"O Cónego Tarsício Alves, da paróquia de Castelo de Vide, Portalegre, distribuiu hoje o Boletim Paroquial em que refere que "as mulheres que cometem o aborto estão impedidas de ter um funeral religioso" invocando, para tal, o cânone 1184 do Código Canónico.
Segundo o Cónego, o funeral eclesiástico é "um sinal da plena comunhão" e quem "comete um aborto incorre automaticamente numa excomunhão, a mais pesada das censuras eclesiásticas".
Na última edição de 2006, do folheto que publica semanalmente, o Cónego Tarsício Alves pôs à "reflexão" dos fiéis "cinco casos reais da vida concreta" e num deles pergunta se recomendaria o aborto a uma jovem grávida e não casada, não sendo o noivo o pai da criança: "Se respondestes Sim, terias morto Jesus Cristo", pode ler-se.
O Cónego Tarsício Alves escreve também que considera o aborto "um crime nefando contra a vida humana". " in JN
Para quando um referendo que acabe com as incoerências do catolicismo?
10 comentários:
O especialista no nosso blog em Direito Canónico é a Dri, mas vou tentar comentar este post.
1 - O que a Igreja escreveu com letras miudas no Código é que uma mulher que esteja grávida e não casada, nao sendo o noivo o pai da criança, só não incorre em grave repressão da Igreja se o pai for... o Pai! Portanto Deus pode andar aí a brincar aos médicos à vontade!
2 - Se o funeral eclesiástico é "um sinal da plena comunhão", gostava de saber qual a razão de tantos declarados pulhas terem tido funeral eclesiástico. Era bom confirmar se Mussolini e Pinochet tiveram funeral pela Igreja...
3 - Cada pessoa tem a cruz que Deus lhes deu. Este Cónego já carrega uma cruz bem grande (lembremo-nos que se chama Tarsício) para se achar capaz de apontar o dedo aos outros.
Já não sei porque intervém tanto a Igreja em assuntos tão sociais como os que decorrem na actualidade!!! Na minha opinião nenhuma religião tem que fazer publicidade acerca do que quer que seja, pois é uma instituição independente e manipuladora, que só vê à sua frente tabus e usa a desculpa DEUS para tudo. É uma vergonha que assim seja! Além disso para o Catolicismo “falar” teria de “falar” também todas as restantes religiões do mundo, pois afinal cada uma é cada qual! De facto em Portugal predominam os católicos mas também há quem não o seja. Por isso Marta para mim esse referendo poderia ser já hoje!
Sou especialista em direito canónico mas na vertente do Direito Canónico institucional que se refere ao matrimónio e aos seus impedimentos.
De acordo com o direito canonico, o matrimónio tem como finalidades: a comunhão de vida, a procriação e educação da prole, o amor oblativo, a capacidade psiquica de participar cada um dos conjuges segundo as suas possibilidades no bem dos filhos entre outras(Canone 1055 e 1056).
Talvez seja nestes objectivos e respectivos impedimentos que o padre de castelo de vide se baseou. Entendendo mesmo, que no caso de a jovem gravida que quer casar, a jovem tem, para o padre, carência de uso de razao proveniente de uma perturbação de animo que impede emitir um verdadeiro consentimento matrimonial.(canone 1095)
Mas colocando o Direito Canonico de lado, eu não concordo com as palavras deste padre. Penso que é por este tipo de atitudes extremistas que a igreja cada vez mais cai em descrença e vai perdendo fieis.
Mais do que isso Dri, é este tipo de atitudes que leva gente alheia à discussão a ir às urnas penalizar padres que usam "sangue de Deus" para outros fins que não os da eucaristia...
As intervenções deste calibre provocam o ânimo bélico e viram-se contra quem as profere.
Como votante do sim, acho que devia haver mais gente desta a disparatar neste sentido...
Eu sou contra a despenalização do aborto. E em relação a Deus, como diz a musica eu "só peço a deus um pouco de malandragem"...Estou a brincar. Agora independentemente ,de ganhar o não ou o sim, eu espero é que as pessoas tenham a capacidade de não se deixar influenciar seja por padres, politicos, artistas ou bloguers que alimentam a esperança que um passo em falso do não lhes traga votos.
Sou católica praticante, para quem sabe e quem não sabe, e não me intimidam minimamente as críticas que fazem à Igreja Católica.
Infelizmente, toda e qualquer religião tende a ser extremista. A Igreja Católica é, mesmo assim, a menos extremista de todas.
Eu defendo uma reforma da Igreja Católica e, principalmente, a renovação da mentalidade dos senhores padres, que muitas vezes usam e abusam de um direito que não têm ao tentar, por meio do uso da palavra de Deus, regir a conduta da sociedade aos olhos de um pecado que julgam aos seus próprios olhos.
Eu tive a sorte de ganhar a fé pelo conhecimento e pela experiência de vida. Conheci católicos bons e maus. Padres justos e pecadores. Santos? Não os há, apenas a forma como regemos a nossa vida pode ter um fio de santidade quando procuramos ser fiéis aos nossos princípios e valores morais.
A palavra que mais vezes ouvi na Igreja e nas sagradas escrituras foi AMOR!
Se a Igreja espalhar AMOR deixará de haver opressão e intolerância.
Eu acredito que a fé é mais forte e vence todos os ditadores que tentam impor as suas falsas verdades!
Sou católica e durante muitos anos fiz parte de um movimento de jovens, trabalhei com vicentinos e isso foi fundamental na minha formação como ser humano.
Porém, não deixo de ficar chocada com algumas declarações feitas por representantes da igreja. Aprendi que o perdão é condição "sine qua non" para ser bom cristão. A igreja é formada por Homens e naturalmente não é perfeita. Mas, como dizes Rita, é feita de amor e de fé e às vezes, o que se apregoa é exactamente o contrário.
Enquanto não cristão (e certamente não católico) a atitude deste padre não me surpreende.
Nunca fui, por princípio uma pessoa contra as religiões, abarcando na minha formação espiritual experiências religiosas diferentes. Não sou católico por escolha.
Sou, no entanto, um estudante de direito. E se é verdade que, duma perspectiva, o Direito não deve impor regras de moral às pessoas, já a religião não é assim.
Os textos sagrados expõem, por metáforas, exemplos e comparações, morais a adoptar pelos seguidores de Cristo e a impor pelos seguidores de Pedro. Esta moral vai no sentido inegável de ser contra o aborto.
Ora, quando uma igreja, como a Marta disse e bem, é feita por Homens, não pode deixar de haver interpretações diferentes sobre qual o ancançe desta moral. É de esperar que parte da instituição leve a coisa (indevidamente ou não) até ao fim.
Não nos podemos esquecer que a ideia de um Deus misericordioso e tolerante é, apesar de tudo, bastante recente. Durante muitos séculos o que tivemos foi uma figura paternal que nos apontava o Seu dedo lá dos céus e que nos testava/castigava arruinando a colheita.
Do meu ponto de vista a Igreja Católica está a evoluir. Só ainda não está pronta para aceitar e perdoar quem questione certos dogmas.
A grande prova dessa evolução é que, há 200-e-tal anos atrás, o mais provável é que as mandassem queimar na fogueira.
Eu não sou católico. Toda a minha família o é, mas eu saí descrente.
Tenho para mim que foi o homem que criou deus e não o contrário, mas isso é outra conversa.
A Igreja tem coisas boas e más.
Do melhor que tem é a noção de perdão, do pior que tem é muita gentalha que não sabe perdoar.
Do melhor que tem são os seus braços enormes para envolver quem sofre, do pior que tem é a prontidão de alguns desses braços em repelir quem não tem mais ninguém.
A Marta e a Tânia falam das incoerências da Igreja. Uma delas é precisamente o não respeito pelas palavras de Cristo: lembram-se do “a César o que é de César…”?
Pois, a Igreja nunca se lembra….
Uma achega final ao comentário do Zé, que refere que a Igreja tem evoluído e aponta como exemplo o fim das fogueiras. Não sou assim tão crente.
Primeiro porque onde muita fogueira se apanhou, surgiu uma guilhotina, uma cadeira eléctrica, etc.
Depois porque penso que não é a Igreja que muda, a sociedade é que se vai tornando menos tolerante para com o sadismo da Igreja, e vai mudando as leis.
Não esqueçamos que após o hediondo e vergonhoso massacre de Judeus no Terreiro do Paço (1506), D. Manuel I penalizou os envolvidos, confiscando-lhes os bens e os Dominicanos instigadores são condenados à morte.
O Bispo de Viseu - D. Ilídio Leandro – apesar de defensor do Não, afirmou ontem à noite que votaria Sim caso o referendo visasse a despenalização da mulher que pratica um aborto. D. Ilídio Leandro considera que a mulher “é vítima de toda a situação do aborto”, porque “fica sozinha e abandonada numa sociedade que apenas lhe aponta o dedo”.
No debate onde deu esta opinião critica de uma forma muito implícita as posições já conhecidas de outros membros da Igreja Católica e não só! Deu na cabeça ao ministro Correia de Campos por ter dito que se prevêem cerca de 23 mil abortos por ano, em que o Estado tem capacidade financeira para pagar o total de 10 milhões de euros. O prelado de Viseu questiona “Então o País não precisa de 23 mil crianças a mais por ano? Então mas nós não temos necessidade desses 10 milhões de euros para atender a casos de doença, para promoção de uma política de natalidade?”. Mas as criticas não ficam por aqui, até os médicos e enfermeiros tiveram direito à pancadinha devido ao juramento de Hipócrates que fazem, pois o mesmo fomenta a defesa à vida em todas as circunstâncias.
Agora tenho obrigatoriamente que referir que a Diocese de Viseu vai e muito bem, apresentar a 12 de Fevereiro uma proposta para que a mulher “mesmo numa situação de mais desespero...acredite que o seu filho tem um lugar”. Só tenho pena que a mesma não tenha sido divulgada, podia ser que desse ideias a mais alguém para melhorar o sistema de saúde, o sistema de educação, o apoio social, o apoio fiscal e algumas mentes mais teimosas.
Termino com uma referência a Jesus Cristo e que o próprio Bispo mencionou: “Ninguém te condenou, eu também não te condeno”.
Enviar um comentário