sábado, abril 14, 2007

Uma doença a não subestimar

Talvez seja precisa coragem para escrever este post. Talvez não. O objectivo é apenas um: que todos se convençam que podem fazer muito por alguém que verdadeiramente precisa.

A depressão nervosa é uma doença real, que afecta cada vez mais pessoas em todo o Mundo, e hoje em dia já muitas crianças. Estima-se que em 2020, dados da OMS, a depressão nervosa passe a ser a segunda causa de morte por doença em todo o Mundo.

O que é a depressão? É mais do que um estado triste ou melancólico, porque se trata de uma condição duradoura de origem neurológica. São vários os sintomas como sentimentos de culpa, desesperança, desamparo, solidão, ansiedade ou inutilidade, cansaço ou perda de energia, dificuldades em adormecer, dormir em excesso ou pesadelos e um estado permanente de tristeza.
Estes sintomas são perceptíveis a todos. No entanto, o doente tem grande dificuldade em reconhecer o problema e procurar ajuda. E quanto mais cedo for ajudado melhor.
Na origem da depressão podem estar factores psico-socias, factores biológicos ou causas físicas. As consequências são óbvias: pensamentos mórbidos, auto-agressão e suicídio.
Sendo uma doença que nos consome de uma forma brutal, quando tanto tempo passa sem a reconhecer e tratar é dificil voltarmos ao que um dia fomos, e provavelmente passaremos o resto das nossas vidas a viver de altos e baixos. Dar a mão é o gesto que faz a diferença.
Vale sempre a pena não desistir de alguém que já desistiu de si próprio. Sem essa compaixão, o que resta a um doente em estado depressivo?

8 comentários:

Tété disse...

Xana,

Parabéns pela escolha do tema, acho que não é uma questão de coragem escrever sobre ele mas sim uma questão de desafio por entrarmos no campo da psique.

As depressões têm estados e nas graves, que se apresentam como urgências, o fundamental é avaliar o risco de suicídio e proceder em conformidade.
Para além da depressão (característica fundamental: tristeza anímica) pode haver tentativa de suicídio nas esquizofrenias e histeria.

Entre as doenças psiquiátricas destaca-se a depressão psicótica, com sentimento de profunda tristeza e de total incapacidade de fazer qualquer coisa por si próprio (helplessness). Em todos estes casos de melancolia grave é de considerar sempre um alto risco de suicídio.

Deixo-vos aqui uma espécie de índice problemático que ajuda a avaliar o grau de gravidade e o conhecimento da doença:

a) Idade superior a 45 anos.
b) Sexo masculino.
c) Nível social superior.
d) Alcoolismo e toxicofilias.
e) Saúde deficiente há mais de seis meses.
f) Situação familiar
– Pessoa vivendo só.
– Separado, divorciado ou viúvo.
– Rejeitado pela família ou com falta anormal de apoio familiar.
g) Situação de emprego
– Desempregado.
– Reformado.
h) Condições comunitárias
– Sem raízes na comunidade (doentes idosos).
– Comunidade permissiva, com pouco controlo social sobre os seus membros (doentes jovens).
i) Condições sociais
– Crise económica.

Desculpem o tamanho mas este tema está na minha área de paixões ;)

Tânia Martins disse...

De facto hoje em dia toda gente se queixa com depressões, a vida está cada vez mais agitada e cada vez mais difícil, a mente da pessoa quebra, mas também acho que podemos confessar que se tornou moda as pessoas afirmarem que têm uma depressão, nunca vi tanta gente como agora a dizer que têm depressões!

No entanto acho que é uma doença que requer cuidado e com os hábitos que as pessoas levam nos nossos dias é mais provável que o “surto” da doença se espalhe!

Anónimo disse...

Concordo com a Tânia! Hoje em dia toda a gente se queixa de depressões!
Claro que isto têm várias explicações, como a Goreti mencionou.
Para que o surto não se espalhe deverá-se fazer "campanha" anti-depressão. Para que as pessoas se previnam da depressão.

Paulo Colaço disse...

Primeiro ponto: tu não precisas de coragem para escrever este post. Precisas apenas de usar a que tens.

Este não é um tema fácil, bem pelo contrário.

Afecta por vezes gente que bem conhecemos mas que nunca supomos estar nesses lençóis.

Sim, dar a mão, ter compaixão, são gestos que contam, mas também conta o Estado eleger a solidão como um tema são só de solidariedade social como de saúde pública.

Bruno disse...

Acho que hoje em dia nos deparamos com duas situações que fazem aumentar o nº de casos detectados desta doença.

Em primeiro lugar, diminuiu o complexo com este tipo de problema, uma pessoa que é vítima de uma depressão já não é olhada de lado como há uns anos. Quem consulta um psiquiatra já não é automaticamente chamado de "maluquinho".

A outra situação é que cada vez menos nos preocupamos com a nossa qualidade de vida. Queremos agarrar tudo o que nos passa à frente, fazer tudo ao mesmo tempo e o pior é que temos esta atitude não por vontade própria mas por uma espécie de empurrão que a própria sociedade nos dá...

Acho que a conjugação destes dois factores cria condições por um lado para o aparecimento da doença e por outro para o assumir da mesma. Mas também acho que começamos a entrar numa psicose dos problemas psiquiátricos. Isto é, como diz a Tânia começamos a abusar da ideia de que temos uma depressão. E sem dúvida que assumi-la sem a ter é mais do que meio caminho andado para entrar em depressão.

Acredito na ajuda profissional e também na medicação mas não tenho dúvidas que o primeiro passo tem que ser dado pela própria pessoa e pelas pessoas que a enquadram (amigos, familiares, colegas...). Tenho a certeza que se todos formos mais solidários, compreensivos e positivos, pelo menos no nosso círculo mais próximo, contribuiremos decisivamente para alterar esta tendência.

xana disse...

Para quem perguntava se eu andava deprimida... bem, andar talvez não seja o verbo.
O intuito dste post é mesmo que todos se capacitem que este é um problema grave, e que muitas vezes um simple gesto pode fazer toda a diferença.
Eu sofro de depressão há varios anos, e hoje tenho duas certezas: primeiro, se tivesse lidado com isto mais cedo, hoje não estaria ainda a sofrer as consequências; e segundo, a depressão ainda é marginalizada! Até pode ter havido uma certa banalização (segundo as vossas opiniões, que respeito), mas o que é facto é que quem realmente sofre deste mal ainda se esconde. Porque será?
E é preciso coragem para deixarmos de nos esconder, daí este post e daí o meu apelo.

Bruno disse...

Querida Sandra,

Um beijo grande para ti! Uma amiga como tu é daquelas que devemos estimar!

Paulo Colaço disse...

Xanocas,
andei à procura num dicionário de antónimos qual seria o contrário de depressão!

Eis a resposta: muitas jantaradas com psicóticos, fins de semana com amigos, copos e farra, passeios catitas, salmão na brasa, sem esquecer o muito importante "ir ao Congresso da Jota ajudar a fazer passar a moção Q".

Quanto ao mais, cá estamos! Sempre!