O Natal é sempre uma altura de dar. E este ano, os moradores dos bairros sociais camarários de Almada tiveram uma bela prenda no sapatinho. O problema deles começa por o sapatinho não estar junto à chaminé (porque eles não têm lareira) mas sim junto aos buracos provocados pela humidade.
A Câmara Municipal de Almada (CMA) resolveu dar-lhes, como prenda de Natal, um aumento de rendas para 2008. Até aqui tudo bem, uma vez que é normal os preços sofrerem aumentos de ano para ano. E, neste caso, as rendas até nem eram revistas há alguns anos. O problema é que qualquer senhorio tem a obrigação de, para aumentar as rendas, zelar pela manutenção das habitações dos seus inquilinos. Mas este senhorio não faz obras desde que as casas foram construídas há 30/40 anos...
E um “senhorio” destes ainda deverá ter mais presente essa preocupação. Senão vejamos:
- Trata-se de um órgão do Poder Local, logo deve dar o exemplo;
- Trata-se de uma autarquia que lançou recentemente uma campanha (com publicidade exterior e cartas a todos os proprietários do concelho) apelando às pessoas para que façam obras de manutenção nos seus edifícios de 8 em 8 anos;
- Trata-se de uma maioria comunista, os tais que defendem os oprimidos e os necessitados;
- Trata-se de um Executivo que tem feito gala de ter as suas contas entre as mais saudáveis de todas as autarquias do país.
É caso para dizer: olha para o que digo e não olhes para o que eu faço.
18 comentários:
Eis um caso de política "caseira" que o Bruno, muito bem, nos traz.
A oposição em Almada tem uma clara dificuldade em atacar a presidente de Câmara em matéria de contas.
São, como diz o Bruno, das mais saudáveis do País.
Aí, pode a Sra. Presidente, ufanar-se. Porém, mais importante que ter as contas em dia, são as opções que fazemos com o dinheiro que administramos.
Cá está onde a porca torce o rabo: poderá a CMA incentivar privados a agirem num dado sentido (manutenção dos edifícios) quando essa não é uma das suas opções?
E onde está o humanismo "característico" do PCP?
De facto, os comunistas têm razão ao combater o Poder e o Dinheiro: estes são os dois maiores inimigos à prossecussão dos ideais programáticos vermelhuscos...
Um comunista que se vê com Poder, ignora que ele não lhe pertence (por isso abusa dele); quando se vê com dinheiro, passa a acreditar na propriedade privada (e esquece a ideia de redistribuição).
Meus caros,
Como já vai sendo meu hábito, fiz o meu trabalho de casa sobre este assunto. Hoje comecei a pesquisa directamente na fonte, mais propriamente em www.m-almada.pt. Parei logo! Ena pá a srª Emília ( senhora com s pequeno e Emília com maiúscula, apenas por respeito à muito digna língua portuguesa) deixou aos visitantes uma mensagem de boas festas. Fui ver o que ela nos deseja…no primeiro paragrafo tudo bem, passei ao segundo e comecei a torcer o nariz…mas quando chego ao terceiro, já não aguentei mais. Assim transcrevo o dito paragrafo:
"O Natal, e também o Ano Novo que tão directamente se associa a esta quadra festiva, constitui igualmente um momento propício à reflexão sobre os passos que fomos capazes de dar ao longo de mais um ano de trabalho e intensa actividade. Em Almada, a nossa vida em colectivo, fica assinalada no ano de 2007 com significativos avanços na rede de equipamentos e infra-estruturas, na requalificação urbana e no planeamento, bem como por uma intensa actividade sócio-cultural em todos os domínios e para todas as idades."
Ena pá ela falou na requalificação urbana e no planeamento! Por isso é que quando vou à varanda de casa me deparo com o outdoor da Câmara a pedir para fazermos obras nos nossos prédios em cada 8 anos. Uhm estou a entender! Afinal a srª. sabe-a toda! Eu arranjo o meu prédio, tu arranjas o teu e ups os prédios da câmara arranjam…os inquilinos, pois claro!
Esta é naturalmente uma situação lamentável. Não me surpreende, porque também eu vivo num concelho comunista e estou já bastante familiarizada com as incongruências que atravessam o Partido Comunista.
É anedótico apelar aos munícipes que façam obras a cada 8 anos, e deixar entregue ao abandono um infindável número de habitações sociais, das quais recebem (actualizada) renda.
Continua a provocar-me urticária os falsos moralismos comunistas e a prática indecorosa com que os executam.
Como diria alguém membro dos vermelhinhos:
contas saudáveis não dá para comer.
É um fartar, vilanagem.
O que eu gosto dessa expressão, Né!
Isto é muito simples ou se dá em condições ou então não se dá nada. Embora a minha pública opinião de não ser a favor dos bairros sociais, tendo em conta que se trata de projectos de conservação autárquica cujo objectivo é proporcionar um nível razoável de qualidade de vida, ora quando se diz, faz-se, e como a lei é igual para todos, aumenta a renda e cede condições de habitação para quem lá mora.
E tal como disse o Bruno, considerando o facto da autarquia ser comunista, está a fugir um pouco a ideologia que constitui o comunismo…
Confesso que estou a ter dificuldades em exprimir a minha opinião, pois estou a tentar abstrair-me da minha opinião face aos bairros sociais: mas já agora deixo uma questão, não querendo ser radical embora tenha consciência de o ser um pouco nesta questão, qual é a o vossa opinião face a oferecer habitação a uma população que paga cerca de 30 euros de renda por mês, ainda vem a público dizer que a renda é muito cara (recordo-me dum episódio semelhante), muitos deles nem sequer trabalham ou sabe lá Deus o que fazem, não seria mais justo dar oportunidades de trabalho às pessoas e cada um lutava para ser a sua própria habitação ou é a tratar as pessoas por coitadinhas que uma sociedade evolui?
LOl Tânia lembras-me um senhor da minha secção, uma estória que me contaram, que ao dizer algo semelhante ao que disseste, foi corrido de uma assembleia de freguesia pelos comunistas com gritos de "Fascista". LOL
Ah muito obrigada Jorge!
Não é uma questão de ser fascista, tu conheces-me e sabes bem que não o sou, mas tenho, digamos uma opinião meramente radical na questão dos bairros sociais!
That's only opinions!
Eu não percebi a opinião da Tânia.
Elucida-me.
(tou numa de JFD: se comentasse agora a tânia apanhava.)
Ó Tânia teve graça por ainda na Segunda falamos disso na reunião da CPS. Eles ficaram muito indignados que o senhor tivesse dito isso...
Foi assim. Um freguês reclamou que lhe chovia em casa e havia ratos. O senhor do PSD virou-se para traz e disse algo do género "Quanto paga de renda? 300 escudos não é?"
E pronto, all hell broke loose.
LOL gostava de ter assistido.
Quem tem razão? Seilá!
Tem de haver equilibrio :)
Boa sorte a explicares a tua posição ao Né LOL
Né apanhava porquê? Por ter uma opinião diferente da tua? :p
A questão é, concordo que haja solidariedade social, que haja contributos por parte do Estado em áreas como saúde, educação, até apoio alimentar se for preciso, agora desculpa lá mas não concordo que se façam habitações para se dar a um preço reduzidíssimo a pessoas que não fazem nada na vida e que nem sequer fazem por fazer! Estou a generalizar a questão, sim admito que estou, ainda se consegue encontra gente nesses bairros que vão lutando pela vida, mas que a maior parte é assim e isso não podes negar!
O que é que o Estado pode fazer? O que ele pode fazer depende das condições em que se encontra, neste momento deduzo que não possa fazer nada pelo estado em que se encontra, mas a sua obrigação era proporcionar trabalho a quem ainda tem idade para trabalhar e aí esses que se empenhassem a procurar casa. Há tanta gente a viver o mês todo com 500 euros de salário e tem de viver também!
Agora esta é a minha opinião e tu das a tua e ninguém apanha de ninguém :p
Não é por não teres uma opinião diferente: o que tu tens não é opinião... é preconceito.
Os bairros sociais são (infelizmente) indispensáveis na sociedade. Eles surgem para suprir um factor de distúrbio: os bairros de lata.
É verdade que muitos serão aqueles que se aproveitam da boa vontade do Estado. Mas aí o que devemos pedir é maior fiscalização e rigor, não acabar com uma política que pode fazer a diferença em tantas vidas.
Um tecto sobre a cabeça, quartos, saneamento e casa de banho fazem a diferença para demasiadas pessoas; não nos podemos dar ao luxo que castigar aqueles que lhe dão bom uso por culpa dos que abusam.
Quando a política é positiva corrigimos os erros e fortalecemos a medida.
Chama-lha o que quiseres, para mim é opinião se para ti é preconceito eu aceito!
Concordo com a tua última frase!
Bem, depois de uma hora a debater este tema com a Tânia, não posso afirmar ser preconceito, mas posso dizer (a Tânia concorda) que na base dos seus argumentos está o desconhecimento acerca dos multiplo factores que rodeiam a matéria.
Tânia, tu generalizas numa área em que o Estado deve, precisamente, fazer o contrário: identificar as situações em que deve agir.
Mas eu sei o porquê da tua posição: o Estado dá sem critério! Demasiadas vezes!
Mas lá por dar, tantas vezes, sem critério, não quer dizer que o acto de dar seja mau ou condenável. Deve continuar a dar (casas, educação, tratamentos de saúde, patrocínio judicial, etc), até porque podes ser tu um dia a precisar da ajuda e não teres ninguém a quem recorrer senão ao Estado.
É (também) para isso que ele serve.
Tanto o Estado deve dar, fiscalizando, que, normalmente, estas situações são acompanhadas por Técnicos e Assistentes Sociais, exactamente para identificarem situações específicas que mereçam atenção das entidades competentes.
O princípio da criação de Habitação Social é o mesmo que o de todo o Estado Social. E a Habitação é, sem dúvida, um área em que deve haver esse cuidado pois sem haver morada condigna para a esmagadora maioria dos munícipes não se consegue ter um minicípio desenvolvido.
Isto não quer dizer que se sustente pessoas que não querem fazer nada por elas próprias. Por isso é necessário fiscalizar. Por isso é necessário diferenciar situações. Por isso é necessário, neste caso específico, perceber que há pessoas que vivem em condições desumanas porque não têm possibilidade de fazer obras nas suas casas.
E há outras que têm possibilidades de o fazer mas que não têm a obrigação de se substituir ao senhorio. Principalmente quando esse senhorio não cumpre nenhuma outra das suas obrigações...
Deixem-me ainda dizer que eu sou CONTRA os Bairros Sociais. Sou é a favor da existência de uma política de Habitação que preveja a necessidade de Habitação Social.
Habitação Social e não Bairros Sociais, no sentido em que os guettos são sempre negativos e acabam por provocar problemas de criminalidade e insegurança.
Por isso digo, uma política de Habitação, subordinada à Estratégia em termos de Urbanismo, precisa de ter preocupações sociais e de trabalhar, constantemente, no terreno, identificando a montante situações que poderão ser problemáticas e contribuindo para o desenvolvimento do município.
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