quinta-feira, agosto 02, 2007

Uma cultura tão socialista...

Ora deixa cá encontrar um camarada
para nomear agora...

A (ex-)Directora do Museu Nacional de Arte Antiga foi afastada do cargo a apenas um mês de terminar a sua comissão de serviço. Dalila Rodrigues, que aumentou em 84% o número de visitantes do Museu e quadriplicou a receita gerada pelo Museu, foi assim "recompensada" por Isabel Pires de Lima.

Os pedidos de explicações por parte da oposição não se fizeram esperar. Teresa Caeiro do CDS diz fala mesmo numa "purga de dirigentes da área da cultura ao melhor estilo estalinista". Já o PSD por intermédio de Amaral Lopes, defende que "há aqui um excesso de autoridade, o não aceitar de contributos divergentes". Esta teoria de Amaral Lopes parece ganhar corpo na justificação apresentada pelo Director do Instituto Português dos Museus, Manuel Bairrão Oleiro: «Há uma divergência de opiniões muito grande em relação ao modelo de gestão do Instituto e dos museus entre a dra. Dalila Rodrigues e eu próprio».

Quem não percebe muito bem a justificação é a própria Dalila Rodrigues que se confessa «totalmente surpreendida, porque sempre recebi os maiores elogios da tutela e dos públicos pelo modo como dirigi o museu, nunca tive qualquer reparo relativamente a questões de programação, divulgação, gestão de pessoas e de recursos financeiros».

Admito que a Cultura é uma área que não domino. Mas sei que neste blog há especialistas, a começar no nosso AB. Daí que deixe aqui este debate: trata-se ou não de mais um exemplo dessa cultura tão querida ao PS de impregnar tudo o que são lugares de nomeação política com portadores de cartão rosa?


21 comentários:

Bruno disse...

De referir que o novo Directos do MNAA será Paulo Henriques, actual Directos do Museu do Azulejo.

Margarida Balseiro Lopes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
xana disse...

De facto é escandaloso.

Uma pessoa que está a fazer um bom trabalho é afastada assim, mas a Sra. Directora da DREN foi reconduzida no cargo tal foi o mérito da sua actuação no caso Charrua.

O PS no Governo foi, é e sempre será assim.

Anónimo disse...

Como disse António Vitorino quando o PS ganhou as eleições: Habituem-se!

Anónimo disse...

Meus caros, sinceramente parece existir aqui mais uma prática ao melhor estilo do "Komintern", pois este procedimento "tresanda" a guerrilha partidária e de controlo de poder no seio da entidade estatal. Parece que alguns socialistas estão a ir mais longe, longe, tão longe, que seguem e perseguem estas práticas de "limpeza" ao melhor estilo estalinista...Com mais esta situação, prova-se que está arrumado o acordo de cavalheiros inter-partidário de controlo e de manutenção do aparelho estatal.Veremos o que acontece no futuro e se o PS não pagará caro estes desvaneios totalitários.

Margarida Balseiro Lopes disse...

Isto é no mínimo vergonhoso. Li esta notícia ontem e estive tentada a escrever sobre mais este atentado do governo socialista à liberdade de expressão. Começo a pôr em causa se vivemos ainda em Democracia.

Tal como o Bruno refere, a Dalila Rodrigues tem feito um trabalho notável à frente do MNAA, exemplo disso é a Colecção Rau com obras dos maiores pintores europeus, que esteve o ano passado no MNAA, tendo sido uma das mais visitadas de sempre em Portugal.

E importa louvar o árduo trabalho da ministra da cultura, que se limita à distribuição de lugares por homens de confiança, apenas por serem de confiança. Porque parece de facto que o mérito não é tido nem achado por este governo...

José Pedro Salgado disse...

Creio ter lido em algum lado que a nossa ministra é uma das principais especialistas quanto à cultura queirosiana.

Assim, numa frase já muito bem lembrada pela Adriana:

"Este governo não cairá porque não é um edifício, sairá com benzina, porque é uma nódoa."

Marta Rocha disse...

É vergonhoso!

Esta situação é, no entanto mais grave, do que parece, porque não se trata apenas de discordar do modelo de gestão, este argumento é latu sensu a forma de dizer que a Sr.ª Directora percebeu que o investimento feito pelo mecenato não estava a servir o fim, ou por outras palavras que se andava a desviar dinheiro...
Mas como havemos de convir, o Governo não quererá rodear-se de pessoas competentes e sérias, já que a bitola se mede pelo Sr. Primeiro Ministro!

Kokas disse...

Acho piada quando uma parte do centrão diz para a outra parte: "a tua lógica é a do cartão rosa". Então e a do PSD não é a do cartão laranja? Para termos um debate sério temos que começar por assumir que é desta parasitagem que vive o centrão, sobretudo quando há poder. Aliás, e o que se passa actualmente no PSD só vem mostrar que "em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão". Se houvesse lugares para distribuir estava tudo mais calmo...

É o centrão. O problema deste país é mesmo este centrão com tentáculos assustadores, que tudo suga, tudo controla!

Dri disse...

Faço minhas as palavras do salgado e so acrescento que hj em dia cada vez mais me convenço que estou a deixar de viver numa democracia. e o que me preocupa mais é a passividade de todos nos perante isto...

Bruno disse...

Como és um bom investigador, Kokas, estou certo que vais averiguar melhor o passado e reparar que o comportamento de PS e PSD no Governo é consideravelmente diferente no que diz respeito a "jobs for the boys".

E não deixarás de dar o devido enquadramento ao facto de o PSD ter estado no Governo por um período larguíssimo algo que acontece em poucas democracias na Europa. Mas mesmo aí, Kokas, tenta comparar com o Guterrismo, por exemplo.

Por outro lado, há aqui uma questão que é a causa deste afastamento. Quando alguém que apresenta bons resultados não pode reclamar um voto de confiança na sua estratégia - exactamente porque está a dar resultados - que é logo acusada de estar a destabilizar...

Paulo Colaço disse...

Dalila Rodrigues disse ao Público:
"Se tivesse ficado calada teria visto renovada a minha comissão de serviço".

Este é o princípio da cultura do medo que alguns pretendem instalar em Portugal.

Não posso garantir, mas sinto que existe um "código" ao mais alto nível, para afastar pessoas que criticam membros do actual governo ou as suas políticas.

Onde estão agora aqueles que criticaram Rui Rio por ter feitos pactos de respeito para com as suas políticas camarárias?

Dois pesos e duas medidas, ou medo da exoneração? Ou ambos? Ou cegueira?

Paulo Colaço disse...

Caro amigo Kokas, há uns tempos, ajudaste a escrever estas linhas:

«Quantos de nós não verificámos já que um novo Governo vê o seu trabalho prejudicado por altos responsáveis colocados na Administração pelos anteriores governantes? Isto acontece porque os colocados pelo “velho regime” não se identificam com a linha de pensamento do novo executivo.

É urgente separar definitivamente os lugares de carreira técnica dos lugares de confiança política.
Defendemos que quando um novo executivo toma posse, devem cessar as funções de todos os nomeados para os cargos de confiança política, pois o novo Governo deve iniciar funções numa base de total confiança e empenho de todos aqueles que irão executar no terreno as suas ideias programáticas.

É este o início do fim da perseguição política: a eterna caça às bruxas quando um novo Governo nasce. E é também o fim das indemnizações diabólicas quando são removidos os nomeados com estatuto mais apetecível.
A distinção legal das duas vertentes (carreira técnica/política) será também um factor de valorização dos primeiros e responsabilização dos segundos.»

Continuo a defendê-lo!
Tens razão quando dizes que a lógica do cartão rosa é a lógica do cartão laranja, mudando apenas a cor.
Mas, como o Bruno te dirá também, o PSD tem mais pudor e respeito. Pudor para nao ser confundido com os socialistas, respeito pelo mérito.

Outra: o PSD não é de mandar para casa alguém a meio! Casos raros!

Voltando ao excerto, temos de partir para uma Administração à americana.

Mal não nos fará!

Bruno disse...

"Mal não nos fará": mas que frase tão bem escolhida. Foi um parto difícil mas valeu a pena, né Colação?

Paulo Colaço disse...

Exacto Bruno!
Aliás, ainda hoje vou buscar muita inspiração à nossa moção "Sei que não vou por aí", com esforço de pessoas como tu, a Ana Rita, Mendonça, Tiago Dias, Nuno Matias, Jorge Nuno, Nazareth, Né, Ricardo Rato e João Raposo.

Deu trabalho mas compensou!
O Congresso de Pombal distinguiu a nossa moção com o 5º lugar das mais votadas. E se a concorrência era muita...

Anónimo disse...

Ia escrever algo sobre sermos mais papistas que o papa... Mas nada me ocorre que seja devidamente fundamentado...

Apenas divago sobre o que se me passou pla mente aquando da leitura dos jornais e do visionamento das reportagens:

SO WHAT?
Claramente a Senhora Directora estava em desacordo com a tutela.
Claramente a tutela resolveu o assunto.
Até me sinto estranho e um pouco mal por achar isto normal...
Estarei mal habituado, ou estarei conformado???
Acho que estou enfeitiçado pla maneira rosa de exercer o poder...

Afinal o que é o exercício do poder?
Até onde vai a nomeação política?
Até que ponto queremos ver os nossos projectos atacados e criticados?
Até que ponto é condenável, livrar-mo-nos da pedra no sapato que tanto incomoda e que todo o poder temos para a despachar?
Legal? Sim. Moral? Que papel tem a moral neste caso? E qual é a moral (como já falaram) a laranja? a rosa?

Bem, divagações de uma tarde de Verão...

A todos os psicóticos fica aqui o desejo de um bom Verão! Seja a estudar, a trabahar de férias ou tudo ao mesmo tempo ;)))

JFD

Bruno disse...

Caro Jorge, acho que o grande mal de nos livrarmos de uma "pedra no sapato" numa situação destas é que estamos a falar de uma pessoa competente e que ainda por cima apresentava resultados.

Mourinho é incómodo mas tomara muitos presidentes de clubes terem-no a trabalhar com eles...

Paulo Colaço disse...

É por isso, Jorge, que eu acho que os lugares de confiança política devem ser separados dos da função pública pura e dura.

O PS (e PSD) pode ter os boys que quiser, exonerar quem quiser, tapar a boca a quem quiser, mas que seja às claras!

Este "despedimento" foi político! Foi o fim de um relacionamento conflituoso! E quem manda lembrou-se que... afinal manda!

Continuo a defender uma administração à americana: quando muda o governo, findam todos os lugares de nomeação. Todos!

Em todo o caso, reafirmo o que disse atrás: creio haver um cóidgo do medo. Esse codigo pode estar a corroer a essencia da democracia...

Anónimo disse...

Hummmmmm (reflexivo) :=)
BR, aos olhos de quem manda, esse trabalho não estava a correr como deveria, por isso...

PC esse pragmatismo Americano que tanto aprecio(amos) seria certamente bem vindo! Mas estamos preparados? Ora vê que temos alguém com pulso de ferro a gerir as coisas (fiquei corado aos dizer isto), e está instalada a noção de clima de medo... Será assim tão 80? Não sendo 8?
Estamos preparados para digerir a frontalidade ou a subtileza do exercício do poder, legitimado pela legalidade das coisas?

Paulo Colaço disse...

Se as regras forem bem explicadas, estaremos preparados para isso e muito mais.

Até para uma 4ª República...
;)

Bruno disse...

Já vi, Jorge, que temos mesmo uma interpretação diferente neste pormenor. Se o Governo achou que o trabalho não estava a correr como devia então são burros! O nº de visitantes do Museu quadruplicou, os lucros duplicaram, a oferta era interessantíssima de acordo com a generalidade dos especialistas...

A única coisa que não correu como a Ministra queria foi o facto de Dalila Rodrigues ter ideias próprias e como tal reivindicar condições para poder continuar um bom trabalho. Até porque ninguém gosta de fazer pior do que já fez, a ideia é sempre melhorar.

Quanto à sugestão do Colaço, com a qual - obviamente - concordo em absoluto, ou não tivesse sido eu um dos grandes defensores da sua inclusão na Moção "Sei que não vou por aí", digo que é possível que não estejamos preparados mas se não avançarmos por esse caminho nunca mais... e de resto não vejo onde é que seja assim tão difícil habituarmo-nos.