terça-feira, maio 22, 2007

A Turquia na UE?

Estou a desenvolver na disciplina de Área de Projecto um trabalho sobre a possível entrada da Turquia na UE. Criei então o blog http://www.uerquia.blogspot.com com o intuito de dar a conhecer os passos que vou dando para a sua execução e daí resultar um debate sobre o tema. Estando já na recta final do trabalho, gostaria de saber a opinião do Psico sobre esta questão tão controversa.

11 comentários:

Bruno disse...

Como já disse no fórum da UV, acho que é efectivamente uma questão contorversa e que deverá interessar-nos a todos.

Penso que a UE, de acordo com a política de alargamento que tem seguido não terá grande moral para fechar as portas à Turquia. Ou então deverá repensar toda a sua estratégia e isso se calhar é que já fará mais sentido.

De quaçquer forma, penso que o processo já está em curso e portento, compete aos Turcos - políticos e sociedade - darem os passos necessários.

Paulo Colaço disse...

Acho que cada vez mais ganha importância debatermos o tema da "elasticidade da Europa".

Quanto ao teu blog, Margarida, continua "impec"!

Anónimo disse...

"elasticidade da Europa" para mais um debate dos psicos.

A Europa está cada vez mais elástica... com tanta elastecidade ainda rebenta pelas costuras... lol

Tânia Martins disse...

tContinuo com a minha opinião que a Turquia tem muito a fazer antes de entrar na UE... Mas se continuar assim vai num bom caminho!

Anónimo disse...

Não, não e não. Nem sequer é um país europeu, não respeita os direitos humanos e querem que seja menbro da UE???? lololololol

Anónimo disse...

"Não, não e não. Nem sequer é um país europeu, não respeita os direitos humanos e querem que seja menbro da UE???? lololololol "

As frases supracitadas não foram escritas por mim.Lamento q alguém, sem personalidade,use o meu nick-name.

Margarida Balseiro Lopes disse...

Eu digo Sim. Por várias razões:

Teme-se o aumento dos fluxos migratórios, quando as experiências anteriores mostram que a adesão não é um factor de imigração;

Apesar das raíses históricas europeias assentarem no judaísmo-cristão, o Islão é uma religião «solúvel» na democracia europeia;


Afirma-se que um país de 70 milhões de habitantes, subdesenvolvido, representa um gasto de fundos comunitários gigantesco, esquecendo-se que a entrada dos últimos Estados-Membros foi equivalente e com resultados positivos;


O primeiro pedido de adesão turco remonta já à década de 60, tendo permanecido como a “eterna candidata”. É justamente o convite à sua adesão, um processo transformador e longo, mas que é garante da mudança;

Entendo que a UE deve assentar num conceito de pluralismo, segundo o qual a realidade europeia se enriquece pelas diferenças que a constituem e pela igualdade que une essas identidades.

Anónimo disse...

"A Turquia não é Europa" - a Europa é um continente, ou será a península europeia uma continuação do continente asiático?

"A cultura da Europa é completamente diferente da turca" - eu também não tenho nada a ver com os búlgaros e eles andam por cá. Se é uma questão religiosa que está por trás deste argumento (que o é sempre, mas esquecem-se) o que eu não gosto é de ver manifestações em que se defende que determinada pessoa não pode ser Presidente do seu país pela religião que professa; em que alguém não pode usar véu num edifício do Estado por ofender a laicidade. É isto que se passa na Turquia e revolta-me.

"Não têm a mesma escala de valores" - também os paises de leste não os tinham e saltaram-nos para o colo. A Turquia esforça-se há décadas.

"Não há antencedentes que liguem a Turquia com a Europa, é um mundo à parte." - EUROVISÂO e UEFA ( liga dos campeões, taça uefa e EURO) diz-vos alguma coisa? NATO diz-vos alguma coisa?

Sim sou a favor, mas não já. 3% do território turco encontra-se em solo da península europeia, façam um esforço notável como nenhum outro país fez e levam a coisa muito a peito. Se precisarem, invertam a questão: já imaginaram a factura que teremos de pagar se continuarmos a enxotar a Turquia depois de décadas de promessas? Vai levar tempo, precisamos da reforma institucional e sua "consolidação" antes, mas não fechem a porta aos "jovens turcos"!

Anónimo disse...

Perdão pelo comentário anormalmente longo, mas a questão turca não se resolve com sound bites e malabarismos.

Bruno disse...

Só para dizer que os argumentos do Né são para mim muito válidos, como é normal nele.

São também altamente discutíveis, como é normal em argumentos que são racionais e não dogmáticos.

Por isso é que acho que a coisa mais importante que ele diz é mesmo: "não fechem a porta". Numa altura em que se deverá discutir quase tudo sobre a Europa penso que não devemos fugir também a esta questão.

Daí a oportunidade do post da Margot. Continuemos o debate!

Margarida Balseiro Lopes disse...

ARGUMENTÁRIO DA QUESTÃO TURCA: O SIM E O NÃO EM CONFRONTO

A União Europeia atravessa uma fase crítica, enfrentando não só a redefinição da NATO, como a sua própria reestruturação. Estamos igualmente em fase do debate da definição do futuro da Europa. A Turquia observa atentamente estes desenvolvimentos, procurando o seu lugar na instituição dos 25 e a conclusão com sucesso da sua longa odisseia europeia (o início do processo de adesão da Turquia remonta a Setembro de 1959...). Tardar o desfecho deste processo é prejudicar um país que anseia por novos ventos.
Não é esse, certamente, o propósito da UE.

A vocação da União Europeia é profundamente internacionalista, multicultural e (Portugal sabe-o bem) solidária, constituindo-se assim como um factor de apaziguamento dos conflitos civilizacionais e de aproximação de culturas.
Neste quadro, o Sim à entrada da Turquia não se me afigura apenas urgente, parece-me lógico!

Primeiramente, no topo das razões que têm obstaculizado a entrada turca, o desrespeito pelos valores democráticos ocupa um lugar cimeiro. Porém, são por demais evidentes os esforços que a República da Turquia tem enveredado, com o intuito de finalmente entrar na União: em 2001, o Parlamento Turco aprovou alterações à Constituição tendo em vista o reforço dos direitos humanos e das liberdades individuais; neste mesmo ano é aprovado um novo Código Civil, são reconhecidos os direitos da minoria curda e é abolida a pena de morte. Mais recentemente houve uma importantíssima alteração constitucional, que prevê a eleição do chefe de Estado por sufrágio universal (recorde-se que até então o chefe de Estado turco era escolhido no seio do Parlamento e não por sufrágio directo e universal). Argumentos como o reconhecimento do genocídio arménio, assemelham-se a tentativas de julgar o império otomano e não a actual República da Turquia.

De facto, com 65 milhões de habitantes, a Turquia tornar-se-á no país mais populoso da União, com tudo o que isso implica em termos de representatividade nas instâncias europeias. Porém, este não pode ser um argumento com que o Não deva acenar se tiver como objectivo amedrontar os europeus. Não há dúvida que é arriscado para a Europa dar à Turquia o poder que o peso populacional implica. Contudo, esse é mais um dos motivos para as instâncias europeias se reestruturarem: se a distribuição de poder na UE se reger por uma multiplicidade de parâmetros, tais como o rendimento per capita, cessa o medo de termos uma Europa comandada pelo gigante populacional turco. Ainda no campo demográfico, note-se que a população turca é relativamente jovem, com mais de ¼ da mesma na faixa de 0-14 anos, o que importaria um impacto positivo numa Europa envelhecida com graves carências no mercado de trabalho e com um sistema social em ruptura.

Por outro lado, há um novo dado que poderá pôr irremediavelmente em causa todos os passos até agora dados com vista à adesão da Turquia, nomeadamente no que diz respeito ao cumprimento dos três critérios de Copenhaga. Todo o trabalho poderá revelar-se vão: o recentemente eleito presidente francês Nicolas Sarkosy mostrou-se durante a campanha eleitoral “totalmente contra a adesão de um país que se situa na Ásia Menor”. Tratando-se a União Europeia de uma organização internacional portadora de uma visão da humanidade e de um modelo de sociedade que merecem a adesão da grande maioria dos seus cidadãos, é uma absoluta inversão de rumo considerar a União como uma mera organização de base geográfica. Aliás, são ancestrais as relações entre a União Europeia e a Turquia, como é disso prova as alianças que esta estabeleceu com países europeus durante a Guerra da Crimeia (1854-1856), a 1ª Guerra Mundial (1814-1818) ou a Guerra Fria.

Também o ex-presidente francês Giscard d’Estaing se mostrou frontalmente contra esta adesão, uma vez que “sendo a Turquia um país muçulmano, não deverá ser aceite na União, que é essencialmente um clube cristão”. Então, se o Cristianismo se encontra no centro da identidade europeia e se se define a Europa em termos religiosos exclusivistas, o que fazer à substancial população muçulmana europeia? Em França, os seis milhões de muçulmanos que aí residem correspondem a 10% da população francesa. E, muito importante, onde ficam os outros ideais e valores básicos e o conceito de sociedade aberta que a Europa clama defender? Partilho da visão do Presidente do Tribunal de Contas, Guilherme de Oliveira Martins, que entende que a União Europeia é uma comunidade plural de destino e valores e que deverá acolher a multifacetada Turquia.

Esta panóplia de argumentos configura um medo generalizado da entrada turca que assola uma significativa parte dos cidadãos europeus. Entendo que não é atendível a “alegada” periculosidade da entrada de um país como a Turquia na UE, quando esta já faz parte de organizações, como a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), a Organização das Nações Unidas (ONU) ou o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD). Se não é ameaça para estas organizações, por que razão constituirá a Turquia tamanho perigo que leva notáveis como Sarkosy a considerarem-na o fim da Europa?

Em suma, numa União que assenta no pluralismo, na não discriminação, na tolerância, na solidariedade, só vislumbro um desfecho para o processo turco: a efectivação da adesão. Uma eventual recusa implicaria uma inevitável radicalização do Médio Oriente o que seria uma manifesta prova de mimetismo e estupidez. E, porque tal como preconizou Jean Monnet, a União Europeia não coliga estados, une homens.