quinta-feira, fevereiro 14, 2008

A vida ao contrário

Numa altura em que foi lançado o debate sobre a qualidade de vida, o desemprego, a falta de oportunidades de trabalho qualificado, a quantidade de cursos de formação que se vão acumulando, imaginem que a vida era exactamente ao contrário.
Ei-la.
Começo morto e livro-me disso.
Depois acordo num lar para a terceira idade, sentindo-me melhor cada dia que passa.

A seguir sou expulso, por estar demasiadamente saudável.
Gozo a minha reforma e recebo a minha pensão de velhice.

Então, quando começo a trabalhar, recebo um relógio em ouro como presente logo no primeiro dia.
Trabalho 40 anos, até ser demasiadamente novo para trabalhar.

Vou para o liceu e bebo álcool, vou a festas e sou promíscuo.

Depois vou para a escola primária, brinco e não tenho responsabilidades.

Transformo-me então num bébé e passo os últimos 9 meses a flutuar pacifica e luxuosamente, em condições equivalentes a um spa, com ar condicionado, serviço de quartos entregue por cabo, e depois...

Acabo num grande orgasmo.

E esta hein?

24 comentários:

Tiago Sousa Dias disse...

Nota:
A descrição da vida ao contrário muitos de vós já terão recebido por e-mail, mas achei brilhante como, com uma metáfora, se transforma uma vida sem qualidade, numa vida de sonho.
De facto tudo está ao contrário neste nosso Portugal, até o mapa...

Tiago Sousa Dias disse...

(esqueci-me de referir, que a descrição não é da minha autoria, se fosse não me estaria a classificar de brilhante hehehe)

jfd disse...

Para mim moral da estória, são tudo perspectivas... :)

Paulo Colaço disse...

O bom da vida como a conhecemos é que vamos amealhando experiencias e sonhos para o dia em que efectivamente precisamos de usar a experiencia ou em que concretizamos os sonhos.

A vida ao contrário eliminava esse "projecto". Estaríamos sempre a regredir.

Mas nao há dúvidas que terminar num orgasmo seria excelente.

Tânia Martins disse...

Este post poderia estar acompanhado pela música de Xutos! Pois o sonho comanda a vida e já muita gente nem sequer os tem, a vida anda realmente de pernas para o ar, mas o ponto essêncial é não desanimar ;)

Anónimo disse...

Agora dá para entender porque enquanto somos crianças desejamos ser adultos e depois na idade adulta só dizemos "quem me dera voltar a ser criança"!

Bruno disse...

Assim era quase como a Super Bock sem álcool: perfeita perfeita! E acho que isso lhe tirava toda a piada...

É verdade que por vezes as dificuldades com que nos deparamos também são demais mas sem pequenos obstáculos a transpor a coisa perdia interesse!

A verdade é que a nossa capacidade de reinventarmosa vida , de virarmos tudo de pernas para o ar, de escolher voltar atrás quando já estamos quase no final de um caminho é grande parte do sal e da pimenta de cá andarmos.

Habituei-me a olhar para vida como uma oportunidade constante. Tive sempre uma perspectiva optimista. Se já tive dúvidas? Claro que sim! Não sou hipócrita. Mas uma ou duas vezes em 31 anos não me parece um mau score...

EP disse...

Há uns tempos um amigo dizia-me: "A vida é uma sucessão de metas voltantes."
E tem razão, a piada da vida é correr para o ouro numa marotana de corridas de 100 metros. E ainda assim ter a certeza que a cada etapa há sempre quem espere por nós, quem se possa passar testemunho.

Subscreveria o Paulo e o Bruno, não pudesse eu deixar-vos com Pessoa

" Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas,
não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo,
e posso evitar que ela vá à falência.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis
no recôndito da sua alma.

É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica,mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo... "

jfd disse...

Esta miúda é um espectáculo...
Muito mais queria dizer, mas não digo senão ela bate-me :)

Mas desde a primeira conversa que o sei :)!

Bruno disse...

Sim, Jorge, mas mais giro do que lê-la é ouvi-la falar a 323 km/h ;)

Paulo Colaço disse...

323Km/h é antes de meter o turbo :)

Bruno disse...

Sim, e foi ontem que já tava cansada porque era tarde ;)

Anónimo disse...

Continuando na onda da Elsa:
Pessoa também disse que a nossa vida tem duas datas: a do nascimento e a da morte, entre uma e outra nada a contece.
E disto não escapamos. A ordem pouco importa. Já o modo?!...realmente acabar num orgasmo!!!oh!oh!
Mas aí teríamos que começar com a morte e andar para trás o que pode ser um tantinho arriscado, a menos que a natureza passasse a dotar-nos de olhos à retaguarda. A alternativa é caminhar a olhar para trás, mas, e as dores no pescoço?
Não concordo com o Pessoa quando diz que entre uma e outra data nada acontece. A vida dele é bem a prova disso. Não é verdade que ainda hoje jovens e menos jovens o referem?

Anónimo disse...

errata: "nada a contece" é bem "nada acontece"

jfd disse...

Olá Cidalia;)

Também não concordo com uma interpretação literal desse pensamento. O é realmente património de Portugal. E isso aconteceu entre o seu nascimento, e para lá da sua morte!

EP disse...

Cara Cidália

continuando na onda;) nesse ponto também não concordo com Pessoa. Mas até os génios tem dias pouco iluminados:)

Elogio o seu sentido de humor.
É caso para dizer óh báime á loija ehehe! Muito Bom:P

Ah e seja bemvinda, volte sempre!

Paulo Colaço disse...

Viva Cidália!
Seja bem-aparecida nesta casa onde o seu filho tanto tempo passa :))

Continue a visitar-nos e a dar a sua opinião!

Anónimo disse...

Venho tarde, a "discussão" já cessou.

Deixo-vos com Gandhi:

Vive como se fosses morrer amanhã, aprende como se fosses viver para sempre

Paulo Colaço disse...

... e eu replico com Alberoni:

«A vida humana não tem só um nascimento e só uma infância: é feita de vários renascimentos, de várias infâncias»

jfd disse...

.... posso treplicar??

Gostaria que a certidão de óbito de cada ser humano fosse escrita na mesma língua da sua certidão de nascimento. Brecht Bertolt

Paulo Colaço disse...

Por que citaste esta frase?

jfd disse...

Porque gostei da tua, e acredito que para lá de vários renascimentos e várias infâncias, que leio como uma vida bem cheia, é sempre bom ter um sitio que é nosso, que sentimos que é nossa casa, onde podemos acabar em paz os nossos dias. Onde começamos, acabamos :)

Paulo Colaço disse...

Explico-te o motivo da minha pergunta: trabalhei em tempos com um "filiado" no extinto MAN - Movimento de Acção Nacional.

O Movimento de Acção Nacional foi extinto pelo Tribunal Constitucional na linha da não permissão de organizações com ideais para lá da direita admissível pela nossa ordem contitucional.

Ele defendia uma teoria (aberrante, a meu ver) chamada "Racialismo", tentando (debilmente) fugir à acusação de racismo. O que seria esse Racialismo? Era a separação dos povos para conservação integral das suas culturas.

A frase que citaste pareceu-me isso mesmo: um tipo que não visita outras terras, outros povos, facilmente acaba por morrer na sua própria terra. Assim, as certidões serão na mesma língua.

Porque sei que defendes as trocas culturais e o espírito das descobertas, achei estranha a citação. Em todo o caso, creio que interpretei mal a própria frase do Brecht...

jfd disse...

CREDO!
Nada melhor que pedidos de esclarecimentos à mesa!!!

Mas, até que poderia ter essa interpretação.
;)
Mas pronto, bagagem cultural e acabar em casa, foi isso que eu "li"!