sábado, fevereiro 03, 2007

A escola é a retrete cultural do opressor


Há 4 anos morria João César Monteiro, cineasta português. Autor de filmes como “Recordações da Casa Amarela”, “As Bodas de Deus” e “Branca de Neve”, este realizador fica conhecido, entre outras malandragens, por ter realizado um filme tão escuro (!!!) que não se vê nada.

Quando estreou “Branca de Neve”, filme do qual pouco se vê porque, segundo é dito, alguém pendurou o casaco na lente, ficaram no ar as dúvidas: será que o Estado deve apoiar (tão generosamente) cultura para elites? Será que dinheiros públicos devem ser gastos em arte de valor duvidoso?

Gostaria de ouvir a opinião dos Psicóticos (e dos nossos frequentadores assíduos) quanto a estas perguntas. Qual deverá ser o papel do Estado perante a cultura? Apoiar apenas o que vende? Apoiar cultura de massas? Apoiar apenas o que, por falta de verbas, corre o risco de morrer? Apoiar apenas os elementos culturais históricos para não os deixar morrer, abstraindo-se de ser parte do movimento cultural contemporâneo?

Notas:
1 – o título do post é uma frase de João César Monteiro
2 – Conheci JCM. Era muito educado. Também absorto. Foi quando trabalhei numa livraria. Ele pedia-me livros. Eu não lhos dava. Vendia-lhos.

6 comentários:

José Pedro Salgado disse...

A cultura (como aliás o ensino) é daquelas coisas que nasceu nas elites e depois se democratizou. Ora, como qualquer coisa que foi feita para elites, quando democratizado, é um desastre em termos económicos.

Teatralmente falando, por exemplo, entre o dinheiro que um teatro a sério gasta em luzes, adereços, cenários, figurinos, efeitos especiais, salários, manutenção e direitos de autor (só para dizer as que agora me lembro) é muito difícil, para não dizer que é matematicamente impossível, uma peça dar lucro.

E dir-me-ão vocês "então e o amor à arte? é só pelo lucro?". Não, existem imensas pessoas a trabalhar na cultura hoje em dia pelo amor à arte. Continuam é a existir dois problemas: algum lucro é necessário para reinvestir para próximas produções; e o facto de o amor não pagar contas (a não ser de uma perspectiva muito instrumental da coisa).

Falta considerar um factor. O apoio de privados. Embora sejam ainda insuficientes, já existem várias instituições privadas que, com o objectivo de fazerem boa publicidade ao seu produto, se associam e patrocinam produções de vários âmbitos.

Assim, a minha resposta à pergunta sobre o que deve o Estado fazer, deve fomentar o investimento dos privados na cultura, fazendo uma transição gradual de forma que uma retirada repentina não leve a um vazio de patrocínio.

Para terminar gostava de chamar a atenção para um estudo publicado pelo “Público” em 16 de Novembro de 2006 que foi feito a nível de toda a UE e que nos indica que a indústria da Cultura tem um peso na economia europeia que ultrapassa o sector automóvel.

Anónimo disse...

O apoio à Cultura é algo a estimar. A questão é que o Estado não apoia a Cultura, o Estado presta apoio a obras\projectos culturais.

Onde separamos o Estado-pagador do Estado-condicionador do meio cultural? Não há verdadeira liberdade cultural quando a Cultura começa e acaba com dinheiro público.

Acredito no Estado promotor, no Estado detentor de espaços culturais, não no Estado das subvenções aos obreiros. Deve ser o seu público a recompensar o trabalho de autor, e não o Estado a impôr autores ao público.

P.S. Acabem com o Ministério da Cultura, Secretaria de Estado na esfera do Primeiro Ministro é suficiente.

Dri disse...

O Estado contribui para termos uma cultura de elites pois continua a subsidiar projectos que afastam uma cultura de massas. Já para não falar que continuam a ser projectos culturais que beneficiam essencialmente os grandes centros urbanos.
Não sou tão radical como o Né que refere o fim do Ministerio da Cultura mas entendo que a politica cultural portuguesa deveria ser mudada mas isso implicaria uma mudança em varios ministerios e acima de tudo na mentalidade dos portugueses.

Lisete disse...

Endendo que o Estado deve adoptar sobretudo medidas de incentivo aos privados, melhorando nomeadamente a Lei do Mecenato, através da qual os privados dinamizadores de actos culturais beneficiariam de um quadro fical mais atractivo.
Assim, o Estado relegaria para si mesmo apenas a definição de políticas e estratégias na área da Cultura e deixaria de ser o Estado subsidiário da cultura.

Além disso, entendo que a Cultura se deve associar a outras áreas, como ao Turismo, por exemplo. Isto não somente numa lógica de duplo aproveitamento de verbas de promoção, mas também no sentido de fomentar o interesse da população para esta área. Recordam-se do que foi feito no turismo com o 'vá para fora cá dentro'? Hoje é tão 'in' fazer essas 'escapadinhas'...

Lisete Rodrigues

Bruno disse...

Confesso que me faz alguma confusão que se coloque uma peça cultural no mercado, quase exclusivamente à custa de apoios do Estado e depois essa peça só chegue a algumas pessoas. É que aí parece-me que o efeito que pretendíamos que provocasse fica seriamente comprometido...

Também é verdade que grande parte da má opinião geral sobre a cultura que o Estado apoia tem a ver com a forma desorganizada como esses apoios são concedidos. Sem linhas orientadoras clara, sem uma política cultural definida, sem rumo.

Concordo com algumas opiniões já aqui expressas de que a cultura terá que se socorrer, cada vez mais da iniciativa provada, devendo o Estado assumir um papel de incentivador/regulador. O Estado deverá fomentar essa forma de financiamento da cultura por um lado e avançar com acções de formação, educação e motivação para a cultura.

Anónimo disse...

Muito bem Lisete e Vasco: a primeira pela proposta da integração da cultura no turismo (ou vice-versa, não quero ferir susceptibilidades); o segundo por nos recordar o parente pobre quando se fala de política cultural, o nosso espólio histórico.

Thumbs Up!