segunda-feira, junho 04, 2007

Silent Death


Segundo os últimos dados do INE mais de 60% dos casais portugueses não têm filhos de todo e 24% têm apenas um filho. Em busca de explicação saltamos para a resposta óbvia: impacto no bolso das famílias... há muito mais do que esta tese simplista.

O conceito de jovem está a mudar: hoje o jovem estuda até mais tarde, sai mais tarde da casa dos pais, só depois dos trinta anos é que forma a sua família, as mulheres deixaram de ser as pacientes donas de casa do mosaico salazarista para, e bem, se afirmarem no mercado de trabalho.

O paradigma societal mudou completamente e as políticas de natalidade - se existem - mantém-se as de sempre.

Mesmo os mais optimistas, que vêm na imigração a solução, têm de se consciensalizar que é uma solução de curta duração: primeiro, porque a taxa marginal de substituição não se está a alterar com o aumento populacional; segundo, porque os imigrantes adquirem os nossos hábitos.

Na Região Autonómica de Navarra, com o nascimento do terceiro filho, atribui-se uma licença de parto até 3 anos para um dos pais com direito a €330 por mês e, atingida esta marca, automaticamente recebe-se €1980, independentemente do nível de rendimentos.

Quando teremos algo de semelhante em Portugal, uma política que, mais do que aplacar o choque económico que o nascimento de um filho implica, incentive a substituição de gerações? Este fenómeno não se verifica em Portugal há 25 anos... onde anda o Governo? E a restante classe política?

18 comentários:

Dri disse...

é pena que o nosso PM so saiba ir buscar exemplos a Filandia... Se calhar se fosse aqui tao perto encontrava bons conselhos. Se bem que o povo diz que de Espanha nem bom vento nem bom casamento!

Bruno disse...

Era bom que seguíssemos os dois ensinamentos: aquele que nos dão os povos em que a maternidade/paternidade é efectivamente apoiada e também o da sabedoria popular.

O primeiro porque mostrava que o nosso Governo está realmente empenhado em resolver o problema de termos ou não um sistema de segurança social sustentável, entre outras coisas.

O segundo porque evitava que os portugueses(as) comecem a casar com espanholas(óis). É que qualquer dia quem quiser constituir família precisa de mudar-se para Espanha...

Filipe de Arede Nunes disse...

Só quero deixar uma pergunta com uma breve reflexão.
Ora, sabemos que a população mundial tem vindo a aumentar significativamente nas últimas decadas. Também sabemos que os recursos no planeta terra são finitos e bastante limitados, sendo que o aumento populacional global contribui significativamente para o consumo desses recursos. Compreendo que devido ao aumento da esperança média de vida, temos cada vez mais uma população envelhecida e que existindo mais pensionistas torna-se complicado sustentar os sistemas de segurança social, uma vez que aqueles que recebem serão a breve trexo mais do que aqueles que contribuem.
Face às premissas supra expostas eu pergunto: queremos apostar em politicas de apoio à natalidade correndo o risco de onerarmos ainda mais o nosso planeta com a exploração abusiva do que este produz?

Anónimo disse...

Mordo o isco: a tua sugestão filipe é irmos ao mercado de contratação de cidadãos importando ganeses, chineses e mexicanos?

E os custos de integração?

Vila do Rei já fez algo semelhante com cidadãos brasileiros e foi um fracasso redundante.

Filipe de Arede Nunes disse...

Somos os pais da ideia do mundo globalizado, durante séculos percorremos o mundo, estabelecemos relacções economicas nos mais diversos locais deste planeta, fomentámos a difusão da cultura portuguesa. Hoje, neste cantinho à beira mar plantado, somos uma mistura fabulosa de culturas diferentes.
Acredito nas permissas que enunciei no meu comentário anterior, mas mais, puderemos resolver imediatamente o problema da falta de natalidade, recorrendo algumas politicas bem colocadas no post, no entanto, não me parece possivel continuarmos ad eternum a aumentar a população do planeta, como certamente terá a concordância de todos. É que como disse anteriormente, os recursos são finitos e limitados.
Talvez tenhamos de admitir que o aumento da esperança média de vida, conjugado com a paz - não existe um conflito global desde a 2.ª guerra mundial - faz com que nos tenhamos de habituar à ideia de cada vez mais termos um mundo mais velho, onde temos de trabalhar até mais tarde e sofrer as consequências do nosso bem-estar.
Talvez esteja um pouco confuso o texto, mas creio que deu para transmitir a ideia.
Seja como for, recorrendo aos argumentos que utilizei no início, não vejo porque não haveriamos de recorrer a políticas de recepção de cidadãos de outros países, afinal, somos uma sociedade tolerante, parece-me que as coisas poderiam correr bem...

Bruno disse...

Ora aí está a discussão a demonstrar que o tema é interessante e não se esgota em 2 ou 3 argumentos.

Um aparte: Né, não sei se a malta de lá mas a terra chama-se Vila de Rei (e não "do"). Lembras-te da malta DE Pombal?

Quanto ao tema, e na sequência daquilo, que já disse eu acho que devemos começar pelo início. Ainda que os objectivos das pessoas tenham mudado ao longo dos anos, continua a haver muita gente que tem como propósito na sua vida constituir família. Casar, ter filhos, criá-los, etc. E, neste momento, o seu país - Portugal - não lhe dá boas condições para isso.

Depois há, obviamente, o problema de os objectivos de cada um terem que se integrar no todo, na sociedade. Mas parece-me que, neste momento, Portugal precisa de apostar na natalidade, rejuvenescer a sua população, de uma forma fria: criar alicerces para sustentarem o futuro dos actuais activos.

Também é óbvio, como diz o Filipe, que Portugal não deve viver isolado do mundo. E será que o mundo tem mesmo população a mais? Será que devemos mesmo apostar em receber mais imigrantes?

Eu acho que é bom "recorrer a políticas de recepção" de imigrantes. Isto porque, actualmente parece-me que não temos grande política e as coisas são feitas um pouco "ad hoc". Mas será que isso vai contribuir para uma maior sustentabilidade da Segurança Social? Será que vai, efectivamente, rejuvenescer a nossa população?

Deixo algumas perguntas sem resposta porque o comentário já vai longo e para fomentar um pouco mais o deate.

Anónimo disse...

"Rigor na entrada, humanismo na integração." A frase não é minha, mas define-me no que toca à imigração.

Não vejo como sã política de rejuvenescimento a abertura das fronteiras a todos. Principalmente pela razão que avancei no post: os imigrantes, ao fim de pouco tempo, adquirem os nossos hábitos. A curto prazo ganhamos na população activa, mas pouco depois vemos o problema agravado.

Quanto à saturação populacional mundial é um tema para o qual não estou sensibilizado (ainda). A intervenção do filipe vai levar-me a abordar o assunto, mas admito que não haja falta de meios no mundo para sustentar todos, há é uma cínica distribuição de meios (tudo no hemisfério norte, quase nada no hemisfério sul).

Anónimo disse...

Cruzei-me recentemente com uma teoria: as pessoas têm menos filhos porque o desejam e o Estado, por muito benefício fiscal e subsídio que crie, não consegue levar as pessoas a fazer aquilo que não desejam.

O enquadramento tem de ser diferente para resolver a crise da natalidade. (a falha na tese é que não fala do enquadramento, mas é um bom argumento)

Filipe de Arede Nunes disse...

Ok, vamos então desenvolver o tema do excesso de população mundial.
Vamos imaginar - e neste caso apenas nos podemos dar ao luxo de imaginar - que o número de automóveis por agregado familiar entre os paises menos industrializados era igual ao dos paises ocidentais; que todas as pessoas do mundo tinham acesso às mesmas disponibilidades energéticas que temos na Europa ou nos EUA; que todos os habitantes do planeta tinham acesso a água potável; que todos os habitantes do planeta viviam em casas construidas com tijolos, betão armado, muito aço; que todos os habitantes do planeta se alimentavam com as 2200 calorias diárias - minimas; que todos os habitantes do planeta consumiam recursos como se consomem no mundo industrializado.
Somos neste momento cerca de 6 mil milhões de pessoas. Para fomentarmos o nosso nível de vida estamos agressivamente a destruir os recursos do nosso planeta: petroleo, gás natural, carvão, água potável, florestas, recursos piscícolas.
As camadas polares entraram, não de agora numa fase de degelo, os oceanos, lagos, lagoas, mares, rios, ribeiras e restantes reservas aquiferas estão poluidas, os níveis de concentração de gazes com efeito de estufa são os mais elevados na história da humanidade, todos os anos causamos a extinção de variadissimas especieis, os desertos estão a aumentar de uma forma vertiginosa, mas ainda assim, achamos que é fundamental mantermos uma população jovem de forma a conseguirmos financiar o nosso sistema de segurança social!
Bem, não sou o Al Gore, nem tinha particular simpatia pelo senhor, mas creio que as políticas de natalidade são aquilo com que menos temos de nos preocupar, quando todos os dias somos confrontados com a eminência da extinção da vida neste planeta.
Considero assim que apostar em políticas de natalidade, seja lá onde for é um erro.
Já o disse mas volto a dizer, temos de aceitar o encargo que é viver até mais tarde, e o principal peso é o de termos de trabalhar mais anos de forma a que o sistema consiga funcionar.
Talvez pareça que o tema se afastou ligeiramente do que o Nelson pretendeu debater, mas creio que o desenvolvimento sustentavel deveria ser neste momento o tema principal de debate a nível global.
Finalmente deixo apenas uma pergunta: se a solução é apostar em políticas de natalidade, então acredito que se entraria num circulo viciado e numa espiral esponencial e infinita de aumento populacional, ou não será assim?

Anónimo disse...

Se vivesse em Navarra já tinha contribuido para aumento da Humanidade, mas em Portugal é impensável! Isso é que são medidas natalistas! Nem pedia as regalias da Filândia! As de Narrava bastavam-me!

Bruno disse...

Agradeço à Isabel por me ter trazido de volta à memória este post. É que parece-me uma discussão interessante mas o tamanho do último comentário do Filipe Daniel ainda não me permitiu lê-lo com calma. Vou tantar faze-lo e voltar à discussão.

Já todos nós sentimos esta coisa de sermos ultrapassados pela velocidade do Psico...

Anónimo disse...

Quem é que já não foi ultrapassado pela velocidade do psico ? que se acuse! No entanto, acho que o psico nestas últimas semanas anda mais lento! Ou serão os bloguistas?

Anónimo disse...

Quanto ao comentário do Filipe Daniel...nem com calma nem com pressa é demasiado grande! lol

Tânia Martins disse...

Cara Isabel pelo menos da minha parte a culpa são dos exames mas tenho tentado minimamente acompanhar o blog...

Anónimo disse...

A tese do Filipe, assim explanada, não é nova: lembram-se de Malthus?

Primeira premissa errada: que todos estão no mesmo nível de desenvolvimento. Não estamos.

Segunda premissa errada: que todos crescemos à mesma velocidade: não crescemos. Aliás, na Europa vamos deixar de crescer, mesmo com imigração, a partir de de 2020 para em 2050 chegarmos ao mesmo número que tínhamos em na década de 60 do século XX.

E os conflitos mundiais, e catástrofes naturais e epidemias? Tudo isto são factores a ter em conta para não nos enganarmos como Malthus.

Anónimo disse...

Demasiados humanos para os recursos: políticas de optimização de recursos, produtos geneticamente modificados, abertura integral das fronteiras aos produtos agrícolas dos PVD que apodrecem nos seus portos graças às políticas de quotas dos EUA e da UE.

E, se não fizermos nada, quando tivermos dois idosos por cada membro da população activa qual é a solução? Um big brother mundial que agarre em etíopes e os coloque onde nos der jeito?

Filipe de Arede Nunes disse...

Nelson, claro que não é novo, nem tinha essa intenção!
Seja como for, o modelo que defendem presume o crescimento constante e exponencial da população. É uma inevitabilidade lógica que tal não pode acontecer, uma vez que os recursos, embora possam ser maximizados, são limitados. Discordas?

Bruno disse...

Só para dizer que continuo a não ter capacidade para acompanhar os comentários a este post... mas não se prendam por mim ;)