terça-feira, maio 01, 2007

Adjectivos de Conveniência


Caiu um mito: ser independente de partidos é sinal de competência imensurável e capacidade divina. Não, não o é. A ocupação de cargos públicos por cidadãos sem militância partidária não é sequer sinónimo de ausência de ruído, suspeitas e acusações.

A irrelevância do estatuto de arguido para Fontão de Carvalho face à posição do partido pelo qual foi eleito é uma ausência de tudo: raciocínio lógico-dedutivo, equilíbrio no juízo, bom senso. Só superou as expectativas numa categoria: esperteza de vão de escada.

Sem comparação é a pálida imitação feita por Carmona do episódio cavaquista Pulo do Lobo nesta sua deslocação ao estrangeiro para uma exposição, ou a inusitada incursão pelos meandros da Maçonaria numa putativa e injustificada doação de um Palácio à Loja Regular. Mais uma esperteza de vão de escada.

A excelência técnica per si não é igual a capacidade de liderança ou a bom trabalho. O que faz falta a Portugal são bons políticos, militantes ou não, mas nunca tipos -que - dizem - não - ser - políticos - mas - que - adoram - as - objectivas - e - detestam - militâncias - partidárias (excepto - no - que - toca - aos - jogos - que - o - permitem - estar - sob - as - objectivas - durante - mais tempo).

Não há lugares para independentes e outros para políticos; ser independente não é carimbo de excelência, ser político não é o equivalente a nepotismo e ausência de critérios adequados na escolha pública.

Só precisamos de um tipo de Homem na política portuguesa: o Homem certo! O resto são adjectivos de conveniência.

25 comentários:

Marta Rocha disse...

E o adjectivo "certo" não te parece de circunstância? O homem que é certo hoje, pode não sê-lo amanhã. Por exemplo, Pedro Santana Lopes, foi o homem certo para ganhar a Câmara de Lisboa, mas deixou de ser o homem certo para voltar a estar à frente dos destinos da cidade quando lhe tiraram a cadeira de PM.

Hmm... Isso do homem certo é tão efémero como uma qualquer adjectivação de conveniência...

Marta Rocha disse...

Gosto mais do homem-luva! Hehehe

Anónimo disse...

O "Homem certo" exprime uma ideia, não a pura decomposição em substantivo homem e adjectivo certo.

O post centra-se na glorificação de uns somente por serem independentes, esse é um adjectivo de conveniência.

Quanto à pequena provocação em relação ao Santana, este foi o homem certo para ganhar e para governar Lisboa. Eu gostei do mandato de Santana em Lisboa e acredito que só não fez mais porque não tinha maioria na Assembleia Municipal.

Anónimo disse...

Quanto ao regresso à Câmara encontro refúgio na filosofia: Ninguém é feliz duas vezes no mesmo local OU Nunca voltes ao lugar onde foste feliz(cito de memória)

Marta Rocha disse...

Eu percebi-te. E tu percebeste a provocação, que vai além do comentário.
O PSL está a rir-se muito neste momento. E o PS também.

José Pedro Salgado disse...

Já Jorge Coelhone (sim, o boneco do Contra-Informação) dizia no tempo dos governos de D. Maria... ops... quero dizer do Eng. (espero eu) Guterres: -"Ai estes independentes, estes independentes..."

A verdade é que a imagem que na política portuguesa se dá (ou dava, cm quiserem) dos independentes é a de que cm não se encontram ligados a nenhuma estrutura partidário-ideológica, estão livres de decidir segundo os melhores critérios desinteressados e imparciais.

Ora, esta lógica parte do princípio que estamos a falar de um boneco de madeira e não de um menino de verdade.

Se as estruturas partidárias têm "vícios" (termo que designa muita coisa e só pode, na minha opinião, ser tomado em sentido lato), eles não são inerentes a certas instituições e não a outras.
Isto porque todas têm o elemento comum de ser constituídas por pessoas, essas sim com "vícios" que depois são, inevitavelmente, transportados e exacerbados naquilo que é uma estrutura com muita gente.

Carmona Rodrigues não caiu mais baixo do que qualquer outro. O que foi foi colocado num pedestal mais alto.

Bruno disse...

Não querendo interromper a conversa entre a Marta e o Né - que quase abriram aqui uma janela privada ;) - gostava de deixar algumas notas:

- Também me faz alguma confusão esta moda que se criou há uns tempos de que os independentes é que são bons;
- Esta moda tem paralelo noutra teoria que consiste em: os políticos de carreira são maus!
- Naturalmente, não concordo com nenhuma das duas. Isto porque ambas carecem de fundamento. Isto é: são assentes numa regra que, por si só, é falaciosa. O que é importante, na minha opinião, é que uma equipa esteja munida de elementos que se complementem.

Em resumo, há políticos de carreira maus e bons, tal como há independentes maus e bons. "Pegando" no exemplo do Né, Carmona tem qualidades técnicas mas carece de traquejo político. Lembre-se que a Câmara de Lisboa não é apenas uma Câmara Municipal. É a Câmara da Capital do País.

Bruno disse...

Quanto aos comentários sobre Santana, só uma pergunta: mas porque é que ele vem sempre à baila???

xana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
xana disse...

Pois Bruno, qualquer dia apelidamos o homem como "O inevitável". :p

Quanto ao tema em si, concordo com o Né quando diz que se criou uma imagem dos independentes muito desfasada da realidade. Na política como na vida, nada é assim tão linear. Ter algum amor a um partido quando se faz alguma coisa dentro de uma estrutura destas pode ser mau ou bom, tudo depende das circunstâncias. Como acredito que Carmona conduziu pior este processo por não estar pressionado por uma estrutura partidária, caso contrário teria tomado um caminho diferente, nem que fosse para salvaguardar a imagem do PSD.

A imagem que deu foi de quem quis defender os seus vereadores mais "chegados", e logo os primeiro visados: Fontão e Gabriela Seara. Agora lá vai ele ser constituido arguido.
Só espero que Marques Mendes não diga outra coisa senão que retira a confiança polític a Carmona e que o PSD defende eleições antecipadas para a CML.

Bruno disse...

Premonitória a nossa Xana...

Anónimo disse...

Eia Bruno levaste-me a escrever pela primeira vez neste blog... Quanto aos politicos de carreira ou independentes, acho que fizeste uma pequena confusão, é que ainda tens um tertium genum....os independentes de carreira.
Estaria tudo dito mas apetece-me dizer mais.
Imagina que vais a um médico porque tens um quisto cebáceo para remover. O "Dr. Andrade" pega no bisturi e tu perguntas "alguma vez fez isto?" ao que ele responde: "Não, é a primeira vez...não sou como aqueles médicos de carreira!".
Resumindo, acho que um politico mais do que um bom técnico tem que ser bom...politico (repita-se). Ex. Miguel Cadilhe foi,técnicamente, um excelente Ministro das Finanças, um péssimo politico. Sócrates fantástico politico, péssimo técnico ("diz que nem é engenheiro").
Um bom politico tem treino, experiência e aptidão natural para o ser. Isso adquire-se com experiência politica; não no independentismo instantâneo.
O problema das carreiras politicas está associado a outra questão distinta que tem mais ou menos a ver com o café...é que quando a coisa se torna um vício pode fazer mal.
Abraços e beijos aos psicóticos e psicóticas.

xana disse...

Essa do café é fenomenal Tiago!

Afinal, e uma das poucas vezes diga-se, o presidente do PSD não me desiludiu. No entanto, não vou ter que esperar muito para vir por aí uma desilusão das grandes, sim porque nós não temos uma boa relação e é facto que o que é bom não dura muito, e tou para ver quem vai ser o nosso candidato. Só de ouvir no nome de Paula Teixeira da Cruz já fico arrepiada. Mas a srª agora serve para tudo no nosso partido? É o ícone da credibilidade?

Bruno disse...

É curioso que eu estava para citar o Tiago, com quem já tive algumas conversas sobre políticos de carreira e afins... Mas afinal não foi preciso e só espero que esta participação seja a primeira de muitas.

Em relação aos desenvolvimentos do tema, lanço um desafio ao Né: e agora? Quem é o "Homem Certo"? Ou Mulher, pois claro...

Anónimo disse...

Quem é o Homem certo...a mulher certa... Espero que estejas a falar de politica claro. Mulheres em Portugal há 53000000 e homens 4700000. Há muito por onde escolher mas eu não acredito em destinos. Acho que será um homem. Em todo caso não será preciso intensidade na escolha, por isso será coisa de curta duração...
Estou a falar de politica claro. Não pode ser do Marques Mendes, pois pode ter aqui uma derrota eleitoral que o obrigue a um divórcio. Não pode ser oposição (interna)porque (1) dificilmente aceitará (2) corre o risco de ganhar. Virá aí mais um tertium genum? Tb n me parece. Eu voto coroa.
Na politica como na vida, a pessoa certa mts vezes aparece quando menos se espera e Às vezes até em momentos inconvenientes. Este é um momento inconveniente mas a pessoa certa já apareceu. Tu não sabes, mas já apareceu. O processo decisório...ora esse dura e dura e dura e dura e dura.
Quanto À tua referência mt me apraz porque foi precisamente por termos falado várias vezes sobre isso e teres agora escrito sobre isso que escrevi. :D

Anónimo disse...

Cada vez mais vão existir mais independentes a candidatar-se a autarquias... só se vocês remarem contra! Que deviam fazê-lo! O povo é cada vez mais independente e simpatiza cada vez --- com partidos. Por isso, nada melhor que um independente p ganhar!
Está nas vossas mãos mudar!

Carmona é independente... mas poderia ser excelente! Não é por ser independente que falhou ou não!

E, para finalizar...ele só foi constituído(ou está p ser) arguido...ainda não é culpado! Se fossemos rigorosos...neste país quantos e quantos Presidentes de Câmara davam arguidos? Sejam ou não partidários!? Tinhams centenas deles arguidos!

Marta Rocha disse...

Fico chateada, pois concerteza que fico chateada, quando vejo em abertura dos telejornais a repetição de "termo de identidade e residência para Carmona Rodrigues"!

É óbvio que lhe é aplicado o termo de identidade e residência, porque essa medida é automaticamente aplicada a todos os indivíduos que se tornam arguidos num processo!
E é perfeitamente escusado dar tanto relevo a isto. Mas quando o fazem, o que transpira para a opinião pública é que a pessoa constitui um perigo!

Anónimo disse...

A falha de Carmona centra-se no facto de ser um independente que tentou brincar à política... tal como hoje à noite.

Tornou-se um problema e não a solução para Lisboa. Um exemplo cabal: as ligações à Maçonaria em troca de um palacete. Santana sempre recusou sequer sentar-se à mesa com eles para discutir tal e evitou uma magnífica embrulhada.

A questão da nomeação de Rosa do Egipto para a EPUL, que nem ao PS agradou, é outra borrada de quem não tem sensibilidade política.

Não só não soube gerir politicamente a cidade, como se aconselhou com figuras que "sonham" ser políticos: Fontão e Gabriela.

Quanto ao homem certo, fica para o post da Marta ;)

Bruno disse...

Duas formas de olhar para a atitude de Carmona não se demitir:

1 - O homem afinal também sabe dizer que não! Acho que esta é a primeira vez que Carmona toma uma posição de verdadeiro líder. Gostei da metáfora do "comandante do navio". É a melhor forma de justificar porque é que não sai. Veremos se não vai ao fundo com o barco...

2 - A minha opinião é de que a Câmara se começa a tornar ingovernável. Neste sentido, Carmona devia sair

Do cruzamento de uma e outra perspectiva pode estar a resposta a algumas perguntas:

- De quem é a culpa?
De Carmona que não teve competência para gerir a Câmara ou de Marques Mendes porque definiu uma regra - perigosíssima! - de que toda a gente que é arguida num processo perde imediatamente toda a credibilidade pública. Pode ser do segundo mas há que lembrar que Carmona foi a Pombal subscrever a estratégia de Mendes;

- Porquê a diferença de posições Carmona está agarrado ao poder ou Marques Mendes está farto de não o ter?
Acho que nem uma coisa nem outra. O problema é que MM está refém da sua estratégia e o Professor sabe que, se sair agora, será pela porta pequena e provavelmente não terá uma 2ª oportunidade. Afinal parece que o entendimento entre os dois era mais circunstacial do que outra coisa...

- Quem ganha e quem perde?
Temos que esperar para ver quem vai conquistar mais apoio na actual lista do PSD à CML. Se Carmona conseguir ficar com pelo menos 8 apoiantes arrasta o processo e terá a oportunidade de "lavar a cara". Veremos se consegue. Se isto acontecer é uma derrota tamanha para Mendes, confirmando em definitivo que a sua autoridade no PSD é diminuta.

Ah! e os lisboetas? Parece-me que, para já, têm perdido. Pelo menos tempo! Se Carmona ficar, terá que mudar muito a sua atitude para apresentar trabalho até 2009. Se a liderança mudar, vejo 2 hipóteses: ficará em gestão durante 2 anos ou cairá numa onda eleitoralista durante esse tempo. Qualquer uma das duas é negativa.

Anónimo disse...

Grande malha Bruno!

Subscrevo na íntegra.

xana disse...

Ao que parece Carmona não encontrou no DIAP acusações graves e fundamentadas contra si. E nós que até sabemos um bocado destas coisas, ser arguido não é ser culpado, e como a Marta disse o TIR é a medida de coacção minima!! Tem mesmo que ser, ponto final.

Como disse de MM, também digo que não esperava outra coisa de Carmona. Nunca me passou pela cabeça que ele aceitasse dar a CML de bandeja, e talvez haja aqui um sinal de amor ao partido, que isto de entregar Lx aos socialistas com um processo a decorrer sem se saber se afinal ha culpados ou não... temos que ser mais cuidadosos, caso contrario estaremos a dar tiros nos proprios pés. E Lx não se pode perder...

Anónimo disse...

A Xana é, de certa forma, cúmplice nesta situação. Ambos discordámos desta posição do MM, ainda que percebêssemos - e até certo ponto apreciássemos - a intenção.

MM tinha de ser coerente com aquilo que foi uma posição de princípio sua. Ele tomou a posição que se via obrigado a tomar. E mesmo que não a tomasse, a condição de arguido é tão relevante - mesmo sem o enfâse mendista - que a CML está ingovernável.

Se perdermos a Câmara é uma pena, mas não podemos correr o risco de falhar à Cidade. Lembrem-se de Sá Carneiro: Primeiro Portugal, depois a social-democracia, depois o Partido. (o bruno decerto debitará a citação correcta ;)

Bruno disse...

Caro Né,

Infelizmente, neste caso, não posso dizer a frase exacta (também não sou assim tão velho e, com pena minha, só ouvi Sá Carneiro falar em gravações, o que chega ainda assim para por vezes arrepiar pelo carisma e liderança que demonstra) mas o que interessa é a ideia e essa tu transmitiste-a. E essa eu sei que Sá Carneiro defendeu e concordo com ele!

Quanto a este caso específico (não sei se me vou repetir porque o ritmo a que este blog funciona é alucinante) devo dizer que concordo com a atitude de Mendes porque esta é coerente com aquilo que ele tem defendido como líder do Partido.

O que eu não sei se concordo é com o critério cego de suspender automaticamente toda a gente que é arguida. Até porque oiço falar muitas vezes numa tal "presunção de inocência" como um valor soberano. Ainda por cima quando Isabel Damasceno se manteve intocável apesar de arguida no "Apito Dourado" mais se torna questionável o tal critério...

Quanto à atitude de Carmona, também a considero coerente. Mendes quer que ele saia, mas ele não é obrigado a concordar. Se ele acha que tem condições - e ainda há pouco tempo, quando sairam Fontão e Gabriela Seara, disse que sim - deve manter-se fiel a esse princípio e obrigar o PSD a assumir o ónus da queda do Executivo.

Anónimo disse...

Carmona não é coerente:

- Carmona sabia a orientação de Marques Mendes;

- Carmona deixou que dois vereadores seus saíssem por ser arguidos;

- Carmona concordou com Mendes quarta e quinta disse o que lhe ia na cabeça.

Isto é o que eu chamo de esperteza de vão de escada, outros lhe chamariam uma trapalhada.

Paulo Colaço disse...

De novo para dizer que ainda não li este pos (nem comentários)
Mas eu volto...