quarta-feira, setembro 27, 2006

Insensato encarniçamento?

Confesso que este é um post complicado, para mim, de colocar. Eu próprio não sei ainda bem onde pára a minha opinião sobre este assunto. Mas dou razão ao Presidente Italiano, Georgio Napolitano quando diz: "Só o silêncio sobre este assunto será injustificável".

É algo a que já não podemos ficar indiferentes. Por exemplo, quando um homem de 60 anos, que sofre de uma doença desde a adolescência até aos dias de hoje em que chegou ao ponto de o reduzir à completa imobilidade e incapacidade de respirar pelos seus próprios meios diz claramente: “morrer faz-me horror, mas aquilo que me resta já não é vida”.

É óbvio que se levantam muitas questões paralelas… Quando se justifica dar permissão para algo tão radical? Quem poderá decidir? Poderá o pedido ser feito por interposta pessoa? Ou podemos esquecer todas estas questões porque uma medida destas não se justifica e pronto?

Está lançado o debate…

17 comentários:

Marta Rocha disse...

Insensata ou não, a eutanásia está na ordem do dia. Não sou absoluta e incondicionalmente contra, mas também não posso ser a favor.

Enquanto o sistema de saúde não der todas as condições aos doentes, para poderem efectivamente escolher, a decisão será sempre a pior.

Em alguns estados dos EUA, a eutanásia existe, mas está sujeita a um processo de avaliação, feito por uma comissão de ética. Acontece que na maioria das situações, depois de ser aceite o pedido, a pessoa desiste. (E ainda bem, é sinal que o pedido não foi bem avaliado!)

Salvo erro na Holanda, surgiu uma situação caricata. Uma senhora, depois de perder o marido e os dois filhos num acidente, "pediu que a deixássem morrer". Depois de avaliada a situação, um grupo de psiquiatras diagnosticou-lhe uma depressão profunda. Depressão essa a ser tratada por via medicamentosa. A senhora recusou o tratamento e como estava doente, apesar da doença ser do foro psiquiátrico, estavam preenchidos os requisitos legais e foi-lhe concedido o pedido, morreu.

Na minha opinião, quando alguém chega ao extremo do sofrimento e pede a eutanásia, a primeira coisa a fazer é apoiar a pessoa no sentido de lhe dar razões para viver, objectivos, projectos.
Penso que se perde demasiado tempo a pensar nos motivos, que levam alguém a desejar terminar a sua vida, ao invés de a ajudar a encontrar motivos para a querer prolongar...

Marta Rocha disse...

Em relação à situação, que é descrita no post, já não podemos falar de eutanásia, mas sim de um conceito diferente, a distanásia. A distanásia consiste, não em terminar a vida através de um procedimento com esse fim único, mas sim em deixar de prolongar a vida.

Existem meios demasiadamente desproporcionados que prolongam a vida das pessoas, sem lhes dar mais bem-estar, apenas a "arrastam". Esses meios podem ser tratamentos experimentais, que não oferecem nenhuma garantia de sucesso, ou de tal modo dolorosos que acabam por tornar-se desumanos.

A distanásia, no fundo, é deixar morrer naturalmente. E sou a favor dela, não poderia ser contra algo que é o ciclo da vida.

José Pedro Salgado disse...

Não deixa de ser uma questão muito pessoal.
Mas no geral creio que cada qual deveria reflectir individualmente sobre a diferença entre viver e sobreviver.
E se à primeira vista isto parece um jogo de palavras, há muita gente para quem a distância entre os dois termos faz toda a diferença do mundo.

xana disse...

O mais cruel é que quem decide se é permitido ou não, vive... não sobrevive. Ou seja, para mim, quem tem uma opinião sobre este assunto que refute completamente não passa de alguém hipócrita que se acha no direito de ter opinião sobre tudo.
Quando as pessoas aprenderem que não é possível ter opinião sobre tudo, entramos no bom caminho.

Anónimo disse...

Como um homem liberal social, não posso deixar de dizer algo simples: liberdade para decidir? Sempre!

Mendonça

Bruno disse...

Cara Marta, concordo em absoluto contigo quando dizes que "se perde demasiado tempo a pensar nos motivos, que levam alguém a desejar terminar a sua vida, ao invés de a ajudar a encontrar motivos para a querer prolongar...".

Talvez aqui esteja a chave da questão (uma das possíveis): se nos preocuparmos em criar um sistema equilibrado em que estas situações não se banalizem e sejam abordadas com todo o cuidado, ética e brio prosissional por parte dos médicos é possível que venhamos a poder olhar para esta temática de uma forma mais natural e desapaixonada.

Bruno disse...

Caro Mendonça, com tão pouca capacidade de justificação não fazes muito pela causa liberal... Tu és capaz de melhor! Se calhar foi falta de tempo ;)

Paulo Colaço disse...

Mendonça, bem-vindo a esta causa psicótica!

Ontem cheguei a casa já tarde e pus-me a ler o nosso blog. comentei algumas notícias e quando cheguei a esta... adormeci em cima do pc!

Bem, já mais acordado, eis o que penso: o direito à morte é tão sacrossanto quanto o direito à vida.

a saída pelo nosso próprio pé devia ter consagração constitucional. e estou a falar a sério!

xana disse...

Grande Colaço sem preconceitos! Assino por baixo.

Paulo Colaço disse...

Atenção Bruno, quando disse que adormeci em cima do PC, não foi porque o teu post fosse aborrecido ou porque estivesse numa posição libidinosa com uma comunista.

Nada disso: eu é que estava mesmo muito massacrado da noite!
Que o diga a pessoa que estava a falar comigo ao telefone nessa altura e deixou de me ouvir...

Nuno Gonçalo Poças disse...

Há vários tipos de pessoas que podem responder a este tipo de questões. A saber: os filósofos (embora não consigam dar respostas concretas), os cientistas (embora consigam não conseguir dar respostas concretas), os políticos (que acham que têm respostas para tudo), Deus (que também acha que tem resposta para tudo) e os dirigentes desportivos (que arranjam respostas para tudo e ao mesmo tempo conseguem ser engraçados).

Quanto a mim devo apenas dizer que o ser humano tem tanto direito ao sofrimento quanto tem direito à propriedade privada. São marcos importantíssimos numa sociedade capitalista progressiva e que pode ajudar a quebrar rotinas.

Inês Rocheta Cassiano disse...

Sou completamente contra a eutanásia. Acho que a vida é um direito e não podemos abdicar dela desse modo. É algo tão superior a nós, por isso, na minha modesta opinião, enquanto o comum dos mortais, não temos qualquer poder para decidir se podemos ou não tirar a vida, nem a nós próprios, nem aos outros. Bem sei que o sofrimento deve ser uma tortura e nós que nunca passámos por isso não podemos imaginar, mas mesmo assim, continuo a achar que desistir nunca foi uma opção.
Lutar até ao fim.

Anónimo disse...

Subscrevo e assino por baixo do que escreveu a Inezinha.
O direito à vida está consagrado na constituição e independentemente desse reconhecimento juridico é um direito sagrado de todo o ser humano. Curiosamente a Constituição também prevê que o Estado, através das instituições próprias, organismos de saúde e segurança social proporcionem aos cidadãos carenciados e susceptíveis de ser eventuais candidatos à eutanásia, condições indispensáveis para que a vida se processe com a qualidade possivel, mas sobretudo com dignidade.
Atenção, que eu sou muito realista. Uma coisa são os princípios, outra bem diferente é a realidade. E a realidade, nestas matérias é quase sempre demolidora, quando não cruel.
Em todo o caso, cada caso é um caso, e perdoem-me se pareço retrógrada, mas não reconheço a ninguém ao cimo da terra o direito de atentar contra a sua própria vida nem decidir quando é que a vida de outrém termina. mesmo a pedido deste.

Anónimo disse...

Não vou falar muito acerca deste tema porque não tenho muitos dados, mas vou dar a minha opinião como ser humano. Todos têm direito de decidir se querem viver ou não, apenas não podem decidir pelos outros... Por isso sou a favor, se o sofrimento valer a pena e haja uma esperança de vida aí a pessoa tem que lutar com tudo o que têm; mas se estiver a sofrer para não haver mais nada a fazer, mais vale cortar o mal pela raíz, irá poupar muita gente.

Sara Gonçalves Brito disse...

Um bem haja a todos os "psicolaranja" e PARABENS pelo blog, está muito bom :)
Bruno aqui tens o prometido, o meu primeiro comentário tinha de ser para um post teu, agora és tu que podes contar com o meu bairrismo, lol :)))
Sobre o tema em concreto penso que não há verdades absolutas e direito absoluto que não mereça uma excepção. Ver a vida como um outro qualquer direito também não, mas de caso a caso, de vida a vida podemos avaliar ou não o que resta a uma pessoa...
Tocaste mesmo num tema sensível e complicado e muitos preferem nem falar, nem ver para não sentir, lá diz o ditado, mas penso que devemos valorizar o que é a vida de cada um para podermos SENTIR se se trata disso mesmo, de uma vida ou apenas de um ser que deambula no mundo. E de lembrar que este deambular pode ser estático. Tirando a "filosofia" do meu comentário não sei se conseguiste retirar o conteúdo mas, no final das contas, não sou a favor mas também não posso ser absolutamente contra e não ver que poderemos ter que avaliar as ditas "excepções", se é que isso existe...
Um bjo grd e continuação de bons trabalhos para ti e para tds***

Anónimo disse...

Morte digna e humana, pomposamente o suicídio assistido

Todos nós sentimos na pele a individualidade desta sociedade, o abandono constante. A dor de estar só, de ser despejado num hospital e entregue anos a fio aos cuidados de outros que com o decorrer do tempo se vão tornado a única família. É a dor da solidão.

Quando pensamos no sofrimento prolongado que a distanásia causa podemos concluir que então não tem qualquer razão de ser. Não podemos esquecer os profissionais de saúde...poderão eles fazer o papel de seres dotados do juízo final? É difícil ter tamanho Dom e viver com a consciência de ter licença para matar. Será tolerável tal facto?
Contudo os cuidados paliativos são determinadamente desconhecidos em Portugal, apesar de há uns anos se ter ouvido uma ministra da saúde a defende-los. Aqueles que sabem a quem me refiro, também sabem há quanto tempo a Senhora foi ministra. Desde lá até hoje o que é que foi feito pelos doentes terminais?

Não me posso considerar pró-eutanásia, mas que dá que pensar, dá!

Se não podemos ser úteis, se não somos considerados produtivos, se somos seres que vivemos agarrados à vontade de alguém...de que vale?

Bruno disse...

Bem, como parece q o post ainda n "morreu" (é capaz de n ser uma boa palavra para este tema...), aproveito para agradecer os últimos comentários e deixar registado que, tanto a Tânia, como a Sara e a Goreti fizeram referência à dificuldade que é decidir, comentar, até pensar sobre uma situação destas e revelaram, principalmente um grande humanismo e esperança de que toda a gente lute pela vida e só encare a eutanásia como o verdadeiro "fim da linha".

E aproveito para dizer que, saindo um pouco do negativismo que o tema acarreta, Viver é um grande privilégio e espero poder dizê-lo sempre!