quarta-feira, janeiro 02, 2008

Mensagem Ano Novo PR

A Mensagem de Ano Novo do Presidente da República soou bem mais equilibrada que a do Primeiro-Ministro. Infelizmente ainda não está no You Tube mas podem sempre vê-la em http://www.presidencia.pt/index.php.

Podia apresentar-vos a minha análise mas já encontrei alguém que a escreveu por mim: José Manuel Fernandes, no Público de hoje. Com a devida vénia, heis a transcrição.

A mensagem de Ano Novo do Presidente da República é um quase perfeito contraponto à de Natal do primeiro-ministro. Não foi uma resposta, mas, em vez do optimismo sem reticências de Sócrates, Cavaco preferiu acrescentar um "mas" a cada um dos sucessos governativos e trocou a euforia pela exigência.

Com excepção do elogio à presidência portuguesa da União Europeia, onde não poupou adjectivos, o Presidente preferiu sempre sublinhar o caminho que falta percorrer. Onde Sócrates viu por norma um copo meio cheio, Cavaco viu quase sempre um copo meio vazio. Ou nem isso. A situação da economia melhorou? Sim, mas não há garantia de que nos estejamos a reaproximar da Europa. As finanças públicas estão mais equilibradas? É verdade, mas o desemprego é preocupante e muitas famílias empobreceram. Há mais jovens a estudar? Ainda bem, mas é bom não esquecer os níveis de exigência na avaliação dos alunos. Vamos receber mais fundos em 2008? Sem dúvida, mas isso é só uma oportunidade a não desperdiçar e deve-se actuar com transparência. Há novas leis para melhorar o funcionamento do sistema de justiça? Há, mas os cidadãos ainda não sentiram grandes diferenças.

Se nestes pontos o Presidente deitou alguma água fria no calor do entusiasmo governamental, noutros enviou recados claros. É preciso dialogar mais, ou seja, é bom reduzir o nível de crispação. É necessário que se perceba que os cortes no Serviço Nacional de Saúde não prejudicam os utentes. É importante dar mais atenção à baixa taxa de natalidade e à alta sinistralidade. E não se pode ignorar o despovoamento e envelhecimento do interior.

Tal como há um ano, a mensagem do Presidente não foi inócua. Menos pelo seu tom, que ainda se manteve optimista e positivo, mas pelo contraste com a do primeiro-ministro. Foi terra a terra, próxima do sentimento do cidadão comum, que mais depressa se reconhece no país descrito por Cavaco do que no imaginado por Sócrates.


P.S. O PSD é o único partido que não comenta a mensagem do PR. Não sei se, no estado em que estamos, podemos prescindir deste ciclo noticioso. Não compreendo a estratégia comunicacional (ou se a há).

13 comentários:

jfd disse...

Né concordo contigo, não sei que se passa com o PSD. Estamos a perder o ciclo. Mas talvez poderemos estar a ganhar pela ausência, olha já não sei. Mudei de ideia in loco:) Tudo dependerá do que for dito.

Eu tenho três notas:

-Fiquei incomodado por não ter sido dirigida uma palavra sequer aos não portugueses. Aos que escolhem Portugal para trabalhar e tentar melhorar as suas vidas. O PR é eleito por Portugueses para representar Portugal e os Portugueses. E eu como Português gostaria de ter visto votos de bom 2008 a todos os que estando longe dos seus países de origem, estão em Portugal a levar uma vida honrada e de trabalho honesto!

- O tom foi muito bem conseguido, foi genuíno, sincero e gostei mesmo muito de ouvir o meu PR a falar

- Gostei muito da nota sobre os vencimentos dos gestores de algumas empresas. Embora me tenha gerado sentimentos conflituosos. Afinal que temos nós com isso? A remuneração de um gestor de uma empresa privada é a que os seus accionistas entenderem. Tudo tem de ser legal. Ponto. Mas depois pensei que fez bem o PR em puxar para o lado moral da coisa. Pois fica tudo enquadrado no que foi dito antes. E assim tira-se a cassete do toca cassetes da esquerda e eleva-se o assunto para uma questão nacional, de todos os Portugueses!

Paulo Colaço disse...

A mensagem há muito esperada!
Ainda não está próxima a viragem de atitude presidencial face ao Governo, mas é uma prova que não se dorme em Belém.

Já precisávamos deste sinal. E o mais curioso é que Cavaco Silva nem tinha qualquer necessidade duma mensagem de ano novo assim.

Talvez tenha considerado ser essencial usar este tom dada a ausência de PSD com mira nos alvos certos.

Não sei quem foi que disse ao novo líder do PSD que ele tinha de se apagar mas, calando mais que falando, pode ter encontrado a forma de se manter à tona...

Anónimo disse...

o argumento é que o PSD respeita a mensagem do PR e, como tal, não comenta.

Muito bem vista a questão dos imigrantes Jorge.

José Pedro Salgado disse...

Diga-se o que disser sobre o comportamento de Cavaco perante o P.M., está a ser coerente.

Dá uma no cravo e outra na ferradura, e veio com esta mensagem provar que não anda (como o Colaço bem disse) a dormir.

Quanto aos vencimentos, estou em crer que dentro da ideia de magistratura de influência que cabe ao P.R., este faz bem em suscitar estes assuntos, se realmente o preocupam.

jfd disse...

LOL
A Ana Drago a barafustar na Sic Noticias devido à mensagem do PR no que toca aos vencimentos tocar os dominios da esquerda é demais... Não sei se foi bem isto que ela disse, pois estava acabado de chegar a casa. Mas tem graça caso seja. Que lata hein??!?!?!

Ouvi assim de repente o Pacheco Pereira a referir-se à mesma passagem como sendo demagogia do PR, estou ansioso pela mensagem inteira; venha a quadratura!:)

Anónimo disse...

E bem esteve JPP e Lobo Xavier. Fosse o LFM a dizê-lo e todos levantariam a mão e de dedo em riste diriam: Olhem o perigoso e nefasto populista! ;)

Paulo Colaço disse...

Uma nota relativamente aos vencimentos dos quadros superiores das empresas privadas: é tão ridículo o Estado meter a mão nesse assunto quanto estipular tectos máximos para as mesadas que os pais dão aos filhos.

Anónimo disse...

Está tudo explicado quanto à estratégia comunicacional do Partido. Hoje, pelas 16h50m (nem há uma hora atrás), foi publicada esta nota no Portugal Diário:

PSD ASSINA CONTRATO COM CUNHA VAZ

A consultora Cunha Vaz & Associados e a direcção do PSD deverão assinar esta quinta-feira um contrato válido por dois anos, com início a 15 de Janeiro, disse à agência Lusa António Cunha Vaz.

De acordo com António Cunha Vaz, «managing partner» e fundador da Cunha Vaz & Associados, o contrato deverá ser assinado na sede do PSD por si, pelo presidente do partido, Luís Filipe Menezes, e pelo secretário-geral do partido, José Ribau Esteves, esta tarde.

As cláusulas do contrato «são reservadas», segundo António Cunha Vaz, mas o objectivo «é ajudar o PSD na reestruturação da sua área de comunicação», incluindo «as relações com a comunicação social, a comunicação interna, com os militantes, e a parte de audiovisuais».

Serão aproveitadas «as estruturas existentes [no PSD], maximizando o seu potencial», acrescentou.

«Internamente, a operação será assegurada pelo secretário-geral, que terá permanentemente com ele o senhor José Mendonça [director do gabinete de informação e relações públicas do PSD]. Nós daremos o apoio que for necessário», afirmou ainda Cunha Vaz.

Questionado sobre o valor a pagar pelo PSD pelos serviços de consultoria, Cunha Vaz respondeu que não comenta essa matéria.


Não explica porque temos de ficar calados este tempo todo.

Anónimo disse...

É lamentável quando um partido político precisa de uma agência de comunicação para falar com jornalistas e chegar ao país.
Ainda mais grave é o público saber do negócio pela agência e não pelo partido político.

Já agora: esse negócio não deveria ser sigiloso?

jfd disse...

Discordo :)
Não é nenhum desmérito profissionalizar a comunicação do Partido, a meu ver.

Anónimo disse...

Certo, mas a pergunta mantém-se: será um negócio público? A ser público, quem o anuncia?

José Pedro Salgado disse...

Big mamma:

Não estou a perceber bem a questão, mas como o JFD disse, não há mal nenhum em profissionalizar a comunicação do partido.

O problema com este tipo de empresas resulta muito da imagem que muitas vezes nos chega das américas (estes gajos agora estão em todos os posts) com os spin doctors americanos, e que leva as pessoas a temer que a profissionalização da transmissão da mensagem passe por uma distorção das políticas de forma a adequar as políticas à mensagem e não a mensagem às políticas.

Obviamente que algo que passe por aqui estará sempre errado, mas, por outro lado, uma mensagem clara só beneficia.

Aliás, eu diria mesmo que um dos principais problemas da política em Portugal (em qualquer sector ou quadrante) passa tanto pela deficiente explicação das medidas como passa pela deficiência das medidas.

Paulo Colaço disse...

Para reflectir:
“As palavras de cautela de Cavaco Silva no primeiro dia do ano fazem mais sentido à maioria das pessoas do que as de alegria de José Sócrates no Natal. Não é por negar a crise que ela desaparece. É sempre melhor enfrentá-la.”
Bruno Proença (Diário Económico)