a todos
A política externa do contra por parte da França tem em Sarkozy um ponto de viragem. O que se pretende não é retirar à Grã-Bretanha o estatuto de “Special Relationship” mas abordar as questões mais prementes do Sistema Internacional ao lado dos EUA em vez de esperar que a Europa se decida a agir. Porém como explicar aos europeus que não vivem sozinhos no mundo e que o estilo de vida conseguido através do plano Marshall não é eterno, o que nos remete para o problema do sistema social europeu.
Entenda-se que não é a França o problema, se é que ele existe… Mas a forma como a Europa reage à guerra e à necessidade de intervir. A guerra da ex-jugoslavia devia ter ensinado às elites europeias que o século XXI estava longe de ser linear, mas não ensinou.
Quando mais a França se fortalecer, melhor. Isto passa-se internamente e externamente. Ser atlanticista é hoje comum, temos a Alemanha e Grã-Bretanha. Para muitos a Grã-Bretanha é o 51 estado dos EUA, seja ou não, a sua política para a UE é contrária ao federalismo. A França de Sarkozy também está longe desta Europa… Esta França já não é a mesma de há dois anos. Esta França quer combater o terrorismo internacional, esta França fez acordos com a Argélia, Líbia é recentemente com os Emirados Árabes Unidos no que toca ao nuclear. Esta França está interessada em isolar o Irão e entenda-se que neste momento está melhor colocada para o fazer do que a Grã-Bretanha. Esta França pode falar à Europa e levar a bom porto a PESD.
Se a França optou por seguir os EUA? Não sei! Só que a França de Sarkozy é realista e compreendeu que com o antigo espírito de glória não iria longe. Já não se pode esconder atrás da UE por temor à Alemanha nem usar esquemas para a enfraquecer, a sua única solução são as alianças, e é isso que tem estado a fazer. No dia em que a Alemanha se aproximar da Rússia e, espero que não ver esse dia chegar, só uma França fortalecida no Sistema Internacional, na Europa e de economia possante no qual os cidadãos estejam mentalizados para uma guerra caso seja necessária pode prosperar.
Os BRIC hoje são a realidade. A Europa é cada vez mais um local pitoresco de antigas tradições. Se a sorte pertence aos audazes o futuro também. E até ao momento a França tem o sido, no futuro… veremos o que Sarkozy irá fazer.
Entretanto temos Sarko a visitar o Medio Oriente com alguns dos seus melhores ministros e os media só falam no facto de a sua noiva não o ter podido acompanhar.
Que disparate.
Duarte, dá um pulo na posta Um pouco de bom senso... e dá lá uma opinião do que por lá se diz. Estou curioso do teu ponto de vista RI ;)
Paris, 20 Jan (Lusa) - A popularidade do Presidente francês Nicolas Sarkozy atingiu o seu nível mais baixo desde a sua chegada ao Eliseu em Maio último, situando-se abaixo dos 50 por cento.
Segundo uma sondagem realizada pelo IFOP e divulgada hoj3 pelo 'Journal du Dimanche', o Chefe de Estado gaulês recolhe apenas 47 por cento de opiniões favoráveis, menos 5 pontos percentuais do que no passado mês de Dezembro e abaixo do primeiro-ministro François Fillon.
Fillon registou este mês uma ligeira subida alcançando os 50 por cento de opiniões favoráveis, mais 1 ponto percentual do que no mês anterior.
O recuo de popularidade do Presidente é notado em todas as categorias populacionais, mas "particularmente acentuada nas profissões liberais e quadros superiores, comerciantes e operários, simpatizantes do Modem, de François Bayrou, da Frente Nacional, de Le Pen, e ainda dos partidos Socialista e Comunista", segundo o jornal.
NL.
Lusa/Fim
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