segunda-feira, agosto 20, 2007

A Voz do Deserto



Há uma razão para o afastamento das pessoas da política: regimes fechados e estagnados tendem a provocar surdez e apatia. Debatem e concentram-se em temas que poucas vezes dizem respeito ao nosso viver, fechados numa bolha hermética de partidarismo e afinidades pessoais.

Entendemos por essencial que se deve dar outra dimensão à vox populli na Casa-Mãe da Democracia portuguesa: o Parlamento.
Devemos dar a oportunidade ao homem médio de se dirigir à Nação frente a frente com todos os representantes de todos os portugueses. Queremos dar palco às pessoas que não têm voz, que se queixam, queremos dar uma oportunidade ao cidadão anónimo a quem ninguém dá importância, aos que não dominam o politiquês, o PIB ou os boletins trimestrais do INE, mas que são os primeiros a sentir as dificuldades geradas por cenários menos positivos.

Pretendemos eliminar barreiras e confrontar directamente o poder político com as preocupações que todos sentem, pretendemos demolir a torre de marfim em que os dirigentes se enclausuram demasidas vezes demasiado frequentemente. Pretendemos abalar o establishment, o modo regular de fazer as coisas, o dia-a-dia burocrático da classe política.

Queremos dar uma oportunidade à maioria silenciosa de se manifestar, dos que não têm voz a falar, dos que não têm visibilidade a olhar os seus representantes nos olhos e dizer-lhes o que lhe vai na alma.

Queremos mais pessoas na política, pois a política sem pessoas não existe.

22 comentários:

Anónimo disse...

Após a última iniciativa do Psicolaranja, subordinada ao tema “Reforma do Parlamento”, foi enviado a todos os psicóticos um questionário tendo em vista a redacção de um “white paper” que definisse o rumo que desejamos para o sistema político português.

Encontramo-nos ainda numa fase embrionária do documento, mas apenas pelas respostas ao questionário alguns dos assuntos que foram introduzidos mereceram, aos nossos olhos, discussão mais apurada e alargada.

Para além do normal viver do blog, nas próximas semanas irei introduzir temas cuja discussão esperamos esclarecedora.

Anónimo disse...

Esta discussão é tendencialmente contaminada por conversas cruzadas: tende-se a confundir o porquê com o como. Faço desde já um apelo a que tenham presente esta distinção no desenrolar da discussão, para que esta seja esclarecedora.

Ao que eu pude investigar não há um paralelo imediato, o que se torna um argumento tão válido para se defender como para rejeitar a ideia. Nas Assembleias de Freguesia e Municipais há algo de semelhante, mas também são órgãos que não revestem a solenidade da AR.

Não havendo nenhuma cábula, há parâmetros que deveriam ser observados:

- a pessoa deve-se candidatar a esta honra e prestar provas do seu discurso, sendo ouvida em comissão, por exemplo;
- não pode ser titular de cargos públicos, entenda-se eleitos ou detentores de cargos por nomeação política ou de confiança política;
- a intervenção terá carácter nacional – não se deve centrar na iluminação da rua do beco de Moimenta da Beira;
- o discurso não pode ser censurado para além do regimento, ainda que se requeira uma cópia préviamente entregue à Mesa da Assembleia até 72h antes do evento;
-devia ser no dia 24 de Junho (celebrando a Batalha de São Mamede (1128), o início do nascimento de Portugal);

Filipe de Arede Nunes disse...

Oh Nelson!
Provavelmente é culpa minha, mas eu não consegui perceber qual a tua intenção com este texto. Era uma declaração de principios ou uma proposta concreta?
Cumprimentos,
Filipe de Arede Nunes

Anónimo disse...

A proposta é a seguinte: que uma pessoa, respeitando os parâmetros avançados no meu último comentário p.e., vá ao parlamento e tenha a hipótese de fazer um discurso do tipo Estado da Nação.

Anónimo disse...

Que populismo e tanta demagogia em tão pouco espaço

Bruno disse...

E pronto! Lá estou eu a ler opiniões que tanto gostava de debater sem lhes conhecer o autor... Oh Sr(a) Anónimo(a), então acha que é populismo discutir? debater? trocar ideias? Bolas, que eu devo perceber mesmo pouco de Português!

Em relação ao debate que o Né aqui propõe deixem-me dizer que concordo com a possibilidade de se dar voz a cidadão na AR. Não é todos os dias, não é a toda a hora, não é por qualquer razão. Mas é importante exactamente porque dará a oportunidade aos deputados de se confrontarem directamente com as pessoas que os elegem.

Em relação ao paralelo com as Assembleias de Freguesia e Municipais digo que esse é um belo exemplo de como é importante dar voz aos cidadãos. E é óbvio que neste caso como se trata da Assembleia da República só se deve poder abordar assuntos nacionais tal como nas outra só se aborda assuntos da freguesia ou concelho respectivo.

Falei em relação ao "porquê". Em relação ao "como" pronunciar-me-ei depois

Anónimo disse...

Alguém aqui é da JSD de Coimbra?

Unknown disse...

Caro Nélson,

Peço desculpa pela intromissão, mas penso ser a primeira vez que deixo um comentário aqui no vosso "psicolaranja". E faço-o porque me parece que abordaste uma questão de enorme relevância, que se prende com o problema do fosso cada vez maior entre governantes e governados.

O público distancia-se porque parece interessar a muitos políticos esse mesmo afastamento. Contudo, é precisamente dos políticos que deve partir o impulso para integrar os cidadãos na discussão das mais prementes questões nacionais.

Ouvir os cidadãos no Parlamento poderia ser um passo de gigante na demanda dessa integração.

É claro que sempre com a moderação adequada a este tipo de situações, como tu próprio advertiste.

Boa ideia!!!

Anónimo disse...

Ora essa Tiago, muito obrigado por passares os olhos por este blog e marcares presença! Serás sempre bem vindo nesta casa.

Aproveito para agradecer ao nosso comentador anónimo o seu sincero elogio à minha capacidade de síntese: Muito Obrigado e volte sempre.

P.S. Dos Psicóticos residentes não temos nenhum de Coimbra. Mas temos amigos por lá e estamos a um email de distância para ajudar no que pudermos.

Davide Ferreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Davide Ferreira disse...

Se usar-mos o modelo da Assembleia de Freguesia, seria fácil imaginar um período antes da ordem do dia onde 30 minutos seriam dispensados a ouvir as pessoas que se resolvam apresentar a Assembleia da Republica.

Existem no entanto problemas difíceis de resolver...

- O nº possível de intervenções.
Se 1 em cada 10.000 portugueses por ano resolvesse intervir na A.R. teríamos 10.000 intervenções/ano.

- Como se poderia evitar que intervenções fúteis, ofensivas, radicais chegassem à A.R.?

- E qual o conteúdo dessas intervenções? Deverão incluir uma proposta de lei, que deva ser obrigatoriamente votada?

- Como se impediria que as intervenções fossem usadas por pessoas ligadas aos partidos para fazer publicidade politica?
Não é dificil de imaginar pessoas contratadas para dizer mal do Governo ou da oposição...

- Como se impediria que essas mesmas intervenções fossem na A.R. palco para mediatismo e popularidade? Afinal de contas a Comunicação Social iria provavelmente dar especial atenção a esse período antes da ordem do dia...

Sendo certo que isto possa ser apenas o inicio do debate, não creio que muitos destes problemas possam ser resolvidos sem se encontrar outros...

Afinal de contas meios de impedir e limitar o acesso a esse novo direito, levantariam problemas de favoritismo e censura.

Anónimo disse...

Caro Davide, no segundo comentário deste post já avançamos com alguns dos processos que teriam como desígnio evitar situações indignas da AR ou do processo democrático.

As preocupações ficam registadas.

Davide Ferreira disse...

"As preocupações ficam registadas."

Caro companheiro, estou feliz por teres a solução para os problemas que eu levantei visto que dispensaste sumáriamente as minhas preocupações.

Quando te dignares a responder directamente a essas mesmas preocupações ficarei ainda mais feliz... Remissões para comentários anteriores são a meu ver no minimo falta de consideração.

Saudações Democratas.

Anónimo disse...

Mapa do tesouro:

Primeira inquietação davidiana - seria somente num dia e uma só pessoa (informação presente no segundo comentário);

Segunda inquietação davidiana - anterior audição da pessoa em causa e submissão por escrito do seu discurso(informação presente no segundo comentário);

Terceira inquietação davidiana - uma intervenção que pretende apresentar aos deputados a visão de um cidadão anónimo dificilmente seria uma proposta de lei (a preocupação fica registada, a informação, essa, estava no post);

Quarta inquietação davidiana - os discursos e as pessoas deveriam ser anteriormente escrutinados. Detentores de cargos políticos estariam excluídos (informação presente no segundo comentário);

Quinta inquietação davidiana - a ideia é exactamente haver exposição mediática de um cidadão. Se daí em diante ele se envolver mais no processo político saímos todos a ganhar (a preocupação fica registada).

Ao contrário do David, sempre entendi que falta de consideração é não se dar ao trabalho de ler o que outros escreveram.

Davide Ferreira disse...

Então deixa-me que te diga que ter:

Ter um discurso do estilo Estado da Nação uma vez por ano, feito por um cidadão anonimo não vai fazer nada para aumentar a participação das pessoas na politica.

Tomei como base de debate o actual modelo da Assembleia de Freguesia.

Pensava que se estava a discutir algo de construtivo e não uma ideia que chega a ser absurda mas enganei-me.

Ao contrário do Nélson, sempre entendi que falta de consideração é não se dar ao trabalho de escrever correctamente o nome das pessoas a quem se refere...

Paulo Colaço disse...

Não é má vontade, mas não me sinto capaz de ler , a esta hora e depois de um dia extenuante, a disputa Né/Davide.

Prometo que até sexta o faço.

Bruno disse...

Somos dois ;) Mas prometo que o farei assim que arranje tempo para isso!

Anónimo disse...

Finalmente algo que se aproveita: a ideia é aburda.

Abrir a AR todos os dias, ou uma vez por mês, ao público irá banalizar o acto e retirar o impacto que se desejava.

Dar a hipótese de, uma vez por ano um cidadão se dirigir aos representantes da Nação carrega um simbolismo determinante para a Democracia. Banalizar o acto seria matá-lo.

P.S. "Chamar" David ao Davide foi somente um "lapsus calami" e não má vontade.

Lisete disse...

Continuo a ter reservas em relação à proposta apenas por não se saber que efeitos práticos (se existiriam ou não)tratia o discurso de um cidadão anónimo na AR. O que se ganharia? Ter conhecimento apenas das preocupações de esse cidadão? A AR ouvia o discurso do cidadão, aplaudia-o, ou não, e no dia seguinte prosseguiam os trabalhos normais?
É óbvio que defendo a aproximação do eleito ao eleitorado. A maior parte dos cidadãos da UE considera, por exemplo, um ultraje que um seu eurodeputado não visite com regularidade o país que o elegeu. Nós, em Portugal, ainda temos um pouco a ideia de que se virmos um nosso eurodeputado numa sexta-feira no País, ele deve andar com certeza a 'baldar-se' ao trabalho no PE. Os deputados do Parlamento Europeu têm as sextas 'livres' para estarem junto do círculo que os elegeu.
Defendo que a aproximação entre os eleitos e o eleitorado passa, sobretudo, pelo trabalho dos próprios deputados da AR, que deve ser disciplinado, responsável, sério e de respeito por quem os elegeu.

Paulo Colaço disse...

Acabo de ler a troca entre o Né e o Davide.

Caro Davide: entendeu mal o alcance da proposta do Nélson, daí algumas das suas dúvidas. No entanto, outras mantêm-se.

De igual forma, Davide, tomou precipitadamente como desconsideração uma short-answer do Né.

Quem o conhece sabe que o Né é um adepto da discussão de ideias, por isso não fugiria ao debate nem desconsideraria um oponente apenas por divergência de opinião.

Por vezes acabamos por responder de forma lacónica quando gostaríamos de estar "abancados" mais tempo a teclar. Acontece. A mim acontece imenso e por vezes dou respostas iniciais "levianas" e venho mais tarde responder com mais "cabeça".

Quanto ao tema, foram poucos os psicóticos que se debruçaram sobre ele porque já deu pano para mangas nas nossas conversas internas.

Dou a minha opinião: tenho reservas quanto à figura do "discurso anual do cidadão anónimo", mas só tenho medo do que conheço.

Vamos a isso!

Bruno disse...

Continuo a não ter lido toda a troca de palavras entre o Né e o Davide. Devo dizer - no entanto - que certamente o Né não omitiu o "e" final no nome do meu amigo e dirigente da grande Jota do Seixal para o provocar. Isso seria de baixo nível e não é a isso que o Né nos habituou.

De qualquer forma, o que me faz deixar este comentário é a opinião da Lisete. Penso que é interessante pensarmos em formas de levar a que esta situação, caso passe à prática, tenha em si mesma uma forma de provocar efeito. Se for para a malta ouvir e borrifar-se para o que disse o tal cidadão então não vale mesmo a pena

Anónimo disse...

A aproximação entre deputados e eleitos passa, indubitavelmente, pelo esforço dos eleitos e dos próprios representados.

Há um ponto em que nós próprios, enquanto dirigentes partidários, temos algumas culpas: porquê é que as grandes iniciativas com deputados são geralmente restringidas ao espaço das secções?

Devíamos começar, como regra e não como excepção, a ocupar grandes espaços das nossas cidades para as iniciativas de esclarecimento que rotineiramente se realizam com os deputados do nosso partido.

Quanto à discussão dos efeitos práticos da "coisa", eu entendo que dando palco às preocupações temos mais um agente a contribuir para a agenda mediática e, tendencialmente, menos parcial que os agentes costumeiros e vezeiros nestas práticas.

Que poderiam querer? Que esse cidadão apresentasse uma resolução ou uma moção? E isso não será uma interferência directa nas capacidades dos nossos representantes? Seria conforme à Constituição?