domingo, agosto 24, 2008

E os alicerces?

Educação não é só o Estatuto da Carreira Docente. Nem tão só aulas de substituição.
As prioridades do ME têm sido atacar o pessoal docente e falsear as estatísticas do insucesso escolar.

O Ensino Pré-Escolar tem sido escandalosamente esquecido e negligenciado por este ME. Em 3 anos apenas se ouviu da ministra a possibilidade de este ser transferido para a alçada das IPSS’s.
No ano passado, 12% das crianças inscritas num Jardim de Infância Público não teve vaga, segundo a Inspecção-Geral da Educação. Os mesmos dados apontam para que 72 mil crianças não frequentem nem o ensino público, nem o privado.

E falamos nós em TGV’s, aeroportos e terceiras travessias.
Parece que não tomamos conta das nossas crianças.

18 comentários:

Paulo Colaço disse...

O pior sistema de ensino é aquele que, logo no início, em vez de integrar, exclui.

Há famílias desesperadas.
A juntar às dificuldades económicas junta-se esta indefinição, que levará, quase garantidamente, a mais uma machadada (a creche privada).

Olheiro disse...

-Este governo já nos habituou a um discurso vago e generico quando se fala dos objectivos da educação o truque usado é do mais básico que existem em politica faz-se uma análise dos problemas, diz-se meia dúzia de objectivos super vagos e não quantificáveis e oferece-se uma solução que muita embora não resolva problema nenhum consegue ter o consenso da parte do publico de que faz falta, mete-lhe depois um objectivo e depois de cumprido faz-se um conferência de imprensa como forma de auto-elogio.
É ridículo este forma de actuar é a politica no seu pior e é isso que o Governo de José Sócrates nos oferece todos os dias.

-Na educação não é diferente o mediatismo do incluir o inglês nos planos curriculares é francamente exagerado e inexplicável, o facilitar nos exames de acesso ao ensino superior é um desincentivo ao trabalho, promovendo assim o desleixe.

-A ausência de um rumo para todo este sistema de ensino é evidente, mas lá continuaremos nós a caminho do fantástico desenvolvimento cultural.


PS: O que será que Sócrates quer dizer quando nos vamos desenvolver e vamos ter um melhor futuro?

Bruno disse...

A Guida tem uma grande tendência para este tema e ainda bem porque é - sem dúvida - um alicerce fundamental de qualquer sociedade! Como é a Segurança e a Saúde, duas áreas em que vimos e vemos que este Governo pouco tem feito e cujos problemas saltam à vista de cada vez que os jornalistas se debruçam sobre eles.

E este alicerce carece realmente de ser sedimentado quando não garantimos sequer aos mais novos que possam iniciar o seu percurso educativo. Mas que raio! Se já não estamos de tanga é assim tão difícil ter uma rede pré-escolar decente???

Olheiro disse...

Eu acho que o que impede existir uma rede pré-escolar decente é simplesmente não se saber como fazer isso, esta é a dura da realidade com que vive o Governo, têm uma ministra á deriva que não sabe o que está a fazer.

Margarida Balseiro Lopes disse...

Uma rede pré-escolar “decente” traz custos. Mais estabelecimentos de ensino: os que temos estão à beira da ruptura. Mais educadores de infância. Mais auxiliares de acção educativa. Mais fundos para equipar as instalações com material pedagógico. Sem falar do lobby do sector privado.

Não deixa de ser irónico que Portugal seja um dos países da União Europeia que mais investe em Educação e simultaneamente tenha piores resultados. Afinal de contas, nós não sabemos investir. Só assim se justifica que há mais de 20 anos se fale numa rede pré-escolar pública, e pouco foi feito.

Numa altura em que temos um grave problema de natalidade, é suicida não haver sequer uma rede pré-escolar pública que responda às necessidades da população.

Margarida Balseiro Lopes disse...

E sim, Bruno, este é talvez o tema de que mais gosto. ;)

Anónimo disse...

Concordo com a tua visão do problema Guida. Mas uma coisa é certa, senão fossem os milhares de avós e avôs deste país e muito provavelmente as dificuldades das crianças seriam ainda muito maiores.

Até porque muitas vezes são eles que passam o tempo com os netos, cuidando deles, e perante as dificuldades económicas dos pais, acabam por pagar o infantário "milionário" dos miudos.

Perante esta realidade o Governo de Sócrates tem sido de uma nulidade constante, tomando medidas erradas e não produzindo nada de concreto ou de satisfatório para as familias.

Luis Melo disse...

Como chegam os jovens a criminosos? É simples...

Não tendo lugar em creches ou jardins de infância, são "abandonados" pelos pais (que têm de trabalhar) e deixados com outras pessoas, que frequentemente não lhes transmitem amor, carinho, nem educação (pudera, não são pais deles).

Passando para o 1º cilco, dão-se mal. O que é normal já que desde pequenos não sabem o que é "andar na escola" ou conviver com outras crianças. Os problemas e o insucesso escolar são frequentes mas o sistema manda "passar".

No 2º ciclo, os pais já não os seguram e não é nesta idade que os vão conseguir educar. Adolescentes que são, têm sentimento de libertinagem e sentem que tudo merece uma revolução "á sua maneira".

Obviamente os "coitados" dos professores não têm mão neles nem conseguem ensinar seja o que for. O sistema manda "passar".

Ao sair do ensino obrigatório, não têm educação, valores, principios. Não se sabem comportar em lado algum. Não sabem fazer nada, nem têm capacidade de aprender, de se desenrascar.

Tudo isto acaba em... já sabemos. Temos milhares de exemplos em Portugal.

Margarida Balseiro Lopes disse...

O Melo e o Nogas (já que ambos são Luís) tocaram na mouche.

O papel dos avós tem sido fulcral para muitas crianças. Ou por ficam com eles enquanto os pais trabalham, ou no suporte com as despesas de educação (vulgo, jardins de infância e colégios privados). Mas, tendo até em conta que a idade com que se atinge a reforma é cada vez mais avançada, esta é uma situação que se tende a agudizar.

Por outro lado, a importância e essencialidade que a frequência do pré-escolar tem no desenvolvimento psico-social das nossas crianças explicará, sem dúvida, possíveis desvios. O não se saber comportar numa sala de aula, mau relacionamento com colegas, problemas de integração, métodos de trabalho: todos estes aspectos são desenvolvidos e potencializados num jardim de infância.

Margarida Balseiro Lopes disse...

Errata: "Ou porqueficam com eles enquanto os pais trabalham, ou no suporte com as despesas de educação (vulgo, jardins de infância e colégios privados)."

Anónimo disse...

Concordo inteiramente contigo Margarida. É inconcebível que num país onde se pretende incrementar a natalidade, nenhum casal possa tomar a decisão de ter um filho, sabendo-se e sentindo-se efectivamente apoiado por uma rede de cresces que funcione.
Por outro lado, o Luís Melo fala também de uma questão fundamental. Ao passarem cada vez menos tempo com os pais, poderemos estar a fazer muito poucas exigências emocionais e intelectuais a estas crianças que vêm o seu potencial de desenvolvimento ser comprometido.
É por isso que é tão urgente criar os equipamentos, como assegurarmo-nos da qualidade dos seus técnicos e consequentemente dos serviços prestados.
Para além disso, se crianças socialmente desfavorecidas se virem desde muito cedo integradas num ambiente estimulante, que lhes permita ter acesso a modelos de educação e a referências saudáveis, não será mais fácil a sua integração no 1º ciclo. Não será mais fácil que os seus objectivos escolares e profissionais possam ir para além do ciclo vicioso da exclusão?

jfd disse...

Guida, embora sejam boas notícias para o ano que vem, parece que o Governo não anda atento aqui ao blog...
Reparem especialmente, no negrito do fim...

Ao que parece o DE teve acesso preliminar ao OE (yeah right!), e então publica esta propaganda... ups! notícia sobre o assunto.



A Educação será uma das apostas fortes do Governo para 2009. De acordo com os ‘plafonds’ preliminares de despesas para o próximo Orçamento de Estado (OE), os ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) serão dois dos que beneficiarão de maiores aumentos – tanto para despesas de funcionamento, como para investimento.

A preparação do OE para 2009 já arrancou e o Diário Económico teve acesso aos primeiros tectos de despesa que foram atribuídos aos vários ministérios. Em concreto, o documento mostra as despesas de funcionamento em sentido estrito – que cobrem os salários e outras despesas correntes – e o capítulo 50, que identifica os tectos de investimento.

A análise dos números revela que, para já, o discurso sobre as prioridades políticas vai ao encontro das prioridades orçamentais. O Ministério da Educação verá as suas despesas de funcionamento aumentadas em 10,8% e as de investimento crescer 3,4% no OE para 2009, face ao orçamentado para este ano.

Também no Ministério da Ciência e Tecnologia os aumentos são significativos. A pasta recebe mais 39,9% para funcionamento do que o orçamentado em 2008. No capítulo 50, o financiamento nacional para investimentos passa de 432,5 milhões de euros em 2008, para 490 milhões de euros – o que representa um aumento de 13,3%.

A análise dos números mostra, no entanto, que a regra não é sempre a mesma para todos os ministérios. Há pastas onde a ordem é cortar e outras onde a folga é aumentada.

Estes ‘plafonds’ de despesa deverão ser ainda ponderados com a execução orçamental de 2008. Teixeira dos Santos já mostrou que a orçamentação é feita no seguimento das despesas executadas e não apenas com as orçamentadas no ano anterior. De acordo com os dados da Direcção-Geral do Orçamento, a execução está sob controle, o que indicia que quando há aumentos, estes deverão ser reais e não para fazer face a uma derrapagem. Da mesma forma, os cortes podem significar apenas um ajuste a uma execução feita com folga, neste ano.

O OE para 2009 será difícil: se, por um lado, o Governo garante que quer manter a política de consolidação orçamental, por outro, o próximo ano será não só de eleições, como ainda será prejudicado por uma conjuntura económica desfavorável.

Neste sentido, destacam-se as subidas dos ‘plafonds’ de funcionamento e de investimento do Ministério da Economia. As despesas de funcionamento crescem quase 20% e o capítulo 50 mostra mais 2,3 milhões de euros disponíveis. A conjuntura adversa e a necessidade de estimular a economia poderão ser uma justificação.

Estes valores já foram aprovados pelo ministro das Finanças. No entanto, os montantes deverão ser sujeitos a alterações, já que a discussão política ainda não aconteceu.


O que vai marcar o Orçamento do Estado para 2009

1 - PS coloca políticas sociais na agenda
Numa ‘rentrée’ política que será feita a três tempos, em Setembro, os socialistas têm agendados dois temas de peso em maré eleitoral: políticas sociais e educação. “As folgas que resultam da consolidação orçamental são para ser canalizadas para as questões sociais”, justifica Vitalino Canas. Isto mais se justifica, continua o porta-voz do PS, “numa altura em que a melhoria económica do país depende da oportunidade dada ao tecido social”. Há que “criar condições para as pessoas participarem no desenvolvimento do país”, diz, exemplificando com a necessidade de “estimular o consumo”. A aposta na Educação é outras das vertentes para artilhar um país que “tem dificuldade em resistir à crise internacional”.

2 - Números preliminares revelam mais investimento
A comparação dos ‘plafonds’ de despesas para dez ministérios – Negócios Estrangeiros, Administração Interna, Justiça, Economia, Obras Públicas, Trabalho e Segurança Social, Saúde, Educação, Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e Cultura – revela um aumento médio de 4,1% do investimento face ao orçamentado para este ano, para o mesmo universo. Em 2008, estes ministérios arrecadaram 69,2% do bolo total de investimentos. Comparando os tectos para despesas de funcionamento, a diferença é quase nula: as despesas sobem 0,1% este ano. De fora destas contas ficam o Ministério das Finanças, o Ministério da Agricultura, o do Ambiente e o da Defesa.


Ensino na mira

- O Ministério da Ciência e Ensino Superior ganha mais 39,9% para despesas de funcionamento e 13,3% no capítulo 50, face ao OE para 2008.

- Para 2009 estão destinados 5.402 milhões de euros para despesas de funcionamento do Ministério da Educação. Em 2008 houve 4.874,9 milhões de euros disponíveis.

- Dotações para a educação pré-escolar e para o ensino particular e cooperativo não têm diferenças significativas. A dotação para o pré-escolar mantém-se inalterada (334,1 milhões de euros) e para o ensino particular e cooperativo cresce de 441,6 para 450 milhões de euros.

Inês Rocheta Cassiano disse...

Esta crítica da Guida vem lembrar-me de uma medida que sempre fui fã: os cheques escola.
Não aceito que os pais por não terem os meios, porém tendo a vontade, não possam pôr os seus filhos numa creche: as públicas estão sem vagas e as privadas requerem algum poder económico.

A formação adequada a cada nível etário é fundamental, a partir desta tenra idade devem ser ensinados alguns conceitos basilares como cidadania, convivência, e como dizia o meu examinador no exame de condução, direito rodoviário.

Se não ensinarmos desde cedo e fomentarmos o crescimento humano das nossas crianças, os resultados reflectir-se-ão anos mais tarde.

É preciso não olhar somente para os exames de 9º ou 12º, o estatuto dos professores, as aulas de substituição, entre muitos outros. A educação deve fazer-se o mais cedo possível.
E por isso defendo o sistema de cheques-escola ou cheques de ensino para que os encarregados de educação tenham igualdade de oportunidades para escolher a plena formação dos seus filhos.

Porque afinal de contas, as nossas crianças são o futuro...

jfd disse...

E como seria financiado?
E como seria atribuido?

Anónimo disse...

Se não se importam, umas notas soltas de quase-concordância:

Vou dizer o óbvio:

-cuidado a defender tão acerrimamente o pré-escolar, porque depois de implantada uma rede ainda temos de provar que conseguimos instituir padrões de exigência elevados;

-os jovens não são piores por não irem à creche, nem têm falta de valores ou de organizaçao porque não tiveram creche: esta falha estrutural existe porque em nenhum ponto é-lhes fornecida essa informação, salvo decerto várias excepções, que no cômputo geral serão uma minoria;

-não liguem tão causalmente a educação à marginalidade, porque se tal fosse não teríamos pessoas instruídas a entrarem nas estatísticas: falhamos porque faz parte da nossa condição de animais, do nosso livre arbítrio. a educação certamente ajudar-nos-ia, mas também não é a panaceia;

-parabéns aos nossos avós, principalmente aos que ficam a tomar conta dos seus netos enquanto os pais labutam. à procura de emprego ou no seu emprego.


Uma das maiores preocupações do século XXI é como "ocupar" a 3ª Idade, para que aproveitemos o seu contributo pós-reforma, e como cuidar da "4ª idade". E, só para variar, ninguém aborda sériamente o tema.

Margarida Balseiro Lopes disse...

Né, permite-me que não diga o óbvio. Vou apenas dizer o que penso. ;)

“cuidado a defender tão acerrimamente o pré-escolar, porque depois de implantada uma rede ainda temos de provar que conseguimos instituir padrões de exigência elevados”
Não percebo esta tua ideia. É que seguindo esta linha de raciocínio não teríamos prisões com receio de que os reclusos escapassem, ou não teríamos hospitais com medo que morresse alguém. O risco de não atingirmos os padrões de exigência elevados é igual tanto no pré-escolar como no básico ou no secundário? Ou acharás que os educadores estarão mais mal preparados? ;)

“os jovens não são piores por não irem à creche, nem têm falta de valores ou de organizaçao porque não tiveram creche”.
Desculpa Né, mas não conheces a realidade de um jardim de infância. Sabes que trabalho é desenvolvido pelas educadoras? Qual é a finalidade da frequência do pré-escolar? Convido-te a conversares com uma professora de 1º ciclo. Ela, melhor do que ninguém, explicar-te-ia a diferença de uma criança que frequentou o pré-escolar, da criança que tem como primeira ida à escola, no 10 ano.
A educação pré-escolar destina-se às crianças entre os três anos de idade e a idade de ingresso no 1.º ciclo do Ensino Básico. A Lei-Quadro da Educação Pré-escolar considera-a "a primeira etapa da educação básica no processo de educação ao longo da vida, sendo complementar da acção educativa da família, com a qual deve estabelecer estreita cooperação, favorecendo a formação e o desenvolvimento equilibrado da criança, tendo em vista a sua plena inserção na sociedade como ser autónomo, livre e solidário" (Art.º 2.º). A mesma lei define, entre outros, os seguintes importantes objectivos: promover o desenvolvimento pessoal e social da criança, fomentando a sua inserção em grupos sociais diversos; contribuir para a igualdade de oportunidades no acesso à escola e para o sucesso na aprendizagem; estimular o seu desenvolvimento global, no respeito pelas suas características individuais e desenvolver a expressão e a comunicação através de linguagens múltiplas. São, portanto, inúmeras as vantagens da frequência da educação pré-escolar, havendo necessidade de promover a sua obrigatoriedade.
É clara a diferença entre uma criança que frequentou um jardim de infância, convivendo com outras crianças, onde lhe inculcaram regras de convivência e de trabalho com os outros, e entre uma criança que apenas conhece a realidade familiar e pouco mais.

“não liguem tão causalmente a educação à marginalidade, porque se tal fosse não teríamos pessoas instruídas a entrarem nas estatísticas”.
Este é um não argumento. Dentro dessas mesmas estatísticas, é possível constatar, por exemplo, que os delitos mais graves e violentos são cometidos por pessoas com poucas habilitações.

E, asseguro-te que tratei do tema o mais seriamente que pude. Como sempre. ;)

jfd disse...

Pelo que vejo a informação que aqui trouxe não é relevante...

Anónimo disse...

Margarida,

leste o meu comentário como se fosse uma objecção. Não é objecção, daí eu dizer que era uma quase-concordância.

Apenas acho os comentários vão numa toada como se todos os males que sofremos venham de não termos creches e que a solução para o futuro da Humanidade repouse numa rede nacional pré-escolar.

Não é assim. Há mais factores e variáveis. Quis introduzir um pouco mais de calma, pois a defesa laudatória e categórica de uma ideia é perniciosa para a própria ideia.