terça-feira, março 25, 2008

Longe do meu leito


Há alturas em que se impõe a palavra basta!

Não chegava o governo fazer a "consolidação" orçamental do lado da despesa taxando em demasia o povo português, como quer agora impor uma nação de "bufos" que fazem todo o trabalho para que a máquina fiscal saque mais receitas para embelezar o seu relatório anual.

Pedir aos recém-casados que divulguem, para lá do declarado no IRS, onde casaram, quantos mais casais se casaram naquele local no mesmo dia, quem pagou a recepção, quem pagou o fato e o vestido, quem deu a melhor prenda, é colocar o Estado na cama de toda a gente.

Com toda a clareza digo: eu só vou para a cama com quem quero. E ao Estado quero-o longe do meu leito.

15 comentários:

Francisca Soromenho disse...

Grande malha, Né!
De facto o Estado está a ultrapassar as barreiras do aceitável, e a impor-se à descarada e sem convite na vida privada de cada um.

O que aconteceu à nossa privacidade, à pequena margem de liberdade em que ninguém se metia? Temos de prestar contas, é certo... mas a tudo? Quais são os limites?

jfd disse...

Caro amigo,
no que toca à fiscalidade da coisa e como português pagador de impostos; Sendo um dos parvos, e ouvindo constantemente os "espertos" gabarem-se dos seus feitos, digo alto e bom som: "Que se lixem".

Quero lá saber da minha privacidade, se a consequência é a tão necessária equidade, eficiência e justiça fiscal.

Que se levantem os sigilos e que o estado seja um terrorista fiscal.

O que se faz neste país de chico espertos é uma afronta a quem paga com civismo os seus impostos!

Queremos as virtudes dos países que funcionam, mas não queremos as suas responsabilidades. Sempre que uma coisa não funciona reclamamos, quando começa a funcionar é motivo de queixa.

Exemplo; Em tempos reclamei que as ASAES e que taes andavam com a bola toda. Que ingénuo fui.

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

JFD,
Também sou um dos "parvos" que vê 45 por cento do rendimento evaporar-se em impostos quando recebo no final do mês.

Sim, estou a contar com a segurança social porque, vamos ser honestos, nunca vou ver aquele dinheiro de novo.

Já não bastava isso, ou o facto de o Estado português "não se governar" com 65 por cento de tudo o que é produzido neste país... já não bastava o governador do banco de portugal vir argumentar contra a descida de impostos porque 1. agrava o deficit - admissão clara que consolidação é nula e 2. não tem efeitos no consumo mas sim na poupança do português (facto que concordo plenamente e dado que o problema português é FALTA de poupança faz de mim um adepto de uma descida de impostos)... já não bastava tudo isto e ainda tenho que aturar um estado "fiscalmente terrorista"?

Temos um problema de ineficiencia fiscal? É verdade sim senhor. Há muita gente que foge? É verdade sim senhor. O que é demais é ver o estado português a intrometer-se em todo o canto da vida privada do português médio - já nem o casamento está a salvo - para cobrir a sua incompetencia na cobrança de impostos.

Se eu pago 1/2 do meu rendimento em impostos, é bom que o fisco se organize e seja competente. Terrorismos fiscais é que não!

jfd disse...

;)
Como te compreendo;)
E ao reler o meu comentário, sorri!
Sou um autoritário fiscal! Um fundamentalista! Paga o justo pelo não justo. E não tenho problemas com isso! Quem nunca fundamentalizou que me atire a primeira pedra;) LOL

Agora é obvio que como tu, quero todas as contrapartidas de um Estado que funciona bem a nível fiscal. Quero-o bem pequeno, e a aplicar bem os meus (nossos) ricos euros!

Ó Guilherme e já agora, e se tiveres paciência e tempo, não queres divagar um pouco sobre como poderia ser mais eficiente e menos complicado o sistema fiscal?

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

Não sou fiscalista, mas da minha perspectiva, que tal em vez de teres um "milhão" de deduções possiveis e imaginaveis para tudo quanto é coisa, que tal baixares os impostos de forma significativa?

Vamos um pouco mais longe, que tal uma taxa fixa? O sistema fiscal permanecia progressivo na taxa média - a carga fiscal maior continua nos maiores rendimentos cumprindo o principio da capacidade de pagar - mas deixavas de ter de fazer contas com 3 ou 4 taxas marginais.

Ok, talvez uma flat rate não "cole" em Portugal, mas uma causa de confusão na entrega dos impostos: o raio da tabela das taxas marginais, que é preciso ir somando de intervalo em intervalo... é de dar em doido a preencher! Curioso, e fiz este exercicio econometrico um dia, aquela tabela pode ser substituida por uma simples função matemática que te dá logo o valor do rendimento. Simplifica o simulador do site das finanças não? :P

(Falando em simulador das finanças, que tal não correr com pessoas como o Paulo Maçedo só porque o homem ganhava mais que o PR? Sinceramente, mereceu todo o centimo que recebeu... só o facto de entregar a minha declaração toda online é genial!)

Quem tenha poupança privada em bolsa sofre horrores: cada transacção em bolsa tem de ser descriminada em anexo próprio. Já que fazem tanta ingerencia "privada" que tal pedirem ao meu banco o extrato das transacções?

Porque é que eu é que tenho que ser o "correio" entre os serviços do Estado?

Queres simplificar o sistema fiscal? Explica-me porque é que sempre que faço uma transacção de mais de 500 euros para o alguém tenho de ir às finanças preencher e entregar o impresso XPTO (não me recordo de qual é o impresso...)

Que tal o estado ter o mesmo sistema informatico entre os seus serviços de modo a facilitar o crusamento de informação, para não ter de fazer de mim "bufo"?
Um amigo, que trabalha na SAP - empresa alemã que cria bases de dados - contava-me que cada vez que mudava o governo, e os directores gerais, mudavam os planos para as várias bases de dados... e claro está, cada serviço quer a coisa de sua maneira, que é para ser diferente... (ao que a SAP nem se importa, pois faz-se cobrar por cada plano que faz)

Parecem ideias avulsas mas vai somando... a ver se não simplificavas o sistema.

Guilherme Diaz-Bérrio disse...

Dou-te um exemplo ainda mais idiota de maior eficiencia fiscal, no que diz respeito ao combate à evasão fiscal:
lei de Benford

É um conceito usado nos EUA desde 1998, com grande sucesso, e que julgo está a ser implementado na Holanda.

Basicamente é uma lei matemática que diz que a disposição de números numa fonte de dados segue uma distribuição matematica muito especifica - logaritmica.

Poupando a malta às questões tecnicas e matemáticas, a teoria usada pelo IRS americano é o seguinte: se uma declaração de rendimentos não seguir a lei de Benford, a probabilidade de ser fraudulenta é próxima de 100 por cento. Custo efectivo da medida? Quase zero. Eficacia? De acordo com o IRS norte-americano a margem de erro é muito pequena, e permite acelerar o processo de triagem de fraudes...


É o "Keep It Simple Stupid" no seu melhor! (e não têm de fazer de mim "bufo" ;))

jfd disse...


Vamos um pouco mais longe, que tal uma taxa fixa? O sistema fiscal permanecia progressivo na taxa média - a carga fiscal maior continua nos maiores rendimentos cumprindo o principio da capacidade de pagar - mas deixavas de ter de fazer contas com 3 ou 4 taxas marginais.


Estou contigo ;)
E ainda mais com a cena das mais valias! Bem que os bancos poderiam reter os impostos relativos às mesmas das acções como acontece nos fundos!

Anónimo disse...

Realmente...

Ao que chegamos, para emagrecer o estado t~em de ser os noivos a ser funcionários tributários? E ou são, ou são mesmo... senão 2500€ doem

Enfim... Bom post Nélson

Tânia Martins disse...

O Estado surpreende-me cada vez mais, pena ser pela negativa. Onde já se chegou! Conclusão: para quê casar?

Inês Rocheta Cassiano disse...

Sinceramente, não sei se ria, se chore.
Casar dá trabalho, divorciar dá trabalho, morrer dá trabalho.
Será que o Governo está a tentar diminuir a taxa de divórcio, simplesmente através desta pérola? Como o casamento envolve demasiada burocracia, as pessoas acabam por desistir...

Anónimo disse...

Antes que alguém o diga: não sou a favor da evasão fiscal. E acho importante que o Estado tenha uma boa máquina fiscal.

Não gosto é que o Estado controle toda a minha vida, saiba tudo o que eu faço e me obrigue a dizer o que o vizinho do lado faz. Daí no original eu ter colocado a ressalva que o Estado pede informação para além do declarado no IRS.

Quanto a sistemas fiscais tou com o Guilherme. Foi das primeiras grandes discussões que tivemos - que ainda durou uns mesitos ;) - no bar da B.

Anónimo disse...

Tal como aqui dito, eu também não sou pela evasão fiscal, mas relembro aqui um princípio muito conhecido: a cumplicidade.

Se eu vir um crime e não denunciar, serei cumplice?
A evasão fiscal de um vizinho faz parte dos crimes obrigatoriamente denunciáveis?

Se sim, qual que é o mal? o mal é o seguinte: há crimes que poucos vêm como crimes. Como o Estado deixou de ser visto como pessoa de bem, enganar o Estado não está, na nossa cabeça, entre os crimes mais pérfidos.

Margarida Balseiro Lopes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Margarida Balseiro Lopes disse...

Margarida Balseiro Lopes disse...
Partilho das preocupações da Xica, quanto ao papel castrador que o Estado tendencialmente vem a assumir. Este caso é paradigmático. A evasão fiscal é um gravíssimo problema, para o qual, não há soluções absolutas. Mas, e utilizando uma expressão que o Né costuma tantas vezes dizer: não se deve confundir a estrada da Beira com a beira da estrada.

Não será com os casamentos, prendas, e a respectiva boda, etc, etc, que o Estado irá resolver a dívida pública ou combater a evasão fiscal.

Por fim, não deixo de considerar espirituosas e muito oportunas as perguntas da nossa Inês. ;)

Anónimo disse...

(...) há crimes que poucos vêm como crimes. Como o Estado deixou de ser visto como pessoa de bem, enganar o Estado não está, na nossa cabeça, entre os crimes mais pérfidos.

Muito bom!